Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 17
Cap. XVII — Nashville


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Então, sei que é meio tarde, mas como finalmente tive uma folga hoje da faculdade, resolvi escrever loucamente para não ficar em dívida com vocês. E mais uma vez, obrigada MESMO pelas recomendações e reviews, sempre lembrando de que vocês que fazem essa fic acontecer, não eu.
Possivelmente eu levarei um tempo para postar o próximo capítulo por causa de algumas provas, mas bem, estamos neste ainda e espero realmente que vocês gostem!



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04 de Abril de 2012

Quarto de Quinn, Mansão do Sam, TN

10:33 AM

Os braços de Quinn englobavam o corpo pequeno de Rachel pela manhã. Ela se aninhava na garota, querendo por tudo no mundo que uma da tarde nunca chegasse, que pudesse permanecer abraçada a Quinn para sempre.

— Ah... — Quinn fez um ruído estranho ao abrir os olhos, tirando por instinto as mãos da cintura de Rachel.

— Não, não! — exclamou Rachel num sussurro, puxando o braço de Quinn de volta ao lugar original. A cabeça dela descansava em seu ombro; Rachel podia ouvir seus suspiros pesados, indicando que voltara a dormir.

A manhã estava relativamente fria, mas o calor do corpo de Quinn a esquentava. Acariciava as costas da mão da garota como um ato quase inconsciente, tentando forçar as lágrimas para dentro outra vez.

Ela não acreditava que horas atrás havia transado com Quinn. Fora tudo tão mal planejado, mas ao mesmo tempo tão perfeito e completamente sem lógica que fazia Rachel querer chorar. Não, ela não chorava pelo ato sexual ou por algum tipo de arrependimento, e sim por que já era de manhã e dali a pouco Quinn teria de vestir a roupa e cair na estrada para Nashville.

Mais uma vez, Rachel se sentiu como aquelas garotas durante a guerra, que se casavam e transavam com seus maridos na lua de mel para que depois, na manhã seguinte, eles fossem embora lutar no front. A sensação era horrorosa, mesmo sabendo e tendo quase certeza de que Quinn voltaria para ela. Mas o sentimento não parava de assombrá-la.

Rachel não concordaria com aquela viagem nunca, ainda acharia uma grande estupidez mesmo se eles voltassem em carruagens de ouro que vinham com a cura para os walkers pintada na parte de trás dela. Ela não queria ficar sem Quinn outra vez.

O movimento do corredor do segundo andar aumentava à medida que os minutos da manhã passavam. Rachel não descera para o café da manhã e agora sua barriga esquentada pelo toque de Quinn roncava. Não sentia vontade nenhuma de levantar, pois isso significava acordar Quinn para a viagem.

Ainda assim, as pessoas que viviam naquela mansão não sabiam disso, e foi pensando nesse pequeno fato que Rachel, quase soltando fumaça pelas narinas, escutou as batidas calmas na porta do quarto.

— Quinn? — perguntou a voz de Hanna educada, batendo mais insistentemente na madeira. — Você tem que arrumar sua mochila, só avisando. Vamos partir em uma hora.

Uma hora? As entranhas de Rachel deram uma volta completa. Não era possível que já passasse das onze da manhã. Não era possível que havia passado tanto tempo acordada e abraçada a Quinn. Ouviu os passos de Hanna se distanciando ao não obter resposta. Quinn, após os barulhos tão próximos, finalmente acordou.

— Oi — disse ela sonolenta, depositando um beijo no pescoço de Rachel. A garota sentiu calafrios no lugar que Quinn beijara. — Como passou a noite?

— Sendo chutada, como sempre.

Rachel riu. Quinn fechou a cara e se virou para o outro lado da cama, emburrada. Como Rachel sabia que era apenas charminho dela, permaneceu no mesmo lugar, dando mais outra risada da reação da namorada.

— Droga — Rachel escutou Quinn murmurar.

Ela riu mais ainda ao virar-se para Quinn e encontrar o rosto dela mais uma vez tão próximo do seu. Afagou delicadamente a bochecha de Quinn, dando-lhe um selinho.

— A noite passada foi perfeita — Rachel sussurrou, entrelaçando seus dedos nos de Quinn. — Eu te amo.

— Eu também te amo.

As duas ficaram um tempo se olhando, Rachel esperando que o tempo parasse; que pudesse ficar com a garota naquela mesma posição para sempre. Pelo menos, ela pensou enquanto Quinn dava um beijo apaixonado, teria essa lembrança para se agarrar durante o período da namorada em Nashville.

