A manhã vai passando e Cissa vai ficando cada vez com mais raiva e mais triste. A aluna nova não sai de perto de Mateus.

– Abusada! Mal chegou e acha que já pode ir se metendo assim onde não foi chamada? – diz Cecília com raiva.

– Desculpa Cissa, mas é o Mateus que não desgruda dela, alias, era de se esperar. Ele não pode ver uma garota nova no pedaço que vai dar em cima, você sabe disso!

– Só eu que ele nem ligou. – diz triste.

– Sinceramente amiga, não sei o que você viu no Mateus. Ele é um mauricinho metido a besta, nojento, e nem é tão bonito assim.

– Ele é lindo Fabi, você que tem o gosto bem diferente do meu.

– Olha, nessas horas agradeço por isso! O Mateus é até que bonitinho, mas o jeito antipático dele o torna feio e sem graça.

– Ah Fabi, como se fosse possível um cara loiro dos olhos verdes e malhado ser sem graça! O Mateus é lindo!

– Eu já disse que não acho. E se ele é metido assim, a culpa e sua e das outras idiotas que ficam dando ibope pra ele, que se acha o tal por isso.

– Nada a ver. Você fala assim porque não gosta dele.

– Não gosto mesmo! Ele é um sem vergonha, só você que não vê.

Cecília entende a amiga. Afinal, ninguém era obrigado a ir com a cara de ninguém. Mas mesmo não gostando de Mateus, Fabi disse que ajudaria a amiga a ficar com ele.

Enfim bate o sinal para o intervalo.

– Graças a Deus, estou morrendo de fome. – diz Fabi.

Elas vão para o pátio e enquanto comem, Cecília avista um aluno que não conhecia.

– Nunca vi aquele cara.

– Quem? – pergunta Fabiana.

– Aquele ali sentado sozinho na escada.

– Ele é da nossa sala. É o roqueiro estranho que te falei.

– Ele tem cara de bravo.

– Eu disse! – diz dando uma mordida em um pão de batata.

Elas conversam normalmente até Fabiana terminar seu lanche. Ao jogar o guardanapo no lixo, Fabiana olha para sua frente e faz uma cara de decepção.

– O que foi Fabi, porque essa cara?

– Quer mesmo saber? Você não vai gostar muito. Olha ali.

Ao olhar, Cecília vê Mateus e a aluna nova conversando sozinhos em um canto do pátio.

– Droga! – resmunga.

– Calma, estão só conversando, não significa nada.

– Claro que significa. Eles vão ficar, tenho certeza!

– Pelo amor de Deus Cecília, deixa de ser pessimista! Raciocina comigo: a menina chegou hoje, além do mais não é porque conversamos com alguém que temos que obrigatoriamente ficar com essa pessoa.

– Olha a cara dela Fabi, ta adorando o papo. Claro que vão ficar! Droga, mil vezes droga! – diz Cecília chorando correndo para o banheiro.

– Cissa, espera. – diz Fabiana indo atrás da amiga.

– Me deixa sozinha Fabiana, por favor. – diz com os olhos vermelhos, se trancando no banheiro.

– Tudo bem, vou te respeitar. Se precisar é só me mandar um sms que venho pra cá. – diz Fabiana saindo do banheiro.

Cecília se tranca em um dos boxes do banheiro e começa a chorar. Não conseguia entender porque Mateus nunca a olhava, pelo menos não como ela gostaria. Pra ele ela não passava de uma CDF chata e feia. Ele era muita areia pra caminhãozinho dela.

O sinal bate, é hora de voltar pra sala. Ela dá mais um tempinho no banheiro, não quer que ninguém a veja daquele jeito.

Passa água no rosto e sai. Não há quase ninguém no pátio. Ela vai até a sala de aula e respira fundo, se preparando para abrir a porta.

Entra na sala sem olhar para os lados e vai direto para o seu lugar.

– Ta tudo bem amiga? – pergunta Fabiana.

– Está sim. – diz com um sorriso bem mal disfarçado.

Sem que perceba, olhos acompanham cada movimento seu, parando apenas no momento em que o professor inicia a chamada.

Enquanto a chamada é feita, Fabiana tenta puxar assunto com a amiga.

– Não fica assim Cissa, esse cara não vale a pena.

– Não queria ficar assim, mas o que posso fazer?

– Conversa comigo, é bem mais interessante! –diz Fabiana tirando um sorriso da amiga.

Durante a chamada Cecília descobre que o nome da sua mais nova rival é Patrícia.

Era uma garota bonita, normal, mas para Cecília era como se ela fosse uma miss, enquanto ela uma CDF sem graça.

– Mateus Gomes – chama o professor.

– Presente para a alegria de todos. – responde fazendo graça.

– De todos... É um babaca mesmo!- diz Fabiana.

A chamada continua.

– Murilo Fonseca. – diz o professor sem tirar os olhos da lista – Murilo Fonseca.

– Aqui! – diz uma voz grave.

O professor dá uma rápida olhada fazendo um comentário em seguida.

– Você é novo na escola não é?

– Sou.

– E é repetente também. – diz com descaso – Posso saber o motivo?

– Nada que lhe diga respeito professor. – responde o rapaz seco, deixando o professor nervoso.

– Pelo visto vou ter trabalho com esse. – resmunga o professor continuando com a chamada.

– Nossa, ele é bem mal humorado mesmo. – diz Fabiana.

– Ele quem? – pergunta Cecília, que rabiscava no caderno.

– Esse aluno novo, o tal de Murilo. Ele é o roqueiro.

– Nem prestei atenção no que aconteceu não to com cabeça pra isso. O que mais quero agora é que essa aula acabe logo pra eu ir pra casa.

Era aula de física e apesar de ser uma das melhores alunas na matéria, Cecília queria que aquela aula acabasse de uma vez.

Após uma lista de exercícios chatos, o sinal toca.

– Amiga, já vou indo ta? Fiquei de ir ao mercado com a minha mãe quando voltasse.- diz Fabiana.

– Tudo bem, amanhã passo na sua casa.

Todos saem rapidamente da sala. Cecília olha ao longe Mateus sair ao lado da tal Patrícia. Está com uma vontade imensa de chorar, mas se segura. Respira fundo, pega seus cadernos e sai.

Novamente olhos a acompanham de longe, mas Cecília está muito triste para notar o que quer que seja.