Pelo Bem De Arwen escrita por Peamaps


Capítulo 1
Capítulo 1




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A cavalgada era lenta já que eles não queriam cansar os cavalos. Nem havia motivo para se apressar, Legolas sabia, e como era típico dos elfos de floresta, todos eles curtiam a benéfica companhia das árvores. Elas falavam com eles e a mudança de cenário era sempre recebida com prazer pois elfos sabiam apreciar cada espécie, cada árvore, cada flor.

O Príncipe de Mirkwood partira de seu reino com uma comitiva de vinte e cinco guardas, não à seu desejo é claro. Protetor, Thranduil o obrigara à levar dez dos melhores espadachins, os dez melhores arqueiros e mais alguns para sua proteção. Seis mil anos de vida seu pai possuía e Legolas sabia que o rei jamais mudaria. Talvez tivesse ficado pior depois da morte de sua mãe.

Faziam-se muitas centenas de anos que os dois, pai e filho não sabiam mais o que era uma companhia feminina. Thranduil se fechara em seu mundo, vivendo somente pelos seus deveres mas Legolas era jovem quando tudo aconteceu, apenas uma criança e o trauma o fez se aproximar ainda mais de Arwen.

Era era sua única e primeira amiga. Os dois eram inseparáveis. Ela era dois milênios mais velha que ele mas Legolas nem se importava. Por isso ela sempre o tratou diferente, como à um de seus muitos irmãos, como Legolas começou à perceber quando alcançou a maturidade e começou à ansiar ainda mais pela presença dela e de uma forma diferente.

Ele sempre a amara.

A Princesa, a luz de Rivendell e para ele, de todos os elfos. Neta da mais poderosa elfa à existir, a senhora Galadriel, Senhora da Luz. Filha do grande curandeiro élfico Elrond. Tudo o que cercava Arwen era fascinante para ele, mas não foram essas coisas que lhe conquistaram o coração.

Arwen era bondosa, de natureza calma e compreensiva. Em seu coração sempre havia lugar para mais um bicho machucado, um novo amigo, alguém para ela se importar e cuidar. Ela jamais percebera quando passara uma temporada em Mirkwood que Legolas a observara da janela de seu quarto enquanto ela cuidava de passarinhos que caíram do ninho. Ou quando ele subia até o telhado em Rivendell, saindo do quarto de hóspedes que sempre lhe era destinado e lá de cima seus belos olhos azuis buscavam-na, e quando ele a encontrava, assim como em seu reino, Legolas a observava por horas à fio.

Ele não tinha pressa em chegar pois estava nervoso. Ele tinha planos para quando chegasse lá. O pensamento o enchia de alegria ao mesmo tempo que o aterrorizava.

Legolas era jovem ainda aos olhos do elfo. Ainda não passara dos dois mil anos, mas sua calma e compreensão fazia com que os mais velhos conversassem com ele de igual para igual. Após a morte de sua mãe e tal acontecimento ter endurecido seu pai, Legolas começou à apoiá-lo e à se preocupar para que o rei jamais ficasse sobrecarregado. Consequentemente Legolas teve de amadurecer cedo e perdeu sua infância, à não ser enquanto estava com Arwen.

No último dia de viagem eles vislumbraram o reino élfico que só podia ser visto pelos daquela raça já que era protegido por encantamento à olhos que não eram bem-vindos. O Príncipe decidiu que eles deveriam parar para um último descanso; todos levaram seus cavalos para beberem água no rio e os elfos foram se jogando de costas contra os troncos de árvores, descansando. Enquanto isso Legolas se afastou um pouco dos outros, procurando a solidão e a sombra das árvores.

Ele parara pois estava nervoso. Agora era a hora de encher os pulmões antes do mergulho. Depois ele deveria seguir em frente, sem olhar para trás.

Ficaram ali por algumas horas apenas, então seguiram caminho.

Enquanto dois arqueiros cavalgavam entre duas árvores, seguidos por Legolas logo atrás, dois elfos de cabelos negros, peles pálidas e beleza incrível saltaram de ditas árvores como se fossem frutos maduros.

Eles caíram sem ruído no chão.

Eles sorriam para o príncipe:

-Maegovanen, Legolas Thrandulion. -Disse um deles com a mão no peito.

O outro o imitou. Então se virou, escalou a árvore da qual saltara e pulando de topo em topo, sumiu de vista.

Legolas saltou do cavalo e retribuiu o gesto. Seus homens o imitaram e todos seguiram à pé e lentamente, para alívio do príncipe e seguiram o restante do caminho quietos.

Na bela e majestosa entrada de Rivendell, Elladan e Elrohir o aguardavam com sorrisos largos.