— FABRAY! — A exclamação de Santana encheu o quarto inteiro, fazendo as garotas sobressaltarem. Maldita Santana, pensou, contendo sua expressão de raiva. Quinn, por instinto, saiu de cima de Rachel e se enrolou no cobertor, assustada. — Acorde, anda! Você vai levar minha garota para uma viagem mortal e quer ficar dormindo, é?!

Rachel e Quinn se entreolharam, e caíram na risada. Talvez fosse o nervosismo que começava a lhe consumir ou o tom irônico de Santana que a fizera rir tão loucamente como não fazia em muito tempo, ela não sabia. A situação jamais mereceria nenhum sorriso, afinal Quinn só voltaria em dois dias, no mínimo, porém ela não tinha controle de seus músculos da face. A dor talvez pudesse ir embora através das risadas, pensou.

— Beleza... — Quinn arfou, respirando com dificuldade depois do ataque de risadas. Pelo silêncio que fazia no corredor, Rachel imaginou que Santana tivesse se irritado com as risadas e ido embora. — Vou me trocar, arrumar minha mala.

Rachel assentiu, parando de rir. No seu coração, algo começava a se esvaziar.


04 de Abril de 2012

Quintal da Frente, Mansão do Sam, TN

12:45 AM

Brittany se agarrava ao corpo de Santana com força. Não queria soltá-la, mas sabia que teria se quisesse ir com Sam, Quinn e Hanna a Nashville. Ela abriu os olhos e percebeu que Quinn continuava acariciando os cabelos de Rachel, com Beth em seu colo, então imaginou que teria um pouco mais de tempo.

Ela sentiu Santana fungar na curva de seu ombro e soltou-se um pouquinho dela, o bastante para fitar os olhos castanhos dela, quase inchados de tanto chorar. Ela riu, por que a situação chegava a ser até engraçada: Santana era sempre taxada a durona da relação, quando na verdade, Brittany sabia muito bem que ela era a garota mais sensível do mundo.

— Eu vou ficar bem — ela disse com ar de riso enquanto Santana batia nela de leve no ombro, alegando que “não tinha sentimentos”. — São só uns quilômetros. — O fato levou algumas lágrimas caírem pelas bochechas de Santana. — Eu volto daqui a dois dias, beleza?

— Beleza — ela murmurou, cometendo o erro de lançar um olhar a Quinn, que observava tudo com um sorriso brincando pelos lábios.

— Que garota forte você tem aí, Britt — provocou ela em tom de brincadeira. Rachel riu timidamente, pegando Beth no colo e deixando Quinn se aproximar de Santana.

— Vá à merda, Fabray — disse Santana entre dentes, enxugando uma lágrima teimosa que caiu. — Ou não cuido da sua garota.

Quinn riu.

— Se for assim, então, eu não tomo conta da sua — ela retrucou, fingindo um tom ameaçador.

Brittany estava prestes a interferir, se colocar entre elas, temendo uma briga de verdade, quando Quinn puxou Santana para um abraço de urso. Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa, seu olhar encontrando o de Rachel. Elas riram ao mesmo tempo, sempre impressionadas com a amizade bipolar de Quinn e Santana.

Ao soltar Santana, Quinn deu tapinhas em seu ombro e prometeu, de verdade, cuidar de Brittany. A garota, mesmo se sentindo lisonjeada pela atitude dela, sabia que Quinn não faria isso. Ela estava à parte das habilidades de Brittany e tinha plena certeza de que a garota se sairia bem sozinha. Contudo, resolveu não dizer isso para não trazer outra cachoeira de lágrimas de Santana.

— Ei, gente! Vamos! — Sam chamou, acenando na direção delas, terminando de colocar a mochila de Quinn no porta-malas do Cadillac (Quinn não aceitou viajar no Impala de Puck nem na minivan de Sam, argumentando que seu carro dava sorte; para o quê, Brittany não fazia ideia).

Brittany deu um último beijo em Santana, que já tinha os olhos cheios de lágrimas novamente, e abraçou Rachel rapidamente, fazendo algumas caretas para Beth. Sorriu à Rory, Harmony e Sugar e entrou no banco da frente do Cadillac ao lado de Quinn, a motorista da vez. Hanna e Sam iriam atrás.

