P.O.V Charlotte Macgregor

Toronto, Ontário, Canadá.

Terça-feira, 11 de outubro de 2016.

 09:00 a.m.

Diferentemente do que é mostrado em filmes americanos a minha escola, The York School, os populares não acham que tem o direito de humilhar os mais inteligentes, claro que existem exceções, mas em sua maioria há respeito mútuo. Ser considerada uma das alunas mais inteligentes do colégio não me ajudou a ter muito amigos, muitos alunos me achavam intimidadora demais; felizmente, isso não impediu Emily de conversar comigo na Grade 6 e desde então somos melhores amigas. Emily viu todas (2) decepções amores as quais eu sofri, e está agora vivendo todo o drama da Grade 12. Afinal, estar no último ano no colégio é muito estressante e apavorante, ainda não sei como esperam que alguém com dezesseis anos de idade (que é quando escolhemos as matérias referentes a área que escolhemos seguir, hoje eu tenho dezoito anos) seja capaz decidir o seu futuro, é simplesmente loucura, estou cursando as matérias para fazer engenharia, mas nem sei se realmente quero isso.

Cá estou eu, em frente ao colégio esperando o babaca do Chaz Somers aparecer juntamente com a Emily que não para de falar o quanto esse ano está sendo incrivelmente inesquecível e que ainda vai me arrastar para algum evento esportivo. Chaz é meu melhor amigo desde a Grade 9 e também presenciou minhas decepções amorosas, mas diferente da Lily que só ficava falando mal dos meus crush, ele sempre me lembrava do quanto eu sou especial e brigava com qualquer idiota que me magoasse; na verdade foi assim que nos tornamos amigos, eu sei que sempre posso contar com o Chaz para me proteger (mesmo quando eu não preciso).

─ Charlie! Terra chamando Charlotte. Charlie acorda, eu sei que não está prestando atenção no que eu estou falando. Certeza que se fosse o Charles conversando com você, você não estaria hiperventilando desse jeito ─ Emily disse tirando-me dos meus pensamentos; ela não está muito feliz com o Chaz ultimamente, na verdade ela ficou meio puta pelo Chaz ter sumido por uma semana sem falar nada, o que me deixou triste e ela odeia me ver triste; esse sumiço repentino também despertou um ciúme nela, ela afirma que eu nunca fiquei assim por ela.

─ Desculpa Lily! Acabei me distraindo, do que você estava falando mesmo?

─ Eu estava....

─ Charlie! Nem parece que nos vimos a uma semana atrás, estava morrendo de saudade de você pequena ─ Chaz disse interrompendo Lily e já me abraçando, não sei de onde esse menino surgiu, é agora que Lily vai ficar puta de uma vez.

─ Pronto, agora que eu não recebo mais atenção mesmo! Estou indo para aula, acho bom vocês também irem que daqui a pouco toca o sinal. Vou deixar o casalzinho em paz, vê se não esquece da sua melhor amiga nos intervalos para ficar com esse embuste ─ Chaz no mesmo momento me soltou e olhou-a com uma cara de entediado.

─ Já te falei que não somos um casal Emily Weber, ele é só o meu melhor amigo, e já falei para parar com esse ciúme besta do Chaz ─ Esqueci de falar que a Lily acha que uma hora ou outra eu o Chaz vamos namorar, que essa história de melhor amigo é só para enganar a nós mesmos. Emily mal deixou eu terminar de falar e já foi se dirigindo para sala de aula.

─ Também te amo Weber ─ Revirei os olhos, é claro que o querido Charles Somers não poderia deixar barato. Lily, obviamente, mostrou o dedo para ele. Ninguém merece esses dois.

─ Acho melhor nós irmos mesmo para sala Charles, nós dois temos aula de Cálculo II agora, você sabe que a Sra. Rizzi odeia atrasos ─ disse já caminhando para sala ─ Mas me conta o porquê do sumiço, faz uma semana que você não me busca e nem leva embora para casa, querido. Esqueceu da sua melhor amiga aqui? Está namorando e ela não gosta de você perto de mim? Qual é Chaz? Não vou deixar esse seu sumiço barato, pode desembuchar ─ Acabamos de chegar na sala e o Chaz sentou atrás de mim, como sempre, esse menino realmente me ama.

─ Me desculpe eu ando muito ocupado com os treinos e...

~TRIIIIMMM~

─ Quero todos sentados, em silêncio e prestando atenção no quadro. Hoje iremos aprender um pouco mais sobre derivadas.