Os gêmeos de Elrond eram idênticos. Apenas alguém que os conhecia tão bem como Legolas poderia notar as diferenças sutis. Elrohir tinha um olhar mais doce e Elladan era o mais esperto. O elfo de Mirkwood conhecia reconhecer cada um por um brilho no olhar que era bem diferente em cada um.

-Elladan, -ele abraçou o amigo. -Então com menos reservas, envolveu o outro gêmeo nos braços e bagunçou-lhe um pouco o cabelo.

-Ei! -Elrohir protestou.

Eles seguiram rindo e conversando sobre o que tinham feito nos últimos anos sem se ver. Legolas tentava mas não conseguia ouvir direito o que falavam. Seus olhos viravam-se para cá e para lá, de vez em quando.

-Ela acabou de chegar, -Elrohir sorriu.

Legolas olhou-o sem jeito, mas não fingira. Ele consentiu e procurou ignorar a forma como Elladan o estudava.

Eles entraram no salão e os elfos faziam uma reverência para Legolas conforme passavam.

Elladan e Elrohir acompanharam Legolas até seu quarto, e sem formalidades, o príncipe começou à desfazer sua mochila e à guardas as coisas no guarda-roupa como se estivesse em casa.

Elrohir se jogou na cama que Legolas descansaria, Elladan caminhou até a janela, ficando de costas para eles.

-Vamos ter um jantar para comemorarmos a sua chegada.

-Quanta gentileza, -Legolas sorriu, segurando várias túnicas no ar. -Lorde Elrond é um grande anfitrião.

-Não é isso. Nós nunca temos nada para comemorar. Rivendell anda um pouco esquecida então qualquer motivo se transforma em festa.

Os dois riram. Legolas sabia o por que: as pessoas não estavam mais se arriscando à longas viagens. Os orcs vinham aumentando seus ataques e era melhor não se arriscar.

-Você deve estar cansado. -Disse Elladan finalmente se virando.

Legolas notou que ele estava anormalmente sério, e conhecendo bem o gêmeo mais velho ele sabia que Elladan só falaria se quisesse.

-Apenas um pouco, -ele disse lentamente.

-Elro, vamos deixá-lo tomar um banho. -Disse ele em tom autoritário, de quem está acostumando à mandar. Então virou-se para Legolas e disse mais gentil – Nós voltamos daqui a pouco para irmos jantar.

Depois que eles saíram Legolas se despiu ali mesmo e seguiu para a câmara interligada ao quarto. A água já estava quente na banheira de pedra e ele mergulhou o corpo, sorrindo de prazer.

-Ah que delícia! -Ele gargalhou. Percebendo somente então como seus músculos estavam cansados.

Ele nem percebera quando adormecera, e foi quando recebeu algo fofo e cheiroso bem em meio à face que ele notou. Legolas agarrou a toalha que fora lançada contra ele, atordoado, então ele viu Elrohir sorrindo-lhe, sentado na beirada da banheira:

-Se estiver muito cansado pode dormir Folha-Verde. Tenho certeza que meu pai deixaria o banquete para mais tarde.

-Imagine, eu vou me preparar.

Ele levantou e se secou. Então enrolou a toalha na cintura e seguiu para o quarto. Com nervosismo ele pegava uma túnica, depois outra e nenhuma parecia própria para a ocasião.

-Ela gosta muito de verde, -Elrohir sussurrou.

Legolas suspirou, esperando apenas que ele não tivesse dito nada à Arwen. Elladan também já parecia estar a par de seu segredo. Ele não se lembrava de ter sido tão óbvio ao mesmo tempo que também não disfarçara sua afeição. Era claro que eles sabiam agora.

Por fim ele escolheu uma camisa prateada e por cima usou uma túnica verde. Já que Elrohir queria lhe ajudar, ele aceitaria então.

Eles saíram do quarto e Elladan continuava quieto. Seguiram pelo corredor enquanto Elrohir falava sobre alguma coisa relacionada às Montanhas Nebulosas (Misty Mountains) mas novamente a atenção do príncipe se dispersou.

Quando chegaram à porta do salão de jantar, Elladan fincou sua mão no ombro de Legolas, que se virou surpreso:

-Lass, você sabe como o estimo. Eu não quero vê-lo sofrer.

Legolas apertou os olhos.

-As coisas mudaram um pouco desde a última vez que esteve aqui. - Elladan avisou com a voz fraca.

Eles entraram no salão e Legolas sentia-se inquieto. Com os olhos ele procurou por Arwen discretamente. Ela estava sentada próxima ao pai, Elrond que estava na cabeça da mesa. O caloroso elfo abriu um grande sorriso e acenou para que seu visitante se aproximasse.

