Rescued escrita por Lolla


Capítulo 18
Se beber não dirija


Notas iniciais do capítulo

Meu Deus, eu sei que não tenho como me redimir.
Estou tão em falta com vocês, que vai ser uma surpresa se alguém ler, e uma maior ainda se alguém comentar a minha história.
Desculpe, realmente. Vou fazer de tudo pra que isso nunca mais se repita.
Boa leitura (se aparecer alguém)



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- P... Pai? –Pergunto com a voz trêmula. Me abaixo até estar à altura de meu professor e encosto o ouvido em seu peito. Suspiro aliviada quando ouço a batida de seu coração fraca e ritmada. Cambaleante, levanto do chão e vou até a sala. Meu pai está sentado no sofá, com uma expressão que me deu arrepios nas costas. –Pai? –Minha voz continua trêmula, enquanto me aproximo dele e sento ao seu lado no sofá de couro. Ele me segue com o olhar.

Ele não faz nada quando eu sento e deposito uma mão em seu braço. Sua respiração está alterada e seu olhar vago, mas mesmo assim não me perde de visão por um segundo. Pergunto calmamente se ele quer seu remédio. Depois de alguns segundos, ele me olha e assente lentamente. Com os movimentos mais retardos possíveis vou até a cozinha, abro o armário de remédios, limpo as malditas lágrimas de pânico que ainda escorrem por minha face, e com um copo de água nas mãos, volto para a sala. Entrego-lhe o remédio e fico dividida entre ficar lá, ir para meu quarto tomar um banho, ou voltar para o quarto de empregadas. Solto um soluço involuntário e desisto, subindo para o meu quarto correndo. Depois de me certificar que a porta está devidamente trancada, me apoio nela e começo a soluçar de desespero, sendo afogada por minhas lágrimas.

Apesar do chão frio e da porta dura contra minhas costas, durmo quase imediatamente. Talvez tenham sido muitos acontecimentos ao mesmo tempo em um dia só, ou os estresses que eu carrego de uma vida inteira. Não sei. Só o que eu fiz foi dormir. E, por incrível que pareça, aquela noite foi uma noite de paz.

O irritante barulho de algo em atrito com o chão me fez despertar com mal humor. Mais tarde descobri se tratar de meu celular, que por estar sem som, vibrou causando o som que me despertou. Era uma ligação de Ethan. Arrumo o cabelo, lavo o rosto com água fria e troco de roupa, antes de sair pela escada de incêndio que há ao lado de minha janela. Ao caminho da casa de Ethan, mando uma mensagem para ele, pedindo para abrir a porta para mim.

- Cadê todo mundo? –Pergunto depois de contar todo o ocorrido desde que ele me deixou em casa. Ethan ficou sem reação por alguns minutos, mas com minha nova pergunta, ele se ajeita na cadeira.

- Foram em uma exposição de artes no centro. Coisa de gente velha...- Ele despreza, balançando a mão direita no ar em um ato de irrelevância. Reviro os olhos, e logo um sorriso surge em meus lábios.

- Já que estamos sozinhos... –Me aproximo mais e sinto algo, ou alguma coisa, crescer no espaço entre nossos corpos. Força magnética? Não sei. Olho em seus olhos azuis antes de, com um sorriso maligno, dizer: -Acho que vou indo. Não é certo uma moça de família como eu ficar sozinha com o namorado na casa dele... –Fui me afastando e balançando a cabeça em total descrença. Ele dá um sorriso e estala a língua, reprovando meu comportamento.

- Pensa que pode escapar de mim, é? Por que você acha que eu abri a porta pra você? –Dou uma risada irônica, antes de encostar meus dedos em sua face e beijá-lo delicadamente nos lábios. –O que você quer fazer? –Ele sussurra contra meus lábios. Dou um sorriso e me afasto.

- Você tem caixa de som? –Pergunto por sobre o ombro, já me dirigindo ao seu quarto. Ele me indica o local onde o som é geralmente posto e o levo para a sala. Pego seu Ipod e o conecto à caixa metálica, escolhendo a música All About Us da banda He Is We e o puxo pela mão. –Está na hora de você aprender a dançar de verdade, mocinho.

