Código Zero escrita por Rhyca Corporation


Capítulo 8
Capítulo 7 - O Jogo de Ninguem




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   Depois daquela batalha, tanto Pan como o shishou foram parar no hospital. A Rainha Serpente não havia sido piedosa, nem mesmo com a pobre da Pan, que já estava machucada antes. Os médicos disseram que foi uma sorte terem parado Hidelgarde, porque mais um pouco e ela teria matado os dois.

   Não sei quanto tempo eu fiquei ali, ao lado dos dois, esperando que pelo menos um deles acordasse. Não saí hora nenhuma, e minha persistência foi recompensada quando shishou abriu o olho (só um, o outro estava inchado demais):

 - Shion... Parece que eu perdi não é?

 - Não se preocupe com isso agora shishou... Você está muito machucado, tem que descansar pra se recuperar logo.

 - Pandora... Como ela está?

 - Ela está viva, mas em estado muito grave. O golpe que ela levou de Hidelgarde-sama piorou muito a situação dela.

   Shishou virou a cabeça com dificuldade e olhou para Pandora. Ela estava desacordada e ligada à uma porção de tubos.

 - Aquela mulher... Ela realmente não sabe o que significa pegar leve... E não perdoa ninguém.

 - Shishou, por que vocês estavam brigando? Eu achei que você ia apenas conversar com ela.

 - Ela não queria me ouvir... Na realidade ela não escuta ninguém. Pensei que se a derrotasse ela veria que estava errada. Fui um tolo ao pensar que poderia vencê-la.

   Shishou parecia tão diferente de como era normalmente. Ali, deitado naquela cama e todo enfaixado, ele não lembrava em nada aquela figura vermelha extravagante. Eu me sentia perdido, sem saber como lidar com ele, sem saber o que dizer:

 - O senhor precisa de alguma coisa shishou?

 - Quero que você vá descansar. Tenho certeza que você ficou aqui até eu acordar, morrendo de nervosismo não foi?

 - Foi, mas eu não estou nem um pouco cansado e...

 - Vá dormir. Eu vou ficar bem. Tenho plano de saúde sabia? Vão me tratar como rei aqui.

   Lá estava o shishou tentando me animar com uma brincadeira, mesmo quando ele parecia tão triste. Depois de muito protelar, eu acabei saindo.

   Shishou não demorou a pegar no sono, e dormiu durante grande parte da noite. No entanto, ele acordou sobressaltado durante a madrugada, sentindo uma presença no quarto:

 - Olá Alexis. Como você está se sentindo?

 - Já estive melhor sabe... Posso saber o que você está fazendo aqui Hidelgarde?

   Lá estava ela, em um canto do quarto, uma figura mergulhada na sombra.

   Não consegui dormir durante a noite então aproveitei para treinar a compactação de cartas. Eram quase 5 da manhã quando parei o treino e decidir dar uma volta pela ordem para esfriar a cabeça. Em alguns setores, a organização estava muito vazia porem, em outros ela continuava movimentada. O departamento de Ciências e Tecnologia parecia não parar nunca, enquanto o de Buscas e Resgates não parecia haver ninguém os liderando.

   Numa volta na imensa biblioteca do laboratório, escutei passos e achando que era o Jin, corri para o corredor seguinte. Não havia ninguém lá. A única coisa que me chamava a atenção era um livro caído no final do corredor. Parecia que alguém havia fugido e deixou o livro cair.

 - Tem alguém ai? – Perguntei.

   Minha voz ecoou por toda a biblioteca, mas ninguém respondeu. Cheguei ao final do corredor e apanhei o livro. Ele estava aberto numa página e algo me chamou a atenção.

   “Irei matar a sede de sangue dela...”

   Eu já tinha visto isso antes no livro que a Hidelgarde me “emprestou” logo depois de eu sair do hospital. Tudo aquilo parecia estar querendo me dizer alguma coisa e o bilhete que encontrei mais tarde confirmou isso.

   Depois de eu folhear aquele estranho livro, um papel de cor rosada caiu de dentro dele.

   “O que você sabe sobre Pandora Heins? Se quiser saber mais, vá até a Praça 7 da área 5 daqui a uma semana, neste mesmo horário.”

   As palavras escritas ali me preocuparam, pois me trouxeram pensamentos que eu havia esquecido. Será que isto estaria ligado a filha do líder de Gehenna e, de alguma forma, estaria ligado ao passado de Pan? Tudo estava confuso na minha cabeça e todos os meus pensamentos apontavam para uma única idéia: Pandora era a filha de Lúcifer.

   Isso deveria ser uma brincadeira de mau gosto. Amassei o papel e o coloquei no bolso enquanto saia daquele lugar. Alguém que me observava de longe deu um leve sorriso e sumiu na escuridão.