— Não usem o gerador demais! — Brittany exclamou ao parar no portão da cerca que Puck estava abrindo.

— Sem problemas! — o garoto respondeu com um olhar triste no rosto enquanto acenava para o carro, que acelerara na rua, enferrujado por ter passado tantos dias parado.

Quinn, para diminuir o clima pesado, ligou o toca-fitas, deixando o som da Nirvana tocar alto. Brittany olhou para trás, ignorando Sam e Hanna, os olhos postos na mansão deles, que se afastava à medida que Quinn pisava fundo. Suspirou, animada pela nova aventura. Mesmo se não achassem nada de útil, ainda seria uma viagem e tanto.


04 de Abril de 2012

Benders Ferry Road, Lebanon, TN

01:43 PM

A cena parecia se repetir interminavelmente. As casas pelo caminho se mostravam parcial ou completamente destruídas. Walkers caminhavam pelos campos sem notar a presença do Cadillac próximo a eles. O fedor de morte os rondava moribundamente. Quase sempre, ela lançava um olhar preocupado à Brittany, mas a garota respondia com um sorriso, o que a deixava um pouco mais tranquila.

Embora o tempo passado vendo o horror que o mundo se tornara parecesse a Quinn interminável, a viagem durou pouco. Ela não tinha sequer terminado de ouvir Nevermind quando Hanna apontou para as muralhas construídas às pressas para abrigar a população de Nashville e fazer com que eles pudessem ter uma mínima chance de sobrevivência. Quinn suspirou; suas lembranças estavam em Lima, a maldita cidade onde crescera e vivera até seus dezoito anos, também sitiada. Também cheia daquelas criaturas miseráveis.

— Estamos na esquina da Benders Ferry Road — disse Brittany, checando seu amado GPS. — A mais ou menos quarenta quilômetros do centro de Nashville.

Ela olhou confusa para Hanna enquanto Quinn parava o carro embaixo de uma árvore que considerava segura, desligando o cassete e tirando sua pistola do coldre, pronta para matar o primeiro errante que lhe aparecesse. Sam também se armara, os olhos postos do lado de fora do Cadillac.

— O cerco deles envolveu a região metropolitana também — disse Hanna pensativa, colocando a mão no queixo. Brittany franziu a testa a ela pelo retrovisor. — Mas não foi completo, pois Horn Springs também é parte de Nashville, da Grande Nashville.

— Aposto que eles morreram antes de terminarem — comentou Sam sombrio, arriscando um olhar a Hanna. Quinn percebeu que seus olhos queriam dizer algo além daquilo, mas ela não quis interromper os sentimentos do garoto.

— É... talvez isso — murmurou Hanna, trancada em seu mundo.

Quinn e Brittany se encararam, aquela dando de ombros; Hanna não parecia capaz de expelir uma palavra, e foi o que a garota fez nos próximos minutos. Sam continuava vigiando o lado de fora com Quinn, indicando, a poucos metros, quatro walkers caminhando na direção do carro.

Ela queria levantar e matá-los com seu facão, mas algo no toque de Sam a impediu. Brittany se prepara também, enquanto Hanna ainda permanecia em seu estado de pura concentração — e Quinn realmente estava começando a pensar que nem uma manada de errantes poderia assustar a garota. Quando os errantes chegaram terrivelmente perto, ela pediu a Sam para cutucar Hanna no ombro, implorando para que a forma de vida da garota ainda continuasse lá dentro.

— Eu estou bem, não se preocupem — Hanna finalmente falou. — Estou revendo o CDC na minha cabeça, as saídas, as entradas, tudo. É meio complicado.

— Você deveria nos dar uma informação de como entrarmos em Nashville — alfinetou Brittany, tirando o facão que Santana emprestara do nada e decepando um errante que apareceu em sua janela. — Se nós chegarmos lá, poderemos pensar em entrar no CDC.

Quinn assoviou para a Brittany maldosa que sempre aparecia em situações de risco, e matou seu próprio walker na janela ao seu lado. A garota rolou os olhos para Hanna e abriu a porta do carro com violência, terminando o trabalho do lado de fora. Respirou o ar relativamente puro embaixo daquela árvore e imaginou que seria um bom esconderijo para caso precisassem passar mais um dia em Nashville.

