Changes escrita por House


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo, gostaria de pedir desculpas pelo atraso. Mas o importante é que aqui estamos. Boa leitura.



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Robert levantou animado e cumprimentou o irmão, que vinha acompanhado de Bento e uma moça que Renata presumiu ser Louise. George era um homem alto, porte atlético, com ombros largos, cabelos castanhos e olhos azuis como um céu limpo. Tinha um sorriso hipnotizante e estava todo elegante em um terno preto e uma gravata vermelha desenhada com notas musicais. Agora Renata entendia de onde conhecia aquela frase. Fora em um livro. Ou George era escritor ou um grande plagiador.

- É um prazer enfim conhecê-la – disse George depositando um beijo na mão da jovem. – Sou George Stoker.

- Nós já não nos conhecemos de algum lugar? – ela inclinou a cabeça um pouco.

- De onde você quiser, meu bem – ele deu uma risada. – Desculpe – seu rosto ficou sério novamente. – Você deve ter lido meu livro, por isso o nome soou familiar.

- Ah, mas é claro! – ela deu um tapinha na testa – Eu te vi em Londres, em uma livraria. Tenho seu autógrafo até hoje.

- Como pude esquecer de um rosto tão bonito quanto o seu? – ele sorriu.

Um silêncio sugestivo instalou-se entre eles, até Bill pedir para falar com George, que saiu relutante. Olhou ao redor, procurando alguém para conversar, mas Nicolau entretinha-se com Louise e Bento mostrava algumas músicas para Robert no ukulele que George trouxera. Sentou em um dos bancos escondidos e deu um longo suspiro.

- Ele é bom, não é? – perguntou Jimmy parado na frente dela.

- Desculpe, Jimmy... – ela disse despertando do transe. – Eu não sei do que você está falando. Estou pensando – ela sorriu.

- No George, para sermos mais exatos – ele retribuiu o sorriso e sentou ao lado dela. – Ele é bom no flerte, admita, eu vi. Você sentiu, mas eu vi.

- Eu senti? Senti o que?

Jimmy deu uma gostosa gargalhada e revirou os bolsos do paletó atrás do cantil prateado onde guardava uísque. Deu um gole e ofereceu para ela, que recusou amigavelmente.

- Você sentiu o interminável charme da família Stoker – disse ele respondendo a pergunta feita anteriormente.

Renata riu e coçou a cabeça.

Olha, eu mal conheço seu irmão, não posso simplesmente me apaixonar por ele.

Jimmy levantou com um sorriso malicioso e olhou-a direto nos olhos.

- Quem está falando em se apaixonar aqui é você. Eu só fiz um comentário sobre charme.

Renata abriu a boca para protestar, mas ele já estava caminhando triunfante até a rodinha que se formava em volta do ukulele. A jovem levantou e caminhou lentamente na direção da casa. Estava morrendo de fome e sabia que o tio não ia chamá-los para jantar, pois estava muito entretido. Nada no buffet chamou-a atenção, então foi sorrateiramente até a cozinha. Mexeu em alguns armários e pegou um prato. Fuçou um pouco a geladeira, juntando os ingredientes para um sanduíche de frios. Quando foi procurar o pão esbarrou em George, que a observava sorrindo.

- Você não é nenhum tarado, certo? – ela perguntou, voltando para o que estava fazendo.

- Eu vim buscar uísque – ele estendeu a mão esquerda, em que segurava um Johnny Walker. – Quer um pouco?

- Eu não bebo, obrigada.

- Desculpe – ele colocou a garrafa sobre o balcão, apoiando-se no mesmo. – Então, onde estávamos antes de sermos brutalmente interrompidos por Bill?

- Em lugar nenhum, porque não existe esse “nós” da sua frase.

- Ui, ela é bravinha – ele pôs uma mão sobre o peito. – E o meu pobre coração, onde fica nessa história?

- No lugar onde ele sempre esteve.

George se inclinou, chegando perigosamente perto demais da jovem, que inutilmente colocou uma mão sobre o peito dele. Ele ficou mais próximo e sorriu.

- O lugar dele é com você, my dear – a respiração de Renata falhou com aquelas duas amostras de céu analisando cada reação dela. – Só falta você aceitar isso.

O mais velho dos Stoker se afastou, pegando a mão de Renata que antes estava em seu peito e depositando um beijo. Tinha um meio sorriso nos lábios e um olhar penetrante que conseguiria qualquer coisa.

- Eu já comentei o quanto a senhorita está bonita?

Renata desviou o olhar, envergonhada. Usava um vestido branco na altura dos joelhos e uma fita preta logo abaixo dos seios. George segurou seu rosto, fazendo-a voltar a olhá-lo.

- Você também está muito bonito – ela conseguiu sussurrar.

- Obrigado – uma faísca de diversão brilhou em seus olhos. – Por que você não volta lá pra fora comigo?

- Mas eu estou com fome! – ela protestou.

- O sorriso de George alargou e ele pegou a garrafa ao seu lado, sem soltar a mão dela.

- Eu dou um jeito nisso – disse conduzindo-a até o jardim.

