– Maine, acorde. Você precisa se aprontar para a colheita - minha mãe está nervosa. Hoje é o dia da colheita, o dia em que um garoto e uma garota de cada Distrito são escolhidos para lutarem até a morte em uma arena. Eu não a culpo de estar tão nervosa. Ela já perdeu um filho, meu irmão mais novo, nesses jogos. Ele tinha 15 anos, e foi escolhido ano passado. Ele era um carreirista, pessoas que treinam sua vida inteira para esses jogos, mas não conseguiu sobreviver.

Apesar de eu ter 17 anos, eu não sou uma carreirista. Meu nome aparecerá seis vezes na colheita. Minha família não é exatamente rica, mas nós temos comida o suficiente para alimentar três pessoas: eu, minha mãe e meu pai. Vivemos muito bem aqui no Distrito 4, o distrito da pesca. Minha mãe preparou um banho quente para mim. Eu me dispo, e tomo um banho rápido.

Os jovens de 12 a 18 anos têm que se reunir na praça às duas da tarde. E já são uma e meia, não terei tempo de comer nada. Minha mãe arrumou um vestido de cor amarelo leve e sapatos brancos para eu usar na colheita. Todos temos que estar bem vestidos. A Capital exige isso.

Os Jogos Vorazes são "patrocinados" pela Capital. Esse "jogo" que acontece todo ano, serve para mostrar que a Capital está acima de todos. Eu sou contra esses jogos, mas não posso fazer nada.

Quando fico pronta, eu e minha mãe vamos para a praça, meu pai já está lá há algum tempo. São quase duas, então eu me junto ao grupo de jovens de 17 anos. A representante da Capital do Distrito 4, Meverlin, uma mulher de baixa estatura, cheia de maquiagem que chega até a ficar feio, com um cabelo preto encaracolado, pele levemente bronzeada e com roupas esquisitas, sobe ao palco e começa a falar, com o sotaque da Capital:

– Bem-vindos, jovens do Distrito 4! Vamos tirar o primeiro nome desses Jogos! - Ela anda até uma bola de vidro posicionada em cima de uma mesa no grande palco. - Vamos começar pelas damas - ela enfia a mão na bola e faz movimentos circulares para mexes os pequenos papéis.

Só há seis papeizinhos com meu nome, não há porque eu me preocupar, penso. Finalmente, depois de muita enrolação, Meverlin retira um papelzinho e lê:

– Maine Price. - Sou eu. Como isso foi acontecer? Só tinha seis papeizinhos com o meu nome lá, em meio de milhares. Eu fico parada por um tempo, olhando para o nada. Até que uma garota que está atrás de mim me dá um pequeno empurrão. Eu começo a andar lentamente até o palco. Eu subo as escadas olhando todas as pessoas do Quatro cochichando. Meverlin vai até o microfone e anuncia: - Nós já temos nossa tributo! Agora vamos aos homens. - Ela caminha até a bola com os papéis com os nomes dos garotos. Essa é rápida. Ela retira o papelzinho e lê. - Sam Sikes.

Sam Sikes. O garoto com cabelos escuros e olhos azuis sobe ao palco. Ele me encara. Não o culpo. Sam Sikes é o garoto que eu mais desprezo nesse mundo.

Essa vai ser fácil.