Pelo Bem De Arwen escrita por Peamaps


Capítulo 5
Capítulo 5 - Final


Notas iniciais do capítulo

Arwen perece. Chega o final de uma elfa.



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Peamaps 160112

Capítulo 5

Arwen estava inconsolável. Ela queria apenas ficar sozinha em seu quarto com seu bebê.

Por mais que ela tentasse acreditar, era difícil. Ela não podia crer que tudo acabou assim, que Legolas partiria sem dizer nada e que a simples troca de palavras foram as últimas de sua vida.

A imagem do elfo já parecia nublar em sua mente então devia ser verdade mesmo. Arwen não conseguia imaginar como a vida seria sem a beleza que era Legolas.

Ele era alegria, amor, sempre tão disposto à ajudar. Ele se tornava importante em sua vida assim que entrava nela. Como ela poderia seguir sem ele?

Ela o amava. Não havia dúvidas. Ela sempre o soube mas na carroça, após despedir-se do pai a certeza caíra sobre sua cabeça como um peso. Ela não se arrependia por ter se casado com Estel, mas se arrependia de não ter se casado com Legolas também.

Como seu coração poderia abrigar dois? Da mesma forma, um amor do mesmo tamanho... dois. Algo tão atípico aos elfos. O que havia de errado com ela?

Arwen deixou as lágrimas caírem livremente. É claro que ela teve de escolher um, e ela sabia, lá no fundo que se a história fosse diferente, ela estaria então chorando por Estel.

Legolas estava certo, é claro e como sempre. Mas desta vez sua sabedoria a irritava. Ela mesma não poderia imaginar como seria ter-se despedido dele, e o Príncipe devia achar o mesmo pois se poupara de tal encontro.

Elladan e Elrohir vinham bater à sua porta a cada meia hora, querendo entrar.

No dia anterior os dois estiveram deitados de cada lado dela e ela mal podia suportar-lhes a presença. Em especial Elrohir, que sempre tinha que usar o humor para solucionar tudo. E Elladan decidira que era uma boa hora para ele começar a cantar e inundara o quarto com letras sobre amores antigos dos elfos com mortais, que não ajudavam em nada, apenas a deprimiam mais. Desta vez Elladan parecia inconvenientemente à favor de seu casamento, fazendo-a lembrar-se constantemente com quem estava casada, esperando que ela se animasse.

Por isso mesmo, hoje ela não abriria aquela porta. Apesar de ouvir Elladan começando a cantar lá fora mesmo.

Arwen baixou os olhos para o bolinho de gente em seu colo e sorriu. Nunca importaria o quanto ela estivesse triste, ela sempre se alegraria ao ver aquele meio elfo. A alegria de ter um filho não poderia ser comparado à nada, ela percebeu.

Eldarion levantou a mãozinha, tentando tocar seu nariz e ela o aproximou, só então percebendo que ele tentava pegar na cordinha de mithril presa à coroa em frente à seu rosto.

-Isso mesmo, uma coroa. Que bom que gosta pois um dia você usará uma como à um chapéu, só tirando para dormir.

Eldarion emitiu um som e o coração da elfa se acalmou. Ela mordeu os dedos gordinhos com o lábio, e sentiu vontade de repetir o gesto por todo o corpinho se pudesse. Eldarion riu, faltava-lhe todos os dentes e ela desejou que ele jamais crescesse.

Os olhos dele eram iguaizinhos aos de Estel.

Eles eram azuis e claros. Eles paravam para ele observar, assim como o pai fazia.

Não havia traço diferente em suas orelhinhas. Diferente de Arwen e os gêmeos, eles puxaram os Humanos e ela sentia-se grata por isso. Que os elfos começassem à desaparecer desde cedo. Por que adiar se isso iria acontecer mesmo?

Ela lembrou-se de Legolas novamente.

Houve tantos momentos em que ela quis beijar seus lábios vermelhos e finos. Especialmente depois que ela atingiu a maturidade. Ela aguardou dia após dia que Legolas também quisesse, que ele se declarasse, mas os dias se tornaram anos, e os anos em séculos.

Talvez por isso ela ficou tão abalada quando alguém olhou para ela da forma como Estel o fizera.