Parece muito divertido nos filmes ensinar o seu namorado a dançar... Mas não quando ele é bem maior que você e bem mais pesado. O seu pé pode ficar dolorido por algum tempo... Na parte do refrão, nos animamos e rimos, enquanto ele me rodava pela sala (pisando em meus pobres dedos) e me pegava no colo. Não ficou igual nos filmes, disso eu tenho certeza, mas foi a melhor dança que eu já tive com alguém. Quando a música acabou estávamos com os rostos apoiados um no outro. Testa na testa, nariz com nariz e nossa respiração acelerada se mesclando.

- Até que você não foi mal, problemática. –Ele sussurra em meu ouvido. –Nem pisou tanto em meu pé...

- Pena que eu não posso dizer o mesmo. Aliás, que tal buscar um gelo para meus dedos calejados, hum? Como agradecimento... –Ele revira os olhos e me pega no colo, me sentando no sofá.

- Já que você mal consegue se mexer, acho melhor você ficar sentadinha aqui assistindo um filme. –E ele bate fraco em minha coxa, como se faz na cabeça de um cachorro.

- Que tal se a gente simplesmente conversasse? –Não é que nós não conversamos, mas eu quero saber tudo dele. O que ele pensa sobre o mundo, sobre política e até sobre coisas mais banais como, sua comida favorita. Tantos problemas e preocupações nesses últimos meses, que há tempos não conversávamos normalmente. Ele parece ter o mesmo pensamento, pois assente animado e arredio ao mesmo tempo.

- Um sonho seu? –Ele me pergunta, curioso.

-Um? Pode ser mais de um? –Ele assente, revirando os olhos e com um gesto, pede para eu prosseguir. –Quero ser médica. Servir um ano no Médico Sem Fronteiras, de preferência na África. Ir ao Japão, saber cantar e ter peitos maiores.

- Eu gosto dos teus peitos... –Ele diz, olhando diretamente para eles. Faço a mesma coisa, apertando-os. Estalo a língua em reprovação.

- Isso porque ainda não viu coisa melhor. São pequenos demais, ó... Enfim, não estou aqui para discutir sobre meus peitos. E os seus sonhos? –Ele encara meu busto por mais algum tempo antes de responder automaticamente.

- Quero ser engenheiro químico. Ou trabalhar na NASA. O que vier primeiro. –Ele diz em um tom brincalhão. –Gosto de matemática, gosto de exatas. Ah, além disso, gostaria de ir à Austrália. O que te fez querer ser parte do Médico Sem Fronteiras?

- O acaso, eu acho. Ou talvez tenha sido a África em si e a questão de ajudar o próximo... Eu não sei exatamente. Só sei que quero. Daqui a pouco faz dezoito... Pensa em prestar serviço militar?

- Só se obrigado. Acho isso de chamadas obrigatórias tão pré-histórico. Com a criação da ONU, não acho que vá haver uma guerra de proporções grandes pelos próximos cem anos... Com certeza, se eu fosse, seriam cinco anos perdidos...

Ficamos conversando a tarde toda. Sobre religião, o mundo, o aquecimento global e a conscientização ecológica, falamos sobre animais, sobre nossos traumas e medos, contamos piadas...

- Por que você nunca fala do seu pai? –Pergunto. A verdade é que sempre que chegamos ao assunto “pai”, ele foge. Fica arredio e mal-humorado, mas minha curiosidade não aguentava mais muito tempo. Vejo sua face se contrair ligeiramente, antes de ele responder.

- O que tem ele? –Sua voz carrega um pouco de mágoa e raiva, mas é quase imperceptível. Inclino a cabeça para a direita e pergunto o porquê desta reação exagerada dele. Ele suspira.

- Não é nada. É só que... –Ele para por um momento, decidindo entre se abrir comigo ou mudar de assunto. Suspira de novo e passa as mãos pelo cabelo espesso. Eu sei o quão difícil é para ele se abrir.

- Vamos, Ethan. Eu to com essa pulga atrás da orelha desde aquele dia em que você tava me perguntando sobre meu pai e se esquivou quando eu perguntei do seu. –Ele dá um sorriso de canto e se aproxima.

- Se esquivar não é a palavra certa... –Não mesmo. Na verdade, ele conseguiu me distrair bastante aquela tarde... Suas táticas são infalíveis. Hm.

