Durante aquela semana todos estão fazendo o possível para se darem bem devido ao trabalho da festa das nações. Está sendo visivelmente mais complicado para Murilo e Mateus, mas até que estão se virando bem.

Como Murilo trabalha, a noite vai à casa de Cecília e juntamente com ela, Luis e Fabiana adiantam algumas coisas. No dia seguinte juntam tudo o que conseguiram com o material coletado por Mateus e Patrícia.

Era sexta-feira e a festa aconteceria no sábado seguinte, sendo assim os professores liberaram a turma para finalizarem o que faltava.

 - Consegui roupas pra nós – diz Fabiana. – Minha tia trabalha em uma loja de fantasias e descolou emprestado. Vamos ver se serve, mas acho que vai servir sim. – diz entregando as fantasias para Cecília e Patrícia, que vão com ela até o banheiro para experimentarem.

 - A idéia delas foi legal, mas e a gente?  - pergunta Murilo

 - Podemos colocar calça e camiseta da mesma cor, as cores da bandeira. – diz Luis.

 - Vermelho e branco? Não vai ficar legal, vamos parecer o Restart! – diz Mateus.

 - Alguma idéia melhor? – pergunta Murilo tentando fazer o máximo para parecer calmo.

 - Kimono. Tem um monte na sala do professor de educação física. Antes tínhamos aula aqui, mas tiraram porque eram poucos alunos.

 - É, parece interessante. Melhor que ficar de jeans e camiseta. – diz Luis.

 - Realmente... Mas temos que falar com o professor hoje, a festa é amanhã. – diz Murilo.

 - Vai lá com o Mateus e eu fico aqui esperando as meninas.

Murilo olha friamente para Luis, mas acaba cedendo, afinal só teria que agüentar aquilo por mais um dia.

Mateus faz um sinal e sai com Murilo, rumo à sala dos professores. No caminho encontram as meninas que já estão saindo do banheiro. Mateus esbarra em Patrícia e só então se dá conta que ela está com a roupa de gueixa.

Ele a olha surpreso.

 - Nossa Paty, você está linda! – diz a olhando de cima a baixo.

 - Obrigada! – diz com um sorriso orgulhoso.

 - Oh Mateus, anda logo! – grita Murilo que já está bem à frente dele.

 - Já vou! Cara chato! – diz para Patrícia e sai em seguida.

As garotas voltam para sala e Luis diz a idéia de Mateus e explica que ele e Murilo haviam ido conversar com o professor.

Eles haviam feito uma vaquinha e comprariam algumas comidas típicas. Luis chegaria mais cedo no dia seguinte para arrumar tudo.

Murilo e Mateus voltam com os kimonos e entregam um deles a Luis.

 - Pronto, acho que já está tudo pronto, agora é só chegar amanhã e arrumar as coisas. – diz Murilo.

 - Melhor repassar tudo o que temos, só por precaução. – diz Cecília.

Eles então se sentam e repassam tudo o que tinham feito até aquele dia. Não faltava nada, na verdade tinham até mais material do que planejaram.

 - Vamos tirar uma boa nota, está completinho, com tudo o que a professora pediu. – diz Patrícia.

 - É, mas não esqueça que tem a apresentação amanhã, isso vai valer a metade da nota. – diz Fabiana.

 - Pelo o que vi aqui todo mundo sabe o que fazer e falar, não vai dar nada errado. – Diz Mateus.

Eles então combinam a hora para chegarem no dia seguinte e assim que o sinal bate vão embora.

Mateus leva Patrícia até sua casa, mas fica a maior parte do caminho calado. Ela estranha e resolve perguntar o que ele tem.

- Você está tão quieto Mateus, o que foi? Ainda por causa do Murilo?

 - Nada a ver, to nem aí pra esse mané, até porque depois da festa não vou mais ter que olhar pra cara dele.

 - Então o que foi? Fiz alguma coisa?

 - Não Patrícia, não é nada com você também, é coisa minha só isso.

 - Quer conversar? Desabafar sei lá.

 - De boa? Melhor não, pode ser?

 - Tudo bem, como você quiser. – responde ela ficando calada como ele.

