Any não queria acreditar no que tinha acabado de ouvir.

Às vezes, ela esperava até que Mai e Dul pegassem no sono, e cautelosamente se certificava de que Ucker e Chris também estivessem dormindo. Então ela ia, sem causar barulho, até o quarto dos meninos. Abria a porta lentamente, com todo o cuidado, e sorria ao ver que Poncho a esperava no escuro, sentado em sua cama. Chris havia exagerado ao dizer que ela “costuma” ir pra cama do Poncho. Além disso, eles estavam fazendo tempestade em copo d’água. Quando ela ia até o quarto dos meninos a noite, Poncho e ela ficavam apenas conversando baixo, e quando sentiam vontade, olhavam as estrelas juntos. A cama de Poncho ficava perto da janela que lhes proporcionava a visão mais extraordinária do céu repleto de estrelas. De vez em quando, um abraço mais apertado pedia um beijo, e os dois não conseguiam evitar. Mas era apenas isso, nada mais. Nada mais enquanto os outros não saíam do apartamento. Mas Any não admitiria aos demais que algo mais acontecia quando eles estavam fora de casa.

Imediatamente, Any começou a negar tudo.

- O que??? Vocês estão malucos? O que vocês tem na cabeça para falarem uma coisa dessas? – gritou, levantando-se da cadeira e batendo seu pedaço de pizza na mesa três vezes.

- Ei, se não quer comer, dê o seu pedaço da pizza pra mim, que absurdo, isso é jeito de tratar um pedaço de pizza quatro queijos? – Chris estava indignado.

Any bateu o pedaço de pizza mais uma vez contra a mesa, porém, dessa vez com mais força. E saiu da sala de jantar, resmungando algo que ninguém conseguiu ouvir, nem entender.

Chris pegou o pedaço de pizza de Any.

- Oh, coitado de você, pedaço de pizza. Está esmagado. Deixe que eu cuide de você, vem cá. – falou com aquela pizza como se estivesse falando com uma pessoa.

Dul, Mai e Ucker entreolharam-se. Chris finalmente havia abocanhado o pedaço de pizza esmagado por Any.

Na tarde seguinte, estavam no apartamento Mai, Chris e Dul. Any estava no shopping, Poncho tinha ido ao mercado comprar sorvete e Ucker estava no dentista. Mai aproveitou que havia pouca gente e começou a passar o aspirador de pó no tapete da sala. Aproveitou também para acender uns incensos. Estava vestindo um enorme avental e usava um lenço colorido no cabelo. Chris estava deitado no sofá, enquanto Mai passava o aspirador de pó de um lado para o outro. Dul chegou à sala e começou a espirrar por causa dos incensos da Mai.

 - Ai, caramba! Incenso de novo, Mai? – ela reclamou, tampando as narinas.

Mai não se intimidava mais com as reclamações. Sorria e dizia:

- Você vai me agradecer quando o ar deste ambiente estiver purificado, e algo de bom acontecer!

- Ai, Mai... – Dul não acreditava no poder dos incensos.

Dul foi até a cozinha a fim de preparar um lanche.

Mai continuava concentrada em sua tarefa quando de repente, Chris pulou do sofá, dando um salto no tapete.

- SIM, É ISSO! QUE IDEIA INCRÍVEL!

Mai se assustou tanto que deixou escapar um grito e perdeu o controle sobre o aspirador de pó, que engoliu metade de uma toalhinha bordada a mão que servia de enfeite na mesa de centro da sala.

- Que é isso Chris? Ficou maluco ou o que?

- Eu acabei de ter a melhor idéia que alguém poderia ter nesta casa – os olhos de Chris tinham um brilho que assustava Mai.

- O que é dessa vez?

- Chame a Dul. Quero que ela esteja aqui nesse momento, para que ela também saiba do plano.

- Plano? Que plano é esse Chris? E pra que?

Chris começou a empurrar Mai.

- Nada de perguntas agora. Vá chamar a Dul. Espero bem aqui.

Ele se sentou novamente no sofá, com um sorriso maldoso nos lábios. Depois que Mai saiu da sala, deixando-o completamente sozinho, ele soltou uma gargalhada.

- O que seria de nós sem mim?