Minha vida estava uma bagunça. Pra variar, nada do meu pai. E meu aniversário estava chegando...

Na faculdade, era só eu olhar pro lado que eu encontrava meu outro eu. Mais conhecido como Pedro. Ele estava sempre por perto, como se quisesse me proteger. Quando Drake começava com suas gracinhas de conversar comigo e não dava o fora, Pedro me ajudava.

Eu não entendia muito aquilo mas achava carinhoso.  Eu tentava retribuir de alguma forma, ajudando ele com os estudos, tarefas, redações... Até dinheiro eu tentava.

Certa noite, eu estava exausta em frente ao meu notebook. Professor tinha passado uma tarefa difícil e eu precisava termina-la logo. Sempre fui daquelas que faz o dever no dia que o professor passa, nunca fui de fazer na véspera, nunca me entendi por isso. Achava engraçado assistir minhas amigas desesperadas para pegar os trabalhos no colégio. Voltando... Lá estava eu, morrendo de dor de cabeça e dor de cabeça (Pedro havia me chamado para fazer academia com ele, e aquele tinha sido o primeiro dia. Dá pra imaginar já a situação...). Eu já estava descabelada (mesmo com o cabelo preso) e suando (com o ventilador ligado e estava ventando).

Resolvi sentar na janela. De vista para uma pracinha, sentei ali mesmo, junto de meus fones. Senti um vento gelado bater no meu rosto. Finalmente pude relaxar um pouco...

Um pouco.

Bem pouco.

Porque em seguida, quando olhei pro lado, vi que não estava sozinha. Havia uma pessoa ali. Não uma pessoa. Não exatamente uma pessoa. Fiquei assustada a princípio. Ele olhou pra mim e sorriu. Olhando pelas suas feições pude lembrar perfeitamente quem era ele...

Flashback on

Eu tinha nove anos. Tinha várias amigas. Todas elas iam pra minha casa depois da escola brincar de boneca. Todos os dias!

Até que um belo dia, Amanda, a mais “metida” de todas, resolveu que não queria mais me chamar pra brincar. E que nenhuma das minhas amiguinhas fossem para a minha casa. Motivo? Meus pais davam um duro pra ter meus brinquedos, por isso, os que eu tinha, já era velhos, usados, ou que eu tinha ganhado de alguma doação.

Besteira de criança, mas na época doeu. Depois desse episódio, não sei como, inventei o Davi. Realmente não lembro como. Mas nos divertíamos muito.

Com o tempo, ele sumiu. Eu devia ter quatorze anos quando fiz novos amigos e ele desapareceu. Eu não lembrava mais dele, por isso demorei um pouco para reconhece-lo.

Flashback off

-Davi? –perguntei.

Ele fez que sim com a cabeça, fechou um pouco os olhos e sorriu. Não sei porque, me senti bem. Ele estava mais velho, com cara de homem mesmo. Isso era possível?

-Você... Eu não acredito! –me embolei na fala. –Como está diferente. –sorri sentindo meus olhos se encherem d’água.

-Você também, oras. –ele riu um pouco.

-Mas... –coloquei a mão na boca e comecei a rir. –O que está fazendo aqui?

-Não gosta da minha presença? –ele ficou um pouco sério.

-Não disse isso, Davi! Quero saber mesmo o que te fez voltar.

-Eu nunca fui embora.

-Nunca? Nunca mesmo?

-Nunca... Sempre estive ao seu lado. Não precisa me contar nada porque eu já sei de tudo.

Ele sempre esteve do meu lado. A única pessoa que ficou do meu lado era ele.

Olhei pra ele e quando encontrei seus olhos claros, comecei a chorar. Eu sabia que podia confiar nele, o único que eu podia. Estava tudo entalado na garganta e só faltava um empurrão pra sair. E foi ele. No momento, ele entendeu tudo. Eu estava cansada. Precisava tanto do meu pai, as coisas não estavam boas lá em casa em relação ao dinheiro, minhas amigas sempre estavam comigo mas eu sentia falta do Rio, da minha casa, ou apartamento, minha antiga faculdade, meus professores... Marcelo, Daniel, Victória... e André claro!

-Pode chorar, pequena. Eu sei que você precisa. –ele disse se aproximando.

Ele me abraçou e ouvi minha mãe gritar:

-Com quem você está conversando, Nathália?

-Estou no telefone, mãe! –menti.

Davi mandou eu ir dormir, mesmo não tendo terminado o trabalho. Obedeci e desliguei o computador, escovei os dentes e quando fui me deitar, lá estava ele.

-Boa noite. –ele disse.

-Promete que não vai me abandonar?

-Nunca farei isso.