Frank também apareceu por lá um pouco depois. Ele buscou Angela na escola porque eu pedi e a levou até lá também.

- papaiiiiii!! – ela correu em minha direção e me apertou.

Eu soltei um gemido e ela me soltou depressa.

- o que foi, papai?

- minha anjinha, seu papai está sentindo dor.

- mas por quê?

- eu dei uma parte de mim para os médicos colocarem na Lauren, assim ela vai ficar bem, ok?

Angela abriu um sorriso enorme que momentaneamente fez toda aquela dor desaparecer.

- eu sabia, papai! Sabia que você entenderia.

Ela abraçou meu pescoço com carinho, fazendo de tudo para não me machucar. Aquela menina...

Todos estávamos muito emocionados e logo o médico de Lauren apareceu para dar as notícias que todos esperávamos.

O transplante tinha sido um sucesso. Agora era esperar pela recuperação de Lauren.

Nós ainda não podíamos visitá-la e isso acabava comigo. Eu precisava vê-la para ter certeza de que ela estava bem, que iria sobreviver. O médico pediu para que eu esperasse até o dia seguinte e foi o que eu fiz. Eu estava muito fraco para reclamar. Desde a cirurgia para a doação eu ainda não havia comido nada e meu corpo doía. Já estava ficando tarde e Angela também precisava ir pra casa. Mas eu não conseguia sair dali, ficar no hospital era estar mais perto de Lauren e eu não podia ficar longe dela nem mais um segundo. Era como se alguma energia não deixasse a gente se separar. Imã e metal.

Pedi a Frank que levasse Angela para sua casa e ficasse com ela até o dia seguinte. Eu iria buscá-la logo depois que Lauren acordasse e pudesse receber visitas. Ela ficaria feliz em ver Angela lá também.

Apesar de Angela reclamar dizendo que queria esperar lá comigo, eu não deixei. Ela era apenas uma criança e não poderia passar a noite em um hospital. Frank a levou e Jason ficou ali comigo.

- Gerard, você parece abatido. Tem certeza que está bem?

- sim, eu estou bem. – mas não era o que o meu corpo dizia. – você pode ir, Jason. Eu fico aqui.

- não, eu também fico. Não vou deixar minha irmã sozinha.

Nós dois passamos a noite ali, por mais que os médicos dissessem que não adiantaria nada. Ela não receberia visitas até de manhã.

Se eu soubesse que não veria o amanhecer, quem sabe não teria agido diferente naquela noite...

Jason acordou de seu cochilo ao ouvir um barulho estranho. Ao olhar pro lado, ele me viu tremendo na cadeira, meus lábios estavam roxos e eu estava fervendo em febre.

Ele chamou alguns enfermeiros que me levaram correndo pra enfermaria.

Lembro que me deram uma anestesia e enfiaram um tubo em minha boca. Meu corpo tremia tanto que foi preciso 3 enfermeiros para me segurar na maca.

- ele está tendo choque anafilático. Chamem o doutor Jones. – um dos enfermeiros gritou.

- mas não está tão frio. – outro falou confuso. – não pode ser isso.

- a pressão dele está caindo muito rápido. Ele não irá sobreviver se não for logo pra UTI. – algum outro enfermeiro disse.

Jason ficou em choque sem saber o que fazer ao ver meu rosto ficando mais pálido a cada momento. Tentei falar alguma coisa, mas nenhum som saía da minha boca.

Aos poucos, a luminosidade foi sumindo e tudo foi ficando escuro até que eu não vi mais nada e meu corpo não doía mais...

Fui levado pra UTI e colocaram máscara em meu rosto e alguns tubos em meus braços com medicamentos para abaixar a febre e controlar minha pulsação. Jason tentou me acompanhar, mas não foi possível. Sem muito o que fazer, Jason procurou Frank, que ele havia conhecido no dia anterior. Ao saber o que tinha acontecido, Frank também seguiu para o hospital com Angela a tiracolo.

- o que ele teve?? – Frank perguntou a Jason.

- ele... – vendo que Angela prestava muita atenção à conversa, ele desconversou. – passou mal e os médicos o levaram para um quarto para cuidarem melhor dele.

- eu quero ver meu papai. – Angela falava choramingando.

- ele não pode ver ninguém agora, Angela. – Jason disse engasgando.

- por que??

- ele ta muito dodói. Vamos pedir à Deus que ele fique bom, ok?

- primeiro a Mell, agora meu papai... – ela abraçou Frank com força.

- calma, pequena. Eles vão ficar bem, você vai ver. – Frank a confortou mesmo também temendo o pior por seu melhor amigo.

O médico apareceu algum tempo depois com sua prancheta em mãos. Era o mesmo médico que havia feito a cirurgia de Lauren. Os três que aguardavam na sala de espera se levantaram ao vê-lo.

- doutor Jones, diga. O que houve com ele? – Frank perguntou nervoso, segurando forte a mão de Angela.

O médico pigarreou e respirou fundo antes de falar.

- o paciente Gerard Way, devido a deficiência de alguns nutrientes em seu organismo após a cirurgia, aparentemente pela falta de alimentação adequada, seu corpo acabou ficando muito fraco e com a imunidade muito baixa contraiu uma infecção muito rara que o deixou em estado de coma. – o choque era visível no rosto dos únicos adultos na sala – Aparentemente, ele não terá nenhuma seqüela após acordar do coma, mas só teremos certeza quando ele acordar.

- e... quando será isso, doutor?? – Jason perguntou receoso em ouvir a resposta.

- isso... ainda não sabemos. – ele respondeu finalizando a conversa de um modo sombrio.