-        Eva? – chamou alguém batendo na porta.

Afastamo-nos rapidamente, cada um em um canto do quarto branco, Deus! Como isso tinha acontecido? Tocando meus lábios escutei a porta se abrir tirando-me do devaneio, respirei fundo vendo Nina entrar com uma caixinha nas mãos, sorrindo. Abracei-a sentindo aquele aperto no peito, tentando me recompor sorri novamente.

-        Oi Nina. – disse tentando soar normal.

-        Vim te trazer uma coisa. – sussurrou me entregando a caixa – Sei que tem um carinho especial por isso, e como vai ficar realmente longe queria que ficasse com essa lembrança.

Abri a caixinha sorrindo ao ver uma foto bastante conhecida, toda minha família e a família de John, os pais e Nina juntos com meu pai e minha mãe, era meu aniversario e estavam todos reunidos, foi o primeiro ano em que viajamos juntos, o ultimo ano que ficamos juntos. No fundo da caixa estava um DVD com as palavras escritas, Para o amor da minha vida, Feliz 18 Anos! Te amo! John. O vídeo que tinha passado no telão, a declaração que ele havia feito para mim no dia, um dia maravilhoso.

-        Obrigada. – sorri limpando as lagrimas – Vou sentir saudades de vocês, mas prometo que estarão seguros.

-        Sei disso, sua avó deixou ordens expressas para cuidarem de nós, nada vai acontecer não se preocupe Eva. – riu me abraçando.

-        Ei diga para a senhora Dana que a amo.

-        Ela sabe disso, considera a ti como uma filha. – Nina acariciou meus cabelos – Papai mandou lembranças, disse que agora que é princesa vai esquecer os plebeus.

-        Nunca que iria esquecer os Poderosos Padeleks. – brinquei sorrindo – Obrigada por tudo.

-        Não vai esquecer-se de mim, ein? – disse finalmente.

-        Nunca.

Nos abraçamos carinhosamente, Nina sempre seria minha cunhada querida, a irmã de John. Depois de nos acompanhar até a saída do hospital ela se despediu dirigindo de volta pra casa, observei o carro sumir na curva afastando a saudade que atingiu meu peito, seguida de dois seguranças a mais junto com Dorian entrei no carro encostando o rosto no vidro.

As lembranças ficavam para trás conforme o carro seguia para o aeroporto, a segunda vez que deixava Los Angeles, dessa vez para sempre como mamãe esperava. Estava ciente que Dorian me observava, mas a saudade me deixava desnorteada, as lagrimas começaram a cair quando passamos pelo parque onde conheci John, naquela tarde ensolarada, uma bola de brinquedo, esse pequeno objeto nos uniu.  

-        Está bem princesa? – perguntou Dorian preocupado.

-        Estou. – disse sorrindo.

-        Tem certeza? – questionou se aproximando.

-        Tenho, estou bem. – sussurrei limpando as lagrimas.

-        Certo. – voltou ao seu lugar tomando a postura formal novamente.

Conforme o carro seguia a calma voltava a mim mesmo sentindo o coração apertado, olhei a foto em minhas mãos, essa era a família perfeita, minha vida perfeita, agora tudo que pensei ser a vida perfeita havia desmoronado, acabado quando meu pai se foi, depois com John, todos os quem amava estavam me abandonando, se esvaindo a vida que tanto sonhei.

-        Chegamos. – sussurrou Dorian assustando-me novamente.

-        Certo. – disse cuidadosamente.

A viagem não tinha volta, nunca mais teria.

Quando embarcamos todos aqueles que amavam, Dark e Clara e suas famílias confortáveis em seus assentos, mamãe e vovó conversando, enquanto eu fiquei escondida em um canto afastado olhando o laptop ligado, o DVD de John parado, esperando o play para começar. Respirei fundo duas vezes, olhei ao redor, tinha a impressão de ser observada, Dark conversava com seu pai enquanto a mãe brincava com sua irmãzinha, a pequena Dynna. Minha amiga mexia em sua bolsa e seus pais de mãos dadas não estavam cientes de minha observação, ninguém ciente da minha existência, mas estava enganada, aquele mesmo olhar me investigava atentamente.

Dorian estava sentado com mais alguns seguranças, Tânia o acariciava carinhosamente enquanto este apenas me olhava do outro lado do avião, o azul que poderia ver minha alma. Tentando afastar a lembrança de seus lábios nos meus, voltei minha atenção para o computador, na tela aparecia à imagem de John sorrindo para mim. Seu rosto de anjo, com bochechas coradas e o mesmo olhar apaixonado refletido no azul de seus olhos, seus cabelos lisos e desgrenhados, sempre os mesmo desde os quatro anos de idade, apertando o play o filme começou a rolar.