Legolas postou-se ao lado dele e o cumprimentou.

Arwen estivera conversando com quem estava do outro lado mas ouviu seu pai e virou-se. À sua direita estava Legolas. Ele vestia uma estonteante túnica verde escura, seus cabelos estavam presos em trancinhas e presos por uma fivela em forma de folha e feita de mithril. Ela entreabriu os lábios, um pouco surpresa.

Após cumprimentar seu pai, Legolas virou-se para ela.

-Maegovanen, -ele sorriu.

Por um momento Arwen não respondeu, apenas olhando-o fixamente. Então ela se levantou e Legolas a envolveu em um abraço.

Houve um momento de hesitação para se largarem, e finalmente Legolas foi para o outro lado da mesa e em frente a ela.

A comida chegou e ela não poderia estar mais deliciosa. Legolas percebeu que a maioria dos pratos eram de Mirkwood, uma grande gentileza do dono da casa mas que não o surpreendia. Elrond sempre pensava em tudo, mas ele comentou em agradecimento, mostrando que o detalhe não passara despercebido.

Legolas tivera a impressão de que era observado do outro lado da mesa, mas sempre que olhava, Arwen estava comendo ou engajada em uma conversa com sua companhia à seu lado.

Após o jantar, regado com o melhor vinho, eles foram para o salão ao lado. Lá haviam elfos cantando juntos e enchendo o ar com suas belas vozes, fazendo com que todos que chegassem relaxassem na hora.

Legolas sentou-se à um canto, e logo Elrohir e Elladan estavam de um lado seu. Ele se lembrou então do que Elladan dissera:

-Agora que temos algum tempo, porque disse que as coisas mudaram?

Elladan desviou o olhar, e seus duros olhos cinzentos pousaram em sua irmã.

-Está vendo aquele do lado dela?

Legolas virou a cabeça repentinamente, finalmente percebendo que ao lado de Arwen estava aquele com que ela passara todo o jantar conversando.

-Quem é ele?

-Nosso irmão adotivo, Estel.

Legolas se lembrava. Ele o conhecera quando era apenas um menino e não mais o vira. Estel estivera viajando e aprendendo sobre a vida selvagem.

-Claro que lembro, não sei como pude me esquecer. Ele não estava aqui nas minhas últimas visitas.

-Nem Arwen, como se lembra. Ela estava em Lothlórien. Na verdade ela jamais o conheceu. Mas agora que voltou...e ele também... eles estão...

Elladan se virou para o amigo. Legolas sentiu a pena que o outro carregava por ele e não gostou daquilo.

-Eles estão juntos? -Indagou irritado.

-Não mas...

Os dois olharam novamente para eles. Arwen ria e Legolas não se lembrava de jamais tê-la visto tão feliz... Nem quando passavam momentos juntos. Ele engoliu seco.

Ele demorara demais, Legolas pensou. Ele devia ter vindo antes. Havia muitas responsabilidades em Mirkwood, mas era apenas isso mesmo? Não estaria ele fugindo do momento que temia?

Ele se levantou lentamente e saiu. Os gêmeos não o seguiram.

Ele caminhou até um lugar especial. A cachorreira estava ruidosa como sempre, e à luz do luar ela era imponente. Legolas observou a água cair. Era ali que sempre ele e Arwen terminavam as noites conversando. Eles faziam todo o trajeto que agora ele fizera sozinho, mas sempre acabavam ali. Um dia, a Evenstar (estrela do anoitecer) revelara que era ali o lugar mais especial em toda Rivendell. Logo se tornara importante para ele também. Seria a primeira vez que ele se sentaria ali e terminaria a noite só. Ele suspirou.

A tristeza tomou seu coração. Mas ele queria que ela fosse feliz e não lutaria por ela. Ela era decidida, sabia o que queria e se ela escolhera Estel...então ela sabia o que estava fazendo. Ele só lamentava o fato de que talvez ele jamais fosse capaz de amar outra. Assim como a maioria, ele tinha a certeza que encontrara sua futura esposa nela, e assim tinha vivido até então. Ele jamais aceitara os avanços de tantas outras que se encantaram por ele porque ele já se mantivera fiel a ela.

Mesmo que ele aceitasse, não seria fácil. Uma lágrima desceu sua face e ele abaixou a cabeça.

Enfiando a mão no bolso, conforme ele esperara que fosse terminar a noite ali, com ela, ele tirou uma pequena caixinha negra. Lentamente ele abriu-a, revelando um lindo anel branco e brilhoso. Ele tinha várias formas de folhas e no meio uma bela pedra azul escura, que brilhava fortemente e tinha a mesma cor dos olhos de Arwen. Legolas engoliu e apertou os olhos, fazendo as lágrimas cessarem. Ele deveria se recompor e se preparar para enfrentar os próximos dias que ficaria ali com alegria, festejando o fato que seu amor encontrara a felicidade.

