The Both Sides escrita por auter_delacor


Capítulo 13
Capítulo 13 - O eterno fardo da falha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/185652/chapter/13

Psique ergueu-se da cadeira com as mãos tremendo. Avançou pela porta passando reto por Carlisle antes que alguém dissesse mais alguma coisa. Imaginando mil possibilidades para a razão daquela ligação. Fora restritamente específica com ele para que só ligasse em extrema urgência. Deu o número da residência apenas para ele.

         Passou pelos familiares e prensou avidamente o telefone contra sua orelha. O coração ribombava em seus ouvidos. Psique não estava preparada para o que estava por vir, ela não queria saber. Mordeu o lábio inferior e se obrigou a responder.

         -Alô. – sua voz estava fraca de medo. – Doug?

         -Psique? – o suave sotaque francês de uma menina fez os dedos da mestiça relaxarem gradativamente. Estava a ponto de chorar de aflição, mas então um desentendimento brando tomou seu coração. Deixou a cabeça cair para frente e suspirou. – Aqui é Collet. – sua voz decaiu um oitavo.

         -Ah... – deixou o alívio e o reconhecimento escapar pelos lábios em forma de uma inspiração. – Olá querida. – se recompôs usando um tom calmo e que transmitia confiança, Psique sentia-se novamente nervosa pela razão dela ter aquele número. – Como conseguiu esse telefone? E que telefone esta usando? – os únicos com aparelhos celulares eram ela e Doug.

         -Doug me mandou ligar. – Psique podia ouvir seu coração acelerado do outro lado da linha. Algo estava errado. Porque ele faria aquilo? Ela tomou ar devagar tentando oxigenar seu cérebro e manter o tom tranqüilo. Ter um surto com uma menina de oito anos no telefone não era bom.

         -Por quê? – perguntou depois da demora insistente.

         -Ele estava fazendo a ronda noturna, e fui levar comida para ele... – a voz de Collet tremia tanto quando as mãos de Psique. A mestiça sabia da paixão platônica que a menina cultivava por Doug, o que fazia a francesinha olhar-la enviesado. – Estávamos conversando, tudo estava normal. Então começamos a ouvir gritos. – ela soluçou. – Ele me deu o papel com seu número e mandou que eu fugisse.

         Ela engoliu em seco. Não conseguia mais manter o tom harmônico e nem mesmo a mente serena. Seus dedos criaram rachaduras na superfície branca do telefone. Não... Não pode ser.

         -Eu... – a menina caiu no choro.

         -Calma Collet, vai ficar tudo bem... Onde você esta? – Psique tentava imaginar uma forma de ajudar a criança, mas não tinha ideia de como. Ela era uma menina perdida em uma cidade grande sendo caçada por lobisomens. – É importante que preste atenção nos homens perto de você. Se vir alguém estranho, fuja.

         Suas cordas vocais estavam controladas, mas por dentro ela gritava. Tudo era tão seguro e certo. Como conseguiram descobrir nosso abrigo? Levaram todos embora. Collet sozinha. Meninas sozinhas com seres terríveis. Doug ferido e possivelmente morto.

         -Psique... Tem alguém... – a voz dela ficou baixa ao ponto da híbrida poder ouvir apenas as batidas de seu coração palpitante. – Desculpe... Já irei sair. – Psique sentiu quando a menina abaixou o gancho de sua boca e falava com alguém de fora. Conversas externas. Vozes masculinas fortes de soprano. Um gritinho agudo. Pedidos de ajuda.

         -Collet? Collet! Fale. – Psique gritava na linha.

         -Você deve ser a líder. – uma voz fria e debochada ocupou a cabeça dela. Collet tinha os gritos abafados por uma mão. – Ouvimos as crianças falando de você. Elas gritavam seu nome enquanto eram mortas. Muito inteligente o abrigo, mas não o bastante.

         -Quem é você? – rosnava trincando os dentes. – Eu juro que pagara por tudo que fez seu cão maldito!

         -Em breve nos conheceremos. Mais breve do que imagina. – a linha emudeceu. Psique não conseguia respirar direito. O telefone rachou em sua mão e depois caiu. Ela sentiu-se cair em um abismo, sentiu quando foi aparada por alguém, mas as vozes externas estavam abafadas, como se viessem detrás de um vidro.