Oi meu amor! – disse ele na tela – Olha faz tanto tempo que nos conhecemos que parece até chato tentar te surpreender, afinal você sempre sabe o que vou fazer antes de acontecer, uma injustiça gata! – riu mexendo no cabelo – Bom já faz o que? Cinco anos? É. Cinco anos que estamos juntos, e tenho certeza que você não esqueceu como nunca vou esquecer aquele dia que beijei a ti pela primeira vez, lembra-me de agradecer a Dark e Clara, aqueles loucos. Muito obrigado!

Comecei a chorar quando algumas fotos do nosso namoro apareceu na tela, todas muito marcantes para nós dois não esquecermos, mas John continuou.

Lembra a primeira vez que ficamos de verdade? Obvio que lembra, foi você mesma que disse quando namoramos “nunca vou esquecer meu primeiro beijo”. Fofo! – imitou minha voz – Mas voltando ao assunto, vou falar serio, sogrão eu amo a sua filha e tenho certeza que vai ter que me aturar muito tempo, que pretendo casar com essa garota ai! Vou te dar muitos netinhos!

Quando essa parte apareceu John levou um tapa na cabeça de meu pai, vestido formalmente de smoking costurado com tecido fino, ele parecia um príncipe parado ao meu lado, enquanto eu ria como boba pela declaração de amor.

Evangeline minha amada Eva. – disse tomando o tom formal enquanto seus olhos brilhavam – Você mudou minha vida, eu o jogador de futebol com músculos e que todos pensam que não tem celebro, o mesmo garotinho que te viu brincar naquela tarde de julho, não sabia que ao entregar aquela bola estaria entregando a ti meu coração junto, sempre fomos amigos um sentimento que nos enganou todos esses anos, pois na verdade não era amizade e sim amor, sempre foi amor. Estou muito romântico hoje! Mas é um dia especial para ti, não é sempre que fazemos dezoito anos, uma única vez e quero que seja especial, como sempre que estou com você é especial.

Toquei a tela tentando em vão alcançar seu rosto, sua falta queimava meu peito, e esse sentimento nunca iria embora, tinha certeza que não. Podia sentir o mesmo amor que senti ao vê-lo pela primeira vez, não foi só ele que entregou o coração com aquela bola, eu também tinha entregado o meu quando toquei sua mão.

Amor. Sinto que a cada dia te amo mais, e somos adultos não adianta tentar fugir, isso é o verdadeiro amor, não a paixonite que todos os caras do futebol falam, é real e quem não sentiu ainda tem inveja do nosso que é verdadeiro. Sou o que sou hoje por você, a garota que ama cantar e rir, aquela que ficou do meu lado sempre que precisei... Não escrevi uma musica, mas você sabe que nosso amor é a melodia da vida. – suspirou corajoso – Hoje, agora, declaro a ti todo meu amor e paixão, o que nunca vou sentir por mais ninguém, minha vida sempre será você, a Eva que me ama e sei que vai amar. Amo a você Eva, feliz aniversario meu grande e eterno amor.

O vídeo deixava a foto de nós dois como final feliz, o fim do vídeo marcava as tulipas trazidas por ele na festa, um Eu Te Amo! Cheio de amor e o beijo apaixonado que marcou a nós como o começo da festa, meu presente especial, ele.

Senti uma mão tocando meu braço, sabia quem era antes mesmo de olhar para Dorian, ele estava ali do meu lado, não tinha reparado que meu choro havia virado soluços melancólicos, vovó e mamãe já estavam de pé caminhando para meu acento com olhares preocupados e cuidadosos. Procurei minhas pílulas de ferro dentro da bolsa ao meu lado, mas não achei. Estendendo o comprimido com um copo d’água, Dorian se sentou ao meu lado, pegando minha mão tremula.

-        Tente respirar fundo, vai melhorar. – sussurrou preocupado – Coloque a cabeça para cima.

-        Eva, o que houve? – perguntou minha mãe.

-        O que estava assistindo? – questionou a rainha.

-        Na... Nada. – solucei apertando a mão de Dorian – Estou... Bem, só preciso... Descansar.

-        Ela está só um pouco nervosa. – encobriu ele acariciando meus dedos – Precisa dormir um pouco.

-        Isso. – sussurrei tentando fechar os olhos.

Tonta e cansada fisicamente e psicologicamente encostei minha cabeça no ombro de Dorian sentindo minha cabeça girar e tudo escurecer...