- Pare nesse instante, Ethan! Por que você foge, caramba? Sou eu, a Taylor. Me conta. –Ponho a palma da mão em sua cara, para impedi-lo de se aproximar mais.

- É que... Ele nunca esteve realmente presente, sabe? Ele só voltou para minha vida quando eu tinha 12 anos. Ele largou minha mãe quando a pequena nasceu, alegando não estar pronto para outro filho. Ficou esses anos todos sumido. Minha mãe ficou com diabetes quando meu pai partiu. Amava ele desesperadamente. Por isso que quando ele apareceu na porta de casa depois de seis longos anos, ela o recebeu de braços abertos. Até hoje não falo com meu pai. Acho que coisas desse tipo não devem ser perdoadas, mas minha mãe é uma romântica. Acha que meu pai realmente a ama. Ama tanto que não para em casa. Está sempre “viajando”. Ele não se dá conta da mulher que tem. E isso me dá mais raiva. –Ele aperta as mão, em punho. Seu rosto está vermelho, e quente, percebo enquanto passo os dedos por sua bochecha. –E nem tente me dizer que estou errado de pensar disso dele. Por favor, mais uma lição de moral não. Não de você.

- Ethan. –O chamo, ainda passando a mão por sua bochecha, nariz, testa, boca. Ele me olha. –Eu sou a pessoa menos aconselhável a te dar lições de moral.

- Eu sei.

Ao final da tarde, estávamos sentados na varanda de seu quarto, contando segredos e estrelas. A pior parte é quando tenho que ir embora. Aquela casa, tão aconchegante, mesmo com os problemas familiares que eles passaram ainda me traz um sentimento de família. Família real, e não aquilo que eu finjo ser com meu pai. Então, instantaneamente lembro-me de meu professor no quarto de empregadas. Aquele tempo com Ethan me fez esquecer ele, mas agora, indo para casa, todos os sentimentos do dia passado tomam conta de mim. Começo a respirar mais alto, cada vez que me aproximava mais do prédio creme. Quando abro a porta, a casa está vazia e escura. Procuro pela sala e cozinha, passo no quarto de empregadas. Vazio.

- Pai? –Ele está no quarto, com uma garrafa de Whisky na mão trêmula. A cabeça apoiada na cabeceira da cama e os olhos fechados. Ele abre os olhos assim que entro em seu quarto.

- Onde você estava? –Sua voz está arrastada. Eu fico instantaneamente com medo. Pigarreio e chego mais perto. Seu cheiro de álcool está insuportável.

- Cadê o Sr. Tiffson? –Tento mudar de assunto, já que a ideia de eu namorar Ethan não lhe agrada. Ele torce ligeiramente a boca, antes de murmurar um “já cuidei daquele merda”. Decido deixar isso pra lá. Se o professor não vai nos entregar pra polícia, então tudo bem. Eu acho. –Por que você não vai tom...

- Eu tava pensando na sua mãe, sabe. Você parece muito com ela. –Ele me interrompe, me avaliando. Dou um sorriso de lado. –Ela também dava estes meio sorrisos meio não sorrisos. Era como ela costumava demonstrar que estava brava comigo. Seu cabelo é da mesma cor. –Ele levanta da cama e se aproxima. Pega uma mecha de meu cabelo. –Por que você me deixou Madeline? Por quê? –Ele começou a alucinar, enquanto sua voz ficava embargada pelas lágrimas.

- Pai. Sou eu, sua filha. A Taylor. Pai? –Pego a mão que está segurando meu cabelo, agora com força. Aperto a mão um pouco, mas ele nem liga.

- Me solta! –Ele desvilhencia sua mão da minha de forma brutal, para depois desferir um soco em meu tórax. Por um momento eu fico sem ar, enquanto caio no chão, mas um segundo depois eu já estou de pé correndo para meu quarto. Eu sei que correr não é o melhor método, mas eu não tenho outra escolha. Ele me segue correndo e gritando pelo nome de minha mãe. Tento chegar ao meu quarto, mas lembro que estou sem a chave da porta, então seria como uma armadilha. Corro para a porta, rezando para ela estar destrancada.

- Madeline Caroll, você não ouse sair desta casa! –Ele esbraveja. Meu corpo treme só com este grito, mas em um minuto já estou no elevador, indo para o térreo. Olho para os lados repetidas vezes antes de sair totalmente do elevador e correr para a rua. Sei exatamente aonde ir.