         Um turbilhão de vozes e rostos invadiu sua mente. Todos os meses árduos de trabalho para garantir segurança para todos eles, e uma semana necessária para tudo ser reduzido a pó. Ela não era uma boa líder. Falhara com todos que se importava e amava. Culpa dela. A desgraça rondava sua alma. Fadada a falhar.

         As mãos frias de um deles seguraram sua cabeça antes de tombar com força no chão. Ela estava consciente, mas não queria. Doía tanto. Tudo doía. Cores fortes demais que feriam sua visão. Olhos toldados pelo medo, pelas mortes. Imaginando os pequenos corpinhos deformados e recobertos de sangue. Collet sendo levada.

         Imagens de crianças com barrigas inchadas. Protegendo demônios em seus ventres ingênuos e corrompidos. Malditos. Então capas pretas afastaram tudo. Um rosto pálido como a neve, um vampiro de pupilas vermelhas e dilatadas gritando seu nome. Mortes. Membros decepados de lobisomens por toda parte.

         Uma visão. Ela tinha uma visão.

         Psique chorou copiosamente. Afundou seu rosto alvo entre as mãos e deixou que toda a angústia de anos escapasse. Gritou pelo nome da mãe, por Carlisle, por seu amigo. Implorou para que tirassem sua vida. Que a deixassem ter paz.

         Agarrou-se as roupas de Emmet quando ele tentava conter os espasmos raivosos que a faziam quebrar tudo a volta. Gritou e se debateu em desespero. As vozes vieram em uma enxurrada novamente. Ela não tinha mais controle por sua mente. Captava tudo em um raio quilométrico de pura dor.

         Carlisle relutou, mas decidiu que a única forma de aliviar tudo aquilo seria com um sedativo. Colocou Psique em estado de observação, sendo injetados em suas veias diretamente morfina e sangue constantes. Pediu para que Bella usasse de seu escudo para garantir que ela não sofresse em sua inconsciência.

         Mas nem isso foi capaz de afastar-la das terríveis visões.

         Sonhou durante dias com corpos dilacerados e bebês deformados. Sabia que eles precisavam de sua ajuda, que ela tinha que partir o mais rápido possível, mas seu corpo se recusava a ajudar, manteve-a em uma bolha privada de tudo. Apenas dessa forma Psique poderia sobreviver a tão infeliz realidade.

         Porque o mundo era tão ruim com quem não tinha culpa de nada? Psique estava imóvel na maca, e sabia que estava sendo observada, de seus olhos abertos rolavam rios de lágrimas. As mãos apertavam os lençóis e os lábios estavam cerrados.

         Renesmee já havia se curado, e passava horas encarando o corpo frágil de Psique recoberto de fios, quando essa adormecia. Sentiu pela primeira vez em anos pena dela. Verdadeira. Renesmee não era má por dentro, só não sabia administrar seus sentimentos. O sofrimento de Psique podia ser sentido no ar.

         -O que está acontecendo com ela? – perguntou a Carlisle no terceiro dia. Havia um grosso vidro separando eles dela. O médico julgava mais seguro a ambos. O peito da jovem loira subia e descia vagarosamente e os medidores de pressão arterial se mostravam constantes.

         -Psique não tem condições mentais de suportar notícias desse calibre. Só agora percebo como ela é frágil por dentro. Mesmo criando essa armadura exterior de força, não passa de uma menina perdida. – comentou analisando a expressão vazia da neta. Renesmee quase podia compreender.

         -Hum... – balbuciou brevemente.

         Porque me sinto mal por ela? Não quis sempre que ela sofresse? Então porque, logo agora que realizou meu desejo mais sombrio, sinto-me, estranhamente, culpada? Nessie colocou a mão sobre o pescoço ardente vendo Carlisle sair da sala. Psique se mexeu na cama. Ela não se assustou, Psique ficava acordada frequentemente, quer dizer, em um estado de semi consciência. Ficava com os olhos abertos, mas era como se não estivesse.

         Dessa vez foi diferente. Ela acordou com um apetite incontrolável.

