Beijos Roubados E Sorrisos Marotos. escrita por Ketlen Evans


Capítulo 20
Sombra




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  Finalemente, finalmente mesmo, consegui terminar esse cap! Ele simplesmente parecia que não queria sair e então o words começou a dar problema e eu não tava dando para escrever, mas cá está, mais um cap quentinho pra vocês, acho que não faz nem dez minutos que eu terminei ele. Espero que gostem porque deu trabalho, e quanto ao nome do capitulo, eu simplesmente não consegui pensar em nada melhor, então ficou assim mesmo

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   Pela primeira vez em anos, Lily teria que ir sozinha ao Beco Diagonal para comprar seus materiais. Agora que podia ir pela lareira Lílian não viu motivos validos que a fizessem tirar o pai do trabalho para levá-la a Londres. Não era mais uma garotinha, porém isso não impediu Roberta de dar a filha mil e uma recomendações antes que ela saísse.

    “Procure não demorar”. “Não fale com pessoas estranhas”. “Se mantenha em locais onde haja bastante gente”. “E acima de tudo, tome cuidado minha florzinha”.

    - Tudo bem mãe, eu sei me cuidar. – Disse Lílian se desprendendo do abraço de Roberta. – São só umas poucas horas de compras, não vai acontecer nada demais.

    - Então está bem Lily. Tchau.

    - Tchau mãe.

    A menina pegou um punhado de flu e jogou nas chamas da lareira que ficaram verdes. Era uma sensação estranha estar dentro do fogo. Dava a impressão de água morna subindo pelas suas meias.

    - Caldeirão Furado. – Disse claramente e então começou a rodopiar pelo que pareceu vários minutos até cair, completamente cheia de fuligem, no meio do bar.

    O lugar parecia deserto. Nem mesmo Greg estava lá. Por um momento ela pensou que o bar estava fechado, mas então ouviu passos descendo as escadas. Logo um moço de uns vinte anos apareceu. Andava meio corcunda e seu cabelo tinha uma estranha cor.

   - Boa tarde. – Disse Lily apreensiva. – Estou apenas de passagem, vou para o Beco.

   Ela começou a se afastar, mas acabou parando quando o jovem começou a falar.

   - Não tenha pressa. – Ele disse simplesmente e Lily se surpreendeu ao ver que a voz dele parecia a de alguém que tinha chorado há pouco. – Eu sou Tom.

   - Olá Tom. Me chamo Lílian Evans. – Ela disse ainda distante dele. – Não sabia que estavam fechados hoje.

   - O caldeirão furado não pode fechar nem que eu queira. Tem sempre gente chegando de todos os lugares, mas hoje não estamos exercendo a função de bar, apenas de passagem para o Beco.

   - O que aconteceu? – Lílian perguntou curiosa.

   Ele a encarou por alguns instantes antes de respondê-la.

    - Meu pai foi morto por Comensais. – Disse simplesmente.

    Em choque ele olhou para o balcão.

    - Seu pai era o Greg? – Perguntou com a voz tremula.

   Ele apenas assentiu com a cabeça e então sentou-se em uma das mesinhas do bar. Sem saber o que fazer Lílian apenas ficou lá observando. De repente percebeu que não podia ficar demorando demais, ou sua mãe se preocuparia.

   - Eu sinto muito Tom, muito mesmo. – Disse sentando-se ao lado do rapaz. – Seu pai era um ótimo homem, todos vão sentir muita falta dele. – Ela esperou para ver se ele falava algo, mas como ele mal parecia capaz de se manter acordado ela se levantou. – Gostaria de ficar, mas se eu demorar minha mãe ficará preocupada. – Dizendo isso ela saiu do bar e com alivio recebeu a leve brisa morna de verão.

    Estava de frente para a mesma parede de tijolinhos que tinha visto em seu primeiro ano. Tirou a varinha das vestes e bateu levemente em um determinado tijolo e em questão de segundos ela estava encarando a ruazinha torta que ela tanto gostava.

    Por mais que a rua estivesse cheia ela não era mais o lugar alegre que já havia sido. A expressão no rosto das pessoas era tensa e preocupada. Ninguém nem ao menos a cumprimentou quando ela passou. Viravam os rostos e se afastavam rapidamente.

