A Mente Perfeita escrita por Gmilani


Capítulo 5
Quatro Milímetros de Água do Mar


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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   Os garotos eram puxados por todos os lados. O ar comprimia seus pulmões, impedindo-os de gritar e até mesmo de respirar. Eles davam cambalhotas e sentiam cada membro sendo puxado com tanta intensidade que os três chegaram a pensar que perderiam alguma ou várias partes do corpo antes de chegarem em Túrio. O barulho continuava altíssimo e junto com ele, várias faíscas caíam, mas, por sorte, as roupas eram mesmo protetoras. Quando a intensidade dos puxões atingiu o ápice, eles caíram em uma areia fofa. O barulho continuou por mais alguns segundos. Então tudo ficou em um silêncio profundo.

   Ash abriu os olhos. Tinha o corpo cheio de areia cinza e preta. Ele continuou a observar o lugar. Uma luz intensa queimava seus olhos, ela vinha de Jancet, a estrela maior daquela constelação, era o Sol de Polux. A luz deste era mais forte do que eles estavam acostumados. O garoto esfregou os olhos, acostumando a sua vista ao ambiente. A sua frente estava um mar de cor azul intensa e escura. Eles estavam em Túrio. Seus companheiros estavam estirados no chão ao seu lado, ainda estavam voltando a ter consciência. A poeira atmosférica irritava a garganta do inglês e ele foi forçado a tossir. Em meio a toda a poeira que ele forçava a sair do seu corpo, o garoto viu vultos vindo na direção deles e parou imediatamente.

   Os dois nativos se aproximavam com cuidado, ainda não tinham visto os garotos por causa da poeira atmosférica, mas eles sabiam que alguma coisa estava acontecendo ali por causa do barulho das explosões. Sua pele tinha um tom acinzentado, mas não no sentido de palidez. Ela parecia ser feita de concreto. As mãos deles era algo assustador. Suas unhas tinham uma cor diferente dos seres humanos, eram amarelas. Elas eram assim por causa dos ossos dos turianos, os quais tinham essa cor. Os nativos vestiam uma farda preta com detalhes em vermelho e carregavam objetos parecidos com armas. Eram soldados. Ash lembrou das palavras de Darilo. "Eles não pensam no benefício, pensam apenas em matar os Nouakais".

   Sentindo o perigo, o inglês levantou cautelosamente, segurando a respiração para não tossir. Quando ficou em pé, ele puxou os companheiros para correrem. De primeira eles não entenderam, mas quando ouviram um disparo atrás deles, a única coisa que eles fizeram foi correr atrás de Ash.

   Eles se enfiaram em uma floresta de árvores estranhas e baixas. Os guardas escutaram o barulho dos passos e os seguiram. Kin parou e segurou a mochila dos outros, apontando para a copa das árvores. Rapidamente eles entenderam e subiram nos galhos. Os guardas estranharam o silêncio e diminuiram a velocidade bem quando estavam perto dos garotos.

   Kin ficou pendurado pela sua mochila no galho, ele abraçou a árvore para se camuflar, mas as longas alças e o tamanho da sua bolsa o entregava, os guardas os veriam. Régulo e Ash traçaram um plano silencioso e colocaram em prática antes mesmo dos nativos chegarem. 

   O inglês pulou do galho e saiu correndo até uma árvore que ficava a cerca de cinco metros da outra. Os soldados o escutaram e correram atrás dele. Enquanto isso, o espanhol ajudou Kin a subir nos galhos. Um barulho alto de disparos de arma foi ouvido por eles. Atentamente, os garotos olharam para o ponto onde Ash estava. Nenhum sinal dele. Eles apertaram os olhos, tentando enxergar pela neblina. Nada novamente. Tudo tinha voltado ao normal. Os garotos enguliram a saliva, tentando afastar os pensamentos depressivos da mente.

 - Hey! -- O inglês estava de volta -- O que vocês estão fazendo parados aí? Temos um trabalho para ser feito!

