Com a lista já pronta, Zeus já havia convocado um pequeno conselho, e eles se dividiram para procurar Perséfone.

Apolo e Ártemis iriam buscar pelas florestas, mesmo que não houvessem florestas de verdade na lista de locais, apenas alguns bosques, mas Atena tinha um argumento convincente.

-É bom procurarmos em lugares improváveis já que, se eu, por exemplo, fosse fugir, eu não me esconderia em lugares que algum de vocês possa imaginar que eu fosse.

-Mas ninguém é tão calculista como você, Palas – Poseidon, sempre tinha de ser Poseidon, sempre com algum comentário engraçadinho, infame, sem sentido ou pervertido. Sempre ele. Sempre com ela.

Antes que a discussão se formasse, Hera já partiu para Hermes, deveriam escolher aonde ele procuraria.

-Eu posso ir às cidades. Perséfone é... chamativa, eu vou perguntando, lanço coisas pela internet, coisas assim. Faço essa parte urbanizada - “Chamativa” não era a palavra que Hermes queria usar para descrever sua irmã, mas com Hades o fitando assustadoramente, ele não conseguiria dizer algo como “bem dotada”, “gostosa”, “extremamente provocante”. Nem mesmo um “bonita” ele conseguiria dizer, antes de terminar a palavra já teria encontrado seu avô no Tártaro.

-Certo. Ãn... Poseidon, você vai ajudar? - O deus se sentiu ofendido pela pergunta. É claro que ele ajudaria seu irmão. Não por ele ser seu irmão, mas porque Poseidon sabia como era não ter a mulher que você ama ao seu lado. Ah, ele sabia muito bem.

-Sim. Procurarei nas ilhas – Hera assentiu e anotou algo no papel que trazia na sua mão. Hera havia assumido a organização, já que Deméter não conseguia falar, estava apenas focada em não chorar rios de lágrimas, e Hades mataria qualquer um, mesmo que não tivesse motivo, no estado que ele estava.

Os deuses, assim que recebiam seus destinos, saíam para começar a busca. Haviam combinado de retornar na manhã do dia seguinte se não houvessem encontrado pistas, ou mandar uma Mensagem de Íris, caso soubessem de algo.

Hades estava à beira de um colapso. Enquanto Hera anotava e riscava diversas coisas, ele andava de um lado para o outro, sem mais conter suas lágrimas. Todos haviam ido para seus destinos, e para ele restava pensar em algo que ele houvesse esquecido. Algum lugar que fosse marcante para eles dois. Ele precisava lembrar de alguma coisa, qualquer coisa bastaria.

Deméter conversava com Zeus sobre algo, aparentemente ele tentava acalmá-la.

Fora eles, a única outra deusa presente era Afrodite, que acompanhava Hades com os olhos e mexia em sua aliança. Em sua cabecinha, Afrodite estava imaginando se Hefesto faria isso por ela. Se ele ainda a amava assim, tão profundamente. Mesmo que ela houvesse o magoado, ela ainda tinha esperanças. Até porque Ares não se importaria se ela sumisse, ele arrumaria alguém com um corpo bonito em dois segundos.

Com pena, Afrodite se levantou e andou até Hades. A Aproximação da deusa fez ele parar para olhá-la. Em seus olhos a raiva se dissipou, dando lugar à tristeza.

-Aniversários de casamento?

-Não. Os locais já estão todos na lista.

-Todos?

-Todos. De todos os anos.

Afrodite suspirou.

-Aniversário dela?

-Ela sempre está com Deméter, passamos aqui no Olimpo, a única vez que ela o passara comigo foi durante as batalhas contra Cronos, e naqueles dias.

Talvez apenas Deméter e Afrodite pudessem entendê-lo. E Perséfone, claro. Ele se referia à vez que sequestrara Perséfone, a levando para seu Palácio. Ela passara o aniversário lá, com ele.

-Seus aniversários?

-Não.

-Ah, vamos Hades, tem de haver algo. Pare de procurar aqui – Afrodite apontou para a cabeça de Hades – e comece a procurar aqui – Ela agora apontara para o lado esquerdo do peito dele, fazendo-o suspirar, e duas lágrimas caíram dos olhos negros. Um silêncio cobriu o local. Afrodite se sentou novamente, quebrando a cabeça para encontrar algo, juntamente com Deméter, que já havia parado de conversar com Zeus.

-Eu devia tê-la dado um filho – Hades quebrou o silêncio, e espantou a todos. A maioria dos deuses sabia que Hades não queria filhos. Ele nunca quis um filho deus. Ele reclamara que era desgastante demais, e era algo para ser pensado e analisado. Ao contrário dos semideuses, os deuses não se vão, são eternos.

As lágrimas escorriam no rosto do deus dos Mortos. Ele sabia que devia mesmo tê-la engravidado. Devia tê-la feito feliz. Talvez se ela tivesse mais motivos para ficar, não fugiria.

Deméter, que agora também chorava, se levantou e se dirigiu até Hades e o abraçou. Sim, ela o abraçou, chorando em seu ombro.

Hades retribuiu o abraço da sogra. Eles sabiam que não deveriam ter brigado tanto. Eles sofriam igualmente agora, sofriam por algo que poderiam ter evitado. Tantas coisas poderiam ser diferentes.

Antes de se afastar de Hades, Deméter sussurou “Nós a encontraremos” no ouvido do irmão, talvez tentando não só convencer a ele, mas a si mesma também. Hades assentiu e ambos se afastaram, limpando suas lágrimas.

-Eu vou sair para procurá-la, não aguento isso, vou procurá-la em qualquer lugar.

-Hades, nós já cobrimos todos os lugares possíveis.

-Não me importa, eu não vou ficar sentado esperando. Ela é minha mulher, eu a acharei. A culpa foi minha, e eu a trarei de volta.

E com isso, ele saiu da Sala de Tronos, seguido por um Deméter impressionada, e deixando uma Afrodite com olhos marejados para trás.