P.O.V – Leslie Campbell.

– Nunca mais ando com você de carro, Leslie! – Louise saiu do carro, batendo a porta com força. – Não com você dirigindo. Caralho, quer me matar? – ela disse em disparada e eu apenas ri.

– Ai, você tem um vocabulário horrível, Ise. Tem que ser mais educada. – fiz uma cara inocente e ela estendeu-lhe a mim seu dedo do meio.

A ouvi resmungar algumas coisas. Ela realmente odiava quando eu a chama de Ise e dizia sobre seu “vocabulário horrível”. Minha irmã era mesmo muito estranha e diferente comparada às garotas que eu conhecia. Comparada a todos que eu conhecia, pra dizer a verdade. Aliás, que tipo de pessoa vem à praia vestindo calças jeans e tênis? Isso é tão fora de moda! E ainda nossos pais vivem no ramo da moda, do glamour e das revistas de fofocas. Louise, a irmã problemática, como sempre.

– Veio na praia pra ficar no carro, é? – ela bateu no vidro do mesmo. Eu bufei e lhe mostrei a língua.

Me olhei no espelho retrovisor do carro, colocando meus óculos escuros de armações cor de rosa e passei um pouco do meu gloss. Ajeitei o cabelo e peguei meu bebê, Ruffles no banco de trás antes de sair do carro. Peguei minha bolsa de praia e logo fechei a porta e tranquei o carro. Louise me fitava impaciente e batendo os pés. Eu ri e lhe entreguei minha bolsa de praia.

– Não vou carregar isso! – ela praticamente gritou, esticando a bolsa pra longe dela, a segurando com a ponta dos dedos.

– Ah, vai sim. Louise, você só reclama irmã, que horror. Somos gêmeas, temos que ser... Unidas. – minha voz falhou um pouco ao pronunciar a ultima palavra. Aliás, somos gêmeas e unidas, não combinava nada em uma mesma frase. Até porque, nós duas não éramos mesmo nem um pouco unidas.

– Não entendo porque você leva esse bicho em tudo quanto é lugar. – ela revirou os olhos, enquanto andávamos calmamente até o quiosque perto da areia, para nos sentarmos em alguma mesinha ou espreguiçadeira, algo do tipo.

–Ei, ele tem nome! Ele se chama Ruffles! – ajeitei meu pequeno cachorrinho em meu colo, enquanto ele dava um pequeno latido e voltava a ficar quieto.

– Ruffles... Ruffles... – a fitei e ela fazia uma cara pensativa. – Esse não é o nome daquela batatinha? Quem dá nome de batatinha, comida... A um cachorro, Les? – ela disse rindo, ela sempre fazia brincadeirinhas com o nome do meu pequeno yorkshire.

– Você é tão... Tola. – bufei, enquanto me sentava em uma das cadeiras por ali, perto do quiosque que era até que bonitinho e tinha aquela vista maravilhosa do mar a alguns passos de nós.

– Insultar os outros não é seu forte... Sabia, Leslie? – minha irmã sentou-se ao meu lado e eu simplesmente ignorei.

Coloquei Ruffles deitado sobre a minha perna, enquanto eu lhe fazia carinho. Me lembro quando o ganhei no meu aniversário de 13 anos, e olha que hoje já tenho 17. Mamãe e papai andam bem sucedidos, que agora, de vez de me darem cachorros como presentes de aniversário, me dava carros, casas na praia e muitas roupas. Tudo bem que às vezes tinha que dividir presentes com Louise, tipo, minha casa ou meu carro, mas, tudo bem. Fazer o que. Às vezes eu gostaria de ser filha única. Louise nem parece minha irmã, se não fossemos gêmeas idênticas, as pessoas não acreditariam que somos irmãs. Até eu acho que somos muito diferentes. Enquanto Louise esta se perguntando o porquê de ter vindo à praia eu fico aqui, me deliciando com o cheiro do mar e o vento no meu rosto. Adoro praia, sol, compras e moda. Acho que herdei essa parte de gostar de moda da minha família. Aliás, eu e Louise somos herdeiras... Logo vamos tomar conta da revista e esse tipo de coisa, no lugar dos meus pais. Às vezes trabalhamos um pouco por lá, mas, eu prefiro fazer compras.

Papai e mamãe são donos de coleções de modas, fazem milhões de desfiles pelo mundo, são donos da revista mais vendida no país, do maior site de fofocas, eles têm realmente muito trabalho. É engraçado saber que vamos tomar o lugar deles em algum momento próximo.

– Ora... Se não são as gêmeas Campbell aqui no nosso quiosque! – disse um dos atendes. Eu apenas sorri e Louise cruzou os braços, revirando os olhos. – Vão querer alguma coisa? – perguntou, parecia me fitar.

