O Amor De Um Jovem Punk. escrita por Lost In My Soul


Capítulo 4
Capítulo Quatro.


Notas iniciais do capítulo

OI seres desse mundo perdido. Eu sei que devia ter postado isso ontem e... desculpa, só isso que eu posso dizer. Tive uma maldita insonia essas últimas noites e fiquei com preguiça de posta e serio, desculpa mesmo, mais aqui está e esse cap eu revisei inteiro.
Queria também mandar um abraço especial para Andreza Souza Ribeiro por ter recomendado essa história, vlw mesmo, você é foda.
Por hoje é isso, aproveitem(ou não) mas deixem um review de qualquer jeito.
Beijos de Lost In My Soul.



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Jones POV.

O caminho até minha casa foi mais complicado do que eu esperava, demoramos quase quarenta minutos até nosso objetivo, tudo graças ao transito infernal, e claro minha casa ser em um bairro afastado da sociedade. Felizmente, Claire entendeu muito bem quando eu pedi para se segurar, então todo o caminho ela passou agarrada muito forte com o corpo junto ao meu, o que foi muito bom e também me deu confiança, sabendo que ela não cairia pude correr e costurar os carros por toda a cidade.

Quando finalmente chegamos a minha casa levei a moto por um corredor lateral até os fundos e só lá descemos dela, percebi que Claire ficou bem aliviada quando colocou os pés no chão, pelo visto eu a tinha deixado com medo nessa viagem, mas nisso eu daria um jeito de recompensá-la mais tarde, não sei como, mas iria.

Minha casa sempre foi muito simples, não chegava a ser um barroco caindo aos pedaços, mas claro que também não era uma mansão, era como qualquer outra casa de um bairro de classe média baixa, porém essa era muito mais bagunçada que qualquer outra na vizinhança.

- Não repara na bagunça. Eu não tenho empregada – disse para Claire quando passei pela porta e ela veio atrás de mim.

- Minha nossa senhora. Você chama isso de bagunça. Isso é cúmulo do caos.

- Eu já disse que não tenho empregada, e também eu não tenho paciência para arrumar minha própria casa. E sei lá, eu acho que eu prefiro assim.

- Como você pode preferir morarem um lugar assim?! Mais isso é um exagero, o que você faz nessa casa? Está preparando uma guerra?

- Até parece, não sou muito fã de guerras, para mim guerras só servem para tirar dinheiro do povo e dar uma falsa sensação de liberdade, enquanto militares imbecis matam inocentes.

- Não se eu entendi o que você disse...

- Nem precisa. O que importa é que eu só bebo até desmaiar em algum canto – falei achando uma graça incrível nas palavras dela, ou nas minhas palavras quem sabe – Bom, eu tenho um sofá que ainda dá para sentar. Fique a vontade. – Falei apontando o tal sofá.

Diferente do que eu pensava, ela não ficou com nojo ou coisa parecida, apenas se sentou depois de jogar algumas latas amassadas de cerveja no chão.

- Então, o que você vai querer? – disse mostrando duas garrafas que eu acabara de tirar da geladeira, uma de vodka e uma uísque.

- Traga as duas.

Claire me respondeu com um enorme sorriso em seu rosto. Não sabia o motivo exato, mas com certeza ela queria experimentar alguma coisa mais forte, isso era obvio e naquela hora uma força me empurrava para descobrir o porquê de toda aquela vontade, em contra partida algo me dizia que eu não descobriria. Mas também, saber que logo teria aquela garota tão linda bêbada em minha casa já era o suficiente para continuar.

- Vamos com calma, não quero você bêbada em minha casa, está bem?
Até parece que eu não quero, sei...

Entreguei-lhe um copo com um pouco mais da metade com de uísque.

- Eu até acho que você gostaria que isso acontecesse – ela respondeu antes de beber todo o conteúdo do copo de uma só vez – Aih, isso é muito forte – disse ela entre soluços, o álcool não esperou para atacá-la – Acho que isso não está sendo uma boa idéia.