Mas que felicidade era aquela? Estel não era um elfo, era um humano, um mortal. Um dia Arwen encontraria sua ruína quando Estel morresse. Ele ficou preocupado, imaginando quando fora que o mundo se tornara ainda mais complicado. Arwen era sua tábua de salvação. A única luz que o iluminara por todos esses anos, enquanto sua mãe fora torturada e encontrada à morte, tarde demais. Mirkwood estava infestada de aranhas nas quais ele precisava matar diariamente. Os orcs fechavam o cerco em seu palácio, o mal vinha se espalhando e os povos não se uniam. Como poderia um humano protegê-la e também qual seria a salvação para si mesmo agora que sua luz se extinguira?

Ele baixou os olhos olhando para a caixinha e a fechou. Não haveria mais pedido de casamento. Era muita pretensão de sua parte achar que Arwen queria alguma coisa com ele. Legolas estivera se iludindo durante todo o tempo. Ou ele fora arrogante em pensar que ela já lhe pertencia. Ele deveria ter ao menos falado o que sentia, mas não, ele jamais fizera nada.

Ele então ia levar a caixinha ao bolso quando passos leves, quase imperceptíveis mas que eram notados por um elfo se fizeram ouvir. A caixa caiu no chão e se virou depressa.

Arwen estava mais linda do que nunca. Ela vestia-se de branco e o luar parecia fazê-la brilhar, mas devia ser sua luz natural que também ajudava na composição de tão belo quadro.

Os lábios do príncipe se entreabriram e por um momento ele não soube o que dizer.

Ela sorriu para ele e se sentou. Legolas a imitou.

Com o calcanhar, ele chutou a caixinha para debaixo do banco. A tensão o tomou e ele pediu para o Valar para que Arwen não encontrasse o anel de noivado que levara décadas para ficar pronto.

-Por que procura refúgio aqui? -Ela perguntou com interesse.

-Você sabe... é preciso terminar a noite aqui.

-É verdade. Era um de nossos costumes. -Ela riu. Sua voz era como um canto.

-Era sim. Que bom que se lembra.

-Bem, faz muitos anos que não o vejo. O que aconteceu?

Legolas analisou quanto tempo se fazia. Ele realmente estivera evitando visitar o reino, como jamais o fizera.

-Eu sinto muito Arwen. Mirkwood ficou negra, quase não podemos sair mais. O mal nos cercou.

Ela pôs a mão em seu ombro. O toque quase o machucou.

-Eu sinto muito Lass.

Ele agitou a cabeça.

-O que você tem feito? -Ele perguntou.

-Eu cheguei recentemente aqui. Por muitos anos estive em Lothlórien, aprendendo com os sindar de lá. Acho que me ajudou à crescer bastante.

Legolas imaginou se aquela era a causa para Arwen ter se apaixonado por um mortal também.

-Deve ser uma honra poder aprender com a senhora Galadriel.

-Isso é verdade. Mesmo sendo sua neta ela não me poupou. -Arwen riu. -Já estou com saudades dela.

Legolas observava a água cair e Arwen notou que ele estava distante.

-Algo o perturba, Lass?

-Não, porque diz isso?

-Você parecia evitar falar comigo durante o jantar.

-Achei que você estava ocupada com seu irmão...-Ele disse antes mesmo de pensar.

-Oh...desculpe-me. Eu não lhe apresentei o Estel.

Legolas respirou fundo.

-Está tudo bem. E eu conheço ele, mas era quase um bebê quando o vi da última vez. E eu nem havia ficado aqui, estava de passagem.

-Uma de suas expedições com Elladan e Elrohir?

-Exatamente. -Ele sorriu.

Eles ficaram em silêncio. Arwen sabia que deveriam falar sobre aquilo que mudara entre eles. Antes falavam sobre tudo, e agora pareciam dois estranhos:

-Eu... gosto muito de Estel... -Ela tentou.

Legolas consentiu, forçando para sorrir mas sem olhar para ela.

-Mais ou menos como eu me sentia por você quando éramos crianças.

Legolas agitou a cabeça novamente. Então ela realmente se apaixonara por ele, mas há muito tempo atrás. Um sentimento bobo, infantil somente. Ele por sua vez continuara na ilusão até hoje.

Legolas arriscou olhar para ela:

-Eu fico feliz Arwen. De verdade. Só me preocupa o fato de que ele seja um mortal... Você pensou nisso não é?

