A Peça Que Faltava escrita por emeci


Capítulo 3
Capítulo 2 - O Passado


Notas iniciais do capítulo

Gente!!!! Minhas fofas, obrigada do fundo do coração pelos reviews sério! Muito muito obrigada! Bem então, para não ficar aqui falando para a parede, sem mais demoras, o capítulo dois. Esse vai ser só narrado pelo Justin. Espero que gostem.
PS: Desculpem o tamanho.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/184964/chapter/3

– Justin –

O barulho das rodinhas das malas no chão do aeroporto fazia um barulho bastante irritante.
Bufei.
Minha mãe, Pattie, e eu seguíamos pelo corredor do aeroporto de Atlanta. Estávamos já perto da porta de saída onde meu jacto privado me esperava. Os meus amigos também estavam perto do mini avião.
Mamãe vestia uma camisa cinza com folhos e umas calças jeans. Estava com umas sapatilhas rasteiras cinzas também. As luzes florescentes faziam seus olhos se tornarem ainda mais verdes do que aquilo que eram, deixando-a com um ar deslumbrante. O cabelo castanho ia preso num rabo-de-cavalo. Ela deveria ter acabado de sair de casa.
O chão cinzento, que combinava com a camisa dela, por baixo dos nossos pés fazia com que os passos ritmados fizessem eco por todo o local.
Eu nem queria imaginar a barulheira que aquilo era nos dias normais, na hora do embarque.

–-Mãe, ainda falta muito? – perguntei olhando para ela.

–-Não querido. Só mais um pouquinho. – respondeu com um sorriso.

Apesar de ter dormido durante duas horas, meus pés doíam e continuava cansado. Ainda por cima, ter que carregar com duas malas do tamanho do mundo por um corredor gigante cansa.
‘Tá me chamando de fresco é?! Queria ver você…
Continuamos a andar até que vi uma grande porta de vidro mesmo à minha frente.
Mamãe abriu-a e eu saí do edifício. No exterior estava um pôr do sol com nuvens. Só via aviões por todo o lado, e sim, eles eram enormes.

–-E agora, mãe?

Ela continuou andando e eu segui-a. As malas pareciam cada vez mais pesadas e a caminhada nunca mais terminava.
Ainda demora muito?
Dou um passo.
Ainda demora muito?
Dou outro passo.
Ainda demora muito?
Subitamente, apareceram seis pessoas no meu campo de visão. Duas delas eram adultos e estavam a conversar de braços cruzados esperando por alguém. Os outros pareciam adolescentes. Havia uma garota, ou se não era menina, era um rapaz com cabelo bem comprido castanho. Estes conversavam e gargalhavam alto.
Nós continuávamos andando.
Entretanto eu continuava perguntando qual dos duzentos aviões que ali estavam seria o “meu”.
Um dos adultos disse qualquer coisa aos adolescentes que se viraram na minha direção. Ergui o sobrolho e olhei para minha mãe.
Só então é que se fez luz na minha cabeça.
Aqueles adolescentes eram o Chaz, Cristian, Ryan e Caitlin. Os meus amigos.
Mal me apercebi disso, larguei a mala e comecei a correr na direcção deles.
O cansaço de há cincos minutos atrás tinha desaparecido.

–-Dude! – Ouvi Cristian gritar e acenar com a mão.

Continuei correndo e quando lá cheguei, abracei Caitlin, que praticamente se atirou para meus braços. Ela trazia uma calças jeans e uma t-shirt verde que condizia com seus olhos. Sempre a achei parecida com minha mãe. Quer fisicamente, quer a nível psicológico. As duas são lindas, mulheres da minha vida e calmas. De certa forma, Caity é como um irmã para mim. Me compreende, me ajuda e me apoia.
Eu e ela somos muito chegados. Não é a toa que é minha melhor amiga.
Sempre nos demos bem e, não interessa onde a fama me levar ou o que acontecer, os verdadeiros amigos nunca se esquecem. Porque esses, você pode ter a certeza que gostam de você por aquilo que você é e não pelo seu dinheiro, ou pela sua popularidade. E quer nos momentos maus ou bons, eles estão sempre lá, te apoiando e dando a maior força.
Parecidíssimo com a relação que tenho com minhas Beliebers. Só que esses quatro idiotas são… são eles. Totalmente insubstituíveis.
Ainda abraçando Caity, como a trato carinhosamente, ouvi Chaz fazendo voz afeminada:

–-Vá Caity. Larga logo essa bicha que é minha vez de matar a saudade.

Enquanto dizia isso aquele doido rolava os olhos e afastava Caity de mim.
O doido, de cabelo castanho fazia ar de cachorrinho abandonado como se me abraçar fosse assim tão importante.
Abraçar Chaz?! Mas abraçar de abraço carinhoso? Urgh!
No entanto decidi participar da brincadeira.

–-Ai Chaz. –suspirei, dando um ar dramático - Que saudade docinho! – disse, fazendo biquinho. – Dá um abracinho bem meloso aqui no Biebs vai.

Todos nos rimos.
O bom de estar com eles era isso. Eu podia ser eu mesmo que não me iam julgar. Não iam fazer escândalo por eu estar fazendo papel de gay ou por dizer besteira toda hora.

–-E aí, dude, pronto para o Brasil? – perguntou Cristian com um sorrisão na cara.

–-Ouvi dizer que as garotas lá são bem gostosas! – disse Ryan com cara de pervertido.

Gargalhámos.

–-Ô pessoal! O que é isso, hein? – perguntou Caitlin pondo a mão na cintura, fingindo estar chateada. – Que maneira é essa de falar das meninas?