E minha gargalhada veio seguida, provavelmente pode ter sido ouvida da rua, por mais que eu ficasse com pena de ver tanta angústia naquele rosto, eu também não podia deixar de achar aquilo cômico. E o humor supera o drama.

- Você é mais fraca do que eu pensava. Quer parar? – perguntei em tom de desafio e já colocando mais da bebida no copo em sua mão.

Ela não respondeu, apenas virou copo em sua boca, novamente muito rápido. Eu tinha certeza que logo ela não agüentaria mais, porém minha curiosidade de descobrir até onde ela chegaria me incentivava a fazê-la beber mais. Claire estendeu a mão para que colocasse novamente alguma coisa em seu copo, dessa eu coloquei menos e no lugar do liquido já conhecido dela, pus vodka. E novamente ele bebeu, dessa vez sem tanta pressa.

- O que é isso? – disse ela, tossindo novamente e agora derrubando um pouco no tapete cinza que cobria todo o chão de minha sala. Sua voz estava áspera e muito fraca.

- Vodka, eu quis variar um pouco – Eu não conseguia parar de rir.

- Você quis o que?! Eu acho que vou vomitar. – Era só essa que falta. Tinha sido mais rápido que eu pensava, eu mal tinha me aquecido e ela já não agüentava mais.

- Vem comigo. Vou te levar no banheiro.

Eu tinha certeza que ela não conseguiria andar pelo corredor até o banheiro, mas foi divertido vê-la tentando ficar de pé, cambaleando de um lado para o outro. Claro, que eu não deixei que ela caísse, antes que chegasse ao chão eu a peguei no colo e a carreguei nos braços até o banheiro. Claire não chegou ao ponto de vomitar, ainda bem, é claro que não seria uma cena nada agradável de ver e ela também ficaria com um hálito horrível. Mas também desse jeito ela demoraria mais para voltar ao normal.

- Claire, eu vou te colocar embaixo do chuveiro, está bem?

- Não, não. Você não pode tirar a minha roupa, seu tarado. – disse ela quase gritando. Cada coisa que essas garotas bêbadas falam.

- Relaxa. Eu não vou fazer isso – Não sei se ela chegou a ouvir o que eu tinha acabado de falar, pois quando olhei para o seu rosto ela tinha adormecido.

Deixei que caísse um pouco de água fria em seus cabelos, mas isso não fez com que ela acordasse, então parei de desperdiçar água e desliguei o chuveiro. Carreguei a em meus braços até o meu quarto e coloquei uma toalha limpa (por sorte eu tinha uma) em volta de seus cabelos. Ela respirava normalmente e ali em meus braços, mesmo bêbada, parecia um anjo adormecido, que tinha caído dos céus bem diante de mim. Um anjo dormindo no inferno, e eu, como bom demônio que sou, não deixaria de ajudá-la.

Com certeza ela ficaria assuntada quando acordasse e visse o estado do lugar onde ela se encontrava. Por algum motivo o meu quarto conseguia ser pior que o resto da casa, mas não era hora de eu me importar com isso, então voltei para sala e guardei garrafa de vodka na geladeira, mas me deitei no sofá com o uísque na mão, não me dei ao luxo de usar um copo, simplesmente comecei a beber direto do gargalo.

Como sabia que o anjinho demoraria um bom tempo para acordar do sono profundo, eu decidi que também não seria injusto se eu também dormisse um pouco, como na maioria das vezes eu não estava com sono, mas logo sono não seria mais preciso para que eu dormisse. Ela realmente tinha desmaiado muito rápido mal fazia quinze minutos que ela estava em minha casa e já estava dormindo de bêbada. Acho que ela precisa de um pouco mais de treino. Dizia uma voz dentro de minha cabeça.

Direto do gargalo eu tomei a primeira dose, não sei se é certo definir isso como dose, porque eu não me importava com o quanto eu tomava de cada vez, mas também quem vai se importar com isso, certo? Como velho amigo que era o uísque descia suave por minha garganta e os primeiros goles nem faziam efeito, e nem os que vieram em seguida.