-Você parece Elladan. Ele não está nada feliz com isso e eu nem estou com Estel ainda. Sim eu pensei mas ao mesmo tempo eu não posso controlar meu coração.

-Nem me fale, -Legolas resmungou. E entendeu agora porque Elladan estava tão quieto.

Um silêncio desconfortável se fez e por mais que tentassem, eles não conseguiam mais engajar em assunto algum. Finalmente Legolas desculpou-se por estar cansado da viagem, e gentilmente se retirou.

Arwen ficou observando-o por um bom tempo, até que ele sumisse de vista ao longe.

Ela não sabia o porque se sentira tão mal em contar-lhe sobre Estel, como se ela tivesse traindo a amizade entre eles. Mas ela precisara se explicar.

Ela ficou triste ao saber, dois dias depois, que Legolas estava de partida. Ela o procurara nesses dias e até ralhara com os gêmeos por estarem tomando Legolas para si, pois eles saíam para caçar orcs e irem nadar longe dali, mas eles se negavam à libertarem o príncipe.

Por fim restou café da manhã do último dia para que ela encontrasse Legolas livre.

-Fique mais um pouco. Ainda nem cavalgamos, ou sequer visitamos seus pontos favoritos em Rivendell, -ela pediu.

-Eu realmente vim para ficar apenas uma semana, mas vou encurtar minha estadia. Conforme me divirto aqui fico pensando nos meus e sei que eles continuam lutando, não posso ficar aqui pois nem tenho dormido direito.

Arwen entendeu e sorriu derrotada. Ela voltara para casa pelo mesmo motivo e podia entendê-lo. A escuridão fechava o cerco ao redor dos elfos.

Legolas não revelara toda a verdade. Após pedir a mão de Arwen e ganhar o consentimento de Elrond, ele pretendera levar Arwen dali e se casar em Mirkwood também, mas tudo seria feito às pressas para que ele pudesse voltar. Ao descobrir sobre Estel, ele encurtara sua estadia pois não havia mais nada a fazer.

Meses se passaram e Elladan via que Arwen e Estel estavam juntos. Ele não estava satisfeito e finalmente decidiu intervir.

-Arwen, -ele a chamou quando entrou na biblioteca.

Ela fechou o livro que lia, delicadamente à sua forma, e virou-se para ele.

-Arwen eu vejo que você e Estel não se desgrudam mais.

Ela consentiu.

-Minha irmão, porque você não escolhe alguém imortal como você? Alguém como o Legolas?

-Por que diz isso? Meu coração escolheu por mim.

-Mas por que não ele? Você só sabia falar nele, e de repente quando conhece Estel... Como pode pensar que ele é destinado para você, se esse caminho terminará em dor e... morte?

-Por Valar Elladan! Até quando virá me atormentar quanto a isso? Não vê que não tenho como mudar as coisas?

-E se eu lhe dissesse... -Elladan ofegou por um instante. Deveria ele quebrar a confiança de um amigo? - E se eu dissesse que Legolas te ama?

-Eu diria que você é tão louco quanto eu era quando criança.

-Não Arwen, eu vi em seu olhar. E entre outras coisas. Por que não espera um pouco?

-Esperar? Pelo que? Não há nada sendo feito às pressas aqui.

-Volte para Lothlórien e pense um pouco. Fique longe de Estel assim como de Legolas.

-Meu irmão. -Ela levantou-se e caminhou até ele. Então pousou seus lábios em sua face. -Eu lhe amo. Agradeço pela sua preocupação. Mas meu coração não bate tão forte por Legolas como o faz por Estel.

-Bem... se é assim...

Mas não era verdade. Arwen não queria admitir mas tudo era mais fácil com Estel. Além do mais ela não acreditava que Legolas sentisse nada por ela. Talvez ela também sentisse algo por Legolas mas isso sempre fora sufocado pois ele era como um irmão, ou um primo e ela estranhava a ideia.

E finalmente, anos após a conversa na biblioteca, ela se casou após a coroação de Estel. Que se tornou Elessar Telcontar e rei de Gondor.

9 de janeiro de 2012

Legolas viera para as celebrações, ela notara.

Desde a última vez em que se viram o elfo vinha povoando cada vez mais seus pensamentos.

O Príncipe viera acompanhado, se era possível, de uma comitiva ainda maior do que da última vez. Mas agora Gondor era forte e lideraria todas aquelas terras, e o mal não mais teria forças. Ela estava feliz por todos os seres, e uma parte dela – por Legolas – que agora teria alguma paz para viver sua vida. Mirkwood sempre fora um dos reinos élficos mais afetados.