–-Até parece que não é verdade Caity! – resmungou Ryan. – As brasileiras são bem bonitas.

Eu só me ria.

–-Não liga não Caity. Porque achas que todos eles ainda estão solteiros?

Nos virámos para trás e minha mãe apareceu se juntando à conversa. Pelos vistos já tinha arrumado as malas.
Caitlin gargalhou cumprimentando de seguida minha mãe. Os rapazes fizeram o mesmo. Usher e Scooter que até então tinham estado conversando sobre algo também a cumprimentaram e dirigiram-se a mim.

–-Oi moleque! Então, tudo pronto para o show? – ouvi a voz de Usher bem atrás de mim.

–-Claro! - respondi, sorrindo - Os ensaios servem para isso né?

Usher riu.
Na verdade eu estava um tanto ansioso para ir para o Brasil. Já tinha ouvido dizer que o público de lá era fenomenal. Mais também… Minhas Belieber são fantásticas em qualquer sítio, né mesmo? No entanto, não via hora de minhas férias chegarem.

–-Galera – disse Scotter – sabiam que aqui o Biebs vai fazer sessão fotográfica? – se juntou à conversa.

–-Sério? – perguntou Caity encarando Scooter, obviamente curiosa. Ela ama fotografia. Tem um câmara digital, eu mesmo que ofereci no seu aniversário e não a larga. Tira foto de tudo. Nem sei como o rolo dá para tanta coisa. --Quem é o fotografo?

‘Pera começa com P. Patrick?! Não. Eu sei, caramba! É Pe...Pe…Peter é isso! E o segundo nome?

–-Um Peter qualquer-coisa – respondi, dando de ombros.

–-Newton, Bieber. Peter Newton. – corrigiu Scooter que, só para que conste já tinha tirado o fato e a gravata.

–- Ah tá.

Entretanto começamos outra vez a falar sobre nada. Era sempre assim. Falávamos e riamos. Riamos e falávamos. Até que, um senhor alto e magrinho, com uns grandes óculos veio ter connosco e disse:

–-Já está tudo pronto para o jato partir.

Eu fiz cara triste. Estava sendo tão bom estar com a galera. Por um segundo, pensei até em fazer birra, dizendo que não queria ir, mas rapidamente decidi mudar de ideia.
Até porque eu não faço birras.
Poucas.
Até porque eu não faço poucas birras.
Uma das mais engraçadas, foi até esse ano, após o exame de condução, que eu chumbei.

Flashback (5 meses antes)

Estava super entusiasmando. Era um grande dia de minha vida.
Não, não me vou casar. E também não vou participar na primeira guerra mundial.
Vou apenas tirar a minha carta de condução. Yaaay!
Finalmente vou poder ir aonde eu quiser quando eu quiser!
Okay, não é bem assim mais…
Quando chegamos ao estacionamento do edifício não cabia em mim.
Desde os meus doze anos que tenho esperando fazer dezasseis anos para finalmente ter licença para conduzir. Mais agora, nessa nova vida, conseguir arranjar um dia para fazer o exame e tirar a carta, foi bastante difícil. Sempre tem algo para fazer: ou escrever uma nova música, ou ensaiar uma nova coreografia. Raramente estou parado.
Scooter estacionou o carro enquanto eu e minha mãe nos dirigimos à escola de condução com paredes brancas e uma porta de vidro.
–-Pelos vistos vai chover. – disse mamãe, olhando para o céu e cruzando os braços em redor do corpo. Ela deveria estar com frio. Mesmo com uma camisola de gola alta, um cachecol e um casaco, ela estava com frio.
Rolei os olhos. É coisa de Pattie mesmo.
Também olhei para o céu. Estavam algumas nuvens escuras se aproximando. Encolhi os ombros, continuando a andar em direcção à escola. Não seria uma chuvinha que iria atrapalhar o meu desempenho no exame.
Mamãe abriu a porta de vidro, e pelo canto do olho vi Scooter sair do carro já estacionado e vindo em nossa direcção. Um corrente de ar quente percorreu o meu corpo ao entrar naquela ampla sala. As paredes amarelas, que agora me rodeavam eram simples, sem quadros, sem objectos. A sala tinha duas divisões separadas por um vidro: a zona da recepção, onde se encontrava uma bancada de madeira com um computador e folhas espalhadas, e a sala de espera, onde se encontravam cadeiras azuis, umas juntas às outras que pareciam bastante confortáveis e um plasma, colado à parede.
Atrás da bancada se encontrava uma mulher de cabelo castanho, solto, mexendo no computador e murmurando qualquer coisa para si mesma.
Parecia aquele tipo de secretária que, quando não tem clientes é incapaz de não passar os olhos por uma revista de fofoca.
A camisa branca, justa, estava abotoada até ao pescoço. Mamãe se dirigiu a essa mesma moça, que pelos vistos se chamava Kate – ao menos era isso que dizia no cartãozinho pendurado na blusa com uma foto dela – enquanto Scooter, que acabava de entrar para dentro da sala quente e confortável, e eu nos dirigíamos para a zona de espera.

–-Bieber, você estudou? – sussurrou Scooter que seguia no meu encalço.

Fingi que não ouvi a pergunta e continuei andando até me sentar numa das várias cadeiras azuis dispostas por todo o compartimento.
Olhei para a tv na esperança que estivesse dando algo de realmente interessante e não apenas publicidade ou daqueles programas bizarros que passam sem nexo algum.
Scooter também se sentou do meu lado, e, após uns minutos de silêncio, perguntou:

–-Bieber, você me ouviu?

Olhei para ele com aquela cara de surpreso – às vezes ser bom a representar dá muito jeito – e ergui o sobrolho.

–-Quê?

