POV Hermione

O Salão comunal da Grifinoria ainda é igual ao que eu me lembrava. Somente ao adentrar aquele local maravilhoso, no qual ficava acordada até tarde com meus melhores amigos, notei que sentia falta de tudo aquilo. Da época em que tinhamos misterios a resolver, planos a traçar e nada de paixões ou coisa do tipo, apenas nossa amizade e nossas aventuras... o tempo passou e vencemos a guerra, mas dentro de mim parece que há algo faltando, e isso me frustra imensamente. Reparei de subito que havia mais alguém na sala, e bastou um olhar a mais para reconhecer Rony. Acenei com a cabeça e sorri de canto, e Ron fez o mesmo. Voltei-me novamente para o buraco do retrato esperando encontrar Gina e Neville, mas por alguma razão eles não estavam ali e o retrato estava fechado. Aproximei-me devagar, com medo do retrato se abrir de repente, com Gina ou Neville, mas isso não aconteceu. Apoiei minha mão ali e empurrei forte. Nada. Empurrei mais ainda, mas ele simplesmente não cedia. Olhei para Rony que estava com uma expressão confusa estampada no rosto.

- Ora, me ajude! Parece que emperrou ...

- Ah, certo! – disse ele se apoiando no retrato e aplicando sua força junto a minha. Nada aconteceu novamente.

- Puxa, a Mulher Gorda precisa fazer uma dietinha... – Ron disse e eu arqueei as sobrancelhas. – Hmmm, foi  só pra descontrair. – ele completou.

- GINA! QUE DROGA ESTÁ HAVENDO? – em dias de TPM, pra que ter calma não é? Berrei mesmo.

- Ora, eu não sei Hermione! Pergunte a...Mulher Gorda, que tal? – respondeu ela. Estranhei mais ainda aquela situação toda. Isso nunca havia acontecido comigo. Aliás nunca havia acontecido com ninguém, podem os retratos se fecharem assim? Talvez realmente fosse algo com a Mulher Gorda, mas...

- Gina eu... ah, esqueça. Mulher Gorda? O que é que está havendo? – no fundo me senti bastante idiota falando com as costas de um retrato, mas... por que não?

- Achava que não iria perguntar nunca! E não se faça de sonsa. Sei o que você o Weasley andam fazendo! – a voz estridente e aguda encheu a sala quase vazia, eu e Ronald nos entreolhamos.

- Do que está falando exatamente? – perguntou Ron.

- Ora mas que desgosto! Os heróis de Hogwarts, caçadores de horcrux, se envolvendo com a escória covarde que aquele velho Slytherin deixou pra trás! Com Hogwarts inteira a seus pés, não podiam ter feito pior escolha! – a voz do retrato se tornou agressiva, e os meus pensamentos mais confusos ainda.

- Desculpe, ainda não entendemos. – respondi secamente. Algo me dizia que estavamos sendo insultados. Olhei para Ronald e ele parecia estar pensando o mesmo que eu.

- Vocês destruiram o trio de ouro, jogaram fora anos de companheirismo, desperdiçaram um lindo amor, bagunçaram nossa tranquilidade, POR DUAS COBRAS NOJENTAS? – a Mulher berrou.

- Senhora! Retome o controle e se explique! Não iremos chegar a lugar nenhum se continuar com isso! – nunca tinha visto a Mulher Gorda tão alterada, mas não queria deixa-la pensar que estava no controle.

- Vocês mancharam o nome da Grifinória! Malfoy e Parkinson? Para os heróis de Hogwarts? Francamente!

Ao ouvir essas palavras, mil facas perfuraram minhas entranhas. O entendimente veio rápido e senti como se um murro tivesse antingido em cheio minha face. Mastiguei as palavras dela, pensando em como talvez, digeri-las.

- Mas você não tem o direito de se meter! – rugiu Ron. – Abra a porcaria da passagem e cale sua boca gorda!