─ Mais tarde nós conversamos, Charlie, pode ser no intervalo do almoço? ─ Lily não vai ficar nem um pouco feliz, entretanto eu preciso resolver isso com o Chaz logo, não aguento ficar muito tempo brigada com ele.

─ Claro, Charles, mas vai ter que me explicar esse sumiço direitinho.

─ Vou explicar, Charlie. Me encontre no jardim.

(...)

11:50 a.m.

Depois da aula de Cálculo II encontrei Lily no primeiro intervalo e, obviamente, ela surtou ao saber que não ficaria com ela para conversar com o Chaz. Em seguida tivemos aula de História Canadense e ela mal olhou para minha cara, ela realmente odiou ficou me consolando durante o pequeno sumiço do Chaz. Agora, aqui estou indo para o jardim depois de pegar o meu almoço. Mal consigo disfarçar a ansiedade, essa foi uma das piores semanas da minha vida, eu já estava acostumada com suas brincadeiras e suas chatices, a vida sem a presença de Charles Somers não tem a mínima graça. Chegando ao jardim já posso ver ele andando de um lado para o outro nervoso. Os alunos de jardinagem sempre cuidaram muito bem do jardim da escola; a esquerda pode-se ver uma pequena horta, a direita vê-se várias mudas de flores, devido a época do ano agora há tulipas, gardênias e Ciclames, ao centro há uma grande Dama-da-noite e embaixo dela há banco; há vários outros bancos distribuídos pelo jardim.

— Charles? ─  Chaz me olhou assustado e puxou meu braço para sentar no banco embaixo da árvore ─ Me conta o que houve?

─ Charlie, primeiro eu sei que você está brava, mas pode, por favor, voltar a me chamar de Chaz, odeio quando você me chama de Charles ─ obviamente eu bufei de raiva, eu posso ser super compreensiva e boazinha, mas o Charles realmente me magoou ─ Segundo, o treinador está pegando pesado com os treinos por causas dos jogos, e também está pegando pesando em relação as notas, eu estava tão cansado disso tudo que pedi para minha mãe para ficar uma semana em casa sem fazer nada, eu não queria falar com ninguém, me desculpe se eu te deixei preocupada ─ Chaz me olhava apreensivo e eu sabia que ele tinha mais alguma coisa para contar, mas não ia força-lo a falar nada. Durante toda a sua fala eu estava descaradamente comendo meu sanduiche de peito de peru.

─ Chaz, tudo bem, eu imagino que não seja fácil fazer parte da equipe de Hóquei e de Basquete, mas não faça isso de novo. Dessa vez eu te perdoo, vem me dar um abraço babacão ─ Sem esperar meio segundo Chaz me abraça.

─ Não vou fazer de novo, Charlie, eu prometo.

─ Promessa é dívida, Charles Somers. E hoje você vai me levar para casa depois da aula, meus pais não param de perguntar sobre você, queridinho.

─ Então Charlie, não me mata, por favor ─ Sabia que estava muito bom para ser verdade, só esperando pela próxima merda do meu melhor amigo; ele estava visivelmente nervoso de novo, e todo clima bom que tinha se instalado simplesmente desapareceu.

─ Humm...Estou ouvindo, não faça eu me arrepender de ter te perdoado.

─ Então, eu não vou conseguir te levar em casa hoje, eu tenho grupo de estudos depois da aula.

─ Grupo de estudos?

─ É, Charlie. Eu e alguns meninos do time não estamos muito bem de nota, e se não melhoramos as notas o treinador vai nos tirar do time. Por isso, resolvemos montar um grupo de estudos.  Claramente chamamos outras pessoas para grupo também, já que estamos com muitas dificuldades, alguns foram recomendados pelos professores. Logo, duas vezes por semana eu vou ter esse grupo, ele acaba as 5:00 p.m. Me desculpa mesmo Charlie, mas não vou poder te levar para casa as terças e quintas ─ Não sei se fico brava por ele ter escondido que não estava entendo a matéria ou se fico brava por ele não ter pedido a minha ajuda.

─ Sei, e por que o senhor não me contou antes? ─ Disse cruzando os braços ─ Eu posso te ajudar, você sabe que eu não negaria.

 ─ Tudo bem, Charlie. Pode aparecer no grupo, depois da aula na biblioteca. Agora vem me dar outro abraço, menina dramática.