Ele suspirou, enquanto tirava a gabardine azul escura que trazia vestida e a punha no assento do seu lado direito, que não estava ocupado por ninguém, visto que só nós estávamos na sala.

–-Perguntei se você tinha estudado para o exame de hoje. – disse, passando a mão pelo cabelo.

–-Ah, isso! – exclamei me sentando para trás e coçando a cabeça. Na verdade eu não tinha estudado nada. Nem um pouquinho. Até nem foi por não ter tempo, mas sim por preguiça. Sabe aqueles momentos em que você sabe que tem algo para fazer, mas prefere ir adiando e adiando porque fazer essa determinada coisa te aborrece? Pois, foi isso que aconteceu comigo. Mais também, quem é que estuda para exame de condução? Será que é muita gente? – Bem sabe… - pausa – eu não tive tempo. – menti. – Scooter mostrou seu desagrado através do olhar. – Mais relaxa cara! – coloquei as mãos atrás da cabeça naquela pose de “tudo-bacana-comigo”. – Não vou chumbar. – concluí, voltando a olhar ara a tv.
Ouvi Scooter se ajeitando na cadeira.

–-Se calhar você deveria estudar um pouquinho, Justin. – aconselhou.


Encolhi os ombros. Aw C’amon! Sou o Justin Bieber esqueceu? Encarei-o nos olhos e falei:

–-Já disse que não vou chumbar. – Scooter suspirou.

–-Bieber há pessoas que não passam no exame por não lerem o código. – afirmou ele.

Rolei os olhos. Qual a parte de que eu não ia chumbar que Scooter ainda não tinha entendido? Caraca! Quando aquele homem embirrava com uma coisa, embirrava mesmo!
Pode haver pessoas que não passam, mais há pessoas que passam. E eu serei uma dessas pessoas. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, minha mãe me chamou, com seus deslumbrantes olhos verdes:

–-Justin, está na sua vez.

Me levantei calmamente e com um sorriso convencido no rosto me dirigi ao estacionamento com o objectivo de passar no exame de condução e conseguir, hoje, minha carta.


*****

–-Oh Justin… está tudo bem. – disse minha mãe com a sua voz doce, andando do meu lado, tentando, em vão me acalmar.
Oh é claro que está tudo bem! Então não?! Até porque o facto de eu não ter passado na merda daquela porra de exame, nem é nada grave, né mãe?!
Enfiei o carapuço na cabeça. Estávamos nos dirigindo para o carro dela. O carro que ela ia conduzir.

–-Vamos logo embora. – disse eu, mostrando meu mau-humor.

Estava zangado. Frustrado. Irritado. Tinha sido só por uma pergunta! Cara, sabe o que é não conseguir a carta por causa do caralho de uma pergunta que você errou? É foda!
Pattie abriu o carro e se foi sentar no lugar do condutor. Estava chovendo muito, mais eu não queria saber. Eu não me iria sentar no lugar do passageiro. Não, quando todo meu ego se mentalizara que eu ia voltar para casa dirigindo. Com minha carta de condução.
Mãe espreitou pelo vidro que abriu e disse:

–-Justin, você vai demorar a entrar no carro?

Eu nada disse. Estava inconsolável prestes a chorar e não queria que Pattie me visse fazendo. Me visse deixar cair lágrimas sem razão alguma. Como um fraco.

–-Se você continuar aí vai ficar encharcado. – avisou, com voz doce.

Pouco que me importava. Queria lá saber! Que ficasse. Poderia até ficar doente que não haveria problema. Nada se compararia à vergonha e à humilhação que eu estava sentindo naquele momento.
Preferia ir caminhando quinze quilómetros, debaixo da chuva, amuado como um garoto de dez anos do que entrar naquele carro e ter que fingir que não sinto o olhar preocupado de minha mãe sobre mim.
E foi isso que fiz.
Me virei, na direção à rua paralela ao estacionamento, e comecei a andar com passo rápido, ouvindo o barulho que os mesmos faziam sobre as poças de água.
Quer saber? Que se foda a carta de condução! E que se foda todo esse mundo injusto! Estou farto de toda essa porcaria!
Ao ouvir as rodas dos carros que passavam na estrada era como se estes e os próprios condutores me zoassem. “Lálálálá! Nós temos carta e você não! Lálálálá!”
Bufei pondo as mãos nos bolsos e ignorando aquela estúpida sensação. E o pior é que só podia voltar a fazer o teste daqui a um mês! Eu sabia lá em que país estava daqui a um mês! Só sabia que estava trinta dias mais velhos e sem poder dirigir.
Passou um carro em alta velocidade que atraiu a minha atenção. Aquele babaca, conduzindo daquela forma pode ter carta e eu não? Mais que injustiça é essa?
Passou outra moça falando no celular e pondo maquiagem, mais tinha carta, não tinha?
Me apeteceu dar um soco em alguém, fazer algo estúpido. Passei por uma loja que estava fechada e por pouco que não parti o vidro da porta desta. Minhas mãos estavam suando e a minha respiração acelerada. Tinha que descarregar aquele mau estar, aquela maldita sensação, toda a frustração que se apoderava de mim.
Ouvi as rodas de um carro chiarem e rapidamente olhei para o lado. Um matulão, numa pickup, atirou o cigarro que fumava para o chão após frear.
Me passei! Aquele imbecil que andava a alta velocidade quase provocando um acidente e atirava o cigarro para o chão, prejudicando o ambiente, tinha licença para conduzir e eu, um moleque que só quer ser autónomo e deixar de obrigar meus amigos a me levarem onde preciso, não?!
Fudeu!