Naquele ponto, tão próximos mas tão distantes, Quinn sabia que passariam a noite ali, rodando pelo círculo murado feito pelos militares durante o período de desespero, procurando uma forma de entrar sem serem vistos, tanto por possíveis humanos quanto walkers. As mochilas cheias de lanches e sacos de dormir eram previsíveis — uma boa ideia de última hora vinda de Hanna.

Brittany começou a discutir com Hanna sobre como seu GPS iria salvar a vida deles, mas a garota não queria ouvir aquilo. Ela caminhou lentamente pelo mato crescente da beirada da estrada, o ouvido pronto para algum tipo de farfalhar estranho, e parou em frente ao muro alto. Ele teria pelo menos cinco metros de altura, feito de concreto fortíssimo e possivelmente indestrutível por várias gerações.

Dava náuseas olhá-lo até em cima, de tão alto. Quinn cutucou-o com o facão, tentada a arremessá-lo contra o muro, achando a ideia até divertida. Ao pensar que provavelmente perderia sua arma gêmea com Santana, seu sorriso sumiu. Manteve a expressão séria, lançando novos olhares críticos à muralha. Mas o som de passos vindos à sua direção, no entanto, a fez virar-se rapidamente, colocando o facão no pescoço de Sam, quase o cortando.

— Menos, Fabray — Sam disse se afastando de Quinn, conferindo se não perdera nenhuma pelinha ou sangue do pescoço. — Só vim dizer que já vamos. Hanna e Brittany decidiram ir pela saída sul da cidade.

— É quanto tempo é daqui? — perguntou ela, colocando o facão preso novamente à sua perna, sentindo-se culpada por quase matar o garoto.

— Quarenta minutos. — O garoto deu de ombros, puxando Quinn e lhe dando um abraço de lado, acompanhando-a dessa forma até o Cadillac, onde Brittany e Hanna, mal-humoradas, esperavam.

— Você gosta dela, não gosta?

A pergunta saiu dos lábios de Quinn acidentalmente. Ela não era responsável pela vida e saúde de Sam — pelo menos, não por completo —, mas a maneira que o garoto olhava para Hanna a perturbava. Ainda era a mesma forma de quando eles haviam visto ela pela primeira vez. O brilho no olhar dele não tinha mudado nas últimas semanas. Só sentia curiosa para saber o que estava se passando entre eles, se Sam já tinha feito algum movimento após a morte de Mercedes.

— Preciso ter essa discussão com você? — Sam revidou friamente, o que fez Quinn pensar que alguém tinha dado uma dica a ele, Puck era o mais provável. O aperto do garoto ao redor de seus ombros começava a doer.

— Não... Só queria saber mesmo. Para que eu pudesse ficar longe do carro quando vocês começarem seus amassos.

Ela riu, cutucando a barriga de Sam para implicar. O garoto não resistiu e também soltou uma risada, mas calou assim que pararam em frente ao Cadillac, onde as outras duas esperavam, claramente irritadas.

— Isso fica aqui, ok? — sussurrou Sam no ouvido de Quinn antes de deixá-la entrar no banco do motorista.

— Sem problemas. — Quinn abriu um sorriso, ligando o carro e o sacudindo, apenas para que Sam fosse jogado para o lado de Hanna.


04 de Abril de 2012

Old Lebanon Dirt Road, Nashville, Davidson, TN

02:15 PM

Hanna conduziu Quinn pelas ruas desesperadoramente desertas que rodeavam Nashville, mordendo o lábio constantemente e pedindo umas informações para Brittany e seu GPS no caminho.

Ela não poderia estar mais nervosa em relação a entrar outra vez na cidade. A garota crescera ali, seus pais moravam em Lebanon desde bem antes de nascer. Durante o período de Harvard e da descoberta de uma pesquisa em Nashville, ela não hesitou em voltar a morar com eles, embora que, mesmo com os problemas familiares, a relação com os pais não fosse lá muito boa. Era bom estar de volta.

— Que escola enorme... — sussurrou Quinn ao passarem por um campus, onde ela vagamente lembrava-se de ter feito o primeiro colegial. — Em Lima, nosso colégio não daria nem metade desse aqui.

Brittany e Sam concordaram em murmúrios. Ela deu de ombros, sinal claro que de não se importava para isso, e pediu para que Quinn virasse na próxima esquina. A escola provavelmente agora estava cheia de walkers; Hanna se recordava de a cidade ter feito tudo para agrupar as pessoas em um mesmo lugar. Solução que agora ela pensava ser um tanto idiota. Quantas vidas poderiam ser salvas se o governo apenas os mandasse para o interior do país...

