Capítulo 9- Comédie Tragédie

A vida é injusta

Mas depende de quem

A vida é injusta

Especialmente para os pequenos

A vida é injusta

E é por isso que nós rimos

— Oh, Charlotty! Não me meta na história quando não tenho nada a ver. — Clarissa disse levantando as mãos.

— Mas Clarissa, você é a general, e é responsável por cada guerreiro do reino. Pelo menos os cavaleiros da capital, certo? — Charlotty continuou. Clarissa foi forçada a assentir. — e então?

— Eu acho uma ideia fascinante! — Victorique concordou.

— Pois bem, senhorita. Aceitaremos sua proposta. — Velkhan respondeu. — Por que não planeja nossas... Como a senhorita disse...? Brincadeiras?

— Sim — Hector concordou. — Brincadeiras.

— Pois bem. Vejamos se vocês são mesmo tão habilidosos quanto dizem — Charlotty disse, voltando a bebericar o vinho, olhando para Velkhan com um olhar de desconfiança.

— Muito bem. Veremos. — Thomas respondeu.

‡

— Velkhan, que história é essa? — Clarissa perguntou sentando-se na cama dele. O jantar já havia acabado e, buscando uma resposta para a dúvida que ficou sobre Velkhan ser “Walter”, Clarissa o seguiu até o quarto.

— Se eu não puder ficar com ela do jeito que eu quero, vou ficar dessa maneira. Sempre ao lado dela. Para protegê-la.

— Como um cachorro?

Eles riram. Velkhan se sentou ao lado dela, e ela encostou a cabeça no ombro dele.

— Pode lhe parecer estranho... ou mesmo tolo. Mas essa é a minha vontade. Victorique vai se casar... E eu ficarei sempre com ela. Ela será feliz casada e eu serei feliz por poder vê-la todos os dias.

— Isso foi lindo — Clarissa disse-lhe. Então teve uma ideia. — Sabe o que eu vou fazer?

— Sobre o que?

— Sobre os testes, seu tonto! Sobre o que mais?

— Ah sim. O que você fará?

— Ninguém pode saber, está me ouvindo? — Velkhan assentiu — Bem, e se... eu os ajudasse? Charlotty precisaria discutir os testes comigo... E se eu os revelasse para vocês terem tempo de se preparar?

Velkhan sorriu e abraçou a garota ao seu lado.

— Obrigado, Clarissa! O que posso fazer em troca?

— Me diga o nome daquele cavaleiro gato. — ela respondeu rindo. — Hibiscus?

— Hector — ele revirou os olhos — Aliás, Hibisco não é uma flor?

Clarissa riu.

‡

Victorique queria muito jogar-se em sua cama enorme, no seu quarto enorme e chorar por um período enorme de tempo, pois Velkhan estava com outra. Mas ela sabia que isso era tolo e infantil. Sem contar que ela mesma ia se casar. E, exatamente por isso, ela não poderia ficar sozinha em seu quarto: Maxmillian chegaria em breve, ainda naquele dia e ela teria de bancar a boa noiva anfitriã.

Coisa que ela não queria.

Não que ela não gostasse de Maxmillian. Mas ela gostava muito mais de Velkhan. Seu Velkhan. Ela já havia se banhado e trocado o vestido de antes por um mais leve, com menos camadas de saia e deixara os cabelos soltos, caindo sobre o ombro direito.

Estava no vestíbulo, a primeira sala do palácio, a que se vê assim que se abrem as portas. Ela não estava apaixonada por Maxmillian, mas a presença dele deixava-a nervosa.

O som de cornetas sendo soadas a retirou de seus devaneios.

— O Rei Maxmillian Von Lithanis III! — O homem anunciou.

Victorique ajeitou o vestido e parou de andar em círculos no espaço pequeno do Vestíbulo.

Começou a andar em direção ao portão, pelo qual Maxmillian entraria. Saiu para os jardins frontais do palácio, quando o homem descia da carruagem grande e preta, com detalhes em prata. Ele vestia uma capa de viagem azul escura por cima das roupas. Seus cabelos eram pretos e lisos e seus olhos azuis claros eram quase brancos. Seu rosto era protegido por uma barba bem aparada, ficando somente no seu queixo. Ele vestia um tipo de casaco pesado, com ombreiras de nobre por baixo da capa, que entregou para um dos servos do palácio.

Ele andou até Victorique, que fez uma mesura, baixando levemente a cabeça. Ele fez a versão masculina da mesura e beijou a mão de Victorique.

— Se me permite, você está particularmente linda hoje, minha rainha.

— Obrigada, Maxmillian. — Sorriu. Uma sequencia de sons foi ouvida vinda do vestíbulo. Algo sendo derrubado, então vozes e, por fim Velkhan apareceu.

Ele sabia que era idiotice ter ido lá. Era capaz de atacar Maxmillian simplesmente pelo incidente de quando tinham oito anos. Velkhan não queria lembrar-se daquilo. Respirou fundo e seguiu até Victorique.

— Soberana. Ouvi cornetas e vim ver o que se passa.

— Ah, Walter. Conheça meu futuro marido — disse, dando um sorriso falso — esse é Maxmillian Von...

Velkhan olhou para seu inimigo pessoal, e acabou não prestando atenção no que Victorique dizia. Max tinha mudado. Muito. O cabelo dele estava muito mais longo. Havia feito algo com a cicatriz que tinha lhe dado, um quase “x” na bochecha direita. Estava barbudo e parecia muito mais... adulto do que na última vez que o vira.

— Maxmillian, esse é Walter Krüger. Ele salvou a mim e Charlotty mais cedo de um monstruoso fenrir — Victorique continuou a falar. — Ele e sua equipe de cavaleiros de elite. Eles são um presente da família real da Romania.

— Da Romania, é? — perguntou fazendo uma expressão de leve desagrado.

— Sim — Velkhan disse entredentes. — Da Romania. Algum problema?

Eles ficaram se encarando por alguns instantes.

— Bem, Maxmillian, você já jantou? — Victorique tentou baixar a tensão.

— Já sim, obrigado. — respondeu, ainda encarando Velkhan.

— Gente, vocês tão vendo a testosterona no ar? — Charlotty surgiu, assim como Velkhan, do vestíbulo e se aproximou de Victorique — Tá vendo, Vick? O ar fica meio destorcido.

Charlotty passou a mão na frente do rosto de ambos, o que quebrou um pouco a tensão entre eles. Maxmillian sorriu para ela.

— Lady Charlotty. Que prazer em vê-la.

— Obrigada — “gostaria de poder dizer o mesmo”, pensou. Desde o Vislumbre, a simples ideia de ver Maxmillian a assustava. O segredo dele era mais sombrio do que o dos cavaleiros, mas ela, infelizmente não se lembrava de quase nada.

— Vamos, vamos — Victorique chamou — Vamos entrar.