–-Te odeio! – gritei para aquele imbecil, com toda a força que consegui. Me soube tão bem que voltei a repetir para o outro carro que passou. – E a você também! – disse apontando.

Minha mãe, esperava no carro, já cansada de me chamar. Ela sabia que quando eu ficava fulo com algo, ficava mesmo fulo. E também sabia que, nestes momentos em que eu não conseguia enxergar a parvoíce que fazia, era bem melhor não me interromper.

–-E a você! E você! – disse fazendo gestos exagerados e caretas para os motoristas. – Odeio TODOS VOCÊS! – gritei com todo o ar de meus pulmões, sentindo a garganta arder devido ao esforço, libertando toda a irritação e frustração que se acumulara em mim. Continuei gritando até ficar totalmente exausto e encharcado.
Mamãe, com os braços cruzados sobre o peito, abriu o vidro e me chamou novamente:

–-Justin, já chega. – Olhei para ela com os olhos húmidos e provavelmente inchados por ter estado a chorar. – Anda… Entra para o carro.

Soltei um longo e pesado suspiro, enquanto me dirigia para o carro azul-escuro. Entrei e fiz bico por ter sentar no lugar do passageiro. Quer quisesse, quer não, após aquela birra de que eu nunca mais me iria esquecer, teria que aceitar o facto de que, Justin Bieber, a mais recente popstar mundial não tinha carta de condução.

End of Flashback


–-Bieber, ‘tá olhando para onde? – a voz de Cristian me libertou do monte de imagens que naquele momento passavam pela minha cabeça, me acordando do meu transe pessoal. Ia dizer que estava olhando para o nada, quando me ocorreu uma ideia melhor. Vamos ver o quão babados ficam esses babacas.

–-Para aquela garota gostosa que passou por ali. – apontei, fazendo com que minha partida entrasse em cena.

Nada como uma boa partidinha para animar o dia. Mal disse isto, pisquei o olho a Caity que soltou uma risada, percebendo o que se passava, e esperei pela reacção dos meus camaradas.

–-Onde? Onde? – disse Ryan, histérico quase aos pulos. Todos viraram a cabeça para o sítio onde eu tinha apontado, em busca da irreal garota que eles pensavam mesmo que eu tinha visto. É, ser meu amigo tem dessas coisas. Nunca se sabe se estou brincando, ou falando sério. Talvez um dia pregue um susto em minhas Beliebers. Tipo… Fingir que estou careca, ou algo do tipo. Elas não se iam importar muito, iam? Sorri, ao lembrar o tamanho do amor que sinto por elas.

–-Eu não vejo gostosa nenhuma, dude. – reclamou Chaz, cruzando os braços em volta do tronco e continuando a olhar para lugar algum.
Sorri, fitando Caitlin que soltou outra risada, pondo a mão à frente da boca e olhando para o chão.

–-Só sei que ela passou por aí. – disse encolhendo os ombros. – e que era bem bonita. – dei ênfase na palavra “bonita.”

Sério, aquilo estava sendo hilariante! Quase que podia ver eles correrem para a encontrarem. Não admira que ainda não tenham namorada nesse momento. Ok… Vamos fingir que eu não disse isso, ou eles ficaram bravos comigo caso lessem meus pensamentos.

–-Porque é que só você vê miúdas lindas, hein cara? – perguntou Cristian, fazendo bico.

Devido ao meu charme natural.
Ao ver a cara de decepção de todos eles, não me aguentei. Comecei a gargalhar junto com Caitlin. Ríamos sem parar, até ficar sem fôlego. Pus a mão na barriga e inclinei a cabeça para trás. Ah, como rir assim era gostoso! Rir com vontade, rir, apenas por rir.

–-Caras vocês tinham que ver as vossas caras! – exclamei ainda rindo. – Vê-se ao longe que andam desesperados! – zoei.

Caitlin continuava gargalhando também zoando com eles.
Após a risada, respirei fundo, com o objectivo que absorver o ar que estava em falta. Olhei para meus dudes. Bem, acho que eles não gostaram da brincadeira. Todos me encaravam com olhares fulminantes e braços cruzados sobre o peito.

–-Que foi? – perguntei com o sobrolho erguido. – Era só uma brincadeirinha! – disse em minha defesa, já temendo que eles tivessem mesmo ficado de mal comigo.

Aí, ou por verem a cara de idiota que fiz, ou pelo próprio tom que a minha voz assumiu, eles começaram a gargalhar tal como eu tinha feito antes. Caity incluída. O riso deles era contagiante que voltei a gargalhar sem motivo.
A conversa e a risada continuaram até que Scooter, meu manager, veio ao pé de nós e disse que estava na hora de eu partir. O avião já estava pronto e eu tinha que me despedir caso quisesse chegar ao Brasil no horário previsto. Acenei, dizendo que só me ia despedir da galera, enquanto ele entrava no avião.
Suspirei.

–-Vocês vão lá ter certo? – perguntei, passando os olhos por cada um deles.

Todos acenaram que sim, com um grande sorriso.

–-Se tem brasileiras gostosas, você acha mesmo que eu não iria? – perguntou Ryan.

Rimos, enquanto eu rolava os olhos. Sempre o mesmo. Cara, ele não muda! Sempre aquele garoto que numa hora em que deveria estar todo mundo chorando, ele consegue ver as coisas de uma maneira positiva e colocar as pessoas que o rodeiam rindo. Isso é uma das coisas que eu admiro no meu melhor amigo. Quem me dera ter esse poder. Fazer as pessoas rir e vê-las felizes apenas por eu estar presente. (N/A: E nós sabemos que ele tem esse poder, né docinhos? Quem é que nunca riu ao ver um vídeo do seu ídolo? :b) Então, dei um passo para me despedir de todos os eles.
Chaz também se aproximou, mas Ryan colocou-lhe a mão no peito, travando-lhe a passagem.