Soltou um suspiro, distraída, deixando que a rota do GPS guiasse Quinn. Em cerca de uma hora, estaria tentando ultrapassar a barreira humana em volta de Nashville. Um pouco mais tarde, estaria próxima o bastante do CDC. Hanna estaria de volta ao lugar onde tudo começou. Pensava que poderia lidar com isso, mas a perspectiva de mostrar a eles como tudo acontecia dentro daquele laboratório (os testes, as surpresas, as moradias dos cientistas, tudo) era demais para ela. Sam e as garotas estariam invadindo um local dela. Era estranho.

— Olha lá! — exclamou Sam de repente, fazendo ela sobressaltar.

O garoto apontou para o lado direito e Hanna pôde ver: uma parte do muro parcialmente destruída. A parede estava tão desgastada que o Cadillac poderia passar por ela, o que era, ao mesmo tempo, um bom e um mau sinal. Errantes poderiam estar espreitando por ali, escutando cada passo vindo do lado de fora, apenas esperando a oportunidade de aparecer e matá-los. Ela tivera experiências o bastante com os walkers para perceber que alguns deles simplesmente esperavam a comida vir, e que outros corriam atrás, como se alguma parte do cérebro deles ainda fosse ligada à humanidade de antes.

— Sinceramente eu esperava ir mais longe — comentou Brittany, parecendo aliviada. Ela, no entanto, ainda segurava o GPS com firmeza nas mãos. — Devemos parar por aqui?

Quinn deu de ombros, mas estacionou o carro no meio da estrada, já que ninguém mais iria dar a ela uma multa por ficar daquela forma. Ela sentou-se desconfortavelmente no banco para poder encarar Hanna, esperando uma resposta.

— Entramos? — ela disse meio confusa. Não tinha certeza se teria outra entrada para Nashville, mas aquela começava a lhe dar calafrios. Estavam tão desprotegidos ali, no meio do nada, e ainda assim no meio de tudo. Seria o lugar certo, o que precisavam para chegar ao CDC?

— Teríamos que deixar o carro aqui — calculou Quinn, ignorando Hanna. — E alguém para vigiá-lo.

— Não vamos nos separar — interferiu Brittany rapidamente. — Me dói o bastante ter deixado Santana lá na mansão, eu não vou deixar ninguém aqui fora.

— Mas naquela abertura passa o Cadillac — disse Sam, pensativo. — Talvez não precisemos deixar ninguém.

— Andar pelas ruas com o Cadillac só nos deixaria mais lentos — retrucou Hanna, a determinação surgindo como um foguete nela outra vez. — Sabemos que o governo trancou todos aqui, mas não temos ideia de quantos foram. Pode ter sido a população da região metropolitana de Nashville toda, o que me leva a pensar que são, no mínimo, um milhão e meio de habitantes.

Todos se calaram, obviamente pensando em uma saída para isso, o primeiro problema deles. Hanna tombou a cabeça no ombro, tentando se lembrar de como era sua vida cinco meses atrás, nas suas ações e os pensamentos. Era pouco tempo, mas tudo mudara rápido demais para se acompanhar.

— Uau, isso é muito — Sam disse dando uma risadinha nervosa. Hanna riu também, fixando seu olhar nele. O garoto corou fortemente e voltou sua atenção a suas mãos. Quinn, no banco da frente, parou uma risada antes que Brittany lhe desse uma cotovelada nas costelas.

Hanna franziu a testa. Elas sabiam? Sabiam que gostava de Sam, que queria tratar o garoto bem e fazê-lo dar risada sempre, por que esse som era o mais apaixonante de todos naquela mansão? Hanna não fazia questão de ignorar as olhadelas de Sam, mas sentia-se extremamente desconfortável quando outra pessoa percebia. A comunicação silenciosa deles estava dando certo até agora, seria hora para avançar mais?

— Nós precisamos entrar — Quinn disse, revirando os olhos para os olhares compartilhados por Hanna e Sam. — Por mais que isso doa em mim, poderemos deixar o Cadillac aqui, procurar um prédio vazio e nos esconder lá até o fim da noite, onde poderemos enfim achar o CDC pela manhã. O que vocês acham?