- Por que você está na portaria do meu prédio às 2h da manhã? –Ele pergunta incrédulo.

- Longa história. Vem me buscar, por favor. –Imploro. Ele manda eu subir, que ele vai destrancar a porta. Quando entro em seu apartamento, vamos correndo para o quarto, em total silencio.

- O que aconteceu? –Ele pergunta agora irritado. Só então percebo seu estado. O cabelo desgrenhado como nunca havia visto, os olhos vermelhos e inchados. Conto a história e ele perde completamente o sono.

- Ele faz isso com frequência? –Ele pergunta interessado, tentando esconder a incredulidade e a raiva. Olho para o lado, mordendo o lábio.

- Só quando bebe. Quando algo o perturba a mente. Pelo menos ele se livrou do professor. –Suspiro. –Acho que tem coisas que devemos simplesmente aceitar. Meu pai é perturbado da cabeça, assim como era minha mãe. Talvez eu vire isso quando crescer. Não sei. –Dou de ombros, mesmo que por dentro esteja em pânico só com a ideia de parecer um deles.

- Ei. Você nunca vai ser igual a eles, ok? Você é a pessoa mais sã e com os pensamentos mais inteligentes e maravilhosos que eu já vi. Você não merece se autopunir desse jeito. Meu Deus. Você não é nada parecida com as meninas da escola, sabe. Você não é mesquinha e fútil...

- E é ai que você se engana, como todo mundo. Eu era uma dessas pessoas. Eu era mesquinha e fútil e popular. Até o acidente acontecer. –Balanço a cabeça. Olho para ele, que está me encarando com intensidade. Um sorriso confuso brota em meus lábios, mas antes que eu pergunte qualquer coisa, ele parte para cima de mim. Ele me prensa em sua cama com o peso do corpo e eu só consigo não ser esmagada, enquanto puxo levemente o cabelo de sua nuca e beijo seus lábios com a mesma força que ele. Ele passa então a boca para o meu pescoço e eu consigo ar para respirar.

- O que você ta fazendo? –Pergunto sem fôlego. Ele não responde. Volta a me beijar ardentemente. Quando passo as mãos por suas costas e braços, ele geme. Puta merda. Nunca me senti tão quente em toda minha vida. Que merda é essa? Eu tenho que parar. Não é? Mas só a ideia de parar aquilo me deixa irritada. –Ethan.

- Não me faz parar, Taylor. Porra. –Ele fala frustrado. Acho a situação cômica. Dou uma risada e nego.

- Você tem camisinha? –Pergunto simplesmente. ‘Oh’, ele diz. Levanto as sobrancelhas. Ele levanta o dedo indicador e sai de cima de mim enquanto procura avidamente por todo quarto um pacotinho metálico. Reviro os olhos e sento na cama, ligando a TV. Depois de um tempo ele senta do meu lado, bufando pelas ventas, quase cuspindo fogo. Reviro os olhos de novo. –Seu merda.

- Desculpa rainha sexual. Não são muitas vezes que eu trago uma garota aqui. Principalmente pra isso. Não estou sempre preparado, ok?

- Então o que? Você leva elas em um motel? –Pergunto em deboche.

- Eu geralmente vou na casa delas. –Ele diz simplesmente. –Mas não acho que esse seja um assunto que eu realmente quero conversar. Especialmente com você.

- Como assim, especialmente comigo? A Christi tinha camisinhas na casa dela? –Levanto uma sobrancelha. –E aquela vez que você me tirou daquela festa? Hum? O que ela estava fazendo pelada na sua cama?

- Wow. Controla o ciúmes ai, gatinha. –Ele brinca. –A Christi estava tão bêbada quanto você, ok? Eu a trouxe pra casa e a deixei no quarto de hóspedes. Você, eu puis no meu quarto. Satisfeita? Meu Deus. –Ele passa a mão pelos cabelos.

- Isso não justifica o fato de ela estar pelada. Você usou uma garota sem a consciência dela. Isso é nojento.

-Não. Ela que tirou as roupas, ok? Eu não havia feito nada com ela e nem gostaria. Principalmente com você na minha casa.

- Por quê? Tava com medo de eu ouvir, é? –Reviro os olhos. Ele pega meu rosto entre as mãos.

