Murilo ri. Cecília insiste.

 - Fala logo!

 - Não sei Cecília, ele não corrigiu a prova ainda.

 - Mas sempre sabemos quando vamos bem ou mal.

 - Sempre?  Só se for você que vai bem sempre.

 - Poxa Murilo, ao menos diz o que você acha.

 - Você é bem chatinha quando quer sabia? Ta, vou falar. Demorei mais do que todo mundo porque pedi pra ele dar uma olhada na prova e ver como eu tinha me saído.

 - E ele olhou?

 - Bem de má vontade, mas olhou sim.

 - E o que disse?

 - Que minha prova estava bem diferente da grande maioria da turma. Ou seja, ou eu fui muito bem, ou fui muito mal.

 - Então ainda vamos ficar nesse suspense? – diz mostrando decepção.

 - Relaxa Cecília, na próxima aula a gente descobre. Nem sei por que você está assim, quem devia estar preocupado era eu não acha?

 - Ah, sei lá! Curiosidade.

 - Você não me engana. Tá preocupada em ter que sair comigo e não com a minha nota.

 - Nada a ver ta! Não sei de onde tirou isso.

Murilo ri e estende a mão para Cecília se levantar. Ela ainda estava sentada enquanto conversavam.

 - Bom, uma prova já foi, mas você vai continuar me ajudando a estudar não vai?

 - Claro, vou sim.

 - Certo então. Já vou indo, tenho que trabalhar. Passa na papelaria mais tarde?

 - Vai querer estudar hoje? – pergunta com surpresa.

 - Porque a pergunta? Tem algo mais interessante pra sugerir? – pergunta com um riso cínico nos lábios.

 - Bem... Pensei em jogar xadrez, só isso. – responde sem graça.

Murilo dá uma risada alta e divertida.

 - Tudo bem então, hoje eu serei o professor. Até mais tarde. – diz ao se despedir dela com um beijo no rosto.

Durante o caminho pra casa, Cecília se perguntava como Murilo teria ido na prova. Ele estava muito tranqüilo, mas ele nunca se mostrou nervoso com nada.

Ela não sabia o que queria na verdade, afinal, se Murilo tivesse ido mal, ela se sentiria a pior colega do mundo, pois não conseguiu o ajudar. Em contrapartida, se ele tivesse ido bem, ela teria que sair com ele. Ir a um show de rock. Cecília detestava rock, não conseguia entender como alguém conseguia ouvir pessoas gritando e ainda chamar aquilo de música.

Como não havia o que fazer, resolveu fazer como o próprio Murilo disse. Esperar.

No mesmo dia conforme o combinado, Cecília passou na papelaria para encontrar com ele. Foi um fim de tarde diferente e gostoso para os dois.

Não estudaram, apenas jogaram xadrez e conversaram. Cecília não ganhou uma única partida e acabou se irritando com isso.

 - O que foi, porque está nervosinha? – brinca Murilo.

 - Não é possível que eu não consiga ganhar uma partida que seja! Até na internet estou pesquisando como jogar.Não posso ser tão burra assim!

 - E não é, só que não tem culpa de jogar com o melhor jogador sempre!

 - Você é muito convencido, mas não vou desistir. Ganhar de você é questão de honra pra mim.

  - Nossa, que medo!  - ri ele.

 - Vai rindo, quero ver quando eu ganhar e você ter que ir ao cinema comigo, onde vai colocar esse risinho pretensioso.

 - Ah ta, agora entendi. Você quer ganhar só pra ir ao cinema comigo não é?

 - Claro que não, mas quero muito ver o filme que te falei e se não for com você, ninguém vai querer ir comigo. – diz sem jeito.

 - Olha, se continuar assim, você vai ter que ver o tal filme sozinha, porque ganhar de mim está sendo impossível pra você. – diz rindo.

 - Quer saber? Não quero mais jogar hoje!

 - Quer fazer o que então? Ainda é cedo pra você ir embora e também não quero que você vá.

 - Pra ficar tirando uma da minha cara?

- Não, eu gosto da sua companhia. Prometo que não vou mais te irritar ta bom?

Cecília sorri com o comentário.

 - Ta, eu fico então.

Enquanto conversam, o celular de Cecília toca. Era uma mensagem de Fabiana, avisando que as notas da prova já haviam sido divulgadas pelo professor no e-mail da turma.

 - Pronto Cecília, sua curiosidade acaba agora. – diz Murilo saindo e voltando com um notebook. – Entra aí e vê que nota tirou.

 - Não gosto de mexer nas coisas dos outros, sou meio desastrada. Entra você.

Murilo faz o que ela diz e entra no e-mail. Dá uma olhada na tela e coloca a mão no queixo.

 - Cecília, Cecília, vamos ver... Aqui! Parabéns mocinha, tirou 8,5.

 - Nossa, pensei que ia tirar menos.

 - Menos? Tipo 8,0? – diz Murilo tirando sarro.

 - Engraçadinho! Agora vai, vê a sua.

 - Não quero ver não, acho que vou esperar ele entregar a prova.

 - Fala sério Murilo!

 - É sério. E se ele digitou errado?

 - Deixa de ser bobo e vê logo sua nota.

Mais uma vez ele ri.

 - Tudo bem, só pra você não ter uma crise de nervos.

Ele olha a nota e faz uma cara de descaso.

 - E aí? Tirou quanto?

 - O que eu esperava.

 - E quanto você esperava?

 - Curiosa você hein mocinha?

 - Chega Murilo, fala logo! Tirou quanto?

Ao contrário do que Cecília esperava Murilo não diz sua nota. Minimiza a janela do notebook e abre uma pasta de músicas.

 - Empresta seu celular.

 - Meu celular? Pra que? – pergunta ela sem entender nada.

 - Relaxa e empresta ele aí.

Sem entender nada, ela entrega o celular a ele, que pega um cabo USB compatível com o celular e o conecta em seu notebook. Alguns minutos depois ele devolve o celular a Cecília, que continua sem entender nada.

 - O que você fez com meu celular?

 - Vai na sua pasta de músicas. – diz Murilo mexendo tranquilamente no notebook.

Cecília faz o que ele diz e vê que várias músicas de rock foram adicionadas.

 - Ta, pra que você fez isso?

 - É pra você já ir se acostumando com o som da guitarra, do baixo, da bateria e talvez alguns gritos agudos também.

Ainda sem entender Cecília olha pra ele, que vira a tela do notebook pra ela, mostrando sua nota: 8,0.

 - Um show de rock nos espera mocinha. – diz Murilo com um sorriso vencedor.