The Both Sides escrita por auter_delacor


Capítulo 14
Capítulo 14 - Toujours. A eternidade interrompida




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-Muito bem... Doug. Diga logo o que tem a dizer, meu tempo é curto.

         -Achei que tivessem todo tempo do mundo. Afinal... São imortais.

         -Deve estar aqui para falar dos ataques ao seu clã, não é? – ignorou o comentário do jovem. Doug ficou em silêncio enquanto umedecia os lábios com a ponta da língua. – Sim. Já sabemos que os lobisomens não gostam de vocês transmorfos, mas o que temos haver com isso?

         -Sabe, pelo menos, a razão? – Doug estreitou os olhos. Mediante o silêncio de todos, deu continuidade. – Eles seqüestram as mulheres da nossa espécie por causa de nossa resistência a veneno vampiro. Estupram-nas e reproduzem lobisomens imunes as mordidas de vocês.

         -Sim. Estamos destruindo ninhos há meses.

         O morfo empalideceu imaginando o destino de antigas conhecidas suas. Todas mortas. Lembrou de sua prima e contraiu os dedos em punhos. As unhas sujas cravadas nas palmas até formarem luas roxas. Estava tremendo de raiva.

         -Mais algo a dizer? – Aro insistiu. Doug entendeu naquele momento porque Psique nunca quis conhecer o pai. Ele era um monstro frio e calculista. Tinha um coração de pedra, nada haver com ela. Psique sempre demonstrou desagrado em relação ao progenitor. Doug nunca mais a repreenderia.

         O vampiro bufou mostrando sua impaciência.

         -Escute bem, meu jovem. Se veio aqui em busca de vingança, nossas portas estão abertas. Pode lutar a nosso lado, não deixaremos que nenhum lobisomem toque em você até a batalha. Seu cheiro não é tão desagradável assim, podemos suportar o odor. – encolheu os ombros.

         -Não preciso da ajuda, nem do consentimento de vocês. Fazemos partes de mundos separados, só parem de me perseguir e eu não me meterei mais em seus assuntos. – chiou entre dentes. Deu as costas ao senhor e partiu deselegante.

         Aro sorriu e se levantou do trono satisfeito consigo mesmo, todos se curvaram ao seu movimentar. Passou por uma saída lateral entrando em um longo e sinuoso corredor de mármore. Abriu uma porta pesada de carvalho e parou diante da longilínea estante recheada de livros. Olhou para a parede oposta, coberta por uma cortina de veludo pesada e vermelha.

         Tocou gentilmente na corda que pendia ao lado, fazendo a cortina deslizar e revelar um belo quadro. Aro esticou os dedos e tocou na superfície áspera que a tinta causara contra a tela. Alisou cuidadosamente os olhos cinzentos e profundamente enigmáticos da bela jovem.

         -Ah Eve... Sinto tanto sua falta... Onde te metestes? – puxou o ar com força recordando de seu cheiro fresco de liberdade. A mulher na pintura tinha o alvo rosto de um anjo dourado. Os cabelos loiros caindo em ondas por seus ombros e pelo colo, os lábios róseos sorrindo misteriosamente, como se escondesse um segredo proibido e dissesse “arranque a verdade de mim se for capaz, mas saiba que falhará.”

         Foi no começo das retaliações dos lobos. Aro raramente se aventurava para longe de Florença, mas daquela vez quisera fazer o trabalho por si próprio. Estava cansado de ser um rei inerte que apenas observava o desenrolar de suas batalhas pelas mãos de outros. Estava viajando pela linha territorial que separava a Itália da França, e seguia um rastro desconhecido.

         Fazia meses que Aro procurava por aquela raça. Já havia encontrado indícios dela na Grécia, agora seguia fervorosamente um palpite que poderia ser útil na batalha contra os lobos, mas ao mesmo tempo poderia ser uma perda de tempo. Ele decidiu arriscar.

         Encontraram uma jovem fugindo pela floresta de uma matilha de dois lobisomens. Mandou que Santiago fosse ao encalço deles e os destruísse e ficou encantado contemplando a jovem arfante. Ela não vestia nada além de um vestido branco esfarrapado. Encontrei.