Seu vestido de casamento era de um lindo prateado e branco, coisa dos elfos e um presente de sua avó, que também estivera presente.

Arwen se olhava em frente ao espelho, um leve sorriso nos lábios, sua mão na barriga. Em breve ela desejava fazer de Elessar um dos homens mais felizes do mundo, gerando seu herdeiro. Ela queria ter filhos enquanto conseguisse concebê-los. Elessar dissera querer três. Então três seriam. Ela se imaginava se eles teriam as orelhinhas em formas de folhas também, ou se seriam completamente humanos.

Eles viveriam mais. O sangue élfico correriam em suas veias mas muito mais fraco até do que em seu marido. Ela mesma já era meio-elfa, então em breve o sangue se perderia assim como no resto de Arda, já que aquele se tornava um mundo de Homens agora. A era dos elfos terminou e seria-lhe difícil dizer adeus à seu pai.

Sua mãe ela talvez jamais veria. Torturada, a elfa procurara refúgio em Valinor. Elas prometeram se encontrar mas Arwen quebrara a promessa e contaria com seu pai Elrond para entregar-lhe a notícia e também seu pedido de desculpas.

Elladan e Elrohir queriam ficar até...o fim.

Ela se sentia um pouco culpada agora. Contra o pedido de seus irmãos e até alguns raros apelos de seu pai ela decidira se casar com um mortal. Agora ela não só estava condenada à morrer também mas como também faria seus irmãos – tão queridos – testemunharem a perda de alguém da família. Os gêmeos jamais se recuperaram pelo trauma passado com Celebrian – seu corpo torturado e sangrento sendo trazido de volta – e em breve, veriam a morte bem de perto. O tempo que ela tinha de vida não era nada para os elfos, e ela sabia que Elladan e Elrohir sentiriam o tempo passar como se fosse apenas um ou dois dias. Mas eles guardariam a dor da saudade pelo resto de suas vidas imortais. Que grande preço à pagar pelo grande amor de sua vida.

Arwen não estava amargurada. Embora ela jamais tenha hesitado em estar com Estel, ela sempre pensou nas consequências sem conseguir voltar atrás. Se ela fosse para Mandos ou não, já que morreria como uma mortal, negando o presente incomparável da imortalidade, ela não sabia. Talvez ela fosse para onde os Homens vão e ela vivesse com Elessar em algum outro mundo não material. Para ela mesma, a ideia de jamais ver sua mãe ou seus irmãos era inconcebível e Arwen gostava de fantasiar que como era uma elfa, após sua morte ela poderia estar em Valinor com eles.

A nova rainha de Gondor se despiu devagar, tratando do vestido com reverência. Ela vestiu uma simples túnica vermelha e recolocou a coroa que tirara quando ia sair da vestimenta. Ela se olhou no espelho, suspirou e saiu.

O salão de festas estava apinhado de gente. Em nenhum lugar era possível ver seu marido, então ela continuou andando.

As pessoas sorriam e se curvavam para ela. Alguns um pouco decepcionados com suas roupas. Desde o começo ela queria mostrar a eles que ela se considerava um deles, vestindo-se o mais simples possível já que muitos não gostaram muito da ideia de alguém de raça tão superior ser a rainda deles. Ela mostraria que elfos eram como eles, não melhores que ninguém.

Embora sua atenção estava voltada à procura de um homem barbudo, coroado e de cabelos castanhos ondulados, ela sentiu um baque ao ver vários seres etéreos e loiros reunidos num grupo. Aqueles eram os elfos de Mirkwood. Eles riam e bebiam, parecendo um pouco isolados da maioria, mas era conhecido que aqueles elfos eram mesmo assim. Pelo trauma de terem de largar suas terras e se esconderem mais ao norte e debaixo da terra em cavernas (algo incomum para elfos), Thranduil e seu povo se tornou recluso e desconfiado. Embora ela não achasse que Legolas fosse afetado por isso. O agradável elfo sempre tivera sede por aprender, conhecer pessoas, fazer amigos e quebrar seus limites.

Ela sorriu ao vê-lo.

Legolas estava lindo. Sua túnica ia até os pés e era prateado, mas ao mesmo tempo tinha algo de dourado também. Ele brilhava e a discreta coroa adornava sua bela cabeça. Ela sentiu o coração bater mais forte quando se aproximou, esquecendo-se de que ela procurava por Elessar.

-Legolas. -Ela disse sem fôlego.

Ele se virou e havia alguma surpresa em seus estonteantes olhos azuis.

Ele foi o primeiro à olhá-la dos pés à cabeça com um brilho aprovador:

-Você está linda.