-Caralho Taylor. É porque eu quero você. Você. Não aquela ruiva. –Ele me beija de novo. –Acho melhor parar com isso. Deita na cama. –Eu levanto a sobrancelha. –Para dormir.

Assistimos a um filme qualquer na TV enquanto ele mexe em meus cabelos. Depois de um tempo apago por completo. O sonho está embaçado e é como se eu tivesse embaixo da água, mas ainda consigo ver a minha mãe. Ela está sendo esmurrada por alguém. Ela grita, pede para parar. Quem seria o monstro que... Não. De novo não. Por favor. A água fica mais turva e escura e um segundo depois está tudo negro. Eu só sinto a dor. A dor insuportável. Não encontro a voz para gritar. Não encontro nada, nem a mim mesma.

Acordo assustada e suando, com um Ethan como uma trepadeira ao meu lado. Suas pernas estão enroscadas nas minhas e um braço está atravessado por cima de meu peito. Um sorriso brota em meus lábios, e pego meu celular, tirando uma foto de sua cara de criancinha, encostado em meu ombro. O sol já está alto, e eu deduzo ser umas 11h da manhã. Olho para o lado e vejo o celular de Ethan vibrar no criado mudo. Olho para o visor. Georgia! Atendo prontamente.

- Taylor! Oi! Nossa, pensei que nunca mais ia te encontrar. Eu liguei pra convidar o Ethan pra ir tomar um café, mas não esperava te encontrar aí. Vem junto! Vai ser bem divertido. Tava pensando de a gente ir a um parque depois, ou assistir a um filme...

- Vou perguntar ao Ethan, só um minuto. –Digo com empolgação demasiada.

Ele resmunga um sim, meio inaudível e depois se enrola mais em mim.

- Ele vai, Georgia. Em trinta minutos estaremos prontos.  –Ela me passa o endereço do Starbucks que nos encontraríamos e nos despedimos. –Ethan. Levanta daí, sua múmia. E para de me agarrar desse jeito. Eu to ficando com calor.

- Eu sei que eu sou quente. –Ele resmunga, com a cara enfiada no travesseiro. Bato nas costas nuas dele. –Ouch! Já to levantando.

Depois de nos arrumarmos (eu com uma blusa do Ethan), vamos ao Starbucks e tomamos um café agradável com a Georgia. Ela é uma pessoa muito engraçada e cheia de vida, mas sabe ficar bem irritada quando tocamos no assunto “estilo musical”. Ela e Ethan se dão muito bem, como se conhecessem de longa data. Ele se transforma quando está com ela. Fica mais agitado, irritante (de um modo engraçado) e fala muito mais palavrão! Não que eu não gostasse desse Ethan, só queria conhecê-lo melhor. Por que ele não era assim comigo? Fico um pouco chateada, mas ignoro quando Georgia sugere que eu aprenda a dirigir. Eu estava já com vontade, mas nunca surgiu a oportunidade. Com meus dezesseis anos completos, a tentação de ter um próprio carro se tornou grande. E quando Georgia descobriu que eu ainda não sabia dirigir, se entusiasmou e se voluntariou para ser minha professora. Claro que Ethan não gostou da ideia.

Não seria surpresa se eu dissesse que depois de 15 minutos de uma angustiante aula de “marcha” pra lá, e “para de colocar esse maldito pé no freio!” pra cá, Georgia desiste. Poxa, eu não sou tão lerda assim. Sou? Ethan me assegura que algum dia, em um futuro próximo (ou distante), ele me ensinaria a dirigir, então me aquieto. Depois do filme, começamos a conversar em uma pequena mesa do lado de fora do shopping. A tarde está linda.

- E ai? –Georgia diz, com uma cara safada. Ah meu Deus, lá vem bomba... –Vocês já transaram?

Georgia costuma ser bem direta e sabe o que quer, fala o que pensa e age por impulso. Claro que ela não mede esforços para deixar alguém constrangido. Do mesmo modo que estamos agora, Ethan e eu. Claro que meus pensamentos voaram quase que automaticamente para a nossa noite anterior, e pela cara de meu namorado, ele também estava revivendo os momentos que passamos em sua cama. Engulo em seco, tentando conter a vermelhidão que se apossava de minha cara.