   Ele tinha conseguido matar os dois guardas e ainda pegar uma espécie de garrafa d'água no cinto de um deles. Qualquer pessoa acharia cruel os pensamentos de Ash agora. O garoto jamais tinha atirado contra qualquer pessoa, muito menos matado alguma, mas aqueles homens iriam fazer isso com ele, então era a única alternativa. Ao invés de ficar chateado ou decepcionado consigo mesmo, o jovem sentia uma onda de adrenalina percorrendo por todo o seu corpo e ele gostava disso porque fazia-o lembrar do tempo em que ele ia com seu pai caçar. Este ato era ilegal, mas por muito tempo, seu pai ficou desempregado e eles não tinham dinheiro para comprar comida, portanto, a solução era a caça. Ash nunca matou qualquer animal nessa época, seu pai achava que ele era novo de mais para isso, mas como o pequenino sempre queria ir com ele, então, a função da criança era buscar pelos animais e ficar atento com a polícia. Uma onda de adrenalina percorria seu corpo enquanto fazia isso, era a mesma que ele sentiu quando matou os nativos. A lembrança de casa e do seu pai, confortava-o e isso fazia bem para ele.

   Surpresos com a aparição do amigo, Régulo e Kin pularam da árvore. A água que estava na garrafa que Ash roubou foi dividida entre os três enquanto eles se certificavam que não tinham outros soldados. Aparentemente, eles eram os únicos naquela praia.

   Então eles se aproximaram do mar. O inglês colocou cuidadosamente a garrafa na água, ela era tão fria que chegou a queimar a sua mão, mas ele a manteve afundada, enchendo a garrafa. Régulo falou para ele esvaziar um pouco, lembrando que eles tinham que pegar apenas quatro milimetros. Antes que Ash respondesse, alguém falou uma língua estranha atrás deles. Era um dos nativos e ele já estava indo chamar os guardas.

   Os três não esperaram para o homem perceber que quem ele procurava estava morto. O inglês tirou rapidamente a garrafa de dentro da água e os garotos correram silenciosamente para, novamente, as árvores, mas dessa vez eles não pararam.

   Quando eles se distanciaram, a velocidade de seus passos diminuiu. Era impossível confundir aquele lugar com o planeta Terra. O ambiente tinha um cheiro adocicado e suave que vinha da poeira flutuante, mas este não era o único fator que ela marcava a presença. A visão deles era limitada por causa da mesma. Os garotos só conseguiam enxergar em uma margem de no máximo quatro metros. Para quem ainda não conhecia direito o ambiente, isso prejudicava, porém, o lugar era em demasiado silencioloso, portanto os garotos passaram a se concentrar mais nos ruídos do que nos vultos, os quais sempre os enganavam porque várias partes da neblina eram mais densas do que outras e acabava enganando-os. Várias vezes eles escorregaram porque as pedras petras que constituíam o chão do lugar era lisa e como aquele era um dia quente, a poeira que tinha congelado há um tempo, agora descongelava e facilitava as quedas. O que eles viam, ao contrário da praia, era bonito. Os troncos das árvores estavam maiores e tinham uma cor marrom bem clara que constrastava com as folhas que eram azul da cor azul marinho e com o chão que era preto. Era um lugar muito bonito de se estar, porém, em nenhum momento eles abaixaram as armas porque um nativo ou um animal poderia aparecer. Como o esperado, alguns bichos estranos cruzaram o caminho dos garotos, mas todos eram inofensivos e os garotos pouparam a vida deles.

   Depois de caminharem cerca de três horas, eles pararam para descansar um pouco. Eles lembraram do que precisavam encontrar. A água já estava com eles. Faltavam as flores, a porcelana e os fios pretos. Eles decidiram primeiro olhar o mapa para depois escolherem qual dos objetos iam procurar primeiro. 

