Em meio a tantos pensamentos sobre o A.S e os humanos em geral me sobressaltei quando ouvi um barulho de vidro se quebrando ; vinha do comodo de baixo.

Joguei meu celular debaixo do meu travesseiro e me coloquei rapidamente de pé para saber o que estava acontecendo.
 

Enquanto abria a porta pude ouvir minha mãe gritando alguma coisa que não compreendi. Isso fez com que eu me apressasse mais, e quando corri pelo corredor e desci as escadas comecei a entender o que eles estavam dizendo.
 

– Quero que vá embora, e não volte nunca mais ! - minha mãe disse entre soluços e empurrando meu pai que quase nem se movia. Percebi que escorria sangue do seu braço e quando olhei para baixo pude ver o copo quebrado que eu ouvira  cair enquanto estava em meu quarto.
 

– Mãe, o que houve ? - perguntei descendo o resto dos degraus observando o ferimento no seu braço.
 

– Nada minha filha , só quero que o seu pai vá embora desta casa ! - ela disse mais uma vez o empurrando.
 

– Porque mãe ? O que esta acontecendo aqui ? - desta vez olhei para meu pai que até então não havia dito nada.
 

– Sua mãe esta louca - foi só o que ele disse e depois saiu pela porta, batendo- a com tanta força que os quadros que ficavam perto da porta se mexeram após o impacto.
Minha mãe ficou parada no meio da sala, e de repente começou a chorar mais ainda. Eu não estava entendo nada e aquilo tudo estava me deixando frustrada.
 

– Mãe, por favor, o que esta acontecendo aqui ?
 

– Seu pai, ele esta me traindo ! - ela gritou, e me fez estremecer.
 

Eu nunca tinha pensado em uma possibilidade daquelas. Apesar dos meus pais brigarem as vezes ( ou quase sempre ) , achava que aquilo tudo fosse normal, coisa de "gente grande". Mas naquele momento pensei naquilo por alguns segundos, e foi o suficiente pra saber que aquilo não seria uma coisa boa para nós.
 

– Como sabe disso ? - perguntei sem saber o que dizer.
 

– Eu vi uma mensagem no celular dele. - ela respondeu apontando para o celular dele que estava jogado no chão.

Me abaixei e peguei seu celular, e pude notar que sua tela estava um tanto rachada, no mínimo minha mãe tinha o atirado contra a parede, deduzi.

Enquanto minha mãe continuava chorando ( o que já estava me irritando ) fui a procura da tal mensagem. Eu ainda não conseguia acreditar naquilo, não fazia sentido, e se eu bem conhecia minha mãe, ela era exagerada demais pra sua idade.
Após vasculhar algumas mensagens achei uma sem nome que dizia : "Me encontre as 18:30 no mesmo lugar. "
 

Era só isso. Tanto drama para isto. Senti uma súbita vontade de chacoalhar minha mãe pelos braços e gritar "Pare de agir feito uma estérica, ele não esta te traindo !!! ", mas ela era minha mãe, e eu tinha que ajudá-la.
 

– Você viu ? - ela perguntou, depois de perceber que eu apenas a observava.
 

– Vi , mãe , e realmente não a nada com que se preocupar.
 

– O que ? Você só pode estar brincando ! Eu tenho certeza que quem enviou isso foi uma mulher ! O que é Lilith ? Vai defender o seu pai é ? Quer saber ? Vá vocês dois para o inferno ! Vocês dois e essa puta desgraçada !!! - de repente ela estava gritando e brigando comigo.
 

Ah, aquilo era demais para mim. Porque mães não conseguem manter a briga só entre duas pessoas ? Por que tem que envolver todo mundo ? Eu não ia ficar ouvindo aquilo, não mesmo.
 

– Porque esta nervosa comigo ? Ah, quer saber ? Acho que papai esta certo, você esta louca ! - após dizer isso senti um certo medo, afinal ela era minha mãe e eu só tinha 16 anos, mas eu precisava dizer, não ia conseguir segurar por muito tempo.

Ela me fuzilou com os olhos por um tempo, e eu senti que era a hora de sair dali. Me levantei pisando duro, não podia demonstrar fraqueza aquela altura, e sai.

Simplesmente abri a porta e sai, exatamente como fez meu pai. Comecei a caminhar pela calçada com medo de que ela viesse atrás de mim com uma faca na mão. Mas ela não veio, então eu só comecei a andar, sem rumo.