–-Garotas primeiro. – disse o babaca, piscando o olho para Caity. Ela fez ar de convencida, e colocou a mão na cintura dizendo, olhando directamente para Ryan:

–-Sabia que essa frase é só uma forma mais delicada de dizer “Passa na frente que eu quero olhar sua bunda enquanto você anda”?

Eu voltei a rir alto de novo! Essa foi um máximo! Nossa, como a Caity sabe disso?! Ok, outra coisa que vamos fingir que eu não pensei. Continuámos a rir. Um concelho para as minhas fãs que adorariam passar um dia comigo e minha turminha: é bom que tenham óptimos pulmões ou não se safam.

–-Mais, ok, tudo bem. – disse Caitlin voltando agora à sua pose normal e se dirigindo a mim, com um grande sorriso. – Vou deixar vocês terem esse privilégio.

Soltei uma risada nasalada.

–-Só eu é que não tenho, né Caity? – disse fazendo bico. – Não sabia que você me detestava assim tanto. - Ela riu, mexendo no cabelo e pondo-o para trás.

–-Não liga não. – disse ela. – Meu abraço é muito melhor. – sorriu e me abraçou.

Apertei-a nos meus braços. Se havia algo que essa vida de famoso tinha mudado, poderia dizer que era a minha relação com Caity. Nós namorávamos e eu gostava mesmo dela. No entanto quando tive que mudar para Atlanta, tivémos que acabar. Obvio que fiquei triste. No entanto, agora a olhar para o passado também vejo que eu já não a consigo imaginar mais além de uma irmã. Continua sendo minha, mais de uma forma diferente. De uma forma mais tranquilizante. Senti seus braços à volta do meu pescoço e a abracei pela cintura.

–-Tchau gato. Até daqui a duas semanas. – sussurrou ela no meu ouvido.

–-Tchau linda. Até. – disse, olhando para ela, que sorriu. E eu fiz o mesmo.

Caity se afastou de mim, ainda com um sorriso. Ryan, veio ao meu encontro e me deu um soco no braço com uma risada. Retribuí o gesto e depois fizemos nosso aperto de mão. É, nós temos um também. Bem difícil de aprender. Depois Chaz e Christian me deram um abraço e um “Até dude! Tenta não comer as brasileiras todas!”.
Dirigi-me para ao pé de Usher e dei-lhe um grande abraço pois só o voltaria a ver no fim de minhas férias. Usher ia para o Hawai, se não estou em erro. Ele queria mesmo relaxar e, durante uns meses, esquecer todo esse mundo. Assim como eu.
Porém quando eu cheguei perto de mamãe ela já estava chorando. Soltei uma risada abafada quando a abracei com força. Ela fungou e eu disse:

–-Ah, mãe. Não faz cena! – Todos riram. Ela olhou para mim, bem de frente, seus olhos esverdeados com os meus castanhos-avelã.
–-Você sabe que eu não gosto de estar longe de você, Justin.

Ok, eu posso parecer muito forte e tal, mas não sou de ferro. E quando fiquei longe de minha mãe, ou estava com meus avós que eu amo, ou com outra pessoa qualquer. No entanto, Scooter ficaria sobre minha guarda até as entrevistas e toda essa confusão (lê-se: trabalho) deixar de existir. Portanto, como estar afastado das pessoas que amo ainda não é normal para mim – e espero que nunca chegue a ser – olhei para baixo, envergonhado e disse:

–-Também não gosto de estar longe de você mãe. - Ela sorriu e vi um brilhozinho nos seus olhos lindos. Igual àquele brilho que aparecia em seus olhos quando ela estava orgulhosa de mim. Igual àquele brilho que surgiu, quando, após horas cantando na rua, cheguei a casa com quase duzentos euros. Depois deu um beijo em minha testa ela se afastou. E com aquele gesto e olhar, outra memória brotou.


Flashback (4 anos atrás)


Estava todo entusiasmando. Chaz e Ryan, meus melhores amigos, me tinham convidado para este fim-de-semana, jogar golfe com eles. O pai de Chaz, nos pegava aos dois, bem cedo aqui no sábado, e íamos para um campo onde se pratica esse esporte. Que bacana!
Nunca pratiquei golfe na vida mais deve ser bastante legal. O basquete e o hóquei são o desporto que mais gosto. Também são o único que pratico com frequência.
Sorri. Algo me dizia que aquele fim-de-semana ia ser memorável! Só espero que mamãe deixe. Na minha mente, já se formava um pequeno plano de chantagem, ou coisa parecida, caso a resposta fosse um “não” seco e dito com determinação, enquanto batia na porta do nosso modesto apartamento. Mamãe abriu a porta de madeira com um grande sorriso, e, como é hábito me deu um beijinho na testa, abrindo a porta.
Entrei para o hall do nosso pequeno apartamento. As paredes amarelo-clarinho, sem quadros nem outros adereços decorativos, revestiam a parte de entrada. Inspirei fundo enquanto mamãe fechava a porta e a trancava. Cheirava a comida. Provavelmente ela estava fazendo o almoço.

–-Então, amor. Como foi o dia? – ela perguntou, enquanto retirava a mochila preta de minhas costas e a arrumava ao pé da porta, no seu canto habitual.