Era uma boa ideia apesar dos pequenos furos que Hanna via aqui e ali. Brittany e Sam também concordaram com o plano de Quinn. Eles desceram do carro, matando alguns walkers que espreitavam, pegando suas mochilas no porta-malas. Quinn se encarregava de fechar o carro, não deixando nenhuma brecha para que nenhum errante ficasse preso.

Quando ela se agarrou a um galho da árvore acima deles que iria usar para esconder mais ainda o Cadillac, Hanna resolveu ajudá-la. Ela não queria ficar lá parada enquanto os outros dois caminhavam através do mato, em direção ao muro arrebentado, esperando por walkers no caminho. Ela puxou sua faquinha, que de nada adiantaria ao facão de Quinn, e começou a cortar um galho relativamente mais fino que o dela, querendo começar um assunto, mesmo sabendo que era péssima nisso.

— Você não precisa fazer isso — Quinn disse, a expressão risonha diante das tentativas de Hanna em cortar o galho. — É só um mesmo, e acho que esse já dá.

Hanna suspirou, voltando a colocar a faquinha no bolso. Ela não era boa com a natureza; gostava de matar zumbis, não esquilos. Sequer sabia como sobreviveria sem estar no condomínio e rodeada por comida enlatada. Morreria de fome na primeira semana.

— Acha que vai dar certo? — perguntou a garota, ofegando após finalmente cortar o galho e colocá-lo em cima do Cadillac. Lá de longe, Hanna podia ouvir os suspiros cansados e os movimentos das facas de Sam e Brittany. — Digo, esse lance de CDC e tudo mais.

— Minhas fichas estão todas nisso. — Hanna sorriu tristemente. Sabia que Quinn estava fazendo aquilo somente para ter mais uns anos com a namorada, uma nova chance de viver o que poderiam ter vivido nos tempos antigos. — Nós vamos conseguir alguma coisa, os cientistas são afeiçoados demais a seus equipamentos, mas tenho certeza de que, no momento do desespero, deixaram algo para trás.

Quinn concordou com um sorriso, colocando a mochila no ombro e caminhando ao lado de Hanna, daquela maneira de sempre, como se estivesse hipnotizada por ela. Pensava que isso mudaria quando elas se conhecessem melhor, mas pelo jeito não. Ela beijou o capô do Cadillac, soltando um suspiro, e encaminhou na direção de Brittany e Sam.

— Consegue ouvir os walkers? — perguntou Hanna de repente, se segurando no braço de Quinn, a expressão apavorada.

— Desculpe? — Quinn, sempre educada, franziu o cenho a ela.

Hanna fez um sinal com o dedo indicando que queria silêncio. Ela observou atentamente seu redor, estreitando os olhos, podendo ouvir o que aparentemente ninguém mais ouvia: os gemidos, aqueles monstros que ela tivera severa participação na criação, lutando entre si em busca de um pedaço, mesmo o menor deles, de carne. Ela colocou as mãos na cabeça, tentando tampar os barulhos cada vez mais altos.

— Hanna? — Escutou Quinn chamar ao longe preocupadamente. — Tudo bem?

Da mesma maneira rápida que chegou, os ruídos atormentadores saíram de sua cabeça. Hanna engoliu uma quantidade desnecessária de ar, engasgou com sua própria saliva, mas deixou que as mãos caíssem. Seja lá o que fosse a magia bizarra que fora os momentos aterrorizantes, ela não queria passar outra vez.

— C-claro — ela gaguejou, empertigando o corpo e sorrindo nada convincentemente. — Vamos andando.

Naquele momento, Hanna decidiu salvá-los. Ainda iriam entrar na cidade, mas ela os protegeria a todo custo. Por que ela não podia deixar aqueles garotos tão jovens e sofridos ficarem ainda mais traumatizados pelo inferno que ela sabia que viria ao colocar o pé para dentro do muro. Hanna não poderia deixá-los morrer. Se as coisas ficassem feias demais, ficaria e lutaria para que eles tivessem uma chance de fugir.

Ela deu outro sorriso sôfrego à Quinn, agarrando-se à faca como se isso fosse custar-lhe à vida — pois de fato custaria. Engoliu em seco e pôs à frente do grupo. Ela respirou fundo e pisou para dentro do que costumava ser Nashville.


04 de Abril de 2012

Lucky's Bar & Grill, Stewarts Ferry Pike, Nashville, TN

04:01 PM

Andaram por duas horas seguidas, parando apenas para que Brittany checasse seu GPS ou para matar alguns poucos walkers no caminho. Tudo parecia calmo demais, muito tranquilo para uma tarde de calor e Sol em meio a um apocalipse zumbi.