         Ela se sentou na cama primeiramente de maneira sonolenta. Olhou em volta com pálpebras pesadas e se espreguiçou como uma gata. Puxou os fios ligados a seu corpo indiferente aos terríveis sons que causaram. Alice correu para ver qual fora o problema, e percebeu Psique diferente. Ameaçadora.

         A mestiça olhou na direção da vampira e franziu o cenho repousando a delicada mão dourada no pescoço.      Tossiu algumas vezes como se sentisse sede pela primeira vez na vida. Pareceu notar a bolsa de sangue perto dela e avançou sem pudor em sua direção. Arrancou o ligamento e bebeu diretamente do buraco. Alice entrou em pânico e Carlisle tentou impedir-la. Psique bebeu até o último gole, adquirindo uma linha vermelha envolta de suas íris. Fitou Carlisle como se o desconhecesse. Quando falou, sua voz não era sua.

         -Quem é você? – falou em francês. Seu timbre se arrastava como veludo contra a pele. Os olhos pesados e sobrenaturais curiosos e ao mesmo tempo insensíveis. O médico sentiu um terrível pesar ao imaginar ter perdido a filha para sempre.

         -Psique... Sou eu. Carlisle. Seu pai. – apontou para si mesmo em gestos lentos e comedidos. A cabeça dela tombou para o lado jogando as longas madeixas loiras com seu mover. Estreitou os olhos cuidadosamente, e então eles se arregalaram em compreensão.

         Levou à mão a boca abafando uma exclamação aterrorizada. Olhou a bolsa de sangue a seus pés e soltou um lamento doloroso. Encolheu seu corpo abraçando o tronco de Carlisle e manchando suas roupas com seus lábios pintados de sangue.

          -O que há de errado comigo papai?

         Carlisle não disse nada, sentia-se temeroso com o que Psique poderia se transformar, e ela notava isso. Em nenhum momento sequer ele tirou os braços de seus ombros. Psique afastou-e elevando os olhos margeados com um embaraço descuidado. Aquilo fez Renesmee se lembrar de sua última vítima.

         -Eu... – gaguejou olhando em volta. – Estou partindo Carlisle.

         -Esteve descordada durante três dias Psique. Deveria descansar e se recuperar antes de prosseguir viagem. – usou o raciocínio lógico.

         -Olhe para mim Carlisle! – ela exclamou em uma súbita onda de fúria. – Veja o que eu fiz, veja meus olhos! Eu não posso mais ficar aqui entre vocês. Não dessa forma. Tomei uma decisão muito importante. Eu já devia ter feito isso há muito tempo.

         -Está pensando de cabeça quente Psique. Não faça nada de que possa se arrepender depois. Eu lhe imploro. – Carlisle uniu as palmas como que rezando. Psique desviou os olhos para a vidraça. Viu Renesmee do outro lado fitando-a profundamente. Não havia maldade em seu olhar.

         -Nada mudara minha opinião Carlisle. – afirmou depois de meros segundos de contato visual com a prima. – Irei atrás de meu passado de forma definitiva. Visitarei os Volturi.

Castelo Volturi

         -Não me importa o maldito cancelamento desse avião Santiago, quero você e Dimitri em Volterra em duas horas, nem que tenham que atravessar o mar mediterrâneo nadando com uma matilha de lobisomens em seus ombros. Estejam aqui imediatamente! – Aro rosnava ao telefone.

         Desligou antes que ele pudesse ter a menção de responder.

         Respirou fundo fechando os olhos e esmagando o celular em seus punhos apertados. Quando os abriu eles haviam perdido o negror profundo, e estavam de volta ao tom leitoso e vermelho. Um sorriso cínico e afetado cruzou sua face impecável ao notar a presença de um servo no centro do salão.

         -Espero que sejam boas notícias o que tem a trazer Isaac... – deixou as palavras flutuarem em volta dos vampiros presentes. Aro estava mais volátil a cada dia. A ânsia da batalha que estava por se aproximar deixava seus nervos borbulhando.

         O vampiro jovem engoliu em seco. Haviam discutido durante toda viagem de Atenas até a Itália sobre quem daria a notícia a Aro. Felix tirara seu nome da lista em função de seu cargo mais privilegiado do que o de os três outros vampiros envolvidos na missão. O único suficientemente jovem a poder ser descartado era logo Isaac.

