Enquanto O Ditador Não Vem escrita por mybdns


Capítulo 4
Descanse em paz, Ewa.


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam gostando :)



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Em algum lugar da Polônia, 23 de Outubro de 1940

Nesse dia chovia bastante. Eu não podia carregar peso por causa da criança que eu trazia em meu ventre e mamãe estava muito fraca por causa de sua doença. Estávamos dentro do alojamento quando escutamos baterem na porta.

- Deixe que eu atendo mamãe.

- Tudo bem.

- Stephen!

- Shhh. Oi querida. Me deixe entrar. Os soldados não podem me ver... Quem foi o desgraçado que fez isso com você?

- Não importa.

- Importa sim.

- Christopher... Esse é o nome dele.

- Christopher? Vou matá-lo.

- Não por favor!

- É tarde demais!

Ele saiu como um louco procurando o soldado.

- Oi Stephan. Disse Christopher.

- Oi o diabo! Se desgraçado filho da mãe. Por que engravidou Aniela? Com que direito tocou nela?

- Quem é Aniela?

- Ela é Aniela. Disse apontando pra mim.

- Ah a rata judia gostosa...

- Seu animal.

Só escutaram tiros. Acho que foram 5. E Christopher caído no chão. Morto é claro. Dei graças aos céus que não precisaria ver a cara daquele homem novamente.

- Acabou Aniela. Acabou.

- Você não deveria ter feito isso. Seu querido e amado Fuhrer não vai gostar de saber que matou um de seus “irmãos”.

- O Fuhrer não precisa ficar sabendo disso. Ao menos que você conte. Disse apontando para o outro soldado, Peter acho que era o nome dele.

- Não contarei senhor. Eu prometo. Não achei certo o que ele fez com essa menina. Por mais que ela seja Judia...

Quando chegamos ao quarto, mamãe estava assustada.

- O que aconteceu meu rapaz?

- Eu matei quem fez mal a Aniela senhora. Ele não vai mais perturbá-la.

- Obrigada.

Foi nessa hora que senti uma forte dor no abdômen.

- O que foi querida?

- Eu estou com muita dor mamãe.

- Oh meu Deus você está entrando em trabalho de parto. Stephan, pegue um pouco de água pra mim e aquela toalha que está em cima da cama.

- Claro.

- Querida agora eu preciso que faça toda a força que puder. Tudo bem?

- Tudo. Aiiii.

- Isso está indo muito bem querida. Empurre!

- Ah! Está doendo.

- Eu sei meu bem mais vai! Eu consigo ver a cabeça. Empurre mais.

- Aiii!

- Era uma menina. Linda.

- Era? Perguntou Stephen.

- Nasceu morta. Com o cordão enroscado. Não pude fazer nada. Me desculpe filha.

- Tudo bem mamãe. Foi até melhor essa criança não nascer nesse mundo mesmo. Ela só iria sofrer.  

-Descanse Aniela. Disse Stephen. Você sofreu grandes emoções hoje. Descanse meu amor...

 -Você ama minha filha não é mesmo? Perguntou mamãe, que pensou que eu estava dormindo.

- Amo senhora. Não importa se ela é judia e eu um nazista. Eu a amo do fundo do meu coração.

- Eu posso ver nos seus olhos meu jovem. Espero que um dia possam se casar. Infelizmente, não vou poder estar aqui pra presenciar. Acho que não duro uma semana mais.

- Não fale assim.

 - Eu queria estar aqui pra ver esses porcos nazistas sendo expulsos daqui, presos, tratados como lixo, como eles tratam a gente. Queria ver seu querido Hitler sendo torturado por judeus. Que Deus me perdoe! Mais assistiria tudo de camarote.

- Eu também sonho com o dia que tudo isso irá acabar. Eu serei punido. Mais ficarei feliz.  Espero que um dia Deus me perdoe por isso.

- Deus não é vingativo rapaz. Ele faz o que é certo. Nada mais.

- Espero. Querem vir comigo? Querem fugir?

- Está brincando. Não agüento nem andar direito.

- Eu coloco as duas no meu automóvel e digo que vou levar vocês para matar em outro lugar. Eles não desconfiarão.

- Será que é seguro? Levantei num relance.

- Já dormiu?

- Já.

- Tudo bem vamos tentar. Disse mamãe.

- De madrugada volto aqui. Estejam prontas.

- Tchau.

- Tchau Aniela. Tchau Senhora.

- Até mais meu rapaz.

Fiquei ansiosa para fugir. Não agüentava mais aquilo tudo. De noite ficava pensando o porque de tudo isso. Porque Hitler não gostava de Judeus. Sabendo que poderíamos viver em paz, judeus, negros, homossexuais, ciganos, brancos?  Porque nos matar? Era só uma religião, como a católica e tantas outras. Eu sentia pena dele.  Pena por ele não aceitar como as pessoas são. E o pior de tudo é que ele conseguiu convencer todos disso. De que as minorias tinham que ser exterminadas da pior maneira possível porque elas não eram puras. Vocês não sabem como a lábia do Fuhrer era boa. O poder de convencimento dele era muito bom...