Ele parecia ter começado à sonhar, e então lhe dissera isso. Ela jamais sentira-se tão desejada e seus joelhos pulavam quando ela o via. Estel a conquistou no primeiro instante, mas sempre, lá no fundo ela voltava à pensar em Legolas. No que ele estaria fazendo, se estava no palácio ou nas limitações de Mirkwood, liderando sua patrulha como o admirado e bondoso líder que era. Mirkwood era feliz por ter um grande rei e que ele um dia seria substituído pelo príncipe, talvez até melhor que o pai.

Mas a lembrança de Legolas foi se esvaindo, pouco a pouco conforme Estel a distraía, e a maravilhava. Eles não conseguiam se desgrudar desde que se conheceram.

Legolas viera à Rivendell, sem motivo aparente, ela se lembrava e bem no auge do romance entre elfa e mortal. Ela mal percebera se sentia falta do amigo de infância pois estava vidrada no homem.

Ela se lembrava de como Legolas fora embora correndo, ele jamais ficava tão pouco tempo e aquilo a incomodara um pouco.

Arwen passou várias tardes relembrando os passos de Legolas, como fizera a vida inteira, somente dando uma pausa quando conhecera Estel.

À noite ela dava toda a atenção necessária ao marido, mas era como então houvesse mais alguém na cama com eles.

Ela sabia, e que Estel percebia também.

Eldarion era um grande homem. É claro que o povo tentara estudá-lo de perto, o tanto quanto possível e a essa altura eles sabiam que o Rei tivera um grande herdeiro e competente líder. Era sempre um momento de tensão ter-se um novo líder, mas quando Eldarion atingira a maioridade de 21 anos, a fama de seu caráter já havia percorrido o país e não houve sequer uma pessoa do povo que faltara à festa.

Ele se tornara um homem bonito também. Elessar brincava com o filho e perguntava se queria que as leis fossem mudadas para que ele pudesse ter várias esposas.

Mas ambos sabiam que Eldarion só tinha olhos para a mesma mulher, desde mais ou menos os dez anos. Ela era uma camponesa e Estel não desaprovava. Seu pai dizia que ela poderia ser até de outro país, de outra raça, até uma anã e ele respeitaria sua escolha.

Elessar e Arwen estavam abraçados e observando Eldarion dançar com o objeto de suas afeições. O antigo Aragorn olhou para a bela elfa à seu lado, não menos linda apesar dos anos que se passaram e tomou seus lábios num beijo apaixonado. Ela correspondeu com ardor e sorriu para ele.

Enfim ela fora feliz.

Observando seu filho dançar ela via que eles fizeram um bom trabalho. Eldarion agora olhava para a camponesa – que ela ainda nem sabia o nome – da mesma forma como Estel sempre a olhara. Não havia dúvidas que aquela era a escolhida.

Ela gostava da moça. Ela era humilde e discreta. Parecia possuir uma calma que mostrava maturidade. Haviam ótimas coisas nela logo à primeira vista, mas foi o fato da jovem não saber que Eldarion era um príncipe que trouxera-lhe paz.

As festas jamais foram esquecidas. Eles sempre comemoravam o que podiam, uma forma que Arwen e Estel, que tiveram o mesmo pai, encontraram de manter sua memória viva.

Às vezes eles discutiam sobre Elrond até tarde da noite. As lembranças sempre terminavam em lágrimas e eles se consolavam nos braços um do outro.

Arwen via agora o tempo como Estel sempre vira. Cada ano era longo e ela já não se lembrava como fora ser imortal. Antes quinhentos anos ainda traziam lembranças de como quando sente-se que os fatos ocorreram ainda ontem. Agora uma década era para ela um longo tempo.

Eles lamentavam como a luz deixara o mundo. O quanto Arda mudava quando não havia elfos.

Elladan e Elrohir continuavam belos como sempre, jovens, sem terem envelhecidos um dia sequer em aparência.

Ela via o olhar de desespero em Elladan às vezes, e pedia então para os gêmeos partirem. Mas Elladan se manteve fiel à promessa que fizera no porto e não balançava em sua decisão. Elrohir, mais emotivo, parecia querer partir antes de ver a irmã envelhecer ainda mais.