Ela não soube o que dizer, e sentiu que não ela mas outra pessoa controlava seu corpo quando ela aceitou o abraço.

Os dois se afastaram dos outros elfos e caminharam a alguma distância um do outro:

-Ambas as cerimônias foram perfeitas. -Disse Legolas.

-Agora a paz pode alcançar a todos. -Arwen comentou.

-É uma honra servir o rei dos homens.

-Você vai ficar então?

-Eu vou conversar com seu marido. Não há muito do que se fazer em casa já que nós vamos partir, então pensei em me voluntariar e ver se Elessar precisa de algo de minha parte.

-Você vai embora? -Ela sentiu o coração bater mais rápido.

Mas é claro que ele iria. Por que ela não havia pensado nisso ou se preparado, ela não fazia ideia. Legolas sempre estivera lá, parecia óbvio sempre tê-lo por perto. Agora que ela o via como um elfo comum, ansiando pelas Margens Cinzentas assim como seus irmãos, sua avó ou qualquer outro elfo, ela percebia que se ela estivesse livre, estaria partindo também.

-Não agora. -Legolas respondeu depressa ao notar sua expressão.

-Eu entendo. -Ela forçou um sorriso mas seus olhos se esconderam ao fitar o chão.

Legolas pegou seu queixo e o ergueu:

-Não agora, eu disse.

Ela consentiu e tentou se animar. Não era justo de sua parte querer segurar Legolas ali, mas era o que ela queria fazer.

O jantar foi esplêndido e a essa altura foi Elessar quem a encontrou. Ele se sentou na ponta da mesa e ela ao seu lado, no mesmo lugar que tomava em Rivendell quando o lugar de seu marido era tomado pelo seu pai. Agora ela serviria outro líder.

Seu olhar procurou o de seu pai e Elrond lhe sorria. Seus olho brilhavam mais do que o normal e ela sentiu o coração se despedaçar. Devia ser difícil para ele. Mas ao mesmo tempo em seu olhar Arwen via que ele estava feliz por sua própria felicidade, aquilo era claro. Ela desviou seus olhos azuis depressa antes que se emocionasse demais.

-O que foi? -Elessar pousou sua mão quente sobre a dela. Ele sempre percebia suas reações.

Ela negou com a cabeça, indicando que nada a incomodava.

Seu olhar sem querer pousou nos de Legolas, e ele parecia imensamente triste. Num piscar de olhos o Príncipe olhava para a garrafa de vinho, a melhor safra de Gondor e encheu sua taça. Ela se perguntou se imaginara o que vira.

Quando se virou novamente, Elessar a estudava.

-Eu estou bem meu querido. De verdade. -Ela ergueu as sobrancelhas.

Ele riu e tomou sua mão nas dele, e beijou-as demoradamente, fazendo-a se arrepiar.

Esta noite seria também a noite de núpcias dele, e tendo atingido a maturidade à algumas centenas de anos, Arwen já desejava-o imensamente. Apesar do primeiro à povoar seus sonhos ter sido Legolas, já que fora o único que a atraíra antes dela conhecer Estel em pessoa.

Quando seus olhos de um belo azul escuro pousaram sobre os cinzentos de seu marido, ela viu o mesmo desejo queimar nos olhos dele. Elessar parecia ter o magnetismo suficiente para dominar qualquer mulher e ela se sentiu escrava de sua vontade. Que ela seria capaz de fazer qualquer coisa para satisfazê-lo.

Depois do jantar houve dança. Ela dançou três canções com seu marido, duas rápidas e uma lenta e a primeira eles o fizeram sozinhos enquanto todos assistiam deslumbrados. O casal era perfeito um para o outro, a maioria pensava. Da segunda música em diante aqueles que queriam se divertir invadiram a pista para dançar também. Ela gargalhou alto, num gesto atípico para uma rainha e sem conseguir se conter ao ver que Elladan e Elrohir dançavam juntos, com vergonha de puxarem alguma mulher ou elfa para dançar.

Ela se emocionou então ao ver que Legolas reparara nisso, e como sempre o fizera pelos milênios em que se conheceram, ele tomou a mão de Elladan e a outra de Elrohir e os três dançaram junto numa ciranda. Muitos riam e o Príncipe nem se importava.

Aqueles três eram a fonte de sua alegria. Como ela conseguiria viver sem eles?

Ela também pensara em como seria tê-los e deixar Estel, há muito tempo atrás e aquilo também era impossível.

Arwen jamais fora uma dessas bobas que ficam imaginando o dia do casamento e vivendo somente para esperar pelo dia fatídico. Mas estava surpresa que a data fosse de tamanha angústia.