Dessa vez não estava fazendo o efeito que eu esperava então me levantei e fui até a cozinha e peguei a vodka junto com duas latas de cerveja e um copo. Misturei o primeiro copo de uísque com metade de vodka, o bebi sem dificuldade, o segundo foi à mesma coisa, assim como o terceiro, o quarto foi só de uísque e o quinto só de vodka. Porque no final das contas, se estava bebendo meio a meio, então eu poderia beber um inteiro de cada, assim seriam dois meios iguais, certo? Não? Eu acho que o álcool já confundiu a minha cabeça, então eu decidi tomar as duas latas de cerveja separadas, assim talvez a cerveja por ser bem mais fraca anulasse o efeito das bebidas anteriores. É, eu também acho que as coisas não funcionam desse jeito.

A partir desse ponto eu não me lembro direito como as coisas aconteceram, só sei que eu decidi tirar um longo cochilo.
(...)

Acordei umas quatro horas depois com alguém me batendo com um travesseiro no meu rosto. Era Claire, obvio, quem mais poderia ser? Sentei-me no sofá, o que não foi uma boa idéia eu me mexi muito rápido e um zumbido insuportável começou dentro da minha cabeça, tão forte, como se quisesse estourar o meu crânio.

- Jones, acorda – Pelo menos a voz era agradável, ajudava a acalmar o zumbido na minha cabeça – Eu estou com fome, o que tem para comer? – Isso seria uma dor de cabeça, mas também necessário, nós dois mal tinha comido naquele dia e começamos encher a cara, isso não deve ser muito saudável e deve ser por isso que Claire não agüentou muito. Talvez.

- Espera um pouco que eu vou ver – fui até a geladeira e olhei dentro dela para saber o que tinha – Peixe, frango e umas coisinhas. Espera que vou preparar. – falei olhando para ela. Claire não parecia tão mal para alguém tinha levado provavelmente seu primeiro porre de verdade.

- Você sabe cozinhar?

- Sei sim, é isso que acontece quando se precisa comer e não tem ninguém para fazer a comida para você. Acredite em mim, eu posso cozinhar qualquer coisa. E a propósito, Boa Noite.

- Ahn? Boa Noite – meio lerdinha ela – O que? Que horas são? – talvez não tão lerda assim, antes que eu pudesse responder ela pegou o celular em seu bolso e viu por conta própria – Já são dez horas da noite?! Eu tenho que ir – dito isso, ela saiu correndo em direção da porta querendo ir embora, mas eu entrei no seu caminho e a segurei.

- Você é louca por acaso?

- Não, louco é você. Me deixa passar.

- Já escureceu e sua casa é muito longe daqui. Como pensa que vai chegar até lá?

- Eu não sei, dou um jeito. – essa garota tem algum problema, teimosia provavelmente.

- Para de birra. Senta ai, depois que você jantar eu te levo.

-Você não entende. Eu não posso chegar tarde.

- Por que não?

- Porque não. O que você não entende nisso? Não posso me atrasar.

-Se atrasar para que? Tem alguém te esperando lá?

- Não, mais...

- Mais nada. Senta.

Finalmente ela cedeu e voltou para a cadeira simples na mesa da cozinha do lado oposto onde estava. Minha cozinha não era muito grande, na verdade, ela não era nada grande. Então a mesa quadrada ocupava quase todo o centro dela e tudo ali era perto de tudo, mais é claro que isso não importa para coisa alguma.

Tem coisas mais interessantes para pensar agora.

Eu não pude deixar de notar em como Claire era persistem e também cabeça dura, não fazia idéia do que se passava na dentro daquela cabeça e não podia imaginar em como ela pretendia chagar a sua casa. Provavelmente seria estuprada na primeira esquina. Nossa. Como eu posso pensar essas coisas?