Sam suspirou cansado ao pararem pela terceira ou quarta vez, imaginando o que estaria fazendo se sua vida continuasse a mesma. Talvez usar clandestinamente uma das piscinas que Puck limpava... Ele sorriu com a lembrança e tomou um grande gole de sua garrafa d’água. Havia algumas mansões com piscinas perto da casa que eles moravam, tinha certeza que não seria muito difícil convencê-lo a limpar uma para eles, por pelo menos um dia “normal”.

— Legal, um bar! — exclamou Hanna, animada ao ver um centro de conveniência há poucos metros. Sam riu, observando a garota correr com sua leveza natural até o estabelecimento. Parou, contudo, quando viu que Quinn e Brittany o observavam com olhares marotos.

— Eu acho que podemos parar, certo? — Sam disse evasivamente, desviando o olhar da parte de trás dela, seus cabelos louros balançando ao vento. — Faz um tempão que estamos caminhando.

— É... — Quinn olhou para Brittany, mal contendo o riso. — Acho que podemos, sim.

Sam olhou feio para elas, mas não teve tempo de revidar ou gritar com as duas: ao mesmo tempo, Hanna tropeçou, de alguma forma, em seus próprios pés e caiu terrivelmente no chão. Ele sufocou um berro de desespero, porém o estrago já havia sido feito. O alarmante gemido que só podia significar walkers por perto se fez ouvir. Eram muitos, mais do que eles jamais haviam enfrentado antes.

Quinn não perdeu tempo e correu atrás de Hanna, levantando-a rapidamente, observando seu tornozelo aparentemente quebrado. Sam apanhou a mão de Brittany com violência e correu para segui-las. Elas estavam no meio do centro de conveniência, atordoadas, pelo jeito sem saber como continuar.

— O bar! — apontou Hanna desesperada, soltando um gemido de dor. — Vamos para lá!

Nenhum dos outros três negou a ideia. Brittany foi à frente, para abrir a fechadura com um grampo e toda sua inteligência desperdiçada durante os tempos antigos, enquanto Hanna tentava se apoiar em Sam Quinn. O garoto arriscou um olhar para trás e se arrependeu quase que no mesmo instante.

Uma manada vinha atrás deles. Cem, duzentos, trezentos walkers os perseguindo, correndo o mais rápido que podiam com seus cérebros lentos e pernas enviesadas. Alguns estavam próximos demais, e tudo o que Sam pôde fazer foi sacar sua pistola, mirar e torcer para que tivesse acertado os errantes na cabeça. Felizmente, Brittany os esperava já no bar com a porta aberta, fazendo sinais para que andassem logo.

Sam se encolheu diante dos tiros que Quinn dava. Ela empurrou Hanna para dentro do bar sem nenhuma cerimônia, acabando por levar o garoto junto, e os dois caíram um por cima do outro. Hanna gemeu de dor quando Sam tentou se mexer para poder levantar-se. Percebeu que pisara no tornozelo dela sem querer, mas logo se empertigou, puxando-a o mais longe possível da porta.

Quinn foi a última a entrar, alguns errantes se chocando contra a porta enquanto ela se contorcia para trancá-los no botequim e fechar as cortinas, deixando todos numa escuridão e silêncio totais, quebrado só pelos gritinhos de Hanna. Brittany ligou uma lanterna e correu até onde Sam e ela estavam, abraçado um ao outro de uma forma natural. Quinn não fez piadinhas, apenas se agachou ao lado de Hanna, desesperada.

— O que nós fazemos? — perguntou em um sussurro histérico. O garoto franziu a testa para ela, mas depois lembrou de que Hanna era a única com algum conhecimento de medicina ali.

— Achem uma tala, um pedaço de madeira qualquer — instruiu a garota. Mesmo com as caretas de dor, ela não deixou a determinação de lado. Na escuridão, Sam podia sentir suas mãos apertando as dela. — E um pedaço de pano. Amarrem a madeira no tornozelo, isso vai melhorar a dor. Até acharmos um hospital, é o melhor que podemos fazer.

Elas fizeram o que eram lhes foi mandado rapidamente. Sam, por outro lado, permaneceu perto de Hanna, englobando-a em seus braços enquanto Quinn atava o pedaço de madeira no tornozelo e o enfaixava o quanto podia com uma parte rasgada de sua blusa. Quando terminou o curativo, ela sentou-se ao lado de Hanna e perguntou com o olhar se as coisas tinham dado certo.