POV Mateus

Eu não conseguia esquecer a conversa que tive com a minha mãe, especialmente a parte que até em então eu não conhecia, sobre quem era o meu pai.

Depois da conversa que tive com  ela fiquei pensando e algumas coisas se montaram na minha cabeça digamos assim. Quando ela disse a história dela, eu me vi no lugar do meu pai e no lugar dela, meio que via alternadas Cecília e Patrícia.

Depois disso eu passei a olhar pras duas de um jeito que eu não via antes. A Cecília era uma nerd, mas se tinha boas notas era porque se esforçava pra isso. E enquanto fazíamos esse bendito trabalho, percebi o tratamento do imbecil do Murilo com ela. Ele mostra gostar dela e ela dele. Antes por algum motivo eu pensava que eles faziam o que faziam pra me provocar, mas percebi que não te nada a ver, tanto que nem via mais motivos pra melar a relação deles.

Continuava não indo com a cara daquele cara, mas se eu sobrevivesse aquele trabalho com ele, o restante do ano seria fácil.

Já com a Patrícia a minha situação era mais complicada. Admito que no começo eu só queria curtir com ela, aproveitar e tal, tanto que me esforcei ao máximo pra conseguir isso dela. Me esforcei e consegui, porém atuei tão bem que ela se envolveu demais, muito mais que eu.

Ela era diferente de todas as meninas que eu já tinha ficado. Nunca fui o cara mais doce e gentil do mundo e mais cedo ou mais tarde isso irritava as garotas, que depois de ficarem comigo e aproveitarem tanto quanto eu saiam fora. A Patrícia não. Por mais grosso e estúpido que eu fosse com ela, nada mudava. Não sei como ela agia longe de mim, mas pelo menos quando estava comigo ela não dizia nada.

Quando nós transamos eu vi que ela não estava a vontade, mas mesmo assim estava disposta a fazer porque eu queria. Pra mim estava sendo ótimo, nunca havia transado com uma menina virgem antes e aquilo estava sendo a melhor sensação que já tive na vida, porém era visível que não estava sendo pra ela. Ela com certeza estava sentindo dor e desconforto, mas não disse absolutamente nada.

Na hora eu nem liguei, mas depois da conversa com a minha mãe fiquei pensando em muitas coisas, entre elas o meu tratamento com a Patrícia.

Quando a minha mãe perguntou se eu gostava dela, não soube o que responder. Não podia dizer que gostava, mas também não podia dizer que não. Sentia algo por ela além de tesão, mas não sabia ainda o que.

Mas o que mais ficou me martelando não foi isso, mas sim o que a minha mãe me disse sobre pedir todos os dias que eu não fosse como o meu pai.

Eu tinha tudo pra ser, podia sentir isso dentro de mim. Não sabia ao certo se sentia isso por ter crescido sem um pai ou se porque era a tal linhagem sanguínea como dizem. Prometi pra minha mãe que faria o possível pra ser diferente dele, mesmo sem saber como começaria pra isso.

Foi então que tomei duas decisões. A primeira é que ia deixar o casal do ano em paz. Cecília e Murilo não eram mais metas pra mim. E o segundo é que não brincaria com a Patrícia além do que já tinha brincado.

Ela era uma garota linda ,nova, com certeza encontraria um cara que pudesse retribuir aos sentimentos dela de uma maneira que eu sabia que não poderia. Mas pra que isso acontecesse eu não podia continuar travando a vida dela.

Enquanto a levava pra casa depois da aula, pensava na melhor maneira de dizer isso a ela. Eu estava quieto e ela quis puxar assunto, perguntando o que eu tinha e se queria conversar. Disse que não e ela mais uma vez não insistiu, apenas se calou como sempre fazia.

Aquela não era hora de dizer a decisão que havia tomado, mas já estava decidido. Assim que passasse a bendita festa das nações e antes que entrássemos de férias eu terminaria com a Patrícia. Ela sofreria, mas seria o melhor pra ela, muito melhor do que ficar ao lado de alguém como eu, que nem sabe ao certo se é um monstro ou não.