- Ora, eu abrirei, hohohoho, assim que jurarem acabar com essa bobagem. Assim que voltarem ao que era antes. Assim... que se beijarem.

Rony e eu ficamos pasmos. Aquilo era o cúmulo do rídiculo, como se duas crianças de sete anos tivessem planejado tudo.

- Mi! Faça o que ela diz, daqui a pouco as pessoas vão começar a chegar e vai ser pior, pois todos vão ver... – gritou Gina pelo outro lado. Impressionante como ela só decidiu se manisfestar agora não...? Isso tudo soa estranho demais.

- Não. Eu tenho um namorado e não vou traí-lo. Abra agora ou encontrarei o caminho sozinha!

- Faça isso Granger, e veremos o escandalo em que irá se envolver. – Mulher Gorda provocou novamente.

- Hermione, eu...

- Rony. Diga. – eu o interrompi.

- Não seria mais fácil...? – antes que ele completasse tomei uma decisão. O que era um beijo para duas pessoas adultas não é? Livre de sentimentos o contato fisico não seria absolutamente nada, Draco iria procurar entender...não é?

- Pois bem. – virei-me um pouco até encontrar a face de Rony. Se queriam um beijo, o teriam. Acho que ele entendeu o que estava prestes a acontecer, então tornou tudo mais fácil, nossos lábios se tocaram timidamente, já que nenhum de nós dois queria o beijo. Um segundo e eu me afastei, feliz por saber que agora poderia sair daquela sala horrivel, mas algo me impediu. Ele me impediu. Ron me puxou de volta pela cintura, meio de leve mas firmemente, colocou sua mão atrás do meu pescoço e me puxou para um novo beijo. E eu? Burra!  Retribui. Milhões de antigas sensações me invadiram e parecia que eu ia explodir, o ar faltou e eu me desesperei – logo estariamos face a face.

O beijo se quebrou e então nos separamos. Ronald me encarou por um segundo sem saber o que fazer e, eu aproveitei a deixa e virei-me.

- Já teve o que queria! Me deixe sair!

- Ora criança, você sabe o que é melhor para você.

Quando o retrato girou passei por ele velozmente, as lágrimas já começando a queimar em meus olhos, sem nem saber o porque. Segui correndo sem rumo, corredor a frente, mas não sem antes escutar a Mulher Gorda dizer:

- A Serpente e o Leão juntos, nada jamais serão, a não ser dor, desgraça e decepção. Você sabe criança, você sabe...

Tapei os ouvidos e continuei correndo. Corredor atrás de corredor, escada atrás de escada e as memórias invadiam minha mente. Draco, Ron, Draco, Ron... No que eu havia me metido? Por que é que Ron tinha que tornar as coisas assim tão complicadas? Eu estou tão feliz com Draco... qual o problema com um pouco de tranquilidade? “Vocês destruiram o trio de ouro, desperdiçara um amor, anos de companheirismo...”  Oh céus! Seria verdade? Pelas barbas de Merlim o que foi que...BANG! Algo sólido entrou em meu caminho e devido a colisão fui lançada ao chão.

- Meu amor! Está bem? Está doendo muito? Estava indo te procurar, eu...

- Draco. – sim, a sorte de Hermione Granger é provavelmente bêbada, talvez ela seja ainda um pouco mais lúcida que seu cúpido, porque né...

- Sim. Bateu a cabeça? O que é que houve? Você não aparecia, não estava em lugar algum...

- Eu...ha...nada. Quer dizer, houve algo sim...

- Então diga. – o rosto dele se tornou mais sério.

- Draco eu...precisamos conversar. – e perante sua expressão sombria eu me levantei do chão, disposta a encara-lo. Afinal, quem sobreviveu meses e meses por conta propria, lutando contra comensais e caçando horcruxes, quem saiu viva do Gringotes montada em um dragão e saiu vitoriosa a Batalha de Hogwarts, pode lutar contra um pequeno conflito amoroso. Certo...?