Durante o trajeto nós tivemos poucos assuntos, porém, dentre os que tivemos, nós procuramos saber os gostos do outro, como música, comida e filmes. Ficamos um bom tempo dentro do carro, o que tornou a viagem um pouco enjoativa mas, como ele tinha me dito poucas coisas sobre onde estávamos indo, a curiosidade aumentava a toda instante.

Depois de muito asfalto entramos em uma estrada de chão batido que, devido aos buracos, fazia todo o carro chacoalhar. Ficamos vinte e três minutos nesta estrada, até que, finalmente, chegamos a um sítio. Era um lugar bonito, com um lago gigantesco e uma densa floresta com árvores nativas. O sol estava se pondo, fazendo com que a água cristalina do lago se transformasse em uma água de coloração dourada.

– Eu queria que tu visses isto. – Disse Daniel de forma acolhedora.

– É lindo. – Corei.

Nós descemos do carro e caminhamos até perto da lagoa. Ficamos lado a lado contemplando um dos fenômenos mais bonitos da natureza.

– Quando eu fico mal com o mundo eu costumo fugir para cá. Tudo bem que não há como fugir dos meus problemas, já que eles estão em minha cabeça, mas, ver o pôr do sol é algo mágico, ele muda as pessoas, nos faz refletir sobre a vida e nos acalma.

Eu escutei o que ele falou, porém, não respondi, fiquei apenas olhando para frente e pensando em tudo que já havia vivido nestes quatro meses. Eram tantas lembranças.

Uma leve brisa passou por nossos corpos e fez nossas roupas balançarem. Assim que o vento cessou um aroma sutil invadiu minhas vias respiratórias. Era o aroma de Daniel. O que estava acontecendo comigo? Por que eu me sentia assim? Como se não pudesse me controlar.

Virei para Daniel e ele olhou em meus olhos. Meu coração começou a bater mais rápido e meu pulmão parecia não ter mais forças para funcionar. Um leve brilho surgiu nos olhos deles, e uma força que eu não sabia da onde vinha fez com que eu me aproximasse dele. Cheguei perto de seu rosto e com cautela toquei seus lábios com os meus. Em primeiro momento ele ficou parado, porém, antes que eu recuasse, ele me colocou seus braços em minha cintura e retribuiu o beijo. Ele era calmo, suave e um tanto tímido, mas isto não importava. Depois de tanto tempo procurando alguém, eu finalmente havia encontrado.

Assim que encostei todo meu corpo no dele uma forte dor percorreu minha coluna. Separei-me de seus braços e abri meus olhos, tentando entender o que havia acontecido. Olhei para Daniel e, no momento que eu iria falar com ele, todo meu corpo ficou rígido. As cores do sítio começaram a ficar pálidas, perdendo seu brilho e beleza, transformando-se em um grande bloco escuro.

Tentei olhar para Daniel e vi que ele estava ali parado, me olhando, enquanto eu caía no chão me contorcendo de dor. Depois de alguns eternos segundos tudo se apagou, eu não ouvia eu enxergava qualquer coisa.