– Oi filha, como foi seu dia na escola hoje ?

Hesitei um pouco pensando se devia mencionar a mensagem que eu havia recebido, mas não achei conveniente dizer, então respondi normalmente enquanto descia os últimos degraus.

– Normal. - caminhei até a cozinha e abri uma das gavetas onde minha mãe costumava guardar dinheiro.

– Precisa de alguma coisa, querida ? - foi a vez de meu pai agora. Pelo amor de Deus, será que os pais não sabem nem ao menos disfarçar ?

Ele veio caminhando na minha direção, toda aquela atenção era um tanto desconfortável.

– Sim. - respondi remexendo as coisas dentro da gaveta - preciso de dinheiro para colocar créditos na droga do meu celular.

– Oh, sim ! Também preciso carregar meu celular. Vamos, eu te levo assim carregamos os dois. - minha mãe falou colocando-se a frente do meu pai, que deu de ombros e foi caminhando de volta à sala de estar.

– É. Então vamos logo. - fechei a gaveta e subi para calçar meu coturno e colocar algum casaco pois estava meio frio lá fora.

Depois de terminar de me arrumar e dar uma retocada na minha maquiagem desci de volta para a sala e minha mãe estava vendo algo na TV com meu pai, que estava esparramado no sofá.

– Já podemos ir mãe ? - perguntei após perceber que se eu não dissesse nada talvez ela nem notaria a minha presença.

– Ah, sim. - ela me olhou de cima a baixo, odiava quando ela fazia aquilo - Mais preto ?

– O que é ? Você nunca foi de reclamar das minhas roupas, o que deu em você agora ? - perguntei indiferente.

–Não reclamo porque te conheço bem, mas pelo amor de Deus, você não fica envergonhada de sair assim na rua ? - ela perguntou apontando para minha meia calça rasgada que eu tanto amava pois disfarçava a palidez excessiva da minha perna.

– Na verdade não, me sinto bem assim; e que eu me lembre bem foi você quem me ensinou a não se importar com que os outros falam. - respondi olhando para ela para ver o que ela diria a seguir.

Ela ficou um tempo em silêncio e se virou tirando a chaves do carro do bolso.

– Você pelo menos podia usar um pouco da sanidade que restou em você para se vestir. - disse por fim, abrindo a porta. Revirei os olhos e a segui.

Assim que entrei no carro minha mãe o ligou e foi com a mão direto no som.

– Espero que você não coloque uma daquela suas musiquinhas irritantes. - comentei antes que ela pudesse tocá-lo.

– Minhas músicas são irritantes ? E aquelas suas musiquinhas de funeral hein ? - ela disse sorrindo e me cutucando com o dedo indicador. Acho que as vezes minha mãe se esquecia de que eu já tinha 16 anos. Mas tive que rir da sua comparação boba.

– Não tem graça, e não são músicas de funeral coisa nenhuma, aquilo se chama cultura. - respondi imitando-a e a cutucando também. Mas uma vez ela sorriu.

– Cultura ? Você esta ficando boa nas piadas, querida.

– Bobona.

– Esquisita. - ela retrucou, e dei um risinho.

Minha mãe não aguentou e acabou ligando o som, mas prometeu que seria baixo, então resolvi pegar meus amigos fones de ouvido e comecei a ouvir minhas próprias músicas. A última música que estava tocando na lista de reprodução era a do Nightwish - Forever Yours, gostava daquela música, ela sempre me acalmava.

Fomos o resto do caminho em silêncio, até que chegamos ao shopping.

Nem sei porque minha mãe veio para cá, mas já que sai de casa não podia voltar sem carregar meu celular, e ainda por cima não ia poder responder a mensagem. Descemos do carro e entramos no shopping ; eu não sabia se quem chamava mais atenção era eu vestida como estava, ou minha mãe com o corpo de uma garota de 17 anos. Balancei a cabeça algumas vezes percebendo que até alguns velhinhos estavam nos secando.

– Este mundo esta realmente podre. - disse eu mostrando o dedo para um garoto que ficava rodando a língua em volta da boca.

– Pare com isto garota, - minha mãe falou abaixando meu braço - deixe que olhem.

Revirei os olhos e entramos em uma loja de aparelhos celulares. Enquanto minha mãe carregava os dois dei uma olhada na loja e logo depois sai para ver se encontrava alguma coisa de interessante...