- Fala mais de você.

 - Já disse minha vida não tem nada de muito atrativo. Meus dias se resumem de ir de casa pra escola e da escola pra casa, nada de mais.

 - Sei... – diz Murilo desconfiado.

 - É sério, não acredita em mim?

 - Acredito sim, mas tem uma coisa que está na minha cabeça faz um tempão e não sei se devo te perguntar ou não.

 - Pode perguntar o que é?

 - Aquele dia que nos trombamos na hora de ir embora, melhor dizendo, o dia que você saiu chorando da escola feito uma louca... Você não estava com cólica coisa nenhuma não é? Estava chorando porque viu aquele mauricinho mané ficando com uma outra lá da nossa sala não é?

Cecília fica estática olhando para Murilo.

 - Como você sabe?

 - Não precisava ser muito esperto pra juntar as peças. Você saiu chorando depois que viu alguma coisa, quando olhei de onde você estava vindo vi os dois juntos. Então era isso mesmo, estava chorando por causa dele?!

Cecília faz que sim com a cabeça.

 - Vocês já tinham ficado antes?

 - Nunca fiquei com ele.

 - Porque chorar então?

 - Não sei. Acha que eu queria ter chorado e o deixar se achando o máximo por isso? Claro que não, mas não consegui me segurar. Sou uma idiota.

 - Posso ser sincero?

 - Sim.

 - Você não é idiota, mas está agindo feito uma.

 - O que quer dizer?

 - Cecília, o cara sabe que você gosta dele e por isso fica brincando com você. Ele tem você como uma opção. Quando não tiver mais nenhuma menina diferente pra ele pegar e ficar se achando o cara, aí sim vai lembrar de você. Mas enquanto isso vai te tratar como um step.

 - Poxa, não precisava falar assim né?

 - Desculpa, mas você disse que eu podia ser sincero.

 - Tudo bem, você tem razão afinal. Queria ser mais corajosa sabe? Falar com ele, arriscar pelo menos, mas não tenho coragem.

 - E por quê?

 - Você ainda pergunta? É que você não conhece as meninas que o Mateus já ficou. Perto delas sou uma desengonçada ridícula.

 - Não é mesmo! – diz Murilo com convicção. – Você é linda.

Cecília o olha sem graça e com o rosto um pouco mais corado.

 - Acha mesmo? – pergunta ela.

 - Claro, mas se você não achar, de que adianta? Tem que acreditar mais em você mocinha.

 - A Fabi sempre me diz isso.

 - E pelo visto você só escuta, mas não age.

 - É...  – diz com um sorriso sem graça.

Eles se olham por alguns instantes e não dizem nada. O silencio é quebrado por Cecília.

 - Vamos voltar aos estudos? A prova está a cada dia mais perto.

 - O que foi? Ficou sem graça com o que disse? – pergunta Murilo com um riso divertido.

 - Não, nada a ver.

 - Não tem costume de receber elogios?

 - Na verdade não.

 - Seus namorados não te elogiavam?

 - Nunca namorei. Fiquei algumas vezes de tanto que a Fabi me atormentava, mas só isso. Sou muito na minha.

 - Entendi. Gosto disso em você sabia?

 - Disso o que?

 - Você é de verdade...

Cecília faz uma cara de quem não está entendendo nada. Vendo a reação dela Murilo explica:

 - Você tem o seu jeito, um jeito só seu. Não tenta imitar ninguém. Isso é legal.

 - Obrigada. – agradece meio sem jeito.

 - Não tem que me agradecer, estou apenas falando a verdade. Mas e aí, vamos voltar a estudar antes que eu perca a coragem? – brinca ele.

 - Vamos sim. – concorda Cecília sorrindo.

Os dias seguem iguais, estudos, partidas de xadrez e agora conversas mais animadas entre ambos.

Cecília e Murilo já falavam mais abertamente um com o outro e apesar de serem diferentes em muitas coisas, se entendiam muito bem.

Enfim chega o dia da prova. A grande maioria dos alunos estava tensa, afinal aquela prova era uma das mais difíceis que estavam esperando.

O professor chega à sala de aula e sem demora começa a distribuição das provas.

 - Não quero absolutamente nada em cima das carteiras, apenas a caneta que vão usar. Antes que me perguntem, quero todos os cálculos e resultados a caneta, a prova que ver á lápis é zero na hora.

Cecília e Fabiana se entreolham. Aquela prova seria realmente barra pesada e era apenas a primeira.

Enquanto o professor distribui as provas, Cecília olha para trás e deseja boa sorte para Murilo, que responde com uma piscada. Ela não sabe explicar o porquê, mas aquilo a deixou animada.

Apesar de ter facilidade com a matéria Cecília estava achando a prova extremamente difícil. Se pra ela estava assim, imaginou para Murilo.

Depois de quase uma hora ela termina a prova e a entrega para o professor.  

A prova foi aplicada nas duas últimas aulas, sendo assim o professor ia liberando para ir embora os alunos que já tivessem terminado.

Cecília ficou esperando os amigos do lado de fora. A cada colega de turma que saia da sala, ela podia ver o cansaço em seus rostos.

Depois de muito tempo de espera Luis sai da sala.

 - Meu, que prova foi essa? – Comenta com Cecília.

 - Estava difícil né? – Comenta ela.

Pouco depois Fabiana sai da sala.

 - E aí gatinha, como foi? – pergunta Luis.

 - Sei lá, nem to conseguindo pensar direito!

 - Já vou indo, quer ir comigo? – pergunta ele para Fabi.

 - Vamos Cissa? – diz ela a amiga.

 - Não, podem ir. Não quero ficar de vela não.

 - Pára meu, nada a ver! – diz Fabi.

 - Sério Fabi, vou esperar o Murilo.

 - Ah ta, porque não disse antes? – diz Fabi com um sorriso sapeca.

 - Não é nada disso engraçadinha! Eu o ajudei a estudar né, quero ver se fiz um bom trabalho.

 - Sei... Bom trabalho...

 - Fabi, o Luis quer ir embora, vai logo! – diz empurrando a amiga.

 - Tudo bem, espero que suas aula rendam “bons frutos” pra vocês. – diz ao sair rindo com Luis.

Depois de um bom tempo esperando, Cecília acaba se sentando no chão do corredor. Praticamente todos os alunos já haviam saído e nem sinal de Murilo. Finalmente a porta se abre e Murilo sai.

 - Ainda aqui? Pensei que já estava na sua casa. – diz ele tranquilamente.

 - Resolvi te esperar. E aí, como foi a prova?

 - Normal.

 - Normal? Como assim normal?

 - Normal ué, como toda prova.

 - É sério Murilo. Quero saber se você foi bem ou mal.

 - E posso saber por quê?

 - Eu te ajudei a estudar né, acho justo.

Murilo dá uma risadinha.

 - Sei que não é por isso. Você quer saber se ganhou ou perdeu a aposta não é?

 - Também...

 - Sabia! – diz rindo.

 - Que seja! Diz logo. Você se saiu bem na prova?