    Com um sobressalto ela viu pela primeira vez no rosto dos alegres bruxos um sentimento que até aquele dia não tinha tido importância nenhuma para ela. Desconfiança.

    Os bruxos estavam se tornando desconfiados, e surpreendentemente Lily compartilhava do mesmo sentimento, afinal, não sabia de nada, não conhecia aquelas pessoas e em tempos difíceis você não pode simplesmente sair conversando com qualquer um que encontrar, afinal, o estranho que você julga simpático pode ser a pessoa que te mataria.

    Era horrível, desprezível, inaceitável, mas acima de tudo, o que tornava as coisas mais absurdas era ver que era extremamente real.

    Caminhando rápido ela fez seu caminho pelas lojas comprando todo o necessário e ouvindo aqui e ali conversas aleatórias.

    “Germain Britch foi atacada ontem a noite, um dos últimos vilarejos bruxo que sobrou”.

   “Logo todos os bruxos terão que começar a se esconder entre os trouxas, as vilas estão acabando”.

   “Mais três desaparecimentos anunciados ontem. Aposto todos os meus galeões que eles só reaparecerão novamente mortos”.

   Ela até tentava não escutar, mas era impossível. Parecia que seus ouvidos haviam dobrado a capacidade apenas para poder coletar essas informações desagradáveis.

    Não demorou nem mesmo duas horas e já estava com as compras acabadas. Saiu da Floreios e Borrões que era a ultima loja que tinha visitado e começou a descer a rua. Já se aproximavam das quatro da tarde e o Beco Diagonal começava a ficar vazio. Ela apertou mais ainda o passo e por consequência da pressa quase não reparou no menino sentado sozinho nas escadas da sorveteria. Primeiro pensou que deveria ser uma pessoa muito burra para ficar ali parada sozinha, ou alguém estupidamente corajoso demais. Foi somente a alguns poucos passos de distancia que o reconheceu.

    - Frank! – O menino ergueu a cabeça ao ouvir seu nome sendo chamado e um pequeno sorriso apareceu quando reconheceu a amiga.

    - Olá Lils. O que faz por aqui? – Ele perguntou.

    Lílian ergueu as muitas sacolas que tinha nas mãos.

   - Acho que é meio óbvio Frank. – Ela sentou-se ao lado do amigo esquecendo-se de sua pressa e de seu medo. – Mas o que você faz aqui sentado sozinho? Parece um alvo fácil demais.

   Ele pareceu pensar por um momento.

   - Estava apenas com vontade de tomar um sorvete. – Respondeu melancolicamente. – Eu sempre venho aqui nas férias, minha casa não fica muito longe.

   - Mas Frank, as coisas estão realmente ruins. – Disse Lily. – Não é como se fosse seguro ficara ai exposto desse jeito.

   - Não tenho medo. Comensais não me assustam.

   - Eu sei que você não tem medo, mas pense em seus pais. – Ela disse calmamente. – Como você acha que eles se sentiriam se você não voltasse para casa hoje? E Alice. Como seria quando ela voltasse de viagem e recebesse a noticia de que você está morto?

   Por um momento Lily poderia jurar que viu um leve tremor perpassar o corpo de Frank. Como se ele estivesse realmente imaginando as situações.

   - Talvez você tenha razão. – Murmurou.

   - Obviamente eu tenho razão. Afinal, sou a monitora mais racional de Hogwarts. – Respondeu estufando o peito e fazendo o menino rir. – Agora tenho que ir Frank. – Disse voltando ao tom normal. – Minha mãe deve estar preocupada já.

   Ele se levantou junto com Lily e lançou um ultimo olhar saudoso para as portas fechadas da sorveteria.

   - Melhor eu ir também. Pelo jeito não vai ter sorvete hoje.

   Os dois desceram as ruas, trocando informações sobre as férias. Faltavam duas semanas para o inicio das aulas. Marlene voltava de viagem no dia seguinte e Alice somente no ultimo fim de semana de férias. Era impossível não perceber a saudade imensa que Frank sentia de sua namorada. Parecia uma pessoa cujo ar lhe faltava havia meses.