- Promete?

- Prometo – ele riu.

Desceram juntos a escada de concreto do jardim. Os rapazes estavam sentados no chão em torno de Louise, que estava em um banco, a mão no ombro de Nicolau, que olhou para eles e sorriu. George pôs a garrafa no meio da rodinha e passou um braço em torno da cintura de Renata.

- Vocês estão namorando? – quis saber Bill, fazendo todos rirem, menos a própria Renata.

- Não, garoto, nós não estamos namorando – disse George bagunçando seus cabelos. – Estamos apenas nos conhecendo.

- Seus irmãos estavam contando sobre sua incrível habilidade musical, George – comentou Nick, estendendo o ukulele para ele. – Nenhum de nós sabe muita coisa, então, por que não toca um pouco para nós?

George sentou ao lado de Nicolau, a perna direita esticada confortavelmente. Renata sentou ao lado de Louise, entre os dois rapazes. George era canhoto, então seu braço tocava levemente as pernas de Renata, o que não passou despercebido por nenhum dos dois. Bill logo reconheceu a música e acompanhou com leves batidas na perna. Os outros rapazes cantaram “Ain’t She Sweet” como segunda voz. Nick e Renata olhavam genuinamente surpresos. Eles eram realmente bons.

- Uau! – exclamou Nicolau encantado – O que mais pode fazer com isso?

- Muita coisa que vai te deixar maravilhado. Mas prefiro convidar todos vocês para irem até nossa casa, com nosso estúdio completo.

Nick olhou para cima e Renata sorriu, encorajando-o. Louise tirava fotos daquele momento de confraternização. O jovem devolveu o sorriso para George, que levantou preguiçosamente, segurando Renata pela mão.

- Então vamos logo, antes que alguém dê por nossa falta.

- Essa é boa – disse Bento rindo da declaração de George. – Cansei de sumir das minhas festas e só descobrir das fofocas no dia seguinte.

- Depois ainda tem coragem de falar de mim – sussurrou Nicolau ofendido e balançando a cabeça.

Foi uma caminhada gostosa até a mansão dos Stoker. Bill tocava, sendo guiado por George, que cantava e estava de braços dados com Renata. Era uma casa espaçosa, de três andares, pintada de bege, as janelas de madeira branca com mesinhas e cadeiras. Pegaram caminho por uma trilha lateral, passaram por uma área de lazer com uma grande porta de vidro com acesso a casa. Nos fundos da residência, separada por um magnífico jardim, ficava o estúdio.

Uma placa de bronze em forma de bateria indicava onde estavam. Em uma estrutura retangular, de dois andares, uma grande e pesada porta de carvalho na entrada. Era, junto com as janelas coloniais, a única coisa que delatava a antiguidade do prédio. Entraram em uma sala de paredes vermelhas, um grande e espaçoso sofá negro, a iluminação era fraca e o piso de madeira muito bem polida. Quadros modernos davam um ar aconchegante ao local que era como uma segunda casa. George colocou Renata no sofá e deu um beijo em sua testa.

- Vou pegar algo para você comer. – disse com um sorriso enorme no rosto.

Ele foi até a cozinha, que era separada apenas por um arco. Era toda branca, com um impacto visual menos que a sala. Na verdade era apenas um pequeno corredor, já que o resto do primeiro andar era ocupado pelo local onde a banda gravava. Renata olhou ao redor. Os meninos estavam relaxados, bebendo e, agora, com um violão. George logo voltou para a sala, com uma bandeja em mãos e colocou-a na frente de Renata. Enquanto ele tirava o terno e pendurava no cabideiro, ela analisava o sanduíche na sua frente.

- O que é isso? – perguntou enquanto ele sentava ao seu lado e desabotoava o colete.

- Coma – seu tom era autoritário e Renata ergueu uma sobrancelha. – Por favor, my dear, experimente.

Sendo gentil ou não, ela faria o que ele estava pedindo. Estava morta de fome. Um molho picante, mas ao mesmo tempo bom tomou conta de sua boca, assim como o gosto de pernil. Renata sorriu e os olhos de George ficaram brandos. Ele passou a mão carinhosamente em seu rosto, relaxado, e esperou ela terminar o lanche desfrutando de um copo de uísque.

- Estava bom? – ele perguntou enquanto a jovem limpava a boca.

- Já pode casar. – disse Renata, brincando.

- Só se você aceitar meu pedido.

O tom rouco e os olhos azuis de George tiraram a concentração de Renata por alguns segundos, até ela sentir seu hálito quente, com leve odor de bebida em seu rosto, puxando-a de volta para o mundo real.

- Mas e então, o que te traz ao Brasil? – perguntou Renata afastando-se um pouco dele.

- Vim relaxar. O Bento estava insistindo na minha viagem. Não pude negar este favor a um amigo de longa data.

Ficaram em silêncio. Bento não era velho, mas também não era nenhum garotão, preferia a companhia de pessoas de sua idade ou mais velhas. Pelo menos os homens.

- Quantos anos você tem, George? – havia uma curiosidade genuína em sua voz.

