Lauren morava próximo à escola, exatamente a duas quadras dali. Quando olhei para o número que indicava a casa e comparei com o papel que estava apertado e molhado de suor em minha mão, tive certeza. Era ali que ela morava.
Uma casinha simples, de paredes azul bebê, como seu gosto por vestidos. Um pequeno jardim ainda sem flores e uma porta de madeira.
Meu coração batia rápido, mas eu não tinha tempo. Cada batida do meu coração parecia acelerar ainda mais os ponteiros do relógio.
Eu bati 3 vezes (depois de 2 tentativas sem sucesso). As flores que eu segurava na outra mão pareciam exalar um perfume ainda mais doce do que o normal.
O barulho da fechadura na porta chiava e o medo só ia aumentando. O medo é uma sensação muito estranha.
A porta se abriu e de trás dela um rosto lindo surgiu. Lauren soltou um riso nervoso quando viu quem batia à sua porta. Eu nem tinha mais espaço para um sorriso maior.
- olá.
- hey... Gerard? O que faz aqui?
- eu... eu vim ver como você está. – falei sem graça e me dei conta do que tinha em mãos. – É pra você. Espero que goste.
Por um momento ela ficou sem palavras. O brilho de seus olhos era a coisa mais linda!
- o... obrigada! Ah, como sou mal educada! Entre.
Por dentro, a sensação de felicidade era a mesma. A sala era linda, e alguns quadros enfeitavam as paredes.
- ual! Espera... você que pintou todos eles?? – reparei ao ver sua assinatura no canto da pintura.
- sim. Tempos difíceis... – ela disfarçou, mas eu pude ver que um brilho diferente surgiu em seus olhos. Era algo entre orgulho e tristeza.
- você tem talento. – disse ainda sem tirar os olhos do quadro.
- Gerard, como descobriu minha casa?
Eu me virei para olhá-la. Ela estava colocando as flores num vaso com água.
- eu ficaria encrencado se dissesse que foi... a senhora Lovato? – dei um risinho sem graça e ela não resistiu e riu também.
- e por que veio?
- para pedir desculpas. Eu não devia ter feito você comer aquela comida ontem. Podia ter algo estragado, não sei.
- Gerard. Não se preocupe comigo, por favor. – ela repetiu com um tom sério olhando fundo nos meus olhos.
- mas vejo que você está melhor, parece... saudável.
- foi só uma indigestão, um mal estar passageiro. Nada com o que se preocupar.
- Lauren, você mora sozinha nessa casa?
Ela abaixou o olhar e eu percebi que tinha sido indiscreto.
- desculpe por perguntar... eu só...
- meus pais... moram em Los Angeles. – ela disse baixinho.
- acho melhor eu ir. – antes que eu falasse mais alguma besteira.
Ela ia dizer alguma coisa, mas desistiu.
- obrigada. Por tudo.
- eu não fiz nada.
- você se preocupou comigo. Já é o bastante.
Aqueles cabelos loiros estavam presos em uma trança caída em seus ombros. Aqueles olhos brilhavam para mim. Aquela boca macia... Eu não pude resistir. Não por mais tempo.

Quando percebi, meus lábios e os dela estavam colados como um só e minhas mãos apertavam seus ombros com uma força bruta. Aos poucos, a força foi diminuindo e meus braços a envolveram em um abraço singelo. Percebi que suas mãos percorriam minha cintura de um jeito bom, tornando nosso beijo uma coisa mágica. Eu estava nas nuvens. Ela também.
Eu não quis abrir os olhos e, de repente, perceber que era tudo minha imaginação. Talvez fosse real demais para ser coisa da minha cabeça. Mas confesso que a vontade de ver se a reação dela era a mesma que a minha estava me matando. E se ela não estivesse gostando?? Impossível depois daquele carinho nas costas.

Quando o beijo acabou, andei um passo pra trás ainda surpreso com a minha atitude. Surpreso é pouco, eu estava chocado!
- acho que agora é melhor eu ir... de verdade.

Abri a porta e saí, ainda em transe. Lauren, pelo jeito, também estava em choque. Ela não se mexeu depois do beijo e a última imagem que tenho desse dia era dela parada na sala com os olhos brilhantes e os lábios vermelhos. Uma ótima imagem, não?

Busquei Angela na escola após ter estado em casa para ver se eu ainda parecia normal. Eu não me sentia normal.
A nuvem embaixo dos meus pés ainda teimava em me seguir e eu pedia a Deus para que ela não fosse embora nunca. Eu me sentia completamente bem. Pela primeira vez em 3 anos de total tristeza.
- papai, a Mell não veio hoje. – ela disse triste. – a outra professora disse que ela passou mal.
- ela já está bem, filha. Não se preocupe.
- como você sabe?
- eu estive na casa dela hoje. – respondi sorrindo enquanto colocava Angela dentro do táxi.
- sério?? Eu quero ir lá também!
- depois papai te leva lá, ok? Mas ela está bem. Muito bem.

Angela passou o caminho inteiro perguntando sobre a casa de Lauren. Como já era de se esperar, vindo de uma criança.
- nossa! A casa dela deve ser igual a da minha boneca!
- e era, minha filha. Nunca vi uma boneca tão linda.
- você ta tão estranho, papai. – eu não tive alternativa senão rir. É, eu estava realmente estranho.