   Quando chegaram ao Caldeirão furado não havia vestígios de Tom por ali. O bar empoeirado era assustador agora que a luz do dia começava a enfraquecer. O único movimento provinha dos grãos de poeira e do fogo que dançava animado em sua lareira. Frank insistiu para que Lily fosse primeiro e dentro de poucos segundos ela já estava pisando na sala de sua casa sendo logo em seguida engolfada por um abraço sufocante da mãe.

   - Me... solta mãe... – Lily pediu entre arquejos. – Ta sufocando.

   - Fiquei tão preocupada, tão preocupada. – Disse Roberta afrouxando o abraço.

   - Tudo bem, já estou aqui. – Lily foi até o sofá e largou as sacolas de compras.

   - Ocorreu tudo bem? – Roberta perguntou.

   - Tudo sim. – Lily respondeu tristemente. – Muito tranquilo.

   Roberta viu a tristeza no rosto de Lily. Sentou-se ao seu lado a passou o braço em seus ombros.

   - O que houve filha? – Ela perguntou docemente.

   Uma lagrima solitária escorreu pela face branca de Lily.

   - Eu não sei mãe. – Disse. – As coisas apenas parecem tão erradas. As pessoas, os lugares. Nada mais é o que era. Eu vejo as cores, mas elas não significam mais nada. É como se tudo de repente ficasse cada vez mais negro. Ninguém mais sorri, ninguém mais tem esperança, parece que já aceitaram o fato de que não há como vencer essa guerra.

   Lily começou a soluçar e Roberta abraçou-a.

   - Vai ficar tudo bem meu amor. Vai ficar tudo bem.

   Embalada pelos braços da mãe Lily se permitiu ser uma criança mais vez e ali ela adormeceu pensando que o amanhã pudesse ser melhor.

                                         ****

   Às três horas da tarde do dia seguinte Marlene apareceu.

   Arturo a levou de carro até a casa dos Evans, uma vez que por falta de comunicação Lene não sabia que podia ir pelo flu.

   Quando a campainha tocou Lílian estava no sofá lendo um romance. Levantou-se preguiçosamente e foi até a porta e ao abri-la a única coisa que pode ver foi a massa de cabelos escuros envolvendo seu rosto. Desconfiada Lílian quase empurrou a amiga, pensando estar sendo atacada, mas no ultimo minuto reconheceu o cheiro de shampoo que ela vinha sentindo todos os dias nos últimos cinco anos.

   - Lene! O que você está fazendo aqui? – Perguntou sorrindo enquanto ainda abraçava a amiga.

   - Vim visitar você oras. – Respondeu a morena com o sorriso mais lindo do mundo. Ela olhou para Lily e fez um biquinho frustrado.

   - Qual é o problema? – Perguntou a ruiva.

   - Seu cabelo cresceu de novo. E você esta uns sete centímetros mais alta que eu.

   Lílian deu uma gostosa risada e só então reparou no pai de Marlene parado atrás da menina.

   - Olá senhor McKinnon. Gostariam de entrar?

   - Oi Lílian. Na verdade só passei para deixar a Lene. Mais tarde eu volto para buscá-la. Vou indo.

   - Tudo bem, até mais tarde.

   Arturo voltou para o carro e as meninas entraram na casa. Marlene e Lílian logo começaram a tagarelar do jeito que só acontecia quando estavam juntas. Logo as conversas iam ficando desconexas.

   - A Alemanha é linda! – Disse Marlene sonhadora.

   - Não vai acreditar no que os marotos fizeram! – Soltou Lílian.

    Marlene olhou para Lílian e viu que a cara da amiga era algo entre frustração e diversão. Curiosa ela sentou-se ao lado de Lily no sofá da sala.

   - Pode falar, sou toda ouvidos.

   Lily começou a narrar os acontecimentos da noite do noivado de Petúnia. Marlene ria sem parar nas horas mais inoportunas. Conforme ia falando ela percebeu o quão desastroso realmente tinha sido aquele dia.

    - Perguntei aos meninos o que podia fazer para recompensá-los pelas catástrofes e o Black me pediu pra fazer você sair com ele. – Disse a ruiva observando a reação de Marlene que não foi nada como ela esperava.

   A morena sorriu quase que minimamente e baixou os olhos para as próprias mãos, suas bochechas ficando rosadas. Lílian arregalou os olhos ao ver aquilo que estava na cara.

