Ano Novo. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 2
khrustalʹnye lyustry.




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Não fora da minha parte entender os conceitos que tinha mamãe ao sair de casa em pleno ano novo para fazer uma viagem que, mesmo não sabendo o destino, eu já julgava perdida. Ela jamais teve esse descaso com uma data comemorativa, e principalmente ela!, sempre cheia de detalhes, altos e baixos, que encantavam a sociedade de nossa pequena estadia. Ali, não, era diferente. Ela não se preocupou em abrir sua mala de joias e degustar das mais belas pérolas, ou bronzear seu rosto com ruge. Colocou um casaco pesado em seus ombros, arrumou os cabelos num coque e foi jantar.

Acompanhar minha mãe nesta aventura me parecia loucura a esperar que desse certo. Na minha visão, papai estaria nos esperando do outro lado do rio Tâmisa ao Mar do Norte, levando em sua face todo o descontentamento que deveria sentir.

Mary guiou-me pelo Grande Imperador como se o conhecesse por completo. Chegamos no grande salão de baile, um lugar maravilhoso de ser apreciado: entre as cadeiras de vidro perto das mesas e suas toalhas de seda, os lustres imensos dependurados, brilhando em cristais puros deixavam o ar tão encantado que inspirar parecia-me perigoso. Parei alguns passos atrás dela, instigado a observar tudo. Mary sabia que eu gostava de visualizar os detalhes com muito cuidado, e assim julgava-me sempre um pintor melhor que ela.

As línguas que dantes eram as mesmas passaram a ser tão diferentes que eu não as entendia. Não que eu tivesse algum talento para letras, longe disso, mas sempre gostei de ouvir outros idiomas e fingir que todos eu sabia. Entre os sotaques franceses e ingleses outros dialetos foram mixando o barulho delicioso, enrubescido de um soar doce e delicado de um piano de cauda. Ao lado do piano, mais um lustre de cristal, o maior do salão. O maior que eu já vira em toda a minha vida.

- É bonito, não é? - minha mãe tomou-me as mãos ao me ver parado. - Sabia que ia gostar.

Da comida pouco degustada nada restara além de curiosidade. Passadas as horas, as pessoas libertavam-se de seus casacos pesados para absorver o calor dos aquecedores. De onde tiravam tanto frio? Eu não o sentia, mas podia prever que este ano novo seria apinhado de neve.

Seria, sim, se eu estivesse em casa... mas eu nem mesmo sabia para onde estava indo. Entre os sorrisos silenciosos de minha mãe e uma doce de champanhe observei os lustres caindo em camadas regozijantes, e parei de pensar na confusão que estavam meus pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Secondo.



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