Ela não queria mais que ficassem.

Quanto à Legolas, com o passar dos anos ela vira que jamais se arrependera de sua escolha. Na verdade, ela amava tanto os dois que não havia outra forma de ter vivido sua vida. Se ela partisse para Valinor, ela não teria vivido o que ela poderia com Estel.

Eldarion casara-se trazendo uma nova filha para Arwen e também uma neta.

Arwen e Estel não poderia estar mais felizes, mas nem tudo era paz. Estel estava sentindo dores e ela se preocupava cada vez mais. O curandeiro não podia dizer o que estava errado e Arwen só podia imaginar que a idade fazia isso com seu marido, atingindo-o antes do que ela.

Arwen parecia agora ter quarenta e cinco ou cinquenta anos humanos em aparência. Ela não se importava mas pelo olhar de seus irmãos, ela sentia-se muito mal.

Os anos dos mortais passavam muito rápido para os elfos, e ela podia ter uma ideia do desespero que tomava o coração dos gêmeos.

-Você precisa convencê-los a partir! - Ela pediu à Estel.

-Eu falo e repito, mas eles são teimosos. Deixe eles. Se algo acontecer seus corações ficarão partidos, mas Valinor irá trazer a cura. Eles não perecerão.

-Não me preocupo deles perecerem mas que tenham a imagem de nossa morte para sempre em suas mentes. Eles são lindos seres, não merecem isso Estel!

-Eles? Você ainda é uma elfa, não se esqueça.

-Não, eu não sou mais. Há muito que eu me sinto diferente. Eu vejo como se eles fossem de outra raça. Mal posso me lembrar como é a passagem do tempo para eles.

-Não se preocupe. - Estel beijou-a. - Eu vou falar com eles... de novo.

Amanhecia, tantos anos depois e Arwen abriu os olhos.

A cama estava quentinha e ela nem sentia vontade de se levantar. Ela olhou para seus cabeços caídos sobre seu ombro. Havia já alguns fios brancos e ela nem percebeu quando eles nasciam. Ela sorriu, o dia prometia estar lindo e ela poderia pegar uma cesta de fazer um piquenique com Estel. Os dois não podiam mais cavalgar então pegariam a carroça.

Só os dois.

Ela precisava disso.

Imaginando acordar o marido de uma forma que o aquecesse logo cedo, como centenas de vezes fizera, ela se virou. Um sorriso malicioso enfeitava os lábios. Seu olhar azul, predador.

Ela sentiu algo gelado no braço que a fez se afastar um pouco como por instinto. Então se debruçou por sobre Estel que dormia em paz e aproximou seus lábios carnudos.

Seus olhos abriram horrorizados.

Os lábios dele eram como pedra.

-Estel? - Ela disse com a voz trêmula.

Então notou que seu cotovelo estava encostado no corpo dele. Ela olhou para o rosto. Ele parecia dormir apenas e com o dedo trêmulo, ela encostou a ponta no rosto dele.

Um grito de horror se fez ouvir nos aposentos do Rei e vários correram para lá.

-Senhores? Abram a porta! - Gritou um guarda ao ver que estava trancada.

Arwen agitava o corpo inerte ao seu lado. Ela chorava com desespero, mal conseguindo ver o rosto que ela tanto amava.

Não era possível! Eles jantaram e tomaram vinho, ali mesmo, não muitas horas atrás. Eles fizeram amor na escuridão e conversaram tanto que foram dormir de madrugada, ou próximo ao amanhecer. Ela não podia entender aquilo.

A dor de não poder se despedir... De novo.

-Saiam da frente! - Ouviu-se um grito no corredor.

Havia muita gente, alguns querendo ajudar e outros curiosos apenas. Todos deram passagem para Elladan e Elrohir que chegavam ainda com roupa de dormir, o mais velho com um machado enorme nas mãos.

Ele começou o processo de derrubada da porta.

Encontraram Arwen debruçada por sobre o marido, tremendo violentamente.