O fitei. E até que ele era atraente pra um atendente de quiosque ou sei lá o que.

– Hm... O que tem de bom aqui? – dei um sorriso perverso de canto. Louise murmurou um “já vai começar”. Tudo bem, acho que eu tinha essa fama de dar em cima dos caras, ou não. Digamos que eu era a gêmea menos reservada. Não que eu vivesse vulgar. A minha saída de praia era bonitinha. Um vestido branco, com alguns detalhes em renda e um pequeno decote.

– Gostaria de ver o cardápio? – perguntou, quase gaguejando. Eu apenas assenti e ele andou até o pequeno quiosque.

– Você é uma vadia. – Louise sussurrou a mim e eu apenas ri e a mandei ficar quieta.

Logo o homem veio e me entregou o cardápio, onde eu fiquei fitando por alguns minutos, decidindo o que pedir.

– Uma batida de laranja. Será que é bom? – fitei o homem, que apenas assentiu calado. – Qual seu nome? – sorri, tirando meus óculos de sol.

– J-Josh. – disse rápido e depois pigarreou. – Então, vai querer isso mesmo, senhorita Campbell? – perguntou, atento.

– Me chame só de Leslie, ok? Sem muita formalidade. – sorri. – E veja aí com a minha irmã o que ela quer... – apontei pra mesma ao lado.

O homem direcionou seu olhar pra ela, murmurando algo como “Ah, então essa é a Louise.” Não era tão difícil distinguir quem era quem de nós duas. Eu tinha o cabelo mais claro que o de Louise e sempre estava usando rosa ou roupas claras. Louise a maioria das vezes estava de preto e roupas terrivelmente escuras.

– Vou querer uma caipirinha. – Louise ergueu os ombros.

Nem ao menos perguntavam a nossa idade, para ver se podíamos mesmo beber. Era bom ser conhecida. Ri sozinha, colocando meus óculos novamente.

– Vou pra água um pouco. – levantei-me, deixando Ruffles em cima da cadeira. Era engraçado o quão ele era bonzinho e quieto. – Você vem, Louise? – perguntei, enquanto me aprontava para tirar meu vestidinho.

– Não. To bem assim. – ela deu de ombros. Claro, como sempre, Louise não havia vindo com biquíni ou maio. Essa menina é tão sem graça.

Eu não respondi. Apenas tirei meu vestidinho, tirei minhas sandálias, ajeitei meus óculos de sol e corri na areia em direção pro mar, onde tinha até umas criancinhas brincando. A praia era meio deserta, bom, quer dizer, não era tão cheia, acho que só gente famosa meio que vinha aqui. Sei lá.

P.O.V – Louise Campbell.

– Hey, lindinho... – chamei o atendente, garçom, seja lá o que aquele homem for e em segundos ele estava na minha frente. – Mais um copo, por favor? – lhe entreguei o copo praticamente vazio de caipirinha e ele assentiu, saindo dali.

Olhei a fresca e nojentinha da minha irmã, na beira do mar, pulando algumas ondinhas e dando gritinhos histéricos, talvez a água estivesse gelada. Que horror, Louise é tão... Patricinha que chega a me dar nojo. Suas roupas brilhantes e seu cachorrinho... São tão... Nada a ver! Podia ver ela falando com alguns caras, jogando o cabelo... Bom, Leslie na verdade, era a menina certinha, ela quase não bebia e não falava palavrões, mas, ela se achava muito e usava aquelas roupas bem vulgar como se fosse para provocar.

Ela se achava inocente. Assim como mamãe e papai a achavam.

Seu cachorrinho começou a latir do meu lado e eu me segurei para não atacar uma pedra ou qualquer outra coisa nele. Ruffles... Existe nome mais idiota pra se por num cachorro?

– Porra, vai demorar com a minha bebida? – praticamente gritei, tentando chamar a atenção do cara.

– Desculpe senhora... Senhorita... Madame... – o cara parecia nervoso e deixou meu copo por cima da mesinha ao meu lado.

– Louise. Campbell. Esse é meu nome. – resmunguei, um pouco irritada, enquanto pegava o copo e tomava um gole.

Sorri sínica e o mandei embora. Cara, eu realmente não sabia o que tava fazendo nessa merda de praia. Nem tava tão calor, e eu ainda por cima vestia calças jeans e tênis. Não que eu me importasse com isso, alias, era meu estilo. Papai dizia que era um estilo horrível, mamãe dizia que eu era gótica ou emo e que isso era horrível, já Leslie dizia que eu era uma hipócrita sem estilo e infeliz. Leslie nem devia saber o que significa hipócrita. E eu estava pouco me fudendo pras opiniões deles sobre mim. Eu não ligava pra isso. Nunca liguei, assim como eles nunca ligaram pra mim.