Mas provavelmente era verdade. E também era muito curiosa, o jantar não demoraria em ficar pronto e ela não esperou para começar com suas perguntas.

- Você ainda tem que me contar a sua história – tudo bem, isso não foi uma pergunta.

- O que exatamente você quer saber?

- Não sei. Me fala sobre a sua vida, do jeito que eu falei da minha. – Essa não seria uma conversa muito bonita.

- Tudo bem. Eu acordo, vou para a escola, durmo um pouco lá, bebo um pouco aqui em casa ou na rua, durmo de novo... – antes que eu terminasse de falar ela me interrompeu com um pigarro, não foi muito educado é claro, mas pelo olhar que ela me lançou estava obvio que não era aquilo que ela queria saber – Tudo bem – continuei – Eu praticamente não conheci meu pai, ele até morava comigo e com minha mãe, mas era completamente ausente, era quase impossível encontrar aquele cara dentro de casa, mesmo assim eu o tinha como um ídolo para mim, sempre que ele aparecia em casa eu queria ficar ao lado dele, eu era realmente muito fã daquele cara. – tive a sensação de que já estava falando demais, mais também não pensei em parar. – Até que um dia quando eu tinha nove anos, ele estava saindo de casa, mal tinha acabado de chegar de uma de suas viagens e já estava indo embora de novo, o taxi do lado de fora esperava por ele e o taxista colocava todas as suas coisas no bagageiro.Quando eu vi aquela cena pela janela da sala eu sai atrás dele, correndo e gritando por ele. Eu estava ao seu lado quando ele finalmente se virou para mim. Ele olhou nos meus olhos por um longo instante... – eu não sabia se eu seria capaz de falar mais, já podia sentir as lagrimas se formando em meus olhos, mas as enxuguei sem que Claire visse e continuei a falar – Depois disso ele recuou o braço e me deu um soco bem no meio do rosto, esse é, até hoje, o soco mais forte que eu levei. Eu cai no chão e comecei a chorar, ele nem ameaçou em me ajudar apenas continuou me olhando de cima e disse às palavras que eu não esqueço até hoje.

“O que você quer de mim garoto? Não vê que eu não quero nada com você seu pirralho, você precisa crescer, se acha que as pessoas vão gostar que você fique enchendo o saco delas assim eu sinto muito. Se você fizer isso, elas vão bater em você muito antes do que eu. Esse mundo não é para garotinhos, é para homens, então se você espera que sua vida vai ser as melhores maravilhas do mundo, é melhor tirar essa idéia da sua cabeça. Existem pessoas nesse mundo que querem te controlar e você sendo tão burro assim, só vai facilitar o trabalho delas. Cresce moleque.”

- Ele disse isso mesmo para você? – perguntou Claire assustada.

- Foi exatamente com essas palavras. Mais sabe de uma coisa? Foi melhor assim, fico feliz por saber que não cresci ao lado daquele mostro. E também sou grato, essas palavras dele me ensinaram muito. E minha mãe também era muito presa ao lado dele, assim ela pode ficar livre e resolver a própria vida. Ela me criou sozinha e quando eu tinha 11 anos fiquei sabendo que meu pai tinha sido morto atropelado, enquanto saia bêbado de um bar, não que eu me importe com o que aconteceu ou com o que deixou de acontecer com ele e nem pergunte o nome dele, porque eu fiz questão de esquecer. – fiquei um tempo sem dizer nada, falar do meu pai sempre deixava uma atmosfera ruim – Deixa-me ver o que mais eu tenho para falar. É claro, há três anos minha mãe recebeu uma proposta de emprego da Inglaterra e foi ser cozinheira de um dos restaurantes cinco estrelas de lá. E eu escolhi ficar, meu presente é bem fácil de entender.

- Nossa. Mas por que você não quis ir? Você se daria bem lá, sabe? Londres, bairro Nothing Hill, punx, você. Seria perfeito.

