Em contrapartida com a grande tempestade da noite passada o dia amanheceu quente e ameno. Sons de passarinhos completavam a paz que reinava sobre a lama e os galhos partidos. O Sr Watsuki e Soujirou saíram da choupana e olharam o Sol se espreguiçando na manhã das montanhas.

            - Pegue aquela escada para mim Soujirou.

            - Aqui está.

            - Precisamos dar uma concertada neste teto. Ontem vi duas goteiras.

            O velho parecia bem segura enquanto subia a escada. Os sons de martelo ecoaram pela casa. Soujirou buscava tábuas e pregos enquanto Watsuki martelava murmurando conselhos sobre marcenaria.

            - Encaixando dessa maneira a água não escorre.

            - Precisamos tomar cuidado para a água não empossar.

            Soujirou escutava e sorria. Não sabia direito porque estava ajudando aquele velho a concertar o telhado, isso não parecia muito útil para busca que iniciara. No entanto sentia-se bem ali e sem perceber já tinha se afeiçoado ao velho.

            Depois do telhado foram ver o assoalho, limparam o chão e foram para a floresta.

            - Aqui tem frutas muito gostosas, mas elas se agarram aos galhos com força. Você vai precisar de uma lâmina para retirá-las.

            Disse Watsuki entregando uma adaga para Soujirou que se admirou com o fio bem feito da lâmina. Em breve estavam cortando frutos dos galhos. Repentinamente Watsuki parou para observar Soujirou.

            - Você fica bem com a adaga, a segura de maneira firme e leve.

            Soujirou se limitou a responder com um sorriso.

            - E a maneira que você corta é precisa e rápida, usa somente a força necessária para cortar. Dá para ver que vocês tem afinidade.

            - É? Não acho... – Comentou Soujirou pensando na espada que devolvera para Shishio no dia em que partira.

            - Já vi muitos espadachins e sei do que estou falando. Você claramente está enredado pelo caminho da espada.

            - Não mais, não mais. Eu dediquei muito tempo a este caminho, mas a espada me abandonou e me deixou sozinho.

            - Ou foi você que abandonou a espada e a deixou sozinha?

            - Como assim?

            - As espadas são armas mortais, os armeiros sabem disso e quando as forjam põe esse sentimento nelas. A espada por si própria procurará sangue para aplacar essa vontade de matar. Lutadores inexperientes são imbuídos de agressividade ou medo. É preciso que o guerreiro controle sua arma para que chegue a um bom termo. Quando a arma e o guerreiro se harmonizam os horizontes se expandem e aí está o caminho da espada.

            Soujirou olhou bem para a adaga e se lembrou de quando atacou sua família. No começo estava se protegendo, mas depois à vontade de matar e a confusão o invadiram. Perdera totalmente a consciência de si pela a raiva, ou seria medo... Preferia não sentir nada a sentir aquilo.

            - Teve uma coisa que eu não entendi. O que é um bom termo?

            - Isso você saberá. Quando quiser saber.

            Isso não fazia o menos sentido. É claro que queria saber. Não havia caminhado a esmo por seis longos meses em busca disso? Olhou seu reflexo na espada e pode ver sua duvida cristalina no seu rosto. Os sentimentos não paravam mais... Virou-se para Watsuki que cortava alguns frutos com notável habilidade e sorriu.