- M... Mas que coisa desagradável de se perguntar, Georgia. Pelo amor de Deus, vá arrumar o que fazer. –Ethan fala com a voz trêmula. Georgia ri e dá mínimos tapinhas nas costas dele.

- Eu sabia que você era mesmo um fracote, mas isso já está ridículo. –Ela olha diretamente nos olhos azuis de Ethan, que continua ficando mais e mais vermelho. Se é de raiva ou vergonha, não posso ter certeza. –Você tem uma namorada a sua disposição legal e linda, que deve estar morrendo de vontade de dar pra você, e não fez nada a respeito. –Exclamo um hey de reprovação com a constatação dela. Agora estou quase tão vermelha quanto ele. –Atitude, imbecil. –E finaliza dando um tapa monstro em suas costas.

- Obrigado pelo conselho, Georgia. –Ethan diz com escárnio e raiva carregada na voz. –Mas eu e Taylor temos que ir. -Diz ele me arrastando já para longe dela.

-Espero que para um motel! –Grita a louca, quando já estamos longe o suficiente. Ethan bufa e eu reviro os olhos, tentando novamente (e sem sucesso) esconder meu constrangimento.

- O que quer fazer agora? –Ele pergunta. Não quero ir para casa e, aparentemente, ele também não. Dou de ombros, e avalio o local em que estamos. Uma feira se localiza a alguns metros de onde nos encontramos e várias pessoas se amontoam nas tendas para ver os produtos. Parece divertido. Seguindo meu olhar, Ethan me puxa para uma tenda em que um homem gordo e calvo vende algumas bijuterias. Uma tornozeleira de prata (pelo menos eu acho) com um coração médio incrustado. Ethan o compra para mim, mesmo com meus protestos. Eu o ponho imediatamente, enquanto o acaricio. É lindo.

- Obrigada. Acho que devo retribuir o favor. –Graças a Deus eu sempre levo dinheiro comigo. Nunca se sabe quando você precisa comprar um presente pro namorado. Ele revira os olhos, mas dá de ombros. Ele sabe que não pode argumentar comigo. Depois de olhar para cara tenda e cada loja perto, decido comprar uma câmera Polaroid e alguns filmes para usar na câmera. É claro que fico apaixonada por ela e quase que fico para mim, mas Ethan não deixa.

- Eu fico com isso. Vou me divertir muito. –E como prova do que diz, ele tira uma foto minha. Fico impressionada com a rapidez que a foto sai. E a qualidade! Fico ainda mais impressionada com a minha cara. Ethan ri e sai tirando fotos e mais fotos.

- Ei, vai acabar com seus filmes. –Reclamo, mas isso só o faz tirar mais uma foto minha. Dou uma risada. De repente minha cabeça volta a pensar em meu pai e no estado que se encontrava ontem. Será que ele está melhor? Pior? Por favor, que ele não tenha se machucado... Sinto dedos acariciando levemente a parte direta da minha cabeça, bem no lugar onde antes havia pontos. Sinto um arrepio.

- O que está pensando? –Ele diz perto de minha orelha. Dou de ombros e me viro para encará-lo.

- Que eu to com vontade de dançar. –Ele franze as sobrancelhas. –Ir a uma festa, sei lá... Dançar com você... –Pego seu braço e faço ele me girar. Solto uma gargalhada e ele dá um sorriso. Ele me gira novamente e me puxa para seu corpo.

- Posso te ajudar com isso senhorita. Ou melhor, a Georgia pode. –Ele pega o celular e dica, acho, o numero dela. – Georgia? A festa. Sim. Eu e a Taylor. Ok. Só não... –Ele é interrompido e depois de alguns segundos ri e desliga. Olha-me. –Vamos a uma festa.

Uma festa com a Georgia... Por que eu acho que isso não vai prestar?


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Notas finais do capítulo

Desculpe qualquer erro de ortografia, e novamente pela demora exageradamente longa.
Odeio fazer isso com vocês, mas por favor, não deixem de comentar. Isso me faz escrever mais (sério mesmo. Nada de draminha de escritor, nem novela mexicana básica). Os comentários realmente me fazem bem a beça.
Obrigada para os que leram, e os que comentaram, eu demonstro a minha felicidade na resposta que vou lhe dar hahaha
Beijos e até a próxima (uma próxima mais breve, eu prometo)



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