- Primeiro: eu gosto de frio, mas nem tanto como lá. Segundo: ela foi para Manchester, é meio distante. Mais até que seria legal... Conhecer outros punx, apesar de que eu não gosto de me auto-intitular punk, não sei bem porque, mas sempre achei errado escrever na testa o que você é não que isso importe muito. Mais sabe, minha mãe é muito boa no que ela faz, por causa dela que eu sei cozinhar, mas é claro, isso é obvio. E também me criou sendo muito independente, por isso eu pude escolher em ficar.

- Nossa. Isso sim é uma história.

- Claro. Agora você já pode espalhar para todo mundo.

- Eu não faria isso!

- Espero que não mesmo...

Acho que eu fui um pouco grosso. Mas ela não pareceu que ela se importou com nada.

A conversa parecia ter acabado e um silencio desagradável se instalara ali, eu começava a ficar muito distraído, distraído até demais, então olhei para Claire sentada na cadeira do outro lado da cozinha e ainda assim muito perto de mim. Ela estava com a cabeça um pouco baixa apenas mexendo os dedos na frente do rosto, parecia estar fazendo alguma conta.

-Você já tem 19 anos, Neh? – Isso sim é um assunto. Pensei sarcástico.

- Tenho sim. Por quê?

- Sei lá.Você repetiu algum ano?

- Por que acha que eu repeti?

- Sei lá. Era para você ter 18, mas tem 19, e também, você é todo relaxado dentro da sala de aula e vive arrumando confusão no resto da escola. A primeira coisa que eu pensei era que você tinha repetido e que você vivesse na recuperação.

- Bom, eu nasci em outubro, então talvez eu tenha começado atrasado, você não acha? – perguntei, mas não deixei ela responder – Mas falando nisso é bom que você saiba que desde a quinta serie eu não tiro uma nota abaixo de oito. E também não pensou que talvez você não esteja na recuperação, então não sabe se eu estou lá ou não? – Deu para entender o que eu disse?

- Isso é serio? Como é possível? Você só dorme nas aulas.

- É, também não sei como eu passo de ano. A escola é muito fácil para mim. Talvez a escola seja fácil comparada com a vida.

- Belo Jeito de ver as coisas – disse ela com sarcasmo. – Mais por que você é desse jeito? – apesar do jeito estranho que ela falou isso eu entendi o que ela quis dizer.

- Para falar a verdade, não sei direito. Acho que é minha natureza, tudo começa por dentro, eu sempre fui puto com tudo, até que um dia as coisas explodem de dentro de você. E essa visão conservadora que as pessoas têm da vida sinceramente me irrita muito. Deve ser por isso...

- Você precisa me explica melhor essas coisas.

- Outra hora, isso é muito complexo. Pula para a próxima pergunta.

Ela pensou um pouco antes de falar, pelo visto tinham acabado as perguntas de verdade.

- Quando o jantar fica pronto? Estou morrendo de fome.

- Agora. – falei rindo – Pega os pratos, é ali naquele armário e os talheres na gaveta de baixo. – falei apontando os lugares certos e pegando a panela do fogão – Vai querer beber o que?

- Não, por favor. Chega de álcool por hoje.

- Essa foi boa – disse rindo, mas eu não acho que tinha sido uma piada – Que tal uma Coca?

- Tudo bem, isso sim – respondeu ela, agora rindo também.

Sentamo-nos a mesa e eu esperei que ela também o fizesse depois de me entregar um prato com garfo e faca. Eu servi os dois pratos e só esperei que ela perguntasse.

- O que é isso? – Sabia que ela iria perguntar isso.

- Só uma simples mistura de frango com alguns legumes. Nada demais – eu sabia que tinha ficado ótimo, mas pela cara dela, Claire não tinha tanta certeza – Antes de falar alguma coisa experimenta.

- Não sou muito fã de legumes.

- Novidade. Experimenta primeiro, já disse. Depois fala que gostou – ela não respondeu, só deu a primeira garfada.
Ela hesitou um pouco antes de por o garfo na boca, mas assim que o fez eu tinha certeza que ela tinha gostado, Claire mastigou com calma, saboreando...