   - Marlene McKinnon, pode ir falando o que esta acontecendo. – Ordenou.

   - Não tem nada acontecendo. – Negou Marlene.

   - Ah, mas você não me engana sua grande boba! – Lílian sorriu e bateu em Marlene com a almofada do sofá. – Por que esse risinho quando eu falei que o Black quer sair com você?

   A morena suspirou profundamente.

   - Bem, é que... ele me mandou umas cartas durante as férias. – Respondeu timidamente.

   - E? – Lily levantou as sobrancelhas. – O que diziam?

   - Nada de mais. – Lene deu de ombros. – Ele apenas fazia questão de narrar cada coisa que ele e os meninos faziam e sempre repetia que agora seriamos vizinhos.

   - E se eram coisas tão normais, porque foi que você ficou com esse ar de bobona apaixonada?

   - Eu não sei, apenas... – Ela fez uma pausa o olhou diretamente para Lílian. - ...eu gostava demais de ler as cartas. Tão simples e tão bem humoradas. E então eu me toquei que ele conseguia mexer comigo, mesmo eu estando em outro país.

    - E nessas cartas, ele não ficava falando que amava você, não podia viver sem você, e que estava morrendo de saudades? – Lily perguntou incrédula. – Nada dessas cantadas baratas de típico conquistador?

   - Nada. – Marlene respondeu e deitou sua cabeça no colo de Lílian erguendo seus pés no braço do sofá.

   - É meio estranho. – Disse Lílian começando a passar os dedos pelos cabelos longos e negros da amiga.

   - É completamente estranho. – Marlene falou sorrindo. – Mas é encantador.

   Lily percebeu que Lene brincava sem parar com um pequeno colar que estava em seu pescoço. Sentiu uma leve puxada no estomago.

   - Posso ver? – Perguntou já tirando o pingente da mão da amiga.

   Era um simples medalhão de prata. Um relicário, ela logo percebeu. Era fininho como um simples pedaço de pergaminho e não muito maior que um nuque. Ela girou ele na mão e este se abriu revelando uma minúscula flor cinza prateada em um dos lados, enquanto que no outro tinha uma pequena inscrição que Lily teve que apertar os olhos para ler.

    Os dias cinzentos têm um brilho especial para mim. O mesmo brilho que eu vejo cada vez que olho para seus olhos tempestuosos.

   S. B.

    Um sorriso travesso se espelhou pelo rosto de Lily.

   - Pensei que você tinha dito que ele não tinha mandado cantadas baratas para você. – Disse acusatória.

   - Não em cartas pelo menos. – Respondeu Marlene sorrindo. – E não é uma cantada barata. É lindo.

    Lily a encarou séria por alguns segundos.

   - Quem é você e que fez com a Marlene verdadeira?

   Lene se esforçou para fazer a cara mais diabólica que conseguia.

   - Sou um comensal da morte. Arranquei todo o cabelo de Marlene McKinnon e fiz dela minha escrava sexual. Nesse momento ela está no meu barraco cozinhando enquanto eu, sobre o efeito da poção polissuco estou aqui escolhendo qual a melhor forma de matar você docinho.

    Lílian riu tanto da amiga que demorou vários minutos para que ela recuperasse o fôlego. Acabaram as duas deitadas no sofá, uma embolada com a outra, limpando as lágrimas de risos do rosto.

   Lily ainda parecia meio sem ar quando fez a pergunta que a estava incomodando desde a hora em que tocaram no nome de Black pela primeira vez naquela tarde.

    - Mas então, - ela começou, - você está gostando dele, não esta? – Perguntou enquanto novamente brincava com os cabelos da amiga.

   Lene ficou em silêncio por tento tempo que Lily já havia desistido da resposta, mas então houve um leve suspiro e Marlene disse meio sussurrando.

   - Acho que sim. Por mais que eu não queira, acho que estou apaixonada por ele.

   Lily ficou observando o rosto da amiga. Parecia aflita, mas ao mesmo tempo aliviada e feliz. Era difícil ver Marlene assim tão transparente. Na maioria das vezes ela apenas escondia aquilo que sentia com gritos e ironias, somente na presença das amigas ela se mostrava como realmente era. Doce, alegre, espirituosa e talvez até mesmo um pouco meiga às vezes.