Em algum lugar da Polônia, Madrugada de 24 de Outubro de 1940. 

Stephen chegou até a porta e já estávamos lá.

- Não façam barulho, eles podem perceber.

Ficamos abaixadas no chão do carro e um oficial nos parou.

- Heil Hitler!

- Heil Hitler! Respondeu batendo continência ao oficial.

- Aonde vai levar essas Judias?

- Vou matá-las em outro local. As porcas me desrespeitaram e eu faço questão de matá-las. Quero que sofram bastante.

- Tudo bem. Heil Hitler!

- Heil Hitler!

- Essa foi por pouco. Resmunguei.

- Podem levantar. Desculpem pelo porcas.

- Já estamos acostumadas.

- Vou levá-las até a casa de uns amigos meus do centro de Varsóvia. Vão ficar lá.

- Obrigada Stephan. Disse minha mãe. Você é uma pessoa decente. Difícil nesses tempos de Guerra.

- Eu amo sua filha Ewa. Não poderia deixá-la morrer naquele campo. Nem a senhora.

Depois de umas 3 horas de viajem, chegamos até a casa dos Masen. Um casal inglês que vieram passar uma temporada na Polônia. Péssima época. Ficamos no porão, escondidas,pois se os alemães nos achassem, iriam nos matar e matar os Masen também.

- Estão com fome? Perguntou Gloria.

- Faz um 3 dias que não comemos nada. Disse minha mãe.

- Santo Deus venham!

Ela preparou uma comida deliciosa. Fazia tempo que não comíamos daquele jeito. Realmente, estávamos mortas de fome.

- Obrigada por tudo o que estão fazendo por nós. Não sei como agradecer. Disse mamãe.

- Não precisa agradecer. Vocês precisam descansar um pouco. Vou levá-las até onde vão ficar. Não é muito aconchegante mais tem uma cama de casal que vocês podem dividir. Acompanhem-me, por favor.

- Obrigada. Disse numa voz trêmula.

- Já disse que não precisa agradecer Aniela. Você precisa descansar. Fazer repouso, pois acabou de ter um bebê. A propósito, onde ele está?

- Nasceu morto.

- Eu sinto!

- Foi melhor assim. Disse-lhe.

- Boa noite. Se precisarem é só chamar.

- Tudo bem.

A noite, sonhei com as palavras de Stephan. Dizendo a minha mãe que me amava... Eu estava amando aquele rapaz...

Fim Do Flashback.

-Ah! Dei um suspiro.  Sabe, eu guardo uma medalha que Stephan me deu até hoje. Aqui no meu pescoço. Só a tiro pra dormir e tomar banho.  Eu também dei uma a ele. Minha estrelinha de Davi.

- Ele também a guarda te hoje Aniela.  Disse Sophie.

- Eu sabia...

Varsóvia, 1º de Novembro de 1940.

Naquele dia mamãe nos deixou.

Fazia um tempo que estávamos escondidas na casa dos Masen. Mamãe ficava cada dia pior. Nesse 1º de Novembro, eu estava espiando por um pequeno buraco que havia na parede do porão. Uma fila de Judeus fazendo a famosa Marcha dos Judeus. Era terrível. Soldados mandava eles marcharem pela rua, e pessoas vendo, dando risada, cuspindo neles. Chamando nossos irmãos de ratos e porcos imundos... Era uma situação terrível. E mamãe começou a passar mal.

- Mamãe? O que a senhora tem?

- Ah! Minha querida, eu estou morrendo. O meu fim está chegando. Disse com dificuldades.

- Não fala isso mamãe! Nem por brincadeira.

- Eu te amo querida. Eu te amo muito. Agüente até o fim pra você ver isso tudo acabar. Para ver nosso povo livre e os alemães presos. Por mim. Adeus.

Ela deu um suspiro e se foi.

- Mamãe! Não

-O que aconteceu Aniela?

- Mamãe morreu senhora Masen. Morreu.

- Eu sinto muito querida. Muito mesmo! Vamos enterrá-la no quintal.

Agora sim eu estava sozinha.

Enterramos ela no quintal. Com muita descrição. Não conseguia parar de chorar. Mamãe era tudo o que eu tinha e agora eu estava sozinha.

- Não chore querida. Meu marido e eu não vamos deixar nada de mal te acontecer. Eu prometo.

- Obrigada Senhora Masen.

Stephan ia me ver quase todos os dias. Eu adorava quando ele vinha, pois me trazia livros para eu passar o tempo e me deixava informada sobre os assuntos da Guerra. Ele  me disse que na Itália acontecia a mesma coisa que aqui, só que mais “leve”, mas o ditador de lá, um velho gordo chamado Benito Mussolini era amigo de Hitler. Disse que o Eixo ( Itália, Alemanha e Japão) ganhava tudo, anexava vários territórios ao seu. Estava preocupada, pois se eles estavam conseguindo anexar territórios aos seus, a Guerra estava só começando. Mais eu tinha fé que algum dia, a situação iria se inverter.

E inverteu. 


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