Quando Elladan tentou afastá-la de Estel, ela gritou. O som parecia cortar seu coração e de Elrohir. Eles começaram à chorar, mal aguentando a angústia de ver a irmã assim.

Eles se entreolharam e saíram.

Ninguém entendeu como os gêmeos podiam sumir assim quando a irmã deles precisava tanto. Mas também não poderiam fazer muita coisa. A Rainha estava com o olhar parado, sem dizer uma palavra. Ela esforçava-se apenas para falar com Eldarion, que mal saía de seu lado.

-Eldarion, querido. -Ela disse quando estavam sozinhos.

Eldarion correu e sentou-se à beira da cama dela.

-Meu querido filho... -Ela acariciou o rosto do filho. - Eu preciso viajar...

-O que? A senhora não está em condições! -Ele agitou a cabeça, angustiado.

-Eu não posso ficar aqui. Por favor, deixe-me ir. Você pode mandar quantos homens quiser comigo.

-Não. Eu vou com você. Onde quer ir? Rivendell? Lothlórien?

-Eu preciso ir sozinha, você não pode me negar isso.

-Mas para onde? Não veja um reino élfico, isso irá partir seu coração mamãe.

Os dois se abraçaram e Arwen sentia-se sangrar por dentro. É claro que ela não queria partir. Mas era muito tarde para qualquer cura. Ela sabia o que estava acontecendo. Esperava que conseguisse adiar, mas assim que perdera Estel o processo começara.

Ela estava morrendo. Seu coração partira e ela não sobreviveria nem que tentasse reagir, ser otimista. Não era possível. Ela sentia a vida saindo, a cada minuto. Ela até se arriscara à ficar alguns dias após o enterro.

Ver o corpo de Estel foi a morte. Ela já ficara tempo demais. Ficara por Eldarion, e queria ficar mais só que ele não poderia ver o que estava prestes à acontecer.

-Por favor. -Ela suplicou. Em seus olhos, o desespero.

Eldarion consentiu e finalmente, forte como era, ele começou à chorar. Ele não deixara uma lágrima cair sequer quando o pai morrera, tentando somente consolar sua mãe que ainda estava viva. Mas agora ela via o grande homem, e agora, Rei, desmoronar.

Ela não poderia ficar até a cerimônia de coroamento. Ela bem que queria.

Quando Eldarion fechou a porta atrás de si, ela chorou convulsivamente. Com esforço ela foi até a escrivaninha e começou a escrever no pergaminho, despedindo-se do filho e explicando o que acontecia quando um elfo perdia o amor de sua vida. Ela esconderia bem e ele encontraria somente depois que ela tivesse partido para o outro mundo, assim ele entenderia um dia. E teria paz, sabendo que sua mãe havia mesmo ido pois não saber o destino de alguém que era o pior.

Como esperado, o novo Rei mandou cinquenta homens com Arwen mas ela os mandou de volta no meio do caminho. Dali em diante ela teria de seguir sozinha. Ela podia ao menos recostar-se e guiar os cavalos que levavam a carroça. Os guardas de Gondor não podiam saber para onde ela iria pois Eldarion ainda poderia tentar segui-la.

Ela fugia do filho, assim como dos irmãos. Elladan e Elrohir viram miséria demais. Suas almas imortais jamais deveriam sofrer o luto quando a escolha fora somente dela. Ela entendia agora porque seu pai partira tão cedo, ele não queria vê-la definhar.

Arwen passou por Lothlórien, e lá chorou copiosamente. Ficou por lá por dois dias.

Não havia sequer um indício que lá morara seres límpidos e bondosos no passado. Lothlórien se tornara uma mata fechada e hostil. Então ela partiu logo.

Mal sabia se morreria no meio da viagem. Mas querendo ver o que ela planejava, parecia que a morte iria aguardar um pouco mais. Ela sentia-se ansiosa e com um pouco mais de força. Ela sabia que aguentaria até o fim desta viagem, mas sabia também que de lá ela não sairia. Ela não aguentaria.

Iria para Rivendell, já pensara nisso na juventude. Mas ela sabia o que a esperava, e o quadro que ela veria terminaria por destruir seu coração de vez. Mas ela precisava ver... Ela precisava, ao menos da última vez.