- Eu tenho 51 – ele respondeu com um sorriso.

- Por que você parou de escrever? Cansou de produzir best-sellers?

- Eu fiquei feliz. Aí acabou minha lucidez.

- Você só escreve quando está triste? Que porra de escritor é você?

George gargalhou baixo. Gostava do atrevimento.

- Eu escrevo independentemente do meu estado de espírito – ele a encarou. – Mas prefiro estar triste quando divulgo meus livros. Porque aí quando vejo um rosto tão lindo como o seu, fico feliz e jamais esqueço.

- Você é muito galanteador, sabia?

- Não, não sabia – ele acariciou sua face macia – Talvez seja o efeito que você tem sobre mim.

Ele se aproximou, controlado. Roçou os lábios levemente nos de Renata, sentindo suas mãos pequenas subirem por seu peito largo. Suas respirações se misturavam e George enfim chegou onde queria. Voraz e calmo, ele sabia exatamente o que fazer e onde tocar para não parecer apressado, abusado ou desinteressado demais e satisfazer aos dois. Suas mãos avançavam por suas costas, meio sem querer ele desfez o laço do vestido. Afastaram-se de má vontade, para que ela ajeitasse suas roupas. Bill passou por eles, indo até o estúdio, um sorriso no rosto.

- Por que vocês não vão para um quarto? – ele perguntou em um fingido tom inocente.

- Por que você não vai se foder? – replicou George levantando e oferecendo gentilmente uma mão para Renata.

Caminharam de volta até um caramanchão com dois banquinhos de madeira e uma mesinha no centro. Quatro lâmpadas externas iluminavam fracamente o local. Renata olhou ao redor e sentou em um dos bancos.

- A família de vocês tem uma propriedade muito grande – ela suspirou. – E bonita. Dê só uma olhada nesse jardim. Deve ser uma fortuna achar um jardineiro tão bom.

- Obrigado – disse sentando junto dela. – Mas sou eu quem cuida disso aqui. Pelo menos agora.

- Você largou a vida de escritor para ser jardineiro? – havia incredulidade na voz da jovem.

- “Eu escrevo livros. Sei o mal que eles fazem”. Leo Tolstoy .

Ela balançou a cabeça, em negação.

- Você é louco, George, saiba disso.

- Já me contaram isso antes. – seu tom era seco.

Ficaram em silêncio novamente. George observou em volta, apreciando sua obra prima. Seus olhos caíram novamente sobre Renata. Era tão bonita, com suas pernas atraentes e seios fartos. Ele a desejava. Mas tinha apenas medo de não ser correspondido.

- Então... – ele disse. – Você se mudou hoje?

- Vim de São Paulo. Vou trabalhar com meu tio.

- Eu tenho uma leve idéia sobre qual será seu projeto.

- É mesmo? Por que não compartilha sua infinita sabedoria, ó mestre?

George sorriu de sua ironia e puxou-a para junto de si, sobre seu colo. Beijaram-se novamente, desta vez com mais liberdade e curiosidade, querendo descobrir mais sobre o parceiro. Renata abria seu colete enquanto George desfazia novamente o laço de seu vestido, as mãos explorando seu corpo. Renata arfou levemente quando sentiu a ereção dele embaixo da calça. George se afastou e deu um sorriso envergonhado.

- Desculpe por isso – disse colocando-a de volta ao seu lado. – Mas tem algumas coisas que eu simplesmente não controlo.

- Está tudo bem. – ela assegurou.

Ele levantou desconfortável e ofereceu ajuda para ela. Renata abraçou-o de lado e beijou seu queixo, já que ele não a olhava.

- Ei – ela falou –, você não está parecendo um tarado. Nem um babaca que estragou tudo.

- Tem certeza? – ele ainda evitava seus olhos.

A jovem passou a mão por seus cabelos macios e enterrou a cabeça em seu peito. George suspirou e beijou-a levemente.

- Eu vou te levar pra casa – ela fez uma careta e ele gargalhou. – Vamos direto. Seu irmão vai ficar com Louise e seu tio... Bom, ele escapou há tempos.

Completaram o quarteirão em silêncio. A festa ainda estava rolando. Namoraram mais um pouco, escondidos dos fofoqueiros de plantão. George levou-a até a porta, onde não resistiu e beijou-a novamente.

- Você está tão linda... – seus olhos brilhavam de alegria.

- Você não deveria ir para casa? – disse ela, sem graça pelo elogio.

George sorriu e aproximou-se novamente.

- Eu estou em casa, my dear – ele sussurrou e ela precisou apoiar-se na parede. – Tenha uma boa noite e sonhe comigo. Mas nada erótico demais.

Eles riram e Renata deu um tapa de leve no braço dele.

- Pare de falar besteiras e vai, George.

- Eu te vejo amanhã – ele roubou outro beijo e saiu, sem dar tempo para ela responder.

Renata ainda o viu virar a esquina, cantando alto alguma coisa. Não parecia ter 51 anos. No fundo sua alma era mais nova que a de um garoto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, já estou escrevendo o terceiro capítulo. Em breve ele está aqui pra vocês.



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