Deserto de Nevada – 21 de junho de 1989.

– Para aqui... – Donna indicou uma lanchonete a beira da estrada.

– Não acha arriscado? – perguntei diminuindo a velocidade.

– Estamos fugindo há dois dias. E caso não se lembre, estamos no meio do nada. Eles não vão nos encontrar aqui.

– Tudo bem, então... – resmunguei estacionando o fusca na frente do estabelecimento.

Saímos do carro, com nossos disfarces. Perucas pretas e um chapéu de cowboy para cada uma. Olhei desconfiada ao redor, e pude concluir alegremente que aquela lanchonete era o ultimo lugar que a policia poderia vir a chegar.

O lugar era freqüentado basicamente por motoqueiros, caminhoneiros e vagabundos.

– Aconchegante o lugar, não? – comentei observando as paredes de madeira e a clientela.

– Muito. – Donna concordou puxando uma cadeira e se sentando.

A imitei.

– Aquele cara não para de nos olhar... – sussurrei indicando um dos motoqueiros com a cabeça.

Donna o mediu dos pés a cabeça e soltou um ruído esquisito com a boca.

– Não faz mal. Ele não parece o tipo disfarçado.

– Acho que estou ficando paranóica...

– Também acho... – ela riu.

Uma garçonete se aproximou de nós.

– Vão pedir alguma coisa? – ela perguntou com um quê de tédio na voz.

– Vamos... – Donna se manifestou – Eu vou querer um café e ovos mexidos.

– Eu vou querer a torta de maçã.

– Certo. Trago num instante...

O mesmo motoqueiro que nos olhava anteriormente, estudou atentamente a bunda empinada da garçonete assim que ela passou para a cozinha.

– Donna, precisamos parar com isso! – falei algo que vinha pensando nos últimos dois dias.

Donna apenas franziu o cenho, confusa.

– Parar com o que, exatamente?

– Parar de roubar bancos! Quase fomos presas e fugimos dois dias seguidos da policia em um fusca amarelo!

– Mas é um bom negócio.

– Esse é o problema. É um ótimo negócio, mas definitivamente está me enlouquecendo!

Ela bufou.

– E o que você sugere que a gente faça?

– Podíamos começar a trabalhar? Que tal como garçonetes?

Donna riu como se eu tivesse acabado de contar a piada do ano.

– Para ficar aturando tarados olhando minha bunda? Não, obrigada. Prefiro continuar assaltando bancos e...

– O pedido das senhoritas... – a moça havia voltado com as nossas bandejas – Bom apetite.

– Obrigada. – agradeci pegando minha torta e enfiando um enorme pedaço na boca.

– Vão querer acertar agora? – ela quis saber.

– Não, valeu.

Ela saiu pisando duro.

– Então não precisa ser exatamente isso... – me irritei – Pensamos em algo.

– Lottie, nós somos procuradas por toda a América! Nunca nos daram emprego!

Suspirei.

– Sempre temos que pender para o lado ilegal...

– É o jeito, Lottie.

Mordi mais um pedaço da minha torta e fiquei observando o entra e sai de clientes. Mas foi um senhor, de meia – idade, carregando um radio portátil que me chamou a atenção.

– Nancy! – ele gritou animado pondo o rádio no balcão.

Uma mulher, enfiada num vestido muito apertado para seu peso surgiu da cozinha.

– Larry Herzel! Finalmente a sociedade chegou!

– Não sou tanto, querida... – ele pareceu modesto – E então, vamos ouvir as noticias?

O pessoal do bar vibrou. Donna desprendeu a atenção de seus ovos e olhou atentamente para a cena.

O homem ligou o aparelho.

Rádio YMZA tem o orgulho de transmitir ao vivo, uma emocionante entrevista com o vocalista da banda Poison! Senhor Bret Michaels!

Larry aumentou ainda mais o som.

YMZA: Bret, como é a vida de um astro do rock?

Bret: É legal, cara. Viajamos muito, bebemos muito (risos) e acima de tudo, transamos muito!

YMZA: Posso imaginar. E como é o relacionamento com as fãs?

Bret: A maioria é pegavel, sabe? Mas algumas, mesmo sendo gostosas pra c******, são muito loucas!

YMZA: Loucas?

Bret: Sim, elas levam ao extremo. Acho que vocês chamam esse tipo de garota de groupie e...

Eu parei. Era isso!

– Lottie, você está bem? – Donna pareceu preocupada – Por um momento você pareceu catatônica...

– Donna... Eu tive uma idéia brilhante!

– Olha Loretta, que você uma ‘idéia brilhante’ fomos parar no meio do Iowa sem dinheiro e sem armas!

– Dessa vez é diferente, Donna... É simplesmente brilhante. Ouça, sabe essas tais groupies?

– Sim, aquelas lunáticas que dedicam a vida para perseguir astros do rock e transar com eles...

– Isso mesmo. Já pensou se nós fossemos groupies?

– Tinha o quê nessa sua torta? Maconha? – Donna se impacientou.

– Não groupies de verdade. Podíamos nos fingir de groupies para roubarmos os tarados! – segreguei.

Donna mordeu o lábio.

– Nos infiltrar nos camarins e roubar tudo? – ela arqueou a sobrancelha.

– É. Isso aí. Que acha?

– Eu acho que devíamos ir para Los Angeles agora!