    - Não sei por que você parece tão desanimada. – Ralhou Lílian. – É mais que obvio que o Black também gosta de você.

    - Será mesmo Lils? E se eu for apenas uma conquista a mais para ele? Cada vez que eu paro para pensar sobre isso eu me sinto mais idiota. Ele tanto fez que realmente conseguiu que eu gostasse dele, mas e agora?

    Lily encarou os olhos da amiga. Exatamente como Sirius havia escrito no relicário eles eram tempestuosos. Imprevisíveis. Mas tinham um brilho lindo.

    - Agora, a primeira coisa que você deve fazer é pedir a Merlin para que o Black não tenha ficado impotente com aquele chute que você deu nele na ultima viagem no Expresso, afinal, você com certeza vai querer ter filhos não é?

   - Lily, foco, por favor? Eu to preocupada de verdade sabe. Vai que ele não gosta de mim?

   - Marlene, não seja burra! Pra mim o Black gosta de você desde o dia em que ele sugeriu que incluíssem você como alvo da gelatina no primeiro dia de aula! – Disse a ruiva rindo. – E depois, por que ele se daria ao trabalho de ficar mandando cartas para você que estava lá em outro país se não gostasse de você?

   A morena sorriu como se só naquele momento pensasse por aquele ângulo.

   - Você tem razão Lils! Mas... o que eu faço agora?

   - Ai ai Marlene! Depois me julgam quando eu digo que o amor deixa as pessoas burras. – Lílian disse batendo sua mão na testa de Lene. – É meio obvio não? Espera ele chamar você para sair de novo e aceita.

   - É. Acho que vou fazer isso mesmo.

   - Tudo bem, mas que tal agora a gente ver se arruma algo pra comer?

   Demorou um tempo para que elas conseguissem se desembolar do sofá e depois disso elas foram para a cozinha onde Lílian fez uma tigela de pipocas, que ficaram meio queimadas, mas mesmo assim, depois elas voltaram para a sala e passaram o resto da tarde assistindo televisão, enquanto Marlene narrava sua viagem e Lílian contava sobre tudo o que tinha acontecido por ali.

   Quando mostrou o colar que tinha ganhado de James, Marlene fez uma cara estranha. Parecia algo como satisfação misturada com alegria e apreensão. Mas ela não disse nada, apenas comentou que o colar era lindo e que James tinha ótimo gosto.

   Lá pelas cinco, Arturo apareceu para buscar a filha que se despediu de Lílian com um sofrido até logo.

   Enquanto observava o carro sumir virando a esquina, Lily mais uma vez desejou que estivesse em Hogwarts, onde nunca precisava ver os amigo indo para longe, onde a distancia máxima que os separava eram os metros entre as camas do dormitório.

                                                           ****

    Na estação de King’s Cross, no dia primeiro de setembro, Lily via exatamente a mesma coisa que havia visto em sua ultima visita ao beco diagonal.

    As pessoas não pareciam mais as mesmas. Só havia desespero em seus olhos e medo. Medo de que fosse a ultima vez que viam seus filhos. Medo de acabarem mortos e deixa-los sozinhos em meio à guerra.

     Lílian tinha pensado que com a situação chegando a tamanhos extremos a frequência de alunos em Hogwarts diminuiria bastante, mas não. Os pais quase pareciam aliviados ao ver seus filhos embarcando no trem. Ela entendia o porquê é claro. Muitos diziam que não existia lugar mais seguro que Hogwarts e que Voldemort nunca atacaria a escola porque, acima de tudo temia Dumbledore. Ela acreditava nisso.

    Os pais de Lily que até aquele momento não haviam entrado em contato com o mundo bruxo pareciam assustados ao ver tamanha mudança nos rostos das pessoas. Pela primeira vez eles entenderam a magnitude daquela guerra que Lílian tanto falava. Pela primeira vez eles sentiram o medo.

   Era como uma sombra. Um manto negro que ia se alastrando por todos os lugares, acabando com qualquer fiapo de esperança das pessoas, destruindo sonhos, acabando com famílias inteiras, jogando a população em um estado de pânico avançado.

