A chuva estava piorando muito. Era impossível evitar molhar os pés. Em breve anoiteceria, a luz estava empalidecendo e a trilha não dava sinais de acabar. Às vezes parecia que ia se encerrar no meio do nada. Quem teria usado aquela trilha? Se pensasse no assunto racionalmente sua atitude pareceria tola. Só que seu espírito já estava preso em um anzol e Soujirou queria pular para fora d`água.

Os grilos começaram a cantar e a floresta se encheu de sons noturnos. Mesmo os olhos atentos de Soujirou vacilavam para seguir a trilha fechada no breu. Os poderosos relâmpagos eram usados com sabedoria e velocidade para encontrar o caminho. Finalmente uma luz surgiu nas trevas da floresta. Eram tochas distantes. Para o fogo se manter aceso naquele lugar eram necessárias mãos humanas. Atraído pela luz Soujirou enredou pela floresta e com o tempo distinguiu uma choupana no coração da floresta.

            - Tem alguém em casa?!

            Gritou para dentro da moradia, sua voz abafada pela chuva dificilmente seria ouvida. Entrou debaixo da marquise que a casa oferecia e viu um velho rezando para uma pequena estátua de Buda.

            - Com licença?

            Se o velho não fosse surdo teria ouvido. Parecia concentrado demais em sua reza. Soujirou resolveu esperar. A cena o fez lembrar de Anji. Escutara “Deus da destruição” falar várias vezes sobre o budismo, a roda das encarnações, o caminho da salvação... Não acreditava em nada daquilo. Tinha conseguido tudo através de seu próprio esforço esbarrando com grandes homens aqui e ali, nenhuma força do além o havia ajudado ou qualquer uma das inúmeras vítimas que fizera.

            - Ora...vejo que a floresta trás mais um perdido para minha presença.

            - Eu não estou perdi... – Interrompeu-se Soujirou. De certa maneira se sentia bem perdido.

            - Desculpe não ter lhe falado antes. Eu estava acabando de rezar. Você está muito molhado. Acompanhe-me acho que tenho uma roupa que lhe servirá. – Disse o velho se levantando com dificuldade.

            - Obrigado eu não queria incomodar.

            - Não é incomodo nenhum. Foi deixada pelo ultimo visitante para você mesmo. Acho que vai ficar um pouco largo, mas servirá.

            - Muito obrigado mesmo. Chamo-me Soujirou Seta.

            - Chame-me de Watsuki. Aqui está. Troque-se que eu vou acabar de esquentar uma sopa para você me contar sua história de barriga cheia.

            Soujirou ficou tocado com a hospitalidade de seu anfitrião. Trocou-se ficando com uma roupa um pouco larga, mas confortável e foi acompanhar Watsuki na refeição.

            - Estava muito boa, obrigado.

            - Não há de que. Só ver o seu sorriso já faz valer a pena ajuda-lo.

            O comentário de Watsuki fez uma onda de tristeza passar rapidamente por Soujirou e não escapou da percepção do velho.

            - Diga-me o que te aflige.

            - É uma longa historia.

            - E vale a pena se deprimir por ela?

            - Estou buscando a minha Verdade.

            - Bom... bom... E você tem idéia de como ela vai ser?

            - Eu vi a verdade de alguns homens e elas mudaram minha vida, mas elas são inconciliáveis então, me sinto perdido.

            - Hum... coisas inconciliáveis são realmente preocupadoras quando queremos ambas ao mesmo tempo. Você quer ambas?

            - Se eu quero?

            - É! Você quer ambas?

            - Não é questão de querer. É questão de ser a verdade.

            - Hum... Sei... A noite em breve vai virar dia. Vamos descansar que teremos muito o que fazer amanhã.

            - Teremos?