         O mais óbvio seria lançar aos executores o vampiro que tivesse mais chance de sobrevivência, mas não se tratando de seus companheiros. Ali era cada um por si, eram capazes de pisarem uns nas cabeças dos outros por uma demonstração de lealdade.

         Isso deliciava ao mestre.

         Aro havia se tornado supersticioso com o passar dos meses em constante pressão pré-guerra. Os vampiros que vinham comunicar-lo de algo ruim eram sempre castigados de alguma forma dolorosa e inesquecível. Ele achava que quem tinha uma notícia ruim a trazer causava má sorte.

         Isaac gagueja.

         -Vasculhamos cada espaço em Atenas. Entramos pelos ductos e encontramos um ninho de crianças lobisomens. Eliminamos todos eles, mas na hora de incinerar os corpos os bombeiros gregos foram avisados. Encontraram os corpos e tivemos que simular um acidente para que houvesse tempo para nos livrarmos dos restos.

         O ancião arqueou uma sobrancelha enquanto se recostava no trono e apoiava o queixo com a mão. Seus olhos vasculhavam com cuidado o subalterno receoso a sua frente. Céus... Estou me tornando tão assustador assim? Titubeou suspirando.

         -E... – moveu as mãos para que ele continuasse.

         -Fomos atacados por um bando que chegava para alimentar as crianças. Eles ficaram furiosos e lutaram conosco, estavam em muito maior número. Três para cada um de nós. Mataram Azazel e fugiram. – engoliu em seco esperando o transtorno no rosto do mestre. – Eliminamos dois deles.

         -Vocês estavam em cinco. Cinco vampiros treinados e com mais de setenta anos de existência. Poderosos e experientes em relação a lobisomens, que se deixaram serem atacados por bestas barulhentas e com dois metros de pelos fedorentos. Como só conseguiram matar dois? – sua voz estava acometida de uma calma perigosa.

         -Eu... Eu não sei senhor. – murmurou com os olhos fixos.

         -Pois eu sei, Isaac, o problema que houve com vocês. – Aro tinha as mãos juntas em frente ao rosto, encostando apenas a ponta dos dedos. – Covardia. Posso sentir o cheiro do seu medo. Estou tão terrível hoje? Sei que os anos não foram gentis comigo. – ficou de pé erguendo os braços e esbravejando. Ostentava um tom maquiavélico comum aos que governam.

         -Não, senhor. Eu só... Estou receoso.

         -Receoso... – o patrono anda até o vampiro e começa a contornar-lo como um leão que observa sua presa desprotegida. – Pois bem... Guardas. – gesticulou com as mãos. Dois vampiros surgiram e seguraram os braços de Isaac. – Arranjem um descanso merecido para nosso esplêndido soldado.

         Sorriu gentilmente enquanto Isaac era arrastado em meio a gritos de súplicas.  

         -E providenciem uma agradável noite de jejum para Félix, Andrei e Roman, eles não devem estar famintos depois de lutar contra doze lobisomens irritados. Afinal... Eles estavam em menor número, não é? – debochou dando as costas aos vampiros e se dirigindo ao trono.

         Sentou-se olhando os restos do aparelho celular no chão. Colocou os dedos sobre as têmporas e as massageou energicamente, a cada dia que passava o stress parecia estar fazendo sua cabeça latejar. Vampiros não podiam ter dores de cabeça, mas ele podia jurar que estava tendo uma terrível crise de enxaqueca agora.

         Cogitava ir beber algo quando a entrada de um membro da primeira classe da guarda foi anunciada. Aro pensou seriamente em mandar-lo voltar depois, mas não precisou erguer os olhos para saber que não poderia dispensar seu braço direito.

         -Não me traga más notícias Alec. Executei um vampiro e deixei Félix em abstinência apenas por informações desagradáveis. Meu humor vem se tornado mais latente a cada hora. – advertiu-o erguendo o olhar pesado e sábio para o vampiro com aparência jovem.

         -São novas relativamente boas. – afirmou colocando as mãos atrás das costas. Analisou o rosto marcado de seu senhor e sentiu que um peso tremendo impulsionava os ombros dele para baixo. Nunca virá Aro dessa forma nos últimos dez séculos.