- Isso está muito bom. – falou ela e deu mais uma garfada – Você devia ser cozinheiro.

- Obrigado e é melhor não, minha mãe de cozinheira nessa família já está bom. E já acabou a curiosidade?

- Ainda não, mas vamos comer primeiro.

- Certo.

Começamos a comer e com a fome que estávamos não demorou muito para os pratos estarem vazios.

- Satisfeita?

- Claro. Estava ótimo.

-Que bom ouvir isso. E não querendo te mandar embora, mas você não acha que está meio tarde? Já são 11 horas.

- É verdade. Mas eu não queria ir embora ainda. – disse ela com um sorriso malicioso no rosto.

- Tudo bem então. Eu te levo mais tarde.

- Valeu. Então, que CDs você tem aqui? – como eu queria que ela perguntasse isso.

- Vem comigo.

Andamos até meu quarto e eu lhe apresentei minha infinita ou quase, coleção de CDs.

- Fique a vontade. – falei apontando para eles.

- Acho que eu vou me perder escolhendo um. – eu dei uma risada.

- O que você gosta mais?

- Eu escuto bastante metal alternativo, mais nada muito pesado.

- Tudo bem. Então tenho mais Sex Pistols, The Exploited, Bad Religion, essas coisas. Mais eu sei que eu tenho alguma coisa por aqui... Achei – peguei o CD de uma banda – Mudvayne, você conhece?

- Um pouco. Não tenho nada deles.

Coloquei o CD no aparelho e fui até uma das minhas faixas favoritas. “Happy?”
Eu sinto que estou
Tão oprimido
Oh, este centro de pressão aumentando

Minha vida destruída
Sobre o desespero
Todas essas cicatrizes continuam se abrindo

- É muito bom mesmo, essa eu não conhecia.
- não sei como você não conhecia essa música deles, mais tudo bem. Essa música é muito boa mesmo.

- Então, você me deixou curiosa com outra coisa. – ela fez uma pausa antes de falar – Como você banca tudo isso? Vamos admitir, aqui não tem um luxo, é verdade. Mais você parece se virar muito bem aqui. Você tem sua moto, tem comida, álcool à vontade, e todos esses CDs, como consegue?

- E eu pensando que seria uma pergunta estranha. É simples. Eu tenho o meu próprio dinheiro. Minha mãe me manda 500 dólares por mês, o que não resolve tudo, obvio, mas dá uma força a mais. E eu trabalho também, tiro de 1000 a 1500 dólares por mês e com uns bicos que eu faço por fora, às vezes fico com 2500 dólares, até 3000 se eu tiver sorte.

- Até que é um bom dinheiro. Mas eu acho que pagando a escola fica um pouco apertado, certo?

- Eu não pago a escola, nem um tostão.

- Fala serio – disse ela rindo – O que você disse? Acho que eu não ouvi direito. – ela ria ainda mais.

- Eu faço parte do clube de luta livre da escola. Raramente eu luto, mas eu não pago por isso. E se eu lutasse não teriam muita chance. – Sei...

- Nossa. Sorte sua, e seu emprego, qual é?

- Você não está se achando muito curiosa?

- Talvez, mais pelo tanto que você falou até agora, não deve se importar com mais esse detalhe.

- É verdade.

- Então para de me enrolar e fala logo. – Garotinha ousada.

- Sou tatuador. – falei rindo um pouco, às vezes me parece uma profissão tão banal, mas Claire não pereceu achar o mesmo.

- Que demais, esse sim deve ser um emprego divertido. Mais você não parece ter muitas tatuagens, só essa no antebraço direito.

- Você quem pensa, além dessa tenho mais quatro.

- Serio? Posso ver? – Claire falava com um sorriso tímido no rosto.

- Tudo bem.

Levantei-me do chão, onde estava sentado e puxei a perna de minha calça para cima para mostrar um que eu tinha na panturrilha esquerda.