   No extremo oeste, estrelas indicavam as explosões que tinham trazido eles até lá. Indo um pouco para o leste eraonde esta floresta estava. Dali eles poderiam ir para o Norte, onde o ácido clorídrico estava. Continuar indo para o leste, enfrentando mais três quilômetros de floreta e indo em direção a um centro comercial e povoados. Ir para o sudeste, passando por um lago lamacento e terminar em uma parte extremamente fria do planeta e ir para o Sul, onde escalariam uma cadeia de montanhas com cerca de dois mil e quinhentos metros de altitude e encontrariam muitos povoados.

   Eles optaram por continuar em frente e ir em busca do centro comercial porque lá eles teriam muitas chances de encontrar os três objetos, mas antes de partirem, eles caçaram um pássaro, o comeram e beberam quase inteiramente uma garrafa com dois litros de água.

   Os escolhidos percorreram um quilômetro e meio de um caminho tortuoso, escorregadio e perigoso, com inúmeras depressões. Então eles encontraram uma casa simples, a primeira que eles viram desde que chegaram lá. A surpresa veio, em frente a casa, tinham diversas flores. Não eram bonitas por causa das suas formas irregulares e cores absurdas, porém, eram flores.

   Um som estranho impediu que eles se aproximassem. Logo a explicação veio. Atrás do objeto que eles precisavam, estava uma garota de longos cabelos pretos, de costas para a entrada. Ela estava agaixada, afiando uma faca com uma pedra. 

   Sem pensar muito, Ash se aproximou se apresentando na língua de Túrio. Antes dele terminar a frase, a garota disse em voz baixa para ele não pisar na grama. Pelo incrível que pareça, ela falou na língua deles e não na de Túrio. O inglês não entendeu e deu mais alguns passos em direção a ela.

 - Eu disse -- Ela se levantou rapidamente -- para não pisar na grama! -- Antes mesmo de terminar a frase, ela lançou a faca em direção aos pés do garoto. Este escapou por pouco, dando alguns passos largos para trás.

   Sem saber ao certo o que dizer, ele se desculpou enquanto ela voltava a sua posição inicial. Por um longo momento, o único som que se ouvia era o da garota raspando a pedra na faca, tornando-a cada vez mais perigosa.

   Novamente, Ash pediu para conversar com ela na língua nativa de Túrio. Ela negou, dizendo que não conversava com estranhos, principalmente da outra dimensão. Sem dar direito a uma resposta, a garota entrou na sua casa. Os três ficaram atônitos olhando para a porta. Irritado com a reação dela, Régulo gritou que eles estavam ali para salvar a dimensão dela.

   Tudo ficou em silêncio. O espanhol estava prestes a gritar de novo, quando a garota saiu nervosa com uma espécie de arma na mão e apontando-a para a cabeça dele.

 - Salvar a minha dimensão? A minha dimensão? Ah por favor, vocês querem se enfiar aonde não são chamados, isso sim. O que esta acontecendo aqui é problema nosso, vai se enfiar naquele mundo imundo e não venha querer pisar na grama daqui! -- A garota gritou ainda mirando a arma nele. O espanhol retrucou, no mesmo tom, dizendo que eles não estariam naquele lugar se aquele problema não estivesse os atrapalhando. Ela riu ironicamente, ainda apontando a arma para a cabeça dele -- Atrapalhando? Ah! Nos desculpem! Vocês querem pedir para o gás parar de ser expelido? Tenho certeza que ele atenderá aos seus pedidos. -- Ela disse ironicamente -- A não ser, é claro, que ele exploda vocês em pedacinhos. Se vocês não quiserem esperar, posso fazer isso agora mesmo. -- A jovem apertou um botão na arma e esta apontou seus mísseis para eles.

   Antes dela atirar, Ash gritou rapidamente que Darilo Ness tinha mandado-os. A garota vacilou, com certeza não era o que esperava ouvir e sem querer acabou disparando na direção de Régulo. Ele fugiu, mas um dos mísseis o atingiu. A última coisa que ele viu antes de desmaiar foi a garota bufando e ordenando para Kin levá-lo para dentro da casa.

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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Me digam!