Ano Novo. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 3
Vodka.




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Eu não era de beber muito. Papai sempre me dissera que um Riddle deveria beber apenas socialmente, e pouco, para parecer elegante. Eu era um jovem elegante, mesmo sendo apenas jovem, de pouca significância.

- Beba isso, Tom querido, para espantar o frio. - Mary deu-me uma taça pequena com o líquido transparente em seu interior. A dose era tão pequena que eu poderia engasgar ao tomá-la. - Vire-a rapidamente.

Fiz o que ela mandou de prontidão. No segundo dia, o balanço da água e o frio passaram a me incomodar. Minha mãe estava tão embalada em seus casacos imensos que passara a sair do quarto apenas para comer... não fomos mais ao convés.

- O que é isso? - perguntei, tossindo.

- Chama-se vodka, é uma bebida destilada com muito cuidado. - explicou. - Bem tomada, sem exageros, serve para aquecer o corpo em dias como este. Coloque seu casaco.

Minha mala trazia roupas que eu jamais usara e nem vira em meus aposentos. Eram grandes, cheias de pelos e plumas, confortáveis até, quentes, da espécime que eu não usaria se estivesse em Londres. Ao andar sozinho pelos corredores notei que as pessoas compartilhavam do mesmo gosto estilístico, mesmo parecendo ursos polares andando à dois pés.

- Sei que são pesados. - minha mãe passava as mãos nas minhas costas tentando arrumar os pelos. - E não faça essa cara. Vamos chegar em breve.

Tudo o que eu mais queria era que a hora de jantar chegasse. Olhar aqueles lustres de cristal davam-me uma sensação de paz e esta era minha única companhia enquanto minha mãe sonhava de olhos abertos.

Esta noite o brilho do salão era imenso. Todos graciosamente vestidos, e os enfeites de Natal trocados por grandes luzes brancas a comemorar o novo ano que se aproximava. Ao piano apenas músicas animadas, dançantes. Pedi a mão de minha mãe para dançar.

- Você é tão galanteador quanto seu pai! - disse ela, sorrindo, enquanto tirava o casaco pesado e deixava à mostra seu lindo vestido dourado. - Vou ensiná-lo a dançar isso.

Era diferente de todos os passos que eu tinha dado, e nos braços de Mary eu podia ter a confiança de que não cairia. Tudo era rápido, num compasso acelerado e contínuo, cansou-me, e excitou-me. Eu ansiava agora por poder dançar mais, ter minha mãe agarrada a mim como se fossemos apenas eu e ela no mundo. Não havia problemas, não havia soluções. Apenas eu e ela.

- Tome mais vodka, Tom. - mamãe aconselhou. - E dancemos mais!

Aquela noite eu dormi sem sentir o gosto salgado do ar marítimo ou mesmo o balançar das ondas sobre meus pés. Eu abracei minha mãe com todo o carinho e deixei que meu corpo se aquecesse pelo calor que vinha do dela, extasiado por pequenas doses de uma vodka russa.


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Notas finais do capítulo

A vodca ou vodka (em russo: во́дка; em polaco: wódka) é uma popular bebida destilada, incolor, quase sem sabor e com um teor alcoólico entre 35 e 60%. A vodca é a bebida nacional da Rússia. O nome vodca é o diminutivo de água ("aguinha") em várias línguas eslavas, contudo não se tem certeza da origem etimológica, que poderia ser apenas uma coincidência. De toda forma, os estudos mais recentes apontam que a palavra wodka (gorzalka, originalmente) foi primeiramente utilizada em textos poloneses, sendo o mais antigo datado de 1643.



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