         -Então diga logo. Diciamo. – seu corpo revigorou-se. Sabia que nunca teria decepções vindas de Alec. Ele sempre fora muito eficiente em tudo que fazia. Seus hábitos de perfeccionismo e lealdade só o faziam ser um servo muito melhor e imponente.

         -Temos cinco vampiros prontos para receberem um treinamento mais intenso. Atrevo-me a dizer que esses podem ter chance de sobreviver nas mãos de Dimitri. – um sorrisinho surgiu no canto de seus lábios empalidecidos. O rosto de Aro se iluminou. Bateu palmas.

         -Esperemos que Dimitri esteja logo de volta, então. Estou ansioso para ver nossos novos guardas em ação. – parou ponderando um pouco. – Não são exatamente meus sonhos de consumo, é claro. Vampiros comuns não fazem muito meu estilo de desejos a se considerar, mas dado os acontecimentos... Precisamos de números.

         -Vão nos render problemas mais tarde. Muitos vampiros para alimentar em uma ilha tão pequena quanto Scalo di Gorgona. – Alec comentou desagradado. O fato de estar sendo mandado à ilhota esporadicamente de mês em mês também contribuía com o fato.

         -Não se preocupe meu jovem, eles servem apenas para criarem um paredão. Serão a comissão de frente, e pode ter certeza de que metade já estará eliminada com o ataque dos lobisomens, e a outra metade não durara cinco segundos em campo de batalha. – meneou as mãos como que dizendo que não importava. – O que sobrar daremos um jeito mais tarde.

         Descartáveis. Lixo que pode ser substituído facilmente.

         -Entendo... – Alec aquiesceu. Estavam enfrentando o maior exército de homens lobos da história. Aro se recusava a admitir as baixas probabilidades de vitória que se abatia sobre eles, a estratégia de criar uma armada de frente de grande número já fora usada outras vezes, mas era sua única opção.

         Alec recordou de quando os romenos tentaram atacar-los criando uma tropa de mais de cem vampiros. Tudo uma perda de tempo quando contornada por seu dom. Devia ter sido o maior número de vampiros que ele circundara de uma vez só.

         Aro não queria arriscar tão facilmente suas preciosidades. Expor a guarda de primeira classe era a ideia que ele mais repelia. A intenção era jogar os vampiros jovens sobre os lobos e eliminar o restante com os dons. O único problema era que ele encarregava Alec de vistoriar os treinamentos. E não havia nada que Alec mais odiasse que cuidar de recém-criados.

         -E há mais uma coisa. – acrescentou retomando a atenção de seu mestre. Aro arqueou as sobrancelhas pedindo procedimento. – Encontramos mais um daqueles transmorfos rondando Pomarance. Ele estava ferido e disse que seu clã foi atacado por lobisomens. Levaram as fêmeas e mataram os homens.

         -Hum... Agora eles se organizam em clãs? – comentou sarcástico.

         -Ele suplica por uma reunião.

         Aro aperta o ligamento entre suas sobrancelhas.

         -Mandem-no entrar. Dês de que seja breve, estou com uma sede que me mata. – Alec meneou a cabeça para o mestre e se voltou para as portas. Abriu-as com um empurrão e delas surgiu um homem desgrenhado e recoberto de feridas já curadas.

         O vampiro centenário olhou interessado para o rapaz que entrou no suntuoso salão de forma orgulhosa e presunçosa. Seus passos eram firmes, mas mostravam uma lesão na perna direita. Alec vinha alguns passos atrás dele com o olhar cuidadoso.

         -Requisitou uma reunião. Cá estamos nós. – Aro sorriu docemente.

         O morfo esquadrinhou cuidadosamente as feições do vampiro em busca de alguma relação com a mestiça. Ela devia ter puxado a mãe, pois nada naquele homem poderia ser ligado a ela. Nada além dos gestos fluídos e elegantes. Talvez algum nuance intenso nos olhos, que mesmo leitosos mostravam uma vida exultante.

         O porte nobre talvez?

         -Fale meu rapaz! – ele insistiu. – Diga teu nome.

         -Doug. – respondeu roucamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Both Sides" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.