         Ficou exultante com aquela possibilidade. Lembrava-se claramente de sua vida humana grega, dos mitos que cresceu sendo rodeado. Dês daquela época havia histórias sobre mulheres divinas que podiam mudar de forma. Naquele tempo eram chamadas de ninfas. Aro recordou de quando completara quinze anos e andava na floresta as margens de sua casa.

         Avistara uma mulher peculiarmente bela, de longos cabelos da cor do sol andando descalça. Ficou embevecido pela imagem dela, e se aproximou extasiado. Quando ela o viu, assustou-se e se transformou em uma raposa fugindo. Contou para sua mãe, mas essa apenas riu e disse que ele era louco. Aro sempre soubera que não era.

         Aquela jovem de impetuosos olhos cinza se aproximou graciosamente sem medo dele. Aro ofereceu abrigo e comida, um lugar seguro para passar a noite e ela aceitou sem temor algum. Nunca havia visto um vampiro antes, não tinha noção do perigo que a rondava, e a curiosidade sempre superou sua cautela.

         Depois daquela noite, Aro ia frequentemente visitar a residência que comprara para ela em uma cidadezinha próxima. Estava totalmente fascinado pelo ser que aquela jovem loira era. Sentia que havia um encanto em que fora enredado. Imaginou se Eve não tinha algum dom relacionado com persuasão. Ele não conseguia negar-lhe nada.

         Eve mentira para Carlisle. Uma parca forma de proteger seu amado.

         Aro passava horas apenas observando-a andando pelos jardins, rindo enquanto brincava com os pássaros. Apreciava-a sentada sobre um divã lendo, ou mesmo enquanto dormia. O vampiro havia se apaixonado pela jovem transmorfa. Naquela época ele não fazia ideia do que sentia, experimentava o amor pela primeira vez em mais de três milênios.

         Descobriu ao tocar-la onde se escondia o resto do bando, mas Aro acabou notando que fora uma perda de tempo ir atrás deles. Os morfos eram tão delicados quanto humanos. Não serviriam. E o vampiro estava ocupado demais se deliciando com a companhia de sua protegida para, sequer, prestar atenção em outra coisa.

         -Quero ter uma pintura sua. – os dois estavam reunidos em baixo de um carvalho de copa frondosa. Eve comia um cesto de cerejas rubras, o sumo escorria por seus lábios deixando-os vermelhos. Ela sorriu erguendo os olhos intempestivos para ele. Vida. Ela tem vida. É isso que me cativa nela. Sulpicia nunca poderia dar a seu marido essa sensação.

         -Uma pintura minha? – arqueou a sobrancelha dourada. – Sua esposa não ficará brava? – fingia se importar, mas Aro sabia que ela não dava a mínima para a opinião de Sulpicia. Os dois conversavam sobre tudo quando estavam juntos, Eve sabia ler Aro de uma forma que ninguém sabia. Ele era um livro aberto para ela. – Porque quer um quadro meu?

         -Para que seu rosto esteja eternizado ao meu lado. – tocou a pele acetinada de sua face. Eve fechou os olhos segurando a mão dele. – Para ter-la para sempre. Quando eu sentir tua falta e não puder vir ver-la, olharei para a pintura e estarei com você.

         -Sempre está comigo, cher. – sussurrou erguendo as longas pestanas. - Je t'aime. – inclinou-se para beijar-lo longamente. O sabor de sua boca era entorpecente, quase tóxica. – Toujours. – Sempre.

         O que seria de mim todos esses anos sem a tua pintura, minha doce ninfa? Eve desapareceu quatro meses depois, sem deixar nenhum recado ou dar adeus. Aro mergulhou em uma infinita depressão sem sua companhia. Perdera o sentido de sua vida. Era como se todas as cores vazassem por seus olhos, transformando o mundo em um filme preto e branco.

         Aro sabia que sentir só feria.

         -Sabe Alec, uma coisa que aprendi nesses últimos anos – falou ao sentir a presença de sua criação a suas costas. Alec era um dos poucos que sabia da amante dele. – Nunca se deve por tanto sentimento em uma coisa só. – completou girando e ficando de frente para ele. – Espalhe suas emoções e nunca se perdera.

         -Ótimo conselho. – Alec comentou secamente.

         -Qual a razão de sua melancolia, meu jovem? – o mais velho andou em direção ao subordinado. Alec respirou fundo balançando a cabeça e olhando a pintura soturnamente. Eve era a mulher mais bonita que ele já conhecera e a mais fascinante também.