A viagem foi longa e ela sabia que seu fluído vital aguentava somente porque ela se recusava a partir antes de ver a Última Casa Amiga.

Quando ela entrou no reino, as lágrimas não pararam mais.

Ela começou também à sentir a vida partir.

Tudo estava horrível.

A natureza era bela por si só, mas se comparado ao que o encanto de seu pai ali, o lugar não era nada. Arwen soltou as amarras dos cavalos e disse em élfico para eles partirem, que eles estavam livres e ela agradeceu:

-Hannon le.

Os cavalos fizeram uma reverência e se foram, felizes e soltos como devem ser.

Ela cambaleou.

Havia ainda uma última coisa.

Com dificuldades ela tentou andar, mas caiu e foi de rosto contra o chão. Ela chorou ainda mais ao bater o rosto na pedra, e juntando suas forças, levantou-se novamente.

Ela via o mundo balançar para lá e para cá conforme andava. Mal podia manter-se em pé. Suas nuca, suas mãos e pés estavam congelando. Será que ela cairia ali sem chegar lá?

Valar foi compassivo ao permitir que Arwen finalmente chegasse em frente à cachoeira.

As lágrimas aumentaram e ela soltou um grito agudo, cheio dor e os pássaros ali partiram depressa, tomados de horror. Ela olhou para a cachoeira e então sentou-se ao banco como sempre fizera.

-O que você veio fazer aqui? -Ela perguntara.

-Você sabe... -Legolas dissera.

-...terminar o resto da noite aqui. -Ela completara.

É claro e de tão apaixonada por Estel, ela sequer viera participar do ritual só deles. De todas as vezes em que ele estava em Rivendell.

Ela nunca sofreu tanto.

A lembrança de Legolas ali. Saber que jamais veria Estel novamente. Ver Rivendell como estava agora... Ela fechara seu ciclo. Ela soube o que era sentir a maior felicidade do imortal, e então do mortal, e agora também, a maior tristeza que qualquer coração consegue suportar.

Nada em sua vida fora pior do que perder Legolas, e agora Estel.

Ela estava prestes à cair mas ainda tentou apoiar o pé de uma forma que não a fizesse tombar para frente. Algo preto se moveu. Ela iria morrer, mas iria deitar-se confortavelmente ao tronco de um árvore que Legolas gostara tanto, mas ainda faltava isso.

Ela agachou e não mais conseguiu se erguer. Suas pernas cederam e ela ficou ali, sentada sobre gramas e pedras ao som da cachoeira de Legolas, como ela a chamava. Ela pegou a caixinha preta no chão e a abriu.

Então ela viu cenas múltiplas e todas de uma vez, bem em frente aos seus olhos.

Durante o jantar Legolas a observava. Havia tristeza em seu olhar. Ele não se aproximava, ficando somente a falar com seus irmãos...

Ela sentira sua falta e viera atrás. Legolas escondera a mão. Um baque surdo fora ouvido...

Ela abriu a caixinha, trêmula.

Um incrível anel, sem dúvida alguma feito em Mirkwood estava ainda preso no interior. Ela abriu a boca em horror e a dor em seu peito, que ela nem imaginou ser possível, ficou ainda pior.

-Não! - Ela gritou.

A caixinha caiu de sua mão e ela caiu deitada. Seus olhos ficaram parados, vendo o céu azul e as nuvens passando. Ele sempre voltaria a trazer o dia e a noite. Mas ela... Ela estava partindo.

Então ela sentiu mãos fortes em seu ombro e forçou sua visão à se focar.

Elladan e Elrohir eram a imagem do pânico.

Eles a ergueram e a deitaram no banco.

-Arwen! Oh Arwen, não! - Ela ouviu a voz de Elrohir.

No mar negro dos belos cabelos de seus irmãos, ela viu uma luz. O sol resolvera aparecer no céu, parecendo vir de repente.

De repente demais...

Ela pensou estar sonhando. Arwen piscou uma, depois duas e mais vezes, confusa. Ela apertou os olhos, fechou-os, voltou à abrir.

Não havia dúvidas.

Legolas sorria para ela, embora seus olhos estivessem atemorizados.