    Assim como todos os outros pais, eles ficaram aliviados ao ver a filha rumo ao lugar que todos consideravam seguro. Não se importavam com sigo mesmo, eram meros trouxas que não tinham nada a ver com a situação, e mesmo que tivessem, eles não se preocupariam. Ver a filha segura era tudo que queriam.

    Às onze horas em ponto o Expresso partiu, levando em seus vagões lotados todo o futuro do mundo bruxo. Os bons, os nem tão bons assim e os ruins. Todos misturados em uma confusão caótica.

                                                            ****

   Não havia sombras escuras nos rostos dos alunos de Hogwarts.

   Talvez algumas manchas de tristeza e medo, mas não havia a desesperança que Lílian tinha visto tão claramente nos outros.

    Enquanto ela fazia a ronda pelos corredores do trem, o seu coração se aquecia ao ouvir as risadas dos colegas. Eram como um canto de Fênix, dando força para que eles não desistissem. Mostrava que até mesmo os piores comensais da morte não teriam forças para tirar de dentro deles a alegria que sentiam por voltar para Hogwarts.

    Lílian imaginou o Expresso como a única grande bolha de alegria da Inglaterra. Logo começariam a atrair dementadores, pensou irônica.

    Quando se juntou as meninas no compartimento escolhido, teve uma surpresa enorme ao perceber que os rostos das Grifinórias não mostrava a mesma felicidade que os dos outros, ao contrario, mostrava uma grande preocupação.

    - O que houve? – Ela perguntou assim que soltou Alice de um abraço apertado. A menina havia voltado da França fazia menos de dois dias, então não tinham tido tempo de se encontrarem.

   - Meus pais. – Respondeu Alice.

   - Aconteceu algo com eles Lice? – Lílian perguntou preocupada.

   Alice negou com a cabeça soltando um suspiro pesado.

   - Eles não queriam voltar para a Inglaterra. Queriam ficar morando na França, escapar da guerra.

    Lily demorou um tempo para processar a informação. Não conhecia os pais de Alice, mas se baseando na personalidade da filha havia imaginado-os como pessoas firmes e corajosas. Nunca como pessoas que abandonariam o país por conta do perigo.

   - E como você conseguiu convence-los a voltar? – Lílian perguntou.

   - Eu os ameacei. – Respondeu Alice com um leve sorriso em seu rosto delicado. – Disse que se eles não voltassem comigo eu voltaria sozinha. Então eles disseram que eu não teria onde morar. Eu escrevi para o Frank e a própria mãe dele respondeu dizendo que me acolheria. – Concluiu sorrindo.

   Um momento de silêncio pairou. Lily nem sabia direito o que pensar, quanto mais o que falar. Se os pais de Alice estavam considerando deixar a Inglaterra as coisas deviam ser muito piores do que ela imaginava.

   - E o que você vai fazer? – Lílian perguntou por fim.

   - Vou fazer exatamente o que eu disse. Se eles quiserem voltar para a França e ficar lá que façam. – Disse desdenhosa. – Eu me caso com Frank e vou morar com ele. Qualquer coisa, mas não vou sair da Inglaterra e deixar meus amigos aqui.

    O resto da viagem estava ocorrendo suspeitamente tranquilo. Nada de marotos invadindo a cabine, nem de bagunça exagerada nos corredores. Lily já estava achando isso muito estranho, afinal, não tinha visto nem Potter, nem Black e muito menos Pettigrew desde que haviam chegado na estação. Tinha feito a ronda com Remo, mas também não havia visto ele depois disso. Já estava quase considerando que eles talvez nem estivessem no trem quando, quase chegando em Hogwarts, o barulho de uma pequena explosão seguida de alguns gritos femininos se fez presente no trem. As meninas trocaram olhares risonhos e dentro de alguns segundos a porta da cabine era escancarada e quatro marotos corados e ofegantes entravam correndo e rindo. Sirius entrou por ultimo e fechou a porta. Por fim eles fizeram algo que Lílian não entendeu a principio. Eles foram até o fundo da cabine e sentaram-se encolhidos no chão, o mais perto um do outro que podiam e então James retirou das vestes uma capa que parecia ter um milhão de anos. Sirius olhou para as meninas e colocou um dedo sobre os lábios pedindo silêncio e então James jogou a capa por cima deles. Os marotos tinham ficado invisíveis.