Tirei o casaco roxo – o meu preferido – e o pendurei no cabide por cima do sítio onde estava arrumada a mochila. Tirei a carteira com os dois euros que ela me tinha dado para o lanchinho e a coloquei sobre a mesinha castanha, que em tempos tinha pertencido ao meu avô.
–- Normal. – disse encolhendo os ombros.
Depois olhei para ela que atava o cabelo castanho num rabo-de-cavalo. Ela estava com um t-shirt velha, comprida, que quase lhe chegada aos joelhos. As calças de fato treino gastas e os chinelos cinzentos indicavam que ela tinha estado a fazer faxina (lê-se: limpar toda a casa e fazer as camas). Preparei-me para fazer bico e olhinhos.

– Mãe… - ela olhou para mim – O Chaz e O Ryan, vão este fim-de-semana jogar golfe. É o pai do Chaz que os leva e eles me convidaram. Será que… Será que eu posso ir, mamãe?

Minha mãe olhou para meus olhos e minha cara fofa e suspirou. Ela sabia que eu queria mesmo ir. No entanto, nos seus olhos havia uma certa tristeza. O que se passava? Qual o problema?
Pattie se ajoelhou e ficou do meu tamanho.

–-Querido, esse fim-de-semana não vai dar. – ela disse olhando para mim. – Desculpa.

–-Porquê? – perguntei triste.

Porque que os caras, sempre que iam fazer algo legal eu não podia ir? Ela suspirou e me abraçou. Um abraço apertado. E eu retribuí.

–-Eu quero mesmo ir, mãe. – disse. – Qual o problema? – perguntei.

Ela me olhou nos olhos.

–-Sabe, amor… - fez uma pausa, ajeitando uma madeixa do cabelo que tinha fugido do lugar, e voltou a colocá-la atrás da orelha - Este mês está sendo muito difícil para mim. A reforma dos avós já não é o que era e está complicado eu arranjar outro emprego, para além do que tenho, que seja compatível com suas aulas, para você não ficar tanto tempo sozinho. – suspirou – e essa semana ainda vou ter que pagar o arranjo da geladeira. – justificou.

Uma lágrima caiu do meu rosto e ela limpou-a. Eu estava triste. Era horrível quase nunca ter dinheiro para fazer as coisas que quero. Todos os meus amigos podem ir aonde quiserem, quando quiserem. Eu não! Porque é que o mundo é tão injusto? Eu queria ir! Eu queria mesmo!

–-Desculpa querido. Mas não dá mesmo. Você sabe que para entrar no campo de golfe, é preciso dinheiro. E a mãe não está com possibilidades de to dar.

Eu acenei com a cabeça.

–-Tudo bem mãe. – sorri fraco. – Não tem problema não.

Ela suspirou e se afastou, se dirigindo à cozinha. Provavelmente para acabar o almoço. Suspirei e fui quase a correr até ao meu quarto, passando pela sala de estar, que tinha uma televisão pequenina e três pequenos sofás em tons de castanho, que meus avós tinham dado a mamãe. Abri a porta do quarto a correr e a fechei com força. Estava super triste. Não era justo! Não era justo! Nada daquele mundo horrível era justo.
Me joguei na minha cama de madeira, com colcha lisa azul e agarrei minha almofada – que se chama Beyoncé – com força entre os braços.
O meu quarto era pequeno. Tinha apenas uma secretária onde eu pouco estudava, com uma cadeira, um armário também de madeira onde cabia toda minha roupa; minha cama onde eu estava agora deitado, minha guitarra eléctrica e minha viola. A bateria estava desmontada e se encontrava num canto. Já há algum tempo que eu não tocava.
Não percebia porque é que eu não tinha dinheiro. Não era suposto toda a gente ser feliz? Todo mundo puder comprar o que quiser, sem ter que se preocupar? Funguei e agarrei a almofada com mais força. Aí, comecei a chorar verdadeiramente. Para um garoto de doze anos, não é nada fácil aceitar que os melhores amigos podem fazer coisas que ele não pode. Que eles têm mais dinheiro do que ele. Podem se divertir. E isso estava acontecendo comigo. Sabia que minha mãe me ouvia chorando e também sabia que ela se sentia mal por isso. No entanto, sabia o que ela sacrificava para eu poder ter uma alimentação saudável, um caderno novo e uma nova mochila e que o dinheiro nem sempre dava para tudo. No meu caso, não dava para quase nada. Se ao menos tivesse ganho o concurso Stratford Star, em que participei esse ano, cantando, teria algum dinheiro para mim. Mais nem isso.
Passado algum tempo, me levantei, sabendo que não era chorando que iria resolver meus problemas. Na minha família, sempre foi ensinado a lutar pelas coisas que queria. No entanto há ocasiões em que você não pode fazer nada para mudar o que quer que seja, porque você não passa de um garoto de doze anos. Como este caso. Me levantei, sendo atingido por uma vontade instantânea de sair de casa. Apanhar um pouquinho de ar fresco. Passei a manga da camisola pelo rosto, limpando o resto das lágrimas e, sem razão, peguei na minha guitarra e saí do quarto.
Passei pelo corredor, com passo calmo. Em frente à porta de saída arrumei minha carteira, que estava em cima do móvel castanho, e a coloquei no bolso de trás das calças de ganga. Também peguei no meu casaco e vesti-o rapidamente. Mamãe deve ter ouvido barulho e veio até ao hall ver o que se passava.

–-Justin, onde você vai? – ela perguntou com um sobrolho erguido.

Encolhi os ombros. Também não sabia. Apenas queria sair de casa, relaxar.

–-Vou dar uma volta, mamãe. – disse.

Ela suspirou, se aproximando mais de mim.

–-Justin, você ainda nem almoçou. – ela refilou.

–-Comi o lanchinho com o dinheiro que a senhora me deu, e não tenho fome. – Lhe dei um beijo na bochecha. – Tchau, volto antes de escurecer.