         -Sabe que aquele transmorfo era amigo dela. Ele poderia saber de seu paradeiro.

         -Não me importa o que aconteceu com ela. Eve fez sua escolha.

         -Ela deve ter tido motivos.

         -Já faz quinze anos. É um bom tempo para alguém como ela. Nunca daria certo. Ela era uma transmorfa e eu o rei dos vampiros. Opostos que nunca se uniriam. – cobriu a tela novamente. Ficou observando até os olhos terem firmemente desaparecido. Se perguntava por que não tivera forças para se livrar do quadro. Sabia que nunca teria.

         -Você é rei Aro. Pode fazer tudo.

         Aro havia se perdido com a permanência da jovem nas proximidades de Volterra. Ficava distraído demais para se importar com seu reino, e isso preocupou Alec no início, mas ele percebeu que a falta de Eve na vida dele era mais pungente que a presença. Não sabia se preferia um mestre feliz e sem atenção, ou um mestre cruel e metódico.

         -E... Pena que não fiz a tempo.

-Psique, você não vai! – Rosalie corria atrás da mestiça que se movia de um lado a outro por seu quarto. Tudo que Psique colocava em uma modesta mochila, a vampira tirava. A mestiça parou com as mãos nos quadris e fitou-a seriamente.

      -Será que teremos que fazer esse drama toda vez que vou partir? Deveria escrever uma peça Shakespeariana Rose. Tem um talento nato para o melodrama. – Rosalie se manteve imutável na expressão. Psique suspirou. – Vou repetir pela trigésima quarta e última vez! Não sou mais uma criança Rose.          -Mas... – gaguejou olhando em volta. – Carlisle, faça algo! – pediu ajuda ao chefe do clã parado a porta juntamente com Esme. Apontou para Psique e arregalou os olhos como que mostrando alguma coisa terrivelmente óbvia.          -Não posso fazer nada Rosalie. Já tentei convencer-la, mas ela está totalmente convicta de sua escolha. – havia uma pontada de dor em suas sílabas. Esme apertou o braço de seu marido, sabia como aquilo estava mexendo com seus sentimentos mais profundos. Ele olhou para a filha.          -Carlisle pelo menos me respeita. – voltou a fazer sua mochila. O silêncio se estendeu pelo quarto como um manto negro de luto. Psique terminou sua bolsa e a jogou sobre o ombro mirando um de cada vez. – Prometo que mandarei notícias quando chegar em Paris. – envolveu cada um em um abraço apertado e desceu as escadas.          -Porque essa despedida me pareceu definitiva? – Rosalie choramingou.          Psique desceu as escadas pulando de duas em duas. Alice e Jasper estavam apreensivos nos últimos degraus esperando-a. A menina abraçou os dois longamente, mas não derramou nenhuma lágrima. Emmet parou atrás do casal e abriu os braços musculosos. Ela sorriu e envolveu o pescoço dele enquanto era girada.          Ele desceu-a e a mestiça fitou Edward e Bella. Abraçou os dois da mesma forma feita com Alice e Jasper. Bella engoliu o choro enquanto afagava os longos cabelos dela. Psique ergueu os olhos astutos e sorriu dando uma piscadela significativa.          -Mande notícias imediatas. – Edward exigiu tentando aplacar a dor que havia na esposa. Sabia que não adiantaria nada uma mensagem, toda a família continuaria em tensão.          Psique concordou com a cabeça e foi em direção a porta. Olhou para eles por cima do ombro. – Sabem que amo vocês. – afirmou firme, não havia nenhum vacilo em seu timbre. Várias razões para sua partida afloraram em seus lábios, mas sabia que não havia necessidade de explicações. Nada acalmaria a alma deles. Suspirou dando-lhes as costas.          -Espere. – ela prendeu a respiração ao ouvir aquela voz. Não estava acreditando em seus ouvidos. Psique virou-se devagar, até estar de frente para Renesmee. A ruiva tinha os olhos pacíficos. Deu dois passos em direção a transmorfa e tocou o rosto dela com a ponta dos dedos.          Não ache que gosto de você, realmente espero que fique em Volterra com sua família macabra. Mas também espero que sobreviva. Afastou a mão de sua face e afastou-se silenciosa. Psique riu-se e apertou Renesmee em seus braços antes que essa pudesse escapar.          -Não abusa da sorte. – Nessie empurrou-a fazendo uma careta.          -Não me façam chorar. – Alice prateou segurando cada uma com um braço. – Achei que nunca veria minhas duas filhas adotivas sendo amigas! Isso merece uma comemoração. – olhou pedinte para Psique. A loira abaixou os olhos. – Mas Psique é irremediável. Já entendemos.          -E não somos amigas. É apenas uma trégua por causa da guerra. – Renesmee se explicou sucinta repelindo a ideia se sentar e tomar chá com sua inimiga declarada. – Deixe que ela vá. Sabe que não conseguirão impedir-la. – disse desinteressada.          Psique abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas foi interrompida pelo badalar das três horas do grande relógio no canto da sala. Desceu os olhos para a passagem em sua mão, teria de correr para chegar a tempo. Mordeu o lábio.          -Acho que tenho que ir. – ficou parada um pouco constrangida diante do pesar em seus olhos. – Adeus. – acenou sorrindo fracamente e saindo decidida pela porta. Não olhou para trás um segundo sequer de seu percurso, mas quando chegou no fim vacilou. Lançou um último olhar e desapareceu.          Rosalie se materializou diante da porta fechada, as mãos estavam contraídas em punhos cerrados. Encarava o lugar por onde a jovem tinha saído, como se dessa forma pudesse fazer-la surgir novamente. Nevava lá fora, e os delicados flocos brancos cobriam as pegadas de Psique.          -Eu liguei para Eleazar, eles estão vindo. – Carlisle tocou o ombro de Rosalie.          -De que adianta? Não fará Psique voltar. Ela provavelmente vai morrer nas mãos de algum lobo, ou então de um Volturi descuidado. – sua voz estava carregada de uma mágoa latente. Abraçou o próprio corpo ao ser envolvida pelos músculos de Emmet.          -Podemos ajudar de alguma forma. Iremos para a Irlanda, nos reunir com Siobhan. Ela já mandou notícias para os Denali de que há bastante batalhas entre lobisomens descontrolados por lá. Foram abafadas pelos Volturi, mas eles se reproduzem com rapidez.          -O que? – Renesmee gritou. – Vamos mesmo nos meter nisso?          -Já estamos metidos nisso Ness. Até o pescoço. – Edward murmurou soturno. Bella o olhou com reprovação, o que não passou despercebido a mestiça irada.          -O que está querendo dizer? – replicou.          -Os lobisomens passaram por Forks. Tentaram recrutar os lobos para lutarem ao seu lado, mas eles recusaram. Disseram que não queriam mais problemas. No dia seguinte colocaram fogo na reserva. Collin morreu. – Jacob foi quem respondeu.          -Oh... Meu deus. Porque não me contou Jake? – colocou a palma sobre a boca e andou até Jacob. – Quando isso aconteceu?          -Eles foram atrás de nós. – Jasper arrematou a conversa para si. – Sam ligou para Seth e contou tudo. Ela disse que os lobisomens passaram por nossa mansão e destruíram tudo. Seth ficou louco e desapareceu na floresta. Jacob foi atrás dele. – completou fitando o lobo.          -Ele queria voltar a La Push. Leah se feriu no incêndio. Convenci ele de que não era uma boa hora de voltar, os lobisomens ainda podem estar rondando a área. Ele ficou irritado, mas concordou em esperar um pouco. – virou-se para Nessie. – Sei que não concorda com isso Ness, mas quem fere meus irmãos, fere a mim. Quero me juntar nessa batalha contra esses lobisomens. Sam disse que eles são assustadores.          A mestiça ficou parada olhando um a um como uma menininha perdida.          -O que farão? – perguntou com um fio de voz.          -Conversaremos com os Denali e então poderemos tomar alguma decisão. Por hora, vamos apenas aguardar notícias de Psique. Viajaremos para Irlanda semana que vem. Eles disseram que já há alguns vampiros acolhidos entre eles.          Renesmee engoliu o choro desesperado, olhou para Jacob em busca de seu porto seguro, nele ela sempre teria segurança, mas só encontrou um par de olhos vazios e frios. Todo seu grande corpo moreno tremia compulsivamente.          -Eles mexeram, certamente, com o lobo errado.

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