    Marlene parecia não ter dado muita importância ao fato e observava a porta que logo se abriu revelando três monitores, os dois da Sonserina e a menina da Corvinal, parecendo muito furiosos.

   - Onde estão aqueles imbecis? – Urrou o menino escancarando com violência a porta.

   Lílian ainda encarava pasma o lugar onde eles tinham desaparecido. Forçou-se a encarar os visitantes e seu olhar abobalhado ajudou na encenação.

   - Que imbecis? – Perguntou inocentemente.

   - Aqueles quatro, malditos. – Falou a monitora da Corvinal. – Potter, Black, Pettigrew e inclusive o Lupin, que é monitor.

   - Não vimos eles desde que entramos no trem. – Respondeu Dorcas. – O que aconteceu?

   - Eles soltaram um tipo de bomba em alguns compartimentos da Lufa-Lufa. – Respondeu a menina Sonserina. – E depois correram, entrando justamente nessa cabine. EU VI, então não adianta negar.

   - Então eu acho que você deve estar com algum problema de visão, porque como podem ver não tem ninguém aqui além de nós quatro. – Falou Marlene. – A não ser que vocês achem que eles entraram aqui e depois se jogaram pela janela, ou que os estamos escondendo embaixo das nossas saias.

   O menino vasculhou a cabine com os olhos e então se virou decepcionado para suas companheiras.

   - Parece que eles não estão aqui. – Disse derrotado. – Vamos procurá-los. – Ele então se virou para Lílian. – E Evans, você é monitora pelo que eu saiba, então se vir eles é sua obrigação coloca-los em detenção. Não me importa se o Potter ama você, nem se o Black arrasta uma asa para McKinnon, nem se a Meadowes namora o Lupin, se vocês encobrirem-los eu vou direto ao Dumbledore assim que chegarmos a Hogwarts.

   - Não precisa me lembrar dos meus deveres. – Respondeu Lílian, usando sua voz especial que ela reservava para pessoas que irritavam ela. Até pouco tempo a pessoa que mais ouvia ela falar assim era James.

    Os três monitores saíram da cabine e segundos depois os marotos haviam reaparecido do nada, esticando-se, eles levantaram do chão.

    - Pensei que você ia dedurar a gente Evans. – Disse Black sentando-se ao lado da ruiva.

   - Eu falei pra vocês que a Lily não faria isso com a gente. – Disse Lupin sorrindo.

   - Pois eu devia ter feito. – Respondeu a ruiva dividida entre a indignação e o riso. – E você hein Lupin? Deu pra criancices agora?

   - Você parece uma mãe falando assim Evans. – Comentou Pedro.

   - Lily, eu apenas concordei com isso porque estava tudo... tristedemais esse ano. – Remo respondeu. – As pessoas precisam sorrir um pouco.

   Depois disso Lílian não falou mais nada e permitiu que os meninos permanecessem o resto da viagem com elas. No momento em que o trem parou na estação de Hogsmeade, eles ainda fizeram o favor de ajudar com as bagagens. Encontraram Frank que ainda estava rindo das lufanas que tinham sido atingidas pelas brincadeiras dos marotos e começaram a caminhar rumo as carruagens.

   - Acho que os alunos de Hogwarts andam bem informados não? – Perguntou Sirius. – Todos já sabem que o Pontas aqui ama a Evans. – Falou sorrindo maliciosamente.

   - E todos sabem que o Almofadinhas “arrasta uma asa” pela Lenezita. – Riu James. – Mas no seu caso, acho que você abana o rabo pela Lene isso sim.

   - Seu veado.

   - Cachorro.

   - Chifrudo.

   - Pulguento.

   - CALEM A BOCA! – Gritou Lílian.

   Todos olharam para ela que apenas jogou os cabelos para trás e então subiu na carruagem. As meninas seguiram-na segurando-se para não rir.

   - O que foi? – Lily perguntou erguendo as sobrancelhas.

   - Nada. – Respondeu rapidamente Alice. – Apenas é bom estar de volta. 

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Espero que tenha ficado bom, eu sei que vocês deviam estar esperando um pouco mais de Lily e James então desculpe se vocês não gostarem de algo (momento dramatico off)

Beijos e até o próximo.


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