O salão foi aberto e eles seguiram para o outro onde havia mais vinho, doces e a música mudara. Agora ela ficara por conta dos elfos, e os Humanos ficaram deslumbrados com suas vozes e a beleza de suas letras, pois a maioria só ouvira falar sobre os seres angelicais, sem sequer vê-los de perto. Ouvir os Nascidos Primeiro (first born) cantarem era um presente que eles passariam adiante, contando em histórias para as gerações Humanas vindouras. Numa triste época em que nenhum elfo mais habitasse a Terra-Média. Que triste época seria essa!

-Posso roubar-lhe a Rainha?

Tanto Arwen como Elessar olharam para Legolas surpreso. Achando tudo muito normal, Arwen aceitou sem sequer olhar para seu marido. Ela não percebeu a ansiedade dele, que jamais conhecera o quão próximos os elfos eram e que aquilo era perfeitamente normal.

Elessar continuou observando-os dançarem e sentiu uma pontada no coração quando Arwen jogou a cabeça para trás, rindo de algo que Legolas dissera próximo demais à seu ouvido. Não era na verdade, tão próximo mas para ele era como se o Príncipe tivesse enfiado a língua ali.

Ele sentiu uma mão no ombro direito, seguido então no esquerdo. E nem precisou se virar para saber que seus cunhados vinham à seu apoio.

-Calma Estel. É apenas uma dança. -Elrohir riu.

-Ela é sempre assim com ele? -Ele perguntou, tentando relaxar, com medo de que os gêmeos fossem depois direto para contar à Arwen.

-Eles eram como irmãos. Faziam tudo juntos desde pequeno. Dançar era uma delas está bem? Foi ela quem ensinou Legolas à dançar pois por ser um Príncipe, esta era uma das etiquetas que ele precisava aprender mas seu pai não tinha tempo para ensinar e nem alguém para realizar a tarefa pois Mirkwood estava sempre em perigo.

-Eu entendo. -Elessar respirou fundo.

-Por que não tenta conhecê-lo, caro cunhado? -Elladan desafiou-o.

Elessar fitou-o e a sensação conhecida de que o gêmeo mudara com ele voltou. Desde que começara à namorar sua irmão, o primogênito de Elrond se tornara distante com ele. Era como se o Humano não fosse mais seu irmão adotivo mais novo, e sim um homem petulante que correra atrás de sua irmã. Ele pensou pela milésima vez se Elladan considerava seu casamento como um incesto, pois era a única coisa que ele pensava que poderia chatear seu irmão, mas ele mesmo discordava já que ele nunca conhecera Arwen até ficar adulto.

-Eu vou sim. -Ele respondeu, aceitando o desafio, sem notar que erguia um pouco o queixo. Elladan sempre o intimidara, em especial porque ele sempre quisera impressionar o irmão. Mas Elrohir também era assim. Era algo que só irmãos mais novos poderiam entender.

Elladan sempre fora o mais corajoso, ousado, e Estel e Elrohir cresceram querendo sua aprovação, o que era difícil de vir. Isso acontecera porque Elrond também fora duro com ele. Talvez o Lorde de Rivendell estivesse treinando-o a vida inteira para se tornar um líder, e era isso que Elladan era. E também o objeto de admiração de seus irmãos.

Quando o fim da noite chegara, Elessar, sem conseguir se conter mais resolveu roubar sua esposa dos braços do pai pois Elrond iria convidá-la para dançar pela décima quinta vez. E isso era demais.

Relutante, o pai finalmente entregou a filha ao genro, mas não antes de sussurrar em seu ouvido:

-Cuide bem dela como a estrela que é.

-O senhor tem minha palavra Adar. -Ele fez uma reverência.

Elrond consentiu. Havia confiança em seu olhar.

-Eu nunca lhe disse isso antes, mas eu te amo meu filho.

Elessar soltou a mão da esposa por um instante e abraçou seu pai.

-Jamais poderei lhe pagar por tudo o que fez por mim.

Elrond respondia com o mesmo ardor.

-Apenas cuide de você e de Arwen. Vocês só tem um ao outro quando eu partir.

O rei de Gondor consentiu com os olhos levemente úmidos, Elrond estava na mesma situação. Então ele se foi.

Quando a porta do quarto se abriu, Elessar deu passagem para Arwen e se virou para fechar a porta. No fim do corredor ele viu uma figura esguia fechar a porta do outro lado.

E teve certeza de ter visto uma bela cabeleira loira antes da figura sumir.


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Notas finais do capítulo

É isso aí. Aguardo reviews e também que esta história possa inspirar mais autores à escreverem sobre o Senhor dos Anéis pois amo Tolkien.
Obrigada por ler!



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