- Nessa eu tenho o desenho da morte no estilo original, com a foice e a capa, eu mesmo fiz o desenho. – falei estendo minha perna na direção dela.
Claire se levantou de minha cama onde ela estava sentada e veio até mim e se ajoelhou na minha frente para ver melhor a tatuagem.

- Simplesmente incrível. Foi você mesmo quem fez?

- Fui eu sim.

- Foda. E as outras? – disse ela ficando em pé novamente. Só eu estou achando que ela ficou mais soltinha?

Eu tirei minha camisa e percebi que Claire ficou um pouco assuntada com isso, mais logo se recompôs.

- Eu tenho essa nas costas, escrito “Nascido do sangue da morte, para uma vida no inferno.”, não tente ler, isso está escrito em grego. – falei enquanto virava de costas para ela. – Mais para cima tenho essa “A” representando anarquia, mas isso é obvio. E aqui no meu braço esquerdo, eu tenho um pedaço da letra da música “killing in the name” do Rage Against de Machine.

- Nossa que demais. – falou ela com um enorme sorriso no rosto, que não demorou em sumir. Ela ficou com a expressão seria de repente – Que marcas são essas nas suas costas? São cicatrizes?

Fiquei um pouco nervoso em responder. Poucas pessoas tinham visto essas cicatrizes e eu não sei como tinha me esquecido delas.

- São sim. Parte de um tempo escuro de meu passado. Na verdade não faz tanto tempo assim, foi ano passado numa briga de bar, um idiota quebrou uma garrafa nas minhas costas.

- Que ruim. Esse cara devia estar muito bêbado.

- Por que?

- Sei lá. Mais acho que geralmente se acerta a cabeça com uma garrafa e não as costas.

- Foi uma cena complicada.

- Imagino, sempre é. Um amigo nosso morreu numa briga de bar.

- Serio? Não sabia disso

- Você não se lembra do Caio? Ele morreu numa briga de bar no começo desse ano.

- Sinto muito. Mas acho que ele nem era meu amigo e também não sei se eu me lembro dele.

- Tudo bem, eu já esperava por isso, tinha certeza que vocês não eram amigos. – ela fez outra pausa antes de falar, olhando agora as cicatrizes – Essas suas cicatrizes, os machucados foram fundos. – ela disse isso passando a mão pelas marcas em minhas costas e eu estremeci – Você se importa?

- Não, está tudo, eu só me assustei um pouco.

Ela não respondeu. Apenas parou de passar a mão na base de minhas costas e subiu seus dedos finos até o começo de meu pescoço, passando com cuidado sobre as tatuagens. Eu virei para ela e olhei no fundo de seus olhos. Agora ela passava a mão por minha barriga, seu rosto estava vários centímetros abaixo do meu e seus olhos encaravam fixamente os meus olhos. Eu sabia exatamente o que estava acontecendo. Ela sumiu as mãos por tórax e se segurou em meus ombros para ficar nas pontas dos pés.
Eu passei a mão por sua cintura e a fiz ficar no chão.

- Eu acho melhor você ir embora agora.

Ela não gostou de minha atitude e se afastou tirando as mãos de mim e indo em direção a porta.

- Posso ligar para um taxi do seu telefone? – falou ela acelerando as passadas, obviamente muito nervosa e tentando ignorar o que tinha acontecido.

Eu peguei minha camisa do chão e fui atas dela.

- Claire deixa que eu te levo.

- Não se preocupa, está tarde e você precisa dormir.

- Eu só durmo as três da manha. Eu te levo – falei

- Já disse que não precisa, eu vou de taxi.

- Até parece que algum taxista vai chegar aqui há essa hora, já disse que eu te levo. – Eu estava ao seu lado e segurei seus dedos junto ao telefone para que ela não o tirasse da base e falei olhando fixamente em seu rosto – Fica calma.

- Não me manda ficar calma. – disse ela quase gritando.


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Notas finais do capítulo

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