Lendas Do Acampamento: Vingança De Urano escrita por V i n e


Capítulo 19
O Jardim das Hespérides




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Quando você sabe que esta a beira da morte, e que as pessoas mais importantes para você correm um perigo mortal, você reflete sobre o que se arrepende de ter feito e o que gostaria de fazer...

Um portão em escala menor bloqueava a entrada de um jardim. O portão era de bronze, irradiava um brilho celestial, como o sol poente, suavemente o empurrei e ele se abriu com um rangido leve. Uma rajada de vento penetrou em minha camisa arrepiando os pelos do meu braço. O céu tempestuoso e carregado de nuvens negras e afuniladas lançava uma sombra fria e cruel sobre o belo jardim das Hésperides. Flores caíam como cascatas multicoloridas nos muros de mármore polido. Uma única árvore se erguia majestosa no centro do jardim, pequenas bolas de ouro pendiam em seus galhos graciosos. Pomos. Os pomos de ouro de Zeus e Hera. Relutante desviei o olhar para o chão. Um corpo maciço de escamas douradas estava enrolado na árvore, centenas de serpentes se projetavam em seu tronco colossal. Não, não eram serpentes, eram cabeças. Cabeças, inúmeras cabeças agitavam-se olhando em cem direções diferentes buscando algum vestígio de que alguém que pudesse tentar roubar os pomos. Sophie segurou meu braço, seus olhos não desgrudavam de Ládon.

- Temos que encontrar Atlas – Ela murmurou. Seus olhos penetraram os meus.

- Vamos... Cuidado para não fazer barulho! – Sussurrei. Emma e Rapha estavam prontas para um eventual combate com a fera. Emma mantinha a espada a frente do corpo e Rapha tinha uma flecha pronta para ser disparada. O enorme dragão ainda não havia nos avistado. Todas suas cabeças se viraram para cima olhando para o céu negro, ele rosnou se levantando. Seu corpo era imenso! As garras eram do tamanho do meu indicador. Seus olhos eram amarelos, as escamas reluziam como folhas de ouro. Uma de suas cabeças se virou em nossa direção, seus olhos perfuraram cruelmente os meus, senti Emma e Sophie paralisarem atrás de mim. Rapha se postou ao meu lado, o arco em mãos, seus olhos eram vorazes. Ládon rosnou, todas as cabeças virando para nós, um rosnado bestial rasgou o ar calmo das montanhas.

- Vamos tentar passar o mais rápido que conseguirmos! Cuidado com as cabeças! – Disse Rapha.

- Isso é impossível! Ele vai nos devorar antes que possamos chegar ao outro lado! – Argumentou Emma.

- Temos que tentar. – Concordei.

- Will! – Disse Sophie, seu olhar era cauteloso – Tem certeza?

- Vamos morrer de qualquer jeito mesmo...

- Quando eu disser três! – Anunciou Rapha.

Ládon avançou. O imenso dragão correu para cima de nós, os olhos brilhando de raiva.

- Três! – Gritou Rapha. Disparando uma flecha certeira no olho de Ládon, quero dizer, um dos cem pares de olhos da fera.

- Prosochí̱! – Ouvi Emma gritar atrás de mim. Mente, pelo que entendi. Permiti-me olhar para trás, a tiara de prata de Emma fora substituído por um elmo. Sophie pegou sua adaga na cintura, a arma cresceu até o tamanho de uma espada. Uma das cabeças de Ládon tentou me abocanhar, ergui a espada riscando o céu. A cabeça se separou do corpo, o pescoço e a cabeça se transformaram em poeira dourada. Mais quatro cabeças, em cima, direita, esquerda e...

- Embaixo! – Gritei fincando minha espada no crânio da fera que vinha em direção a minha perna. Impulsionei minha espada no chão e pisei em seu punho jogando meu corpo para trás. As três mandíbulas se fecharam no ar surpresas. Transfiguradora voou até minhas mãos.

