Ao longo dos dias, Vanessa foi conhecendo João melhor, já que ele sentava na cadeira atrás. Ele era um garoto esperto e falava sobre idéias malucas que Vanessa gostava de ouvir. Ele mostrava pra ela alguns filmes que gostava, ela mostrava pra ele os seus cantores preferidos. Os dois acabaram virando amigos próximos e cada vez mais um gostava do outro, Vanessa principalmente. Depois de João aparecer na vida dela, parecia que tudo havia mudado. Ela sentia uma coisa diferente, uma coisa mais forte por ele que fazia com o que ela sentia antes por Bruno fosse menor do que já era. Com um tempo ela percebeu que aquilo que ela sentia era mais do que amizade. Como era muito pequena e inocente, não soube o que fazer com esse sentimento e guardou pra ela como se fosse um erro (talvez realmente fosse). Guardou lá embaixo, guardou tanto que esqueceu.
Na quarta série tudo começou. Vanessa podia até ter expectativas com seu futuro, qualquer ser humano pode adivinhar certas coisas do amanhã, do próximo mês, do próximo ano. Mas certas coisas vêm sem nossa espera.
Os anos se passaram, Vanessa mudou de escola, mudou de opiniões e pensamentos, cresceu, amadureceu. Tinha 15 anos e estava no primeiro ano. Era o primeiro dia de aula, e ela estava agitada como em todos os outros. Dessa vez coisas se passavam na cabeça dela como “Como será o ensino médio? Será que vou conseguir aprender tudo? Esse ano já tem vestibular”.
– Você acha que dá pra comprar o lanche? Minha amiga disse que no intervalo a cantina é pior que uma feira dia de Sábado – perguntou Vanessa assustada enquanto Esthefanny e ela iam andando até a escola.
– Claro que dá, as pessoas inventam essas histórias pra os alunos que chegam do colégio matriz ficarem assustados. Isso porque quando elas chegaram, também foram pelos anteriores – ela olhou pra Vanessa rindo – fizeram comigo.
A escola estava limpa, recém pintada e com um cheiro de folha (provavelmente dos cadernos novos, que nem são tão usados pelos alunos...). No corredor viam-se vários alunos se abraçando, outros conversando, outros rindo e gritando. Quase todas as meninas estavam maquiadas e com os cabelos escovados, algumas olhavam pras pessoas com olhar crítico e comentavam com suas amigas de cabelo espichado. Outras conversavam com suas amigas como se não as tivessem visto há um milênio, riam escandalosamente e se abraçavam. A maioria dos meninos conversava com seus amigos, provavelmente de assuntos como “alguma fulana era boa”. Dava pra sentir a euforia dos adolescentes e o prazer dos professores que passavam e analisavam seus novos alunos, prevendo que os que estavam gritando e se empurrando não seriam os mais agradáveis de dar aula. Vanessa foi em direção ao primeiro pedaço de papel que poderia lhe dar algum tipo de informação. Leu o seu nome, leu o dos seus amigos e respirou fundo, a sala era a mesma.

Nesse dia, souberam que como a sala deles estava com o ar condicionado quebrado, a turma de Vanessa teria aula em outra sala. A sala era enorme, cabiam umas 80 pessoas, era de uma turma de terceiro ano. Todos alunos estavam animados, contando uns para os outros como foram suas férias, pra onde viajaram, a que festas foram, e os mais estranhos tentavam contar nos dedos com quantas pessoas tinham ficado, um tipo de competição que os meninos nessa idade fazem. Vanessa conversava com suas amigas sobre como ela achava divertido estarem numa sala de terceiro ano e como o colégio era minúsculo, todas concordavam com aquilo.