Ainda escrita por Nara


Capítulo 14
Décimo Segundo Capítulo




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Décimo Segundo Capítulo

Eu estou falando que aquela casa é mal assombrada. Dizem que os donos da casa estão enterrados no quintal. E também uma moça que era filha deles. Eu juro que uma vez eu vi uma mulher ruiva, vestida de branco passar em frente à janela. - o menino falou.

– Você é mesmo um covarde, Thom. - o menino de quatorze anos, com suspensório, cabelo cacheado e sardas, vizinho de Thom caçoou. - Você só está com medo de entrar lá. Você é um bundão!

Os outros garotos da rua riram de Thomas, que desviava o olhar, acanhado. Thom morava com seus pais na mesma rua que o casarão dos Swan, que haviam morrido durante a grande epidemia de Gripe Espanhola. Todos diziam que aquela casa era assombrada, que o espíritos, tanto do casal Swan quanto da filha perambulavam por lá durante a noite. Ninguém se atrevia a entrar na residência e, mesmo após a morte de todos, a casa não havia sido posta à venda. E os vizinhos se sentiam um pouco agradecidos por isso, pois temiam que algum desavisado a comprasse.

O garoto também tinha seus quatorze anos de idade, mas era o menor da turma e também o mais fraco. Os colegas adoravam pregar peças nele e tudo o que Thomas queria era ser respeitado pelos garotos da sua idade.

– Eu não sou um bundão não! - Thom se defendeu.

– Se você não é então vamos entrar na casa. - o colega propôs, erguendo uma sobrancelha.

– Eu não sei se é uma boa ideia. - o garoto falou engolindo em seco.

Todos os presentes na roda de meninos riram.

– Viu como você é um bundão. Bundão!

– Não sou bundão, só não acho certo entrar na casa dos outros. Isso é invasão. - se defendeu.

– Seu idiota, a casa está abandonada. Além disso, ninguém vai saber que vamos entrar na casa, vamos fazer isso durante a noite, quando estiverem todos dormindo. Ninguém vai nos ver.

– Eu não sei… - Thom relutou.

– Ou você faz isso, ou amanhã todos vão saber que você é um covarde. - o vizinho ameaçou.

– Todos nós já sabemos que você é um covarde. - outro garoto, um loiro, falou ao fundo fazendo todos gargalharem.

– É a sua chance de provar que não é um frangote.

Thomas refletiu por um instante. Ele queria provar aos outros garotos que não era um covarde, mas tinha medo de entrar naquela casa. Ele tinha certeza de que não era sua imaginação, aquela casa era sim assombrada.

– Eu não sei. - titubeou mais uma vez.

– Bem, nós vamos estar aqui às dez. Se você não aparecer todos vão rir de você amanhã!

Thomas saiu correndo enquanto todos os garotos permaneceram dando risadinhas a fazendo brincadeiras. Ele correu para sua casa, que não ficava longe dali e entrou correndo, subindo para seu quarto. Ele se jogou na cama, encolhendo suas pernas junto ao peito, imaginando o que ele deveria fazer.

Não demorou muito, menos que do o garoto esperava que fosse demorar, a noite chegou. Após o jantar, a mãe de Thomas mandou que ele fosse para a cama. Após alguns minutos, a jovem mulher deu um beijo de boa noite no filho e o ajeitou debaixo das cobertas, desejando-lhe boa noite. Ela saiu e deixou a porta aberta, permitindo que um feixe de luz iluminasse o quarto de Thom.

Do andar de baixo, o garoto pôde ouvir o relógio soar. Eram dez horas da noite. Ele sabia que os demais meninos estariam esperando por ele. A essa altura eles já estariam rindo dele, por saber que ele não iria.

– Acho que é hora de mostra que não é um covarde. - Thom disse para si mesmo. Levantou-se da cama, vestiu suas calças e seu casaco, calçou suas botinhas e abriu a janela, escalando para fora do quarto por uma árvore que havia próxima à sua janela. Ele conseguiu chegar ao chão sem grandes dificuldades. Então ele saiu correndo em direção à rua escura e vazia, um frio em sua barriga.

Logo ele avistou o ponto em que os garotos haviam combinado. Ele estava pouco muitos atrasado, apenas. O de cabelo cacheado que havia intimado sua presença para a aventura logo o viu se aproximando.

– Hey, Thomas! Achamos que você não viria. E então, está pronto para caçar alguns fantasmas? - indagou brincalhão.

Thomas parou perto deles, suas mãos tremiam e ele estava um pouco pálido. Ele apertava sua barriga, tentando parar as borboletas que não se cansavam de voar por lá.

– Qual é? Vai provar que é valente, não vai? - o garoto maior falou.

– Vou. Eu vou provar que não vou um covarde. - tentou falar com o máximo de convicção que conseguia.

– É assim que se fala! Vamos lá. - o rapazinho chamou por Thom, que ainda estava um pouco inseguro, mas o seguiu.

Eles pararam em frente à mansão dos Swan. A casa estava totalmente escura e completamente silenciosa.

– Vá! Entre. - o menino de cabelos cacheados ordenou.

– Por que vocês não vão na frente? - Thom desafiou. Os garotos riram.

– Porque nós não vamos entrar. Você vai entrar sozinho.

– Ei! Isso não estava no combinado. Você disse que “nós” iríamos entrar na casa! - ele rebateu assustado.

– Que diferença isso faz? Você vai ter que entrar de qualquer maneira. Nós vamos ficar aqui fora vigiando para que ninguém veja. Se alguém aparecer, nós jogamos uma pedra na janela e você sai correndo.