Peguei no meu boné preto, que também estava pendurado no cabide e abri a porta de casa. Rapidamente senti uma brisa de ar chocar com a minha cara. Saí do apartamento e me dirigi para rua, sem rota, sem destino definido.


* * * * *

Observava o céu, sentado nas escadas da frente do Avon Theatre. As nuvens brancas contrastavam com o céu vivo acima de mim. O vento parara e agora, um calor confortável caía sobre a minha cidade natal. Suspirei, apoiando a cabeça sobre as mãos e os cotovelos sobre os joelhos. Esse teatro era o mais famoso de Stratford, uma pequena cidade no Canadá. Vinham vários turistas ver as famosas peças. Eu, por acaso, nunca tinha visto nenhuma. Ou se vi, não me lembro. Tinha vindo parar aqui, sem saber porquê. Continuava triste e aborrecido pelos planos do que seria o meu fim-de-semana de sonho terem sido deitados a baixo. Eram cerca das três da tarde e os autocarros turísticos deviam estar quase chegando. E isso significava muitas pessoas. Pessoas diferentes, de outros países, de outras cidades.
Eu e mamãe nunca fomos de férias, excepto à casinha do clube de caça e pesca, no Star Lake, com meus avós. Nunca viajámos de avião. Meu grande sonho é ir ao Disney World. Perece tão possível como ganhar a lotaria. Deve ser mágico. Grande. Por isso mesmo é um sonho. Mais, acima disso, parece impossível. A minha guitarra estava mesmo ao meu lado, pousada sobre o chão. Nem sei porque a trouxe. Só me cansou mais. Bufei, cansado. Tirei o boné preto que tinha na cabeça e o coloquei também no chão.
Estava pensando em tudo e no nada ao mesmo tempo, olhando para o chão de pedra, por baixo de mim, quando oiço, uma voz feminina, bastante grave, perguntar:

–-‘Tá tudo bem com você?

Olhei para o lado que vinha a voz e qual não foi o meu espanto ao ver uma menininha de, no máximo cinco anos, sentada ao meu lado, com duas trancinhas loiras e os olhos azuis me observando. Ela sorriu para mim, e piscou os olhos três vezes seguidas, o que achei estranho. Me pergunte de onde ela me conheceria. Não me lembrava da cara dela. Será que a conhecia de algum lugar? Seria irmã de algum dos meus colegas de escola?
Acenei afirmativamente com a cabeça, mentindo. Era óbvio que eu não estava bem. Até uma garotinha super fofa tinha notado!

–-Eu sou a Tiffany. E você? – ela perguntou com um grande sorriso nos lábios, se aproximando de mim, enquanto se sentava. O sorriso dela era tão grande que fez com que nos meus lábios aparecesse outro, porém, mais pequenino.

–-Eu sou o Justin. – me apresentei, tal como ela tinha feito. – Quantos anos você tem? – perguntei.

Ela me mostrou a mão aberta, com os cinco dedinhos esticados.

–-Tenho cinco. Tenho cinco anos.

Ela era super fofa. O que faria aqui sozinha? Tiffany mexeu nas tranças brincando com elas. Cara, as crianças são demais! O que eu não fazia para voltar a ter a idade dela. O que eu sabia com cinco anos? Que as moedas de chocolate são melhores que as verdadeiras porque têm chocolate. Que máximo! Já inventaram a máquina do tempo?

–- Você está aqui sozinha? – perguntei, mirando a rua. Havia alguns carros estacionados na praceta, e algumas pessoas passando. Porem, ninguém me pareceu estar à espera de uma menina com trancinhas e vestido rosa que decidiu falar com um garoto solitário que estava sentado nas escadas do Teatro de Stratford.

–-Não. – respondeu. – Meu pai trabalha naquela loja ali. – e apontou para uma loja que vendia antiguidades do nosso lado esquerdo. – fez uma pausa. – e eu conheço você! – ela disse. - Você foi o garoto que ganhou o segundo lugar no concurso que fizeram, não foi?

Sorri. Como ela se lembrava disso? Tinha sido há quase três semanas! Ok, não é muito tempo, mais para uma criança de cinco anos, ela tem muito boa memória!

–-Sim, fui eu. – disse com um sorriso, olhando em seus olhos azuis. Ali, olhando para Tiffany, descobri que eu adoro crianças. Eu já sabia disso, mais sabia que eu ia amar ter irmãos. Acontecesse o que acontecesse, fossem eles como fossem, eu seria o melhor irmão mais velho que uma criança poderia ter! Ia brincar, pular, gargalhar, tudo!

–-Nossa! – ela exclamou levando a mão à boca, espantada – Eu sempre pensei que papai cantava bem, mais quando vi você cantar, descobri que ele não sabe cantar. – Ela fazia gestos com as mãos e mexia a cabeça enquanto falava. Depois, os seus olhos pararam nos meus e ela perguntou fazendo bico:

–-Você pode cantar uma canção pa eu ouvi?

