O despertador começa seu habitual barulho pontualmente ás 05hs50min da segunda-feira.

Cecília cobre a cabeça com o travesseiro, mas de nada adianta, teria que levantar. Senta-se na cama e fica de olhos fechados por alguns minutos, quase pegando no sono novamente. Teria conseguido se sua mãe não tivesse batido na porta de seu quarto.

– Cissa, olha a hora!

– Ta bom mãe, já ouvi, to acordada já!

Cecília se levanta com muito custo da cama e vai até o guarda – roupa onde pega suas roupas íntimas e o uniforme da escola.

Vai até o banheiro e toma um banho para despertar, voltando para se trocar em seguida. Coloca o uniforme e se olha no espelho.

– Força Cecília, é só mais esse ano. – diz pra si mesma. Prende os cabelos em um rabo de cavalo como sempre e faz uma maquiagem leve como de costume, não gostava de chamar muito a atenção.

Tinha 17 anos, altura mediana, cabelos e olhos castanhos.

Após terminar de se arrumar vai até a cozinha e toma um rápido café, indo escovar os dentes em seguida.

– Mãe, to indo.

– Ainda está cedo. Tudo isso é vontade de estudar?

– Não, vou passar na casa da Fabi, vamos juntas. Beijos. – diz ao sair.

Fabiana era amiga de Cecília desde a quinta série. Sempre estudaram juntas e eram muito unidas.

Ao chegar à portaria do prédio onde a amiga morava, Cecília pega o celular e liga para a mesma avisando que já estava a esperando.

Fabiana desce em poucos minutos.

– Bom dia! Como está para seu primeiro dia de aula do nosso último ano no ensino médio? – pergunta Fabiana animada.

– Com sono. Fiquei vendo filme até tarde ontem. Você parece bem animada pelo visto.

– Estou mesmo. Início das aulas sempre tem novos alunos, vai que conhecemos algum gatinho? – diz com um sorriso danado.

– Não quero saber de gatinho nenhum esse ano vou estudar mais ainda pra fechar logo as notas e me ver livre dessa escola.

– Estudar mais do que você estuda Cissa? Só se você dormir com o caderno como travesseiro! – diz Fabiana rindo.

Fabiana era loira e tinha olhos azuis. Seu cabelo era liso e na altura do pescoço. Era alto astral, eram raras as vezes que Cecília tinha visto a amiga de mau humor.

– Engraçadinha como sempre!

Elas seguiram o caminho de costume até a escola. Ao chegarem encontraram alguns colegas e ficaram conversando, dizendo o que haviam feito nos últimos tempos, contando o que fizeram nas férias.

Durante a conversa, Fabiana dá um cutucão na amiga, fazendo-a olhar para o lado oposto de onde estavam.

– Cissa, olha quem chegou!

Ao olhar na direção apontada pela amiga, um sorriso de felicidade e tímido ao mesmo tempo surge nos lábios de Cecília.

– Mateus! Pensei que ele ia para o noturno.

– Eu também, mas não foi. Isso é muito bom pra você amiga!

– Pra mim?

– Claro Cissa, acorda! Esse é o último ano dele e seu nessa escola. Você gosta dele há quatro anos e nunca fez nada pra ficar com ele, agora é a hora!

– Ele nem sabe que gosto dele.

– Ah sabe sim! Você vive dando bandeira!

– Mas eu não vou falar com ele Fabi, não mesmo!

– E porque não? O que você tem a perder?

Cecília olha Mateus ao longe. Ele conversava com alguns amigos e algumas garotas também.

– Ele nunca me daria atenção.

– Pra isso você tem que tentar. Lembra, é esse ano ou nunca mais.

– Você está certa sabia?

– Sempre estou certa! – diz Fabi sorrindo

– Esse ano eu fico com o Mateus de qualquer jeito! Não sei como ainda, mas isso é outra história.

– Você tem uns meses pra bolar um plano e claro que vou te ajudar pra isso.

Enquanto conversam o sinal toca e elas juntamente com os demais alunos vão para a sala de aula.

Cecília era uma aluna muito aplicada, sempre elogiada pelos professores, porém para alguns colegas de turma era vista como CDF. Sentava sempre nas primeiras carteiras da sala. Fabiana sentava sempre atrás dela.

– Ele já entrou Fabi? – pergunta Cecília se referindo a Mateus.

– Ta entrando agora. Sentou na quarta cadeira da fileira da parede, olha lá.

– Não, vai dar na cara!

– Aff Cissa! - diz Fabi indignada – Bem, agora a professora chegou, olha depois.

Todas as aulas eram realizadas em salas específicas, as quais os alunos chamavam de sala ambiente. Como estavam no último ano, conheciam a grande maioria dos professores, o que facilitava a organização deles.

Enquanto a professora fazia o discurso comum de inicio das aulas, uma inspetora bateu a porta.

– Com licença professora, mas tem alguns alunos novos aqui, estavam procurando a turma.

– Podem entrar. Estou apenas dizendo qual o meu esquema de notas.

Enquanto a professora falava, os alunos novos procuravam um lugar para se sentarem. Cecília prestava atenção no que a professora dizia e nem se preocupou em olhar os novos colegas.

– Dois meninos e uma menina. Um é um gatinho, o outro tem uma cara de bravo! Fora que pela roupa deve ser roqueiro. – diz Fabi. – Cissa, olha lá e vê o que você acha.

– Agora não, estou prestando atenção no que a professora está falando.

– Pelo amor de Deus Cecília, todo começo de aula é a mesma coisa, eles dizem a mesma ladainha de sempre!

– Podem mudar alguma coisa, então prefiro prestar atenção.

– Aff, depois reclama quando te chamam de CDF!

A aula segue. A professora apenas fala, não dá nenhum tipo de atividade, diz que fará isso na próxima aula.

Na saída, Fabiana tenta mostrar os novos alunos para Cecília.

– Olha, aquele é o gatinho que te falei, e aquele lá na frente é o roqueiro com a cara feia.

– Como sabe que a cara dele é feia se ele está de costas?

– Porque vi quando ele entrou na sala.

– E a menina? Você disse que tinha uma menina também.

– Deixa ver se a acho. Achei! Hum, ela é bem rapidinha pro meu gosto!

– Rapidinha?

– É, olha lá com quem ela está falando.

Cecília olha e vê a nova aluna conversando com Mateus.

– Mais uma galinha nessa escola era tudo o que eu não precisava! – diz Cecília com raiva.

– Calma Cissa, vamos pra próxima aula, não esquenta com essa aí.

– Posso saber como?

– Ignorando oras! Ela acabou de chegar, deve estar apenas tentando fazer amizades.

– Logo com ele? – diz nervosa.

– Relaxa ta bom? Agora vamos logo.

Elas seguem pra sala de aula, mas Cecília não tira os olhos de Mateus e da aluna nova.