-Lass... -Ela suspirou fracamente.

Legolas agachou, aproximando-se dela. Assim como fizeram seus lábios.

Ela não ofereceu resistência alguma. O beijo que ela tanto desejou era melhor do que seus sonhos. Ela sentiu suas mãos calejadas de arqueiro envolver sua nuca, mas as costas de uma mão macia acariaciar sua face. No instante seguinte ela sentiu-se embaraçada:

-Não, não olhe para mim! - E cobriu o rosto com sua mão.

Legolas afastou sua mão e olhou bem dentro de seus olhos:

-Você será sempre linda para mim, Arwen. Meu amor.

Legolas pegou-a nos braços e a carregou até seu cavalo. Sendo ajudado por Elladan e Elrohir, ele montou atrás dela e a manteve firme lá em cima.

Elladan e Elrohir saltaram cada qual para cima de seus cavalos com elegância e com uma rapidez que lembrava o vento. Arwen viu e sentiu-se terrivelmente velha.

Eles cavalgaram depressa, Arwen sabia o que queriam fazer. Mas achava que não haveria tempo.

Qual não foi sua surpresa ao chegar no porto e ver um navio já pronto e à espera.

-Mas pensei que eles tivessem se acabado, - ela disse com sua voz fraca.

-E acabou, - Elrohir riu. -Mas nós estivemos construindo nosso próprio navio durante todo esse tempo.

-Nós? -Legolas perguntou divertido.

Legolas trouxe Arwen para dentro e a deitara sob inúmeras almofadas.

-Espere! -Ela segurou a mão dele quando ele fez menção em sair.

-Não dá mais tempo meu amor. - Ele disse compreensivo. - Eu tenho certeza que Eldarion irá ler a carta e entender. E eu também deixei um bilhete para ser entregue à Gondor. Agora ele saberá exatamente o que aconteceu, juntando as peças, e terá paz em saber que ao menos, você estará viva.

-Não, como ele terá paz se não pode me dizer adeus?

-Como você se sentiu quando a Senhora Celebrian partiu?

Arwen consentiu. Legolas era um sábio. É claro que Eldarion entenderia.

-Queria ao menos ter visto a coroação. - Ela sentiu uma lágrima cair.

Legolas agachou-se à seu lado e a beijou.

-Lembre-se de como foi a de Estel. Então feche os olhos e tente ver o rosto dele.

Ela passou os braços em volta do pescoço pálido:

-Você esteve aqui o tempo todo é?

-Bem pertinho de você.

Ela continuou apenas olhando, mas ele sabia da pergunta que havia ali:

-Você nunca teria se entregado se eu ficasse. Você viveu seu papel por inteiro e vivenciou a mortalidade. Viveu como se não houvesse amanhã. Não era isso que queria?

-Sim...

-Pois era isso que eu e Estel também queríamos.

-Ele sabia?

-Quando eu fui ferido, eu iria partir pois nenhum de nós três seríamos felizes se eu ficasse. Mas ele me convenceu à ficar, e preocupado, quis que eu cuidasse de você quando ele não mais pudesse.

-Oh Estel... Oh Legolas...

-Ele era um grande homem. Eu lamentei muito a morte dele, mas quando pensei em ir soube que você partiu e sabia que você sentia que a hora havia chegado. O que fez quase nos despistou. Seus irmãos estava em pânico.

-Eu não podia deixar Eldarion saber, ele viria atrás de mim. Você sabe que humanos não podem ver isso, é horrível demais.

-Eu sei. Você tem razão mas agradeço ao Valar por imaginar onde você estaria. De outra forma não chegaríamos à tempo.

-Eu fico feliz que tenha me alcançado. E tenha vindo à Rivendell na hora certa.

-Por que?

-Antes eu estava em Lothlórien.

Legolas apenas a observou.

-Foi... Foi onde conheci Estel. E Rivendell onde te conheci... Eu precisava... vê-los novamente. Os amores de minha vida.

-FIM-


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Notas finais do capítulo

Para quem viveu esta aventura comigo, por favor deixe seus comentários.
Obrigada!
Espero que tenham viajado como eu.