Eu ri. Aquela ideia era meia absurda. Cantar na rua? Porquê? E mais importante: Eu?! No entanto, desde o concurso que descobri que gosto de deixar as pessoas felizes, gosto de cantar para elas, me sinto bem. Suspirei, ainda sendo observado pela menina-de-vestido-cor-de-rosa-super-fofa. Me cheguei para a frente e peguei na minha guitarra, pondo-a no meu colo. Decidi cantar a “Amaizing Grace”.
Antes de começar, o autocarro com os turistas que eu tanto invejava, parou e senhoras com chapéus bicudos e luvas até os cotovelos, assim como senhores de fato e gravata, saíam dele, provavelmente para assistir à peça que estava em exibição. Comecei a cantar. Essa era uma das coisas que eu fazia, praticamente desde que nasci. Amo a música e vou amá-la sempre. Será uma parte de mim, aonde quer que eu vá, o que quer que eu faça. Tiffany começou a balançar os ombros e a cabeça de um lado para o outro consoante a melodia.
No entanto o que me surpreendeu foram os turistas. Esses e outras pessoas que passavam pela rua. Pararam à minha frente fazendo uma meia-lua, ouvindo e apreciando aquela canção cantada por mim. Simplesmente, perderam minutos das suas vidas para me ouvirem cantar! Não é fantástico? O mais interessante e que me deixou com um grande sorriso na cara foi, quando um senhor, muito bem vestido, veio pôr quatro ou cinco moedas no meu chapéu.
Honestamente, nunca tinha pensado em fazer busking, isto é, cantar na rua para conseguir dinheiro. Agora, ali sentado, rodeado de pessoas que tinham prazer em me ouvir e me dar dinheiro, a história é outra. Continuei cantando e o dinheiro no meu boné preto ia aumentando. As pessoas eram generosas e simpáticas. O que mais gostei foi saber que todos os pares de olhos que ali estavam, se focavam em mim; e que todos os sorrisos que se encontravam na boca daqueles humanos se deviam a mim. Não dá para explicar. Foi uma sensação óptima. Maravilhosa. Fabulosa.
Quando acabei de cantar, Tiffany, foi a primeira a bater palmas, seguida daqueles vinte desconhecidos que me circundavam. Após alguns minutos, uns me vieram dar adjectivos gratificantes, fazendo com que meu dia melhorasse, outros limitaram-se a continuar com suas vidas, talvez demasiado complicadas para um garoto como eu as poder compreender.

–-Você canta tão bem! – disse Tiffany, quase gritando, ainda batendo palmas. – Quero mais uma! Por favor! – ela implorou.

Eu sorri.

–-Hoje, já não. Mais amanhã eu devo aparecer aqui de novo. – É, a ideia de ganhar dinheiro fazendo uma coisa que eu sempre gostei de fazer foi bacana. E a ideia de a poder repetir foi ainda melhor. Sorri para mim mesmo, pegando no boné onde o meu “público” tinha deixado a sua “contribuição”.

–-Vamos contar? – perguntei eu a ela. Tiffany acenou com a cabeça, balançando as duas trancinhas.

Peguei as moedas e notas – Uau! – e comecei a fazer contas cabeça. Não estava à espera de mais de vinte euros. No entanto ultrapassou minha meta inicial. Vinte e cinco, quarenta, cinquenta e cinco… à medida que contava as notas e moedas iam passando do meu chapéu para minha mão direita. E à medida que o valor ia aumentando, minha boca se abria cada vez mais. Cento e vinte, cento e cinquenta, cento e noventa euros…

–-Duzentos! – gritei, no meio da rua. Não podia acreditar! Eu tinha duzentos euros meus, na minha mão, que tinha ganho apenas com meu esforço e dedicação.

Contei outra vez para verificar se estava certo ou se tudo não passava de uma partidinha de meu cérebro. Não. Eu tinha mesmo ganho duzentos euros apenas com uma música. Caraca! Busking é uma mina de ouro! Olhei para Tiffany que também olhava para mim, com um grande sorriso.

–-O que você vai fazer com o dinheiro? – ela perguntou.

Encolhi os ombros. Não sabia. Talvez poupasse. Era o mais certo. Mais poupar para quê? Aí me lembrei daquele meu sonho.

–-Vou poupar para ir na Disney World com minha mãe. – afirmei.

Ela se levantou e me abraçou. Foi super querida.

–-Até amanhã. – ela disse – papai deve estar me esperando. E Justin? – eu a olhei com o sobrolho erguido – posso ser sua fã número um?

Eu gargalhei com vontade. Não bastava ter ganho a grana, agora ainda tinha uma fã. Cara, eu poderia me habituar a essa vida.

–-Claro que pode, baixinha – eu disse. – Tchau.

Peguei na guitarra, arrumei o dinheiro, pus o boné na cabeça e, após ver a minha fã entrar na loja do pai, fui para casa com um grande sorriso. No entanto soube que se Tiffany nunca me tivesse pedido para lhe dedicar uma música, eu nunca tinha cantado a canção e nunca tinha ganho duzentos euros. Ah que é isso. Talvez acabasse por acontecer de outra forma. Talvez.
Nessa mesma noite, após comunicar o sucedido a minha mãe e ela ter ficado super orgulhosa, me deitei e o meu último pensamento foi para a menininha de trancinhas loiras, que tinha feito com que meu dia ruim se tornasse num dia fantástico. Para a minha primeira fã. Mal eu sabia que, um dia, não muito longe, elas iam ter nome – Beliebers – e iam representar 5% da população mundial.


End of Flashback

Acabei de abraçar minha mãe e olhei para todos eles. Antes de subir no avião disse:

–-Tchau gente. – acenando. Todos eles retribuíam.Então comecei a subir as escadas que davam acesso ao meu jacto privado.

Brasil, Bieber is comming!



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então queridas? O que acharam? Bem, decidi mostrar-vos um pouquinho do passado Justin. Algumas coisas são mesmo verdadeiras (éh, ele fez mesmo essa birrinha imbecil por causa da carta xp) e também cantou na rua, mais eu decidi mudar algumas coisinhas. No entanto espero que tenham gostado e, esses capítulos eu já os tinha escrito, por isso postei tão rápido. Com os outros não será assim, demorarei mais. Mas ficarão bem feitos e como vocês gostam!
beijinhos queridas. Não se esqueçam dos reviwes carinhosos que eu tanto amo!