Capítulo 9-

Jeremy não se atrasou nenhum segundo, eu desci as escadas e avisei minha mãe aos berros, entrei no carro do Jer e ele me deu um sorriso, que era o mesmo sorriso de sempre, mas naquela hora parecia excepcionalmente sinistro, eu encaixei o sinto de segurança e retribui o sorriso, ele trocou de marcha e arrancou com o carro, meu coração foi invadido por uma perturbação sombria e eu me arrepiei, a música que tocava no carro nas alturas não ajudava muito, ele estava ouvindo Nutshell do Alice In Chains, eu particularmente gostava da música, mas algo a tornava desconfortável pra mim naquele instante, eu sentia meu tórax subindo e descendo em respirações apressadas, segurei com força no banco e tentei retomar minha calma, afinal por que diabos eu estava assim? Era o Jer!

-Na onde vamos? –Perguntei sorrindo.

-É uma surpresa pequena. –Aquilo só serviu pra me deixar mais ansiosa e por mais que eu lutasse pra afastar aqueles pensamentos bestas da minha mente eles voltavam a me invadir, depois de alguns minutos já me perguntava se Dani estaria me procurando, me senti meio culpada por ter descumprido com a minha palavra, finalmente Jeremy que tinha permanecido quieto parou o carro, estávamos no bosque, mas numa parte que eu desconhecia, ele desceu e abriu a porta pra mim, sem dizer nada agarrou minha mão e foi me levando para dentro daquele bosque conhecido, eu tinha que tomar muito cuidado para não tropeçar nas raízes, ou escorregar nas folhas espelhadas pelo chão úmido, mas Jer andava por ali como se já conhecesse cada obstáculo, então as sombras das árvores acabaram, estávamos em uma campina, coberta pelas folhas úmidas e mortas das árvores, ele me levou até o meio e me segurou num abraço, quando me dei conta estávamos dançando, como no dia em que eu o conheci:

-Você já voou? –Ele perguntou numa voz doce e calma, eu fiquei nervosa, será que ele sabia de Chris? E então eu não podia mais pensar em nada a não ser na sensação de não estar mais no chão, Jeremy, ele também era um deles, como nos meus sonhos, as asas azuladas batiam suficientemente para nos erguer poucos metros do chão, o vento que elas produziam bagunçava as flores no chão, aquilo era tão bom, eu deitei minha cabeça no ombro de Jeremy que continuou a subir e subir, quando eu olhei pra baixo de novo a campina parecia algumas vezes menor e então Jeremy fez algo pelo que eu não poderia esperar jamais:

-Sabe pequena? Algumas pessoas, elas... Nascem tão boas e puras, mas com um passado tão negro, elas são encantadoras, mas o passado ele denuncia o traidor... E sabe o que deve acontecer com os traidores? –O medo me invadia por inteiro, eu podia sentir ele fluindo pelas minhas veias e se irradiando para cada lugar remoto do meu corpo. –Os traidores devem morrer! –E então eu estava caindo deitada, o vento sussurrando ao meu ouvido a música da morte, eu não pensava em mais nada, os meus olhos fechados preparavam meu coração para aquele momento, mas então, quando eu podia sentir o encontro com aquela imagem de capa e foice eu senti um baque, eu estava nos braços de alguém. Seria Jeremy? Quando a queda foi amenizada e se tornou um pouso eu me atrevi a abrir os olhos. Era Chris.