— A dor tá diminuindo — ela disse, passando a mão no tornozelo, se desvencilhando de Sam. Olhou como se pedisse desculpas para elas. — Eu sinto muito. Foi uma babaquice parar aqui.

— Teríamos sido pegos se você não tivesse torcido o tornozelo — Sam retrucou com um sorriso bobo. Ele percebeu o que disse e meneou a cabeça negativamente para o próprio comentário. Como ele conseguia ser tão idiota perto das garotas que gostava, era um mistério tremendo.

— Além disso, olha só esse tanto de bebida! — exclamou Brittany num sussurro, abrindo os braços para provar sua fala. — Você não vai morrer hoje, Hanna, tenha certeza.

A lanterna de Brittany iluminou o rosto da garota, que sorria para eles. Quinn levantou-se para verificar a porta do fundo e outras saídas de emergência que poderia haver no bar, deixando-os, ainda abraçados desnecessariamente, no chão. Brittany moveu a lanterna para longe dos dois, interessada em encontrar algum tipo de bebida não tão forte para que pudesse levar a Santana. Sam podia ouvir o zíper de sua mochila abrindo e fechando rapidamente, como se não pudesse decidir em levar somente uma.

Sam estava com medo de dizer alguma coisa. Não queria estragar a relação silenciosa entre ele e Hanna. Não queria ser um idiota falando algumas palavras bobas. Hanna, pelo jeito, também não queria quebrar o silêncio, tão confortável entre eles. Aquela era a primeira vez em que os dois tinham um contato corporal, e achava que deveria manter assim, indo aos poucos.

Mercedes ainda assombrava seus pesadelos à noite; o garoto não queria “desonrar” a namorada. Nem mesmo a conversa com Puck no dia anterior, sobre sentir-se feliz pela garota estar num lugar melhor e que ela provavelmente queria que ele também fosse feliz, não entrava na sua cabeça direito. A ideia de ter um relacionamento com Hanna continuava parecendo errada.

Entretido em seus devaneios, ele não percebera que Hanna havia deitado a cabeça em seu ombro e agora fazia pequenos carinhos em sua mão. Sam sentiu-se corar até as orelhas, tendo quase certeza de que a quentura em seu rosto chegava ao da garota, somente pelas risadinhas dela seguidas de lamentos de dor.

— É, pelo jeito, teremos que passar a noite aqui mesmo. — Quinn voltou ao bar e Sam quase deu pulos de alegria. Poderia passar Hanna a qualquer uma das garotas com uma desculpa realmente idiota, como vigiar a porta. — As saídas estão todas bloqueadas. Sei é que os walkers vão se dispersar durante a noite, o que pode ser nossa forma de escapar.

— E o GPS diz que há um hospital psiquiátrico há pouco mais de um quilômetro e meio daqui — informou Brittany, iluminada de modo meio assustador pela telinha do aparelho. Ela ergueu os olhos azuis aos garotos e sorriu. — Parece que temos tudo sobre controle. Quem quer comida enlatada?

Sam riu e se soltou de Hanna para buscar sua parte das latinhas, acabando por pegar as da garota também. Sentou-se ao lado dela outra vez, estranhamente mais confortável enquanto discutiam sobre o que os outros deveriam estar fazendo naquele momento. Tentou manter o olhar em Quinn, mas seus olhos sempre desviavam para admirar, mesmo na escuridão parcial, os belíssimos olhos de Hanna ou como ela, ainda com dores, comia educadamente — nada que não tivesse observado antes na mansão.

Toda vez que era pego, sorria desconcertante, abaixava os olhos e fitava sua latinha, se perguntando com seriedade quando seria capaz de iniciar uma boa conversa com Hanna sem parecer um total idiota. Ele suspirou, um tanto deprimido, e pediu para que Quinn cuidasse dela, a fim de fazer a primeira vigília.



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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Acho que mais do que Santana e Coca-Cola, o ship que está virando canon aqui é a Santana bloqueando Faberry KKK E bem, estamos a passos lentos com Sam e Hanna, mas a história deles vai melhorar nos próximos capítulos. E lembrem-se, qualquer problema de continuidade, por favor, me avisem.
Espero que vocês tenham gostado, deixem seus reviews e até o próximo capítulo!