Capítulo 3 – A Bicicleta

            E passou  o fim de semana. Era uma ensolarada segunda-feira, que dava início ao segundo trimestre das aulas do colégio Toyioto. Nas três turmas dos 1º ano, se comentava muito a aproximação de uma festa, o aniversário de Hinata. Ia ser na sexta-feira. Os aniversários de Hinata, apesar de ser a contra gosto dela, eram sempre muito ‘quentes’. Este ano não ia ser diferente. O clima nas três salas de aula era picante, os olhares corriam em todas as direções, maliciosos ou românticos. Há dois anos, Sakura e Sasuke iam juntos à festa e não desgrudavam. Mas Sasuke ainda não a convidara. Estava demorando.

            A aula começava com biologia, e muita matéria nova. O tempo passava devagar, tedioso e inconstante. Naruto não estava na aula. No recreio, Hinata perguntou a Sakura:

“O que será que aconteceu com Naruto-kun?”

“Espero que tenha morrido.”

“O que?”

“Nada... Nada não.”

Sasuke parecia não estar mais interessado nela. Nem se falaram hoje. Ela não sentia

sua falta. Sentia por dentro só um vazio. Uma falta de motivo para estar ali. (O que é isto, afinal?). Era como estar incompleta.

            Naruto não apareceu naquela aula. Hinata conseguira se concentrar nos estudos, mas parecia menos feliz. Sakura ficava com pena da amiga, e isso não lhe diminuía a raiva do garoto loiro. Olhos azuis. Uma linda voz. Um lindo sorriso. Alto... (O QUE É ISSO!! O QUE EU ESTOU PENSANDO?!). Ela olhou para Hinata pelo canto dos olhos, e desejou que ela a perdoasse.

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            Naruto estava esperando Sakura na frente de sua casa. Ele precisava falar com ela. Já não agüentava mais segurar tudo o que sentia.

“Sakura-chan, eu te amo...”

“Oh Naruto-kun, eu... Também te amo!”

“Naruto? Naruto!? NARUTOO!”

Ele de repente foi acordado de seu sonho romântico. Ficara ali por quase uma hora,

imaginando o momento em que iria se declarar a Sakura. Como seria sua resposta?

            Não houve mais tempo para pensar. A sua frente, jazia uma linda menina, de olhos verdes perolados, lindos e macios cabelos... Era Sakura. Em seu rosto estava estampada uma mistura de irritação e confusão.

“Naruto, o que está fazendo aqui?” – ela perguntou, intrigada.

“Sakura-chan! Eu preciso falar com você...” – e, nesse momento, percebeu outra presença ao lado dela. Era Sasuke – “... a sós.”

“Humpf, eu sou o namorado dela, nós não temos segredos” – disse o garoto de cabelos negros, como sempre com aspecto de superioridade e realçando a palavra ‘namorado’...

“Sasuke-kun, deixe que eu me resolvo com este baka. Nos vemos depois” – e beijou-lhe os lábios, e percebendo que ele mal vira ou lhe ouvira. Estava realmente irado.

“Eu vou...” – e deu alguns passos em direção a sua casa. Então parou, mas não se virou – “eu saberei se fizer algo de errado.”

Isso foi o suficiente para estremecer ambos. Sakura sabia do que seu namorado era

capaz. Naruto não se importava, mas também não queria saber. Quando Sasuke se afastou, ela continuou:

“E então, Naruto, o que você quer?”

“Bem...” – as palavras não queriam vir – “Eu....”

“Vamos lá! Minha mãe está me esperando para o almoço.”

“Ah, Sakura-chan” – o coração pulsava como a batida da música mais agitada que já havia ouvido. As mãos tremiam. Os pés também. O pescoço ficou imóvel. Os lábios secaram. Não sabia o que dizer, como dizer. (E agora... Sakura-chan...)

“Naruto ?” – olhava como quem pergunta ‘Você está se sentindo bem?’.

“EI! CUIDAAADOOO!”

Não houve tempo para pensar. Os dois trancaram a respiração. Num súbito último

movimento possível, o garoto empurrou Sakura para o lado. Ela caiu no chão. Ele foi atropelado por um ciclista. Embolotaram-se junto à bicicleta e rolaram por uma grande distância, por toda a calçada. Quando Sakura percebeu o que tinha acontecido, correu na direção dos dois caídos. O ciclista era Gaara, que já estava levantando. Despreocupado e quase alheio ao que havia acontecido a sua volta, ele olhava a bicicleta, horrorizado.

            Ela estava ajoelhada na frente de Naruto. Media seu pulso. Estava aparentemente bem. Mas não acordava. (Naruto... Meu deus, e agora?)

“Naruto, acorda! Acorda! Ai meu deus! Acorda! ACORDA!” – lhe balançava os ombros, mas não havia reação do outro. (O que eu faço? Chamo minha mãe? Chamo uma ambulância? Carrego ele até o hospital?)

“Argh... – levantava um menino de cabelos vermelhos, atrás dos dois. Ele segurava sua bicicleta ((ERA uma bicicleta)), que agora estava amassada a ponto de caber num embrulho para presente igual ao que se usa para roupas.

“Gaara? Meu deus, olhe o que você fez!” – olhou dele para Naruto.

“O que EU fiz?” – e ergueu a bicicleta até a altura dos ombros – “Olhe o que VOCÊS fizeram! Quem vai me pagar uma bicicleta nova?!”

“Aff, seu insensível! Não está vendo que machucou Naruto? Ele está desmaiado!”

“Mas ele tem conserto, a minha bicicleta NÃO!”

“Você só pode estar brincando ¬¬’ Pelo menos chame uma ambulância!”

“Ta doida, garota? Esse aí tem mais é que queimar no fogo do inferno!” – e ele foi embora, irritado.

Então estavam ela e Naruto, ali. Tinha de dar um jeito. ‘E se eu usar meu celular

para chamar uma ambulância?’. Sentiu-se burra por não ter pensado nisso antes. E o fez. Em vinte minutos, chegaria uma ambulância. E, quando chegou, analisaram-no por cinco minutos, antes de por ele na maca. Sakura viu Naruto se distanciar na caminhonete branca e barulhenta. Sentia uma tristeza profunda. Chorava.

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            Passaram-se dias sem se saber de Naruto. Sakura teve de contar a Hinata o que acontecera, porque a sua reação seria ainda pior se ele tivesse sumido sem motivo. Ainda assim, todos os recreios, lá estava ela, chorando no banheiro, sozinha. Não adiantava tentar consolar.

            Sakura se sentia culpada. Afinal, se não a tivesse salvado, Naruto não estaria no hospital. (Era só eu ter dado um chute na bunda dele e ele ia me esquecer... Naruto...)

Cap.: 3 – A Bicicleta - Fim