Dizem que quando se vai morrer toda sua vida passa diante de seus olhos em seus últimos segundos de vida, mentira. Eu vi todos os rostos das pessoas que amo, meu pai, mamãe, vovó, Clara, Dark, Dorian e por fim o ultimo rosto que vi antes de me render a escuridão foi o de John, meu amado John.

Os momentos felizes que vivi nesses curtos dezenove anos nunca apareceram para mim, não precisava relembrar o que nunca sairia da minha mente, só desejava encontrar aqueles que amo novamente, tiver a chance de ver minha mãe e minha avó, poder sorrir e beijar ao meu pai, dizer a ele que amo, e ver pela ultima vez, meu John, o amor da minha vida. Só pedia isso, apenas isso.

Mas não era minha hora de morrer...

Um som muito distante me fez voltar, um bip irritante que zumbia em minha cabeça latejante, as dores eram como agulhas pinicando minha pele, perfurando minha carne, fazendo com que a queimação destruísse minhas barreiras e minha razão.

Depois do que pareceu uma eternidade a dor começou a passar, anestésico pensei. Voltei novamente à razão, lúcida e dolorida abri meus olhos vendo a claridade me cegar por alguns instantes, as lembranças me atordoavam, e mesmo com a anestesia podia sentir a dor da bala ainda em minhas entranhas.

– Oi. – disse alguém perto da cama, minha mãe.

– Estou com dor. – sussurrei tocando minha barriga.

– Deve estar passando o efeito do anestésico. – disse uma voz masculina ao meu lado.

– Dorian? – sorri ao vê-lo, mas a preocupação me atingiu – Como vim parar aqui? E... Clara?

– Ela está bem. – disse mamãe pegando minha mão – Dorian chegou depois de você ser baleada, a policia já estava a caminho, ele a trouxe para o hospital.

– E... Os assaltantes? – perguntei relutante.

– Um deles está morto, o outro está em cirurgia. – Dorian disse frio.

– Você está bem agora querida, descanse vamos voltar para a Inglaterra em breve. – sorriu dona Cláudia.

– Como fica Clara e Dark? – questionei quando uma enfermeira entrou no quarto.

– As famílias deles vão conosco para casa, sua avó achou melhor proteger seus amigos e deixá-los juntos a nós, na corte é mais seguro. – sorriu quando a mulher me sedou novamente – Vai ter seus gêmeos juntos, agora durma.

– Bons sonhos minha princesa. – sussurrou Dorian muito ao longe...

Passei mais dois dias no hospital por precaução do ferimento abrir novamente, a dor demorou a passar, mas com tanto remédio melhorei como os médicos pensavam, minha mãe nunca saiu do meu lado nesse curto tempo, a preocupação de perder uma filha a deixava nervosa e eufórica com qualquer movimento que pessoas próximas faziam, não somente ela estava receosa pela minha vida, mesmo não querendo reconhecer Dorian estava presente toda vez que acordava seu olhar cuidadoso sempre que estava presente quando sentia alguma dor ou apenas ficava quieta por muito tempo, o silencio me fazia bem, era tudo calmo, simples e sem preocupação. Com seu livro de faroeste ele me observava o tempo inteiro, algo que começou a me deixar desconfortável, não havia rolado nada entre nós nesses dias que ficamos sozinhos em casa, só que o clima estava cada vez mais difícil, não querendo admitir senti desejo por ele quando o vi saindo do banho, a toalha enrolada em sua cintura o corpo pingando com gotas de água fria, que corpo! Estava ficando louca por desejar a ele, logo a ele! Depois de tudo que aconteceu ainda era difícil tentar esquecer ele, e não sei se conseguiria.

Quando estava pra sair do hospital arrumei minhas coisas, desejando voltar para pegar algumas lembranças de John no meu quarto, mas mamãe não deixaria voltar para lá antes de tudo esteja seguro, ou seja, não agora.

Fiquei olhando minha blusa com alguns cacos de vidro da janela atingida pela bala, e bem pequeno em um canto baixo o furo onde a bala travessou minha pele, aquele tiro era para tirar minha vida, trazer a morte para me pegar, me matar.

– Está pronta? – perguntou alguém me fazendo pular de susto.

– Que susto cara! – sussurrei fechando a mala – O que venho fazer aqui?

– Sua mãe mandou buscá-la. – ofereceu Dorian pegando minha mala – Ela esta a caminho do avião, mas precisava resolver uma coisa antes.

– O que seria?

– Assuntos particulares da Madame Claudia. – sorriu olhando dentro dos meus olhos – Estou feliz que esteja bem.

– Também estou. – confessei suspirando – Pensei que ia morrer naquela hora.

– Nunca deixaria você morrer. – sussurrou.

Devagar, com cuidado, aqueles longos dedos dele traçaram a beira das minhas bochechas, se movendo para cima do meu rosto. O primeiro toque da pele dele na minha, me deixou arrepiada. Segurando um pouco do meu cabelo com um dedo, seus olhos vagaram pelo meu rosto descendo para meus lábios. Meu coração batia descompassado quando seus lábios se uniram aos meus, tão gentilmente, carinhosamente, cheio de amor? Oh Deus!