- Will! Atrás de você! – Gritou Rapha.

Me virei bruscamente. Uma das cabeças vinha pela esquerda mas ela não queria morder, ela veio como um chicote. Não pude me esquivar, o pescoço me acertou com a força de um taco de basebol em punhado por Mike Tyson. Fui jogado a alguns metros de distancia, de dentro de mim pude ouvir um ruído seguido de uma dor atordoante. Que droga! Pensei. Caí estrondosamente no chão, ergui a mão direita e afaguei o lado esquerdo do meu corpo senti uma coisa pontuda na altura das costelas. Duas costelas quebradas pelo que pude averiguar.

- Will você esta bem? – O tom na voz de Sophie era de desespero.

- Estou. Só quebrei duas costelas! – Eu disse com esforço. Minha respiração estava difícil.

- Will! Se houver fragmentos dentro de você... Isso é perigoso! Os fragmentos podem perfurar alguma coisa. – Gritou Emma degolando mais uma cabeça.

- N-não temos tempo para isso, Emma! – Gemi.

De repente o monstro tremeu. Todas suas cabeças se viraram para mim. Seus olhos lampejaram. Um rugido rasgou seu peito. Ele desistiu de minhas amigas mas em compensação veio com tudo para cima de mim. Dezenas de cabeças tentaram me morder ao mesmo tempo. Alguma coisa se chocou comigo me derrubando e evitando que Ládon comece meu pescoço.

- Rapha!

A caçadora havia se jogado contra mim, ela estava caída ao meu lado. E arfava.

- Se ficar parado na frente de Ládon de novo... Eu te mato! – Guinchou ela.

Emma e Sophie tacavam pomos nas cabeças de Ládon tentando chamar-lhe a atenção.

A fera ficou imóvel. Nenhuma de suas cabeças se mexia.

- Que coisa mais indelicada, querido. Atacando os filhotes dos deuses. – Uma garota de túnica dourada estava sentada aos pés da árvore. Mais duas riam perto do lago. – Olá, filho de Poseidon. Espero que estejas aqui para acabar com a tirania de nosso pai, Atlas.

- Como assim?

- Vós ainda não percebestes que não gostamos de Atlas? Vistes a bofetada que levei no rosto? Sim eu sei que viu... – Ela sorriu seus dentes brancos eram capazes de causar uma parada cardíaca. Seus olhos eram de bronze líquido e olhavam diretamente nos meus. Comecei a arfar. Sophie pigarreou e olhou pra mim depois para ela.

-Oferecida! –Pensou ela.

- Ciúmes? Vai lá falar com o Mathews! – Pensei.

- Bobo!

- Já pararam com a conversinha telepática? – Perguntou a Hésperide. Corei. – Não queremos que Atlas seja general do senhor Urano. Ele usaria as mulheres e as trataria como escravas! E ninguém merece aquele papinho de dominação do mundo. Ele seria um péssimo líder. Não deixaria nenhum mortal ou semideus bonito como vós para nos divertir. Isso seria uma pena... – Ela me lançou um sorriso de tirar o fôlego. Num movimento suave e elegante a Hespéride se levantou e veio andando até mim.  – Perder um lindo rapaz como vós...

Ela andou até mim, pegou minha espada das minhas mãos e a analisou de ponta a ponta. Ela empunhou graciosa a espada mostrando uma enorme destreza e habilidade. Ela gentilmente apontou a espada para meu pescoço.

- Will! – Gritou Sophie.

A ninfa sorriu, meu coração martelou, seus dentes faíscaram, ela me olha de uma forma que parar o trânsito. Suas irmãs sorriram, a espada mais forte em meu pescoço, pude sentir uma única gota de sangue escorrer para dentro de minha camisa. Olhei nos olhos da Hésperide, enquanto ela baixava a espada e selava nosso encontro com um beijo. 


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