Corri para o meu chalé e afundei o rosto no travesseiro. Percy rapidamente veio até mim e se sentou do meu lado, acariciando minhas costas.

- O que foi, Han?

- Nico quis dar um tempo. - Respondi, chorando.

- Ah, isso é péssimo. - Ele disse. - Mas vocês vão voltar, eu tenho certeza.

- Não sei. Ele não parecia querer voltar. - Eu disse. - Com licença.

Levantei-me e peguei a camiseta dele que estava no meu armário. Tirei a camiseta que eu estava vestindo e puis a dele, que ficava enorme em mim. Senti o cheiro dele e isso me fez chorar ainda mais. Ninguém nunca me dera um fora antes. Me olhei no espelho. Arrumei os cabelos, sequei os olhos, inflei o peito e disse:

- Eu sou Hanna Manson, e sou... Ah, quem eu estou querendo enganar? Eu não sou fabulosa! Se eu fosse, Nico não teria terminado comigo! 

Escutei alguém batendo na porta do chalé.

- Eu atendo. - Disse Percy, indo até a porta.

- A Hanna tá aí? - Perguntou uma voz masculina. Não reconheci, mas não estava a fim de falar com ninguém nesse momento. 

- Hã... - Percy olhou para mim, mas eu fiz que não com a cabeça.

- Não! Não! - Sussurrei.

- Está sim. Pode entrar, Matheus. - Disse Percy. Ótimo, adoro quando ele me escuta.

- Hã... Oi, Hanna. - Ele disse.

- Oi. Queria falar comigo? - Perguntei, secando os olhos.

- Sim, eu ia perguntar se você não queria pentear os cavalos comigo, mas... você não parece muito bem. - Ele disse.

- É, eu acho que não posso... - Eu disse, mas fui interrompida por Percy.

- Claro que ela vai! Ela te encontra lá em dez minutos, tá? Tchauzinho! - Ele disse, empurrando Matheus para fora do chalé.

- Percy! Eu não estou em condições de...

- Ei, relaxa! Vai ser uma ótima distração pra você. Ele é um cara legal. - Disse Percy.

- É claro que é, mas ele gosta de mim! - Eu disse.

- Ops. Eu não sabia. - Ele disse. Revirei os olhos.

- Percebi. Vou indo, não posso deixar ele esperando agora que você iludiu o garoto.

- Foi mal. - Ele disse, e eu saí do chalé. Dei de cara com Nico.

- Oi. - Murmurou ele. Percebi que ele olhava para a camiseta dele que eu estava vestindo.

- Oi. - Respondi. Ficamos em silêncio por bastante tempo, apenas nos encarando. Não havia ódio dessa vez. Havia tristeza. Acho que ambos sabíamos que estava acabado.

- Você prometeu. - Eu disse, quebrando o silêncio.

- Hã? - Ele disse.

- Você prometeu que nunca me abandonaria. No meu primeiro ano aqui no Acampamento Meio-Sangue, quando eu me machuquei na Caça à Bandeira... Você prometeu. E eu acreditei, e nunca esqueci.

- Olha, Hanna... eu... eu sinto muito, não devia ter...

- Não precisa se explicar. Eu já entendi. Acabou. - Eu disse, olhando para baixo para esconder meus olhos inundados de lágrimas.

- Não, é que... Eu sinto sua falta. Achei que era melhor darmos um tempo, mas... Sei lá.

Não respondi. Fiquei apenas encarando meus pés.

- Fala alguma coisa. Seu silêncio tá me deixando doido. - Ele disse, afinal.

- Eu... tenho que ir. - Eu disse, e saí andando. Ele segurou meu braço e eu me virei para ele. Nico se aproximou de mim. Nossos rostos ficaram a centímetros de distância. Ele olhava ora para meus olhos, ora para meus lábios. Ele me beijou e eu correspondi, mas depois o afastei. Olhei para ele. Seus lábios estavam avermelhados por causa do beijo e havia um brilho especial em seus olhos negros: desejo. 

- Desculpa. Meu coração não é brinquedo. - Eu disse, e saí andando sem olhar para trás. Doeu demais fazer aquilo, mas não tive escolha.

Fui para os estábulos, e encontrei Matheus acariciando a crina de um pégaso.

- Ele é lindo. - Eu disse, me aproximando do pégaso e fazendo carinho em seu nariz.

- Não mais que você. - Disse Matheus, pegando minha mão.

- Obrigada. Você é um doce, mas... Acho que está entendendo errado a situação.

- Como assim?

- Ah, você é adorável e fofo, mas... Eu gosto de outra pessoa. - Eu disse.

- O Nico, não é? - Ele disse.

- É, mas... Eu não sei. Ele terminou comigo. E agora parecia querer voltar. - Esclareci.

- Nossa. Você não devia ficar com um cara que não sabe o que quer. - Ele disse.

- Eu sei, mas... Tem alguma coisa nele que me atrai. Eu não consigo parar de pensar nele. Em seus olhos tão negros quanto seus cabelos, sua pele branca, seus lábios doces e avermelhados, seu corpo perfeito, a risada dele, seu sorriso, o jeito como ele segura minha cintura e me puxa para perto dele para um beijo apaixonado! - Eu disse, e não pude evitar de sorrir.

- Nossa, obrigado. Não sabia que você achava tudo isso de mim. - Disse alguém atrás de mim. Me virei e vi Nico, sorrindo.

- N-Nico. - Eu disse, derretida por seu sorriso.

- Eu vim até aqui porque... Bom, eu precisava te dizer uma coisa. - Ele disse, andando na minha direção lentamente. - Eu queria dizer que... seu sorriso faz eu me sentir nas nuvens. Seu beijo me enlouquece. Seus olhos me atraem. Cada toque seu é uma corrente elétrica que percorre meu corpo todo. Queria dizer também que me sinto o cara mais sortudo do mundo quando estou com você, quando passo meus braços por sua cintura, e quando te beijo... Assim.

Ao dizer isso, ele se aproximou de mim, passou os braços por minha cintura e me beijou, como dissera. Puis uma mão em seus cabelos e uma em sua nuca, o puxando para perto com tal força que me surpreendi de nossos corpos não se fundirem em apenas um. Foi o beijo mais doce e apaixonado da minha vida. Um beijo que, ao mesmo tempo, unia duas pessoas, dois corações e duas vidas. Para sempre.

- Nico... - Sussurrei, recuperando o fôlego. - Eu te amo.

- Eu também te amo, Hanna. Muito. E eu prometi que nunca te abandonaria, lembra?

- É, eu lembro sim. - Eu disse.

- Pois é. Eu cumpro minhas promessas. - Ele disse, e me deu um selinho. Ficamos ali parados, com as testas encostadas, sorrindo e olhando nos olhos um do outro.

A essa altura, Matheus já tinha partido. Fiquei com pena dele, mas fui tirada de meus pensamentos por Quíron, que chegou apressado nos estábulos.

- Nico, Hanna! Depressa, para a Casa Grande! Temos notícias!