Não que eu fosse mesmo uma emo ou gótica que vive com olhos pretos e tals... Eu não era assim. Só não era toda cor de rosa, só não era uma Barbie como a Leslie. Simples. Eu só não conseguia ser assim. Perfeita.

– Oh, bebezinho da mamãe! – Leslie chegou pegando seu cachorro e o abraçando. Pelo menos ele havia parado de chorar... – Ise, a água está uma delicia! – ela se sentou na cadeira e colocou seus óculos de sol cor de rosa sobre a mesa.

Eu simplesmente odiava ser chamada de Ise. Aliás, que porra é essa? Isso nem tem lógica. Nem é nome, apelido... Sei lá, só é estranho.

– Você nem entrou na água, Lie. – revirei os olhos, tomando outro gole de bebida.

– Lógico que entrei, nadei até não poder mais. – riu, ajeitando seus cabelos que pareciam estar molhados só nas pontas.

– Você nem sabe nadar. – bufei, a fazendo revirar os olhos.

– E o que você têm, Louise? Fica se escondendo por baixo dessas suas roupas tremendamente escuras! – apontou pra mim. – E fica bebendo todos os dias, eca! – fez cara de nojo, fingindo vomitar e eu apenas a ignorei.

Apenas terminei de tomar minha caipirinha ou sei lá o que e fiquei quieta, fitando o mar, enquanto Leslie ficava brincando e fazendo caretas idiotas para o seu cachorro. Ela me dava medo. Esse seu jeito todo de patricinha e nojentinho... Eca!

Ouvi meu celular vibrar por cima da mesa. Leslie me lançou um olhar estranho, talvez pelo toque do meu celular ser um certo rock meio pesado. A ignorei e peguei meu celular, vendo “Jessica” no identificador de chamadas. Atendi no mesmo momento.

– Fala, baby vadia. – ri ao telefone, meio irônica e ela bufou do outro lado.

– Bom dia pra você também, Lou. – ela riu.

– Ou boa tarde? Já são três horas, sabia? Acordou agora? – perguntei, balançando o copo, brincando com o gelo dentro do mesmo.

– Você se prende muito aos detalhes, sua bêbada. – ela deu uma risadinha curta, mas, logo continuou. – Aonde ta?

– Na praia, com a louca vadia da minha irmã. – bufei, um pouco irritada e Leslie me olhou com raiva. Mostrei o dedo do meio a ela e logo virou a cara, me xingando de mal educada.

– Ta a fim de fugir de perto da patricinha? – riu.

– Como eu queria... Mas, meus pais nojentos não me deixam sair hoje. Castigo. – bufei. – Nem sei como me deixaram vir aqui. – conclui, enquanto colocava o copo na mesa.

– De novo? Deixa eu adivinha... Encontraram você e o Jensen no quarto... De novo? – ela caiu na gargalhada.

– Claro que não. – ri. – Quase isso.

– Enfim, ta a fim de ir a uma festa? Amanhã? – disse animada do outro lado.

– Se é festa sabe que to dentro né?

– Justin Bieber vai dar uma festa de 18 anos. Acho que vai ser maneiro! – ela parecia entusiasmada do outro lado.

– Caralho! E por acaso você pode levar quem quiser?

– Ele é meu amigo.

Fitei Leslie que me fazia alguns gestos mandando eu desligar o celular, o que essa vadia queria? Bufei.

– Jessica, te ligo depois. Aí combinamos. – desliguei o celular e o coloquei de volta na mesa.

– O que Jarrel queria? – minha irmã perguntou.

– Me convidar pra uma festa.

– Hm. Do Bieber? – ela sorriu meio travessa.

– Sim. Por quê? Como sabe?

– Todos sabem. Eu fui convidada, pelo próprio Bieber. Nós fomos. Mamãe já o entrevistou pra revista. – ela ergueu os ombros, colocando seus óculos de sol super grandes que a deixava parecendo uma abelha.

– E quando ia me contar que tínhamos uma festa pra ir? Sabe que eu não resisto a festas! – quase berrei. Festas e bebidas eram algo que não podia faltar na minha vida.

– Simples... Eu não ia contar. – deu de ombros.

Leslie ficou falando mais algumas coisas idiotas e sem sentido que eu não quis entender. Ela era uma vadia ambulante, uma idiota... Sorte que eu tinha Jessica como amiga. Ela não era tão famosa, tinha um estilo até que parecido com o meu e seu defeito era meio que ela era amiga do Bieber. Não que ele seja... Chato. Nunca falei exatamente com ele. Enfim, Jessica e eu nos conhecemos aos 15 anos, em uma festa... Nenhuma surpresa isso né? Leslie dizia que eu era uma bêbada louca. Não que eu fosse viciada, mas, era uma distração. Já que minha vida era porpurinante e uma completa droga.