– Eu não sei…

– Quer ou não quer mostrar que é corajoso? Entre logo! Você entra, espera uns minutos para ver se algum fantasma aparece e se não aparecer você sai de lá normalmente. Prova que não é covarde e que não tem nenhum fantasma na casa.

Thomas ponderou por um momento. Afinal de contas, deveria ser tudo fruto da sua imaginação. Ele deveria ter pensado ver aquela mulher na janela só porque estava assustado por ouvir as histórias sobre a casa, pensou.

– Tudo bem, eu entro. Mas se alguém aparecer vocês me avisam.

– Sim. Vá logo antes que alguém note que nós estamos aqui fora. - o menino maior ordenou, empurrando Thomas em direção à casa. Os demais garotos estavam ansiosos para ver o que aconteceria a seguir.

Thomas andou a passos tímidos até a entrada da casa. A porta velha de madeira estava maltratada, fazendo com que não fosse muito difícil empurrar até que ela se abrisse. Com um ranger assustador, a porta se abriu e mostrou a escuridão em que a casa se encontrava. O garoto caminhou vagarosamente para dentro da residência. Nada se via. Ele estava em uma grande sala. Um feixe de luz que provinha de uma das grandes janelas iluminava uma única faixa até uma escadaria. Thomas caminhou até lá, parando em frente ao primeiro degrau. Pensou seriamente em voltar e sair da casa, sentia muito medo, queria estar dormindo sob seus grossos e macios cobertores em sua aconchegante cama. Mas se voltasse seria chamado de covarde pelos outros garotos.

Subiu então, um degrau após o outro. Os meninos, que observavam do lado de fora, esperavam que a qualquer momento Thomas desse para trás e saísse correndo de entro da casa abandonada. Ficaram cada vez mais curiosos ao ver que o garoto, bravamente subia as escadas.

O garoto que se aventurava subiu o último degrau, parando no topo da escadaria para dar uma última olhada para a porta. Respirando fundo, dirigiu-se a um longo corredor cheio de portas, sumindo do campo de visão dos garotos do lado de fora.

– Ele entrou mesmo. - um deles disse ao de cabelos cacheados.

– Lógico, não estamos mais vendo ele! - sussurrou.

De repente, pode-se ouvir os gritos dos meninos que espiavam pela janela quando eles avistaram o vulto de uma mulher subindo as escadas, indo na mesma direção de Thom. Eles ficaram alarmados e correram para longe da casa o mais depressa possível.

Thomas, ficou estático quando ouviu os gritos dos garotos. Olhou ao redor assustado, sem saber o que fazer. Não sabia o que eles poderia ter visto. Decidiu voltar e sair da casa, estava assustado de mais e aquela brincadeira já tinha perdido a graça a muito tempo, se é que havia alguma. Voltou-se para a escada. Viu uma sobra passar por ele, um vulto branco. Gritou e correu na direção contrária.

Chegou até o fim do corredor, onde não havia mais saída, apenas uma porta atrás de si. Teve medo de entrar, mas não iria de maneira alguma na direção do vulto. Girou rapidamente a maçaneta, abrindo a porta e adentrando o cômodo em seguida, fechando a porta atrás de si. Quando voltou-se para encarar o lugar onde tinha entrado, percebeu que o local estava escuro demais para conseguir enxergar algo nítido. Pequenos feixes de luz provinham das frestas da janela fechada, mas apenas. Quando sua visão ajustou-se da melhor forma possível, notou que deveria estar em um quarto. Havia o que deveria ser uma grande cama.

Caminhou em direção aos feixes de luz, tateando para não tropeçar em nada. Quando alcançou a janela, tentou abri-la para quem sabe encontrar os garotos do lado de fora. Enquanto forçava suas pequenas mão a abrirem as antigas fechaduras, ouviu um barulho no quarto, como de madeira batendo. Virou-se assustado em direção ao som, mas não conseguia ver nada.

De repente soou uma melodia que ele não conhecia, uma música tão suave, como que de uma caixinha de música. Ele sabia como eram as caixinhas de música, sua avó tinha uma. Encolheu-se junto à parede, abraçando suas pernas. Havia alguém ali, alguém que havia batido na madeira e aberto a caixinha de música. Abaixou sua cabeça sobre seus joelhos e rezou baixinho, mal conseguindo respirar.

Sentiu uma presença, um hálito perto de seu rosto. Chorou baixinho e morrendo de medo ergueu seu olhar. Ali parada diante dele estava uma mulher com os cabelos jogados no rosto e grandes olhos negros. O tempo ficou parado momentaneamente, enquanto Thom encarava aqueles grandes olhos negros.

Após isso, ouviu-se apenas o grito do garoto.

Naquela noite, os garotos esperaram pela volta de Thomas, mas o menino não saiu de dentro da casa. Tinham medo de ir atrás dele, pois sabiam que havia alguém naquele lugar. Tinham medo de que algo tivesse acontecido a Thomas, pois a culpa seria deles por terem desafiado o menino a entrar na casa. Muito assustados, decidiram não falar nada sobre o caso, voltando para suas respectivas casas antes que alguém os visse. Quando o dia amanheceu, voltaram às suas vidas, nunca mencionando nada sobre o sumiço de Thomas, mas temendo que um dia, ainda que depois de muito tempo, eles voltassem a encontrar o garoto desaparecido ou a mulher vestida de branco.


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Notas finais do capítulo

Ainda tem alguém aqui?