   Dois dias depois, logo pela manhã, fui até a cafeteria para comer algo. Yan sairia do hospital a tarde e eu queria vê-lo logo. Peguei minha bandeja com dois X-burguers e um grande copo de Milkshake e me sentei. Quando tentei usar o canudo do Milkshake, senti que ele estava entupido, me forçando assoprar para expelir o que estivesse dentro. Uma bolinha de papel rosado caiu, me fazendo gelar até a alma. Desembrulhei-o e fiquei espantado com o que havia dentro.

 “Se desistir disso agora, nunca saberá da verdade...”

   Pelo visto, aquilo era realmente sério! Ainda faltavam cinco dias até a data marcada para ir até a praça 7. Eu já começava a me perguntar o que encontraria lá...

   No entanto, eu tinha coisas mais importantes para resolver naquele instante: Yan estava saindo do hospital! Originalmente eu queria fazer uma comemoraçãozinha, mas como o shishou e a Pan estavam internados, achei que era melhor só levar ele pra tomar um café...

   Quando eu o encontrei, ele já havia sido liberado, e estava arrumando suas coisas para sair:

 - Yan! Finalmente você está bem, eu fiquei tão preocupado!

 - Nhaa, Yan não queria deixar Shion preocupado... Yan tá bem agora! E tá com fome também!

 - Então venha comigo! Posso te pagar um café com bolo... Mas só isso, por que eu ando meio pobre...

 - Yan prefere leite com bolo! Leite!

 - Okay, leite...

   Era ótimo sair com Yan, porque ele me distraía dos acontecimentos recentes. Era como um sopro de felicidade. Eu aproveitei para contar a ele tudo que havia acontecido, e ele ficou realmente aborrecido por ter perdido a épica luta entra dois generais:

 - Yan queria ter visto, para torcer por Alexis! - Ele falou, fazendo biquinho.

 - Acho que não adiantava torcer Yan... Ele lutou contra Hidelgarde, e ela é bem mais forte.

 - Mas Yan queria ter visto!

   Ficamos juntos pelo resto do dia. Já era uma nove da noite quando eu o deixei em seu quarto e fui para o meu. Assim que eu entrei me assustei: lá estava, sobre o meu travesseiro, outro pedaço de papel rosado. Aquilo já estava começando a me assustar.

   Quem poderia ter entrado ali? Além de mim, ninguém tinha a chave a não ser...

   O Kuroda!! Ele era o líder dos alojamentos, o que significava que ele tinha a chave de todos eles (Inclusive o de Hidelgarde-sama). Para quem não o conhecia, a primeira impressão realmente assustava. Ele parecia um gangster, alguém pronto pra te assaltar a qualquer instante. Era um risco deixar as chaves na mão dele, não sei o que o líder tinha na cabeça...

   Fui procurá-lo e o achei no corredor 7, junto com ninguém menos que Hidelgarde! Aquela mulher estava em todo canto! Me aproximei devagar para escutar a conversa, afinal, vai que ele precisasse de ajuda:

 - Kuroda-chaaaaan!!!!! Vou precisar da minha chave. Vou passar a noite aqui. – Aquela monstra falou num tom extremamente alegre e nunca visto.

 - Hilda-chan, finalmente você vai ficar no cafofo! Vou pegar a chave pra madame. – Kuroda falou com total intimidade, como se fossem velhos amigos.

 - Acho bom que tudo esteja certinho no lugar viu, Kuroda-chan?

 - Claaro Hilda-chan, os bagulho tá tudo lá. Tem treta não.

   Fiquei chocado com tudo que vi e ouvi. E eu que achei que eles fossem se odiar á primeira vista! Ela parecia ser muito mais intima e amiga dele do que do shishou! Só eu vendo mesmo pra acreditar nisso...

   Enquanto eu estava lá tendo uma crise existencial, o Kuroda foi buscar a chave de Hidelgarde-sama. Tentei puxar assunto com ela, mas falhei miseravelmente. Simplesmente fiquei parado ali, como se eu não estivesse no local quando ela me olhou seriamente, congelando a minha alma de medo.

 - O que está fazendo aqui? Por acaso quer lutar comigo?

 - N-não Hidelgarde-sama!! Nunquinha!! E-eu só estava vindo falar com o Kuroda e...

 - Oooohh... Mas você realmente é um ratinho covarde não é... Que vergonha para o Alexis... Como se ele já não fosse vergonha suficiente...

 - A senhorita está completamente certa Hidelgarde-sama!! Acho melhor eu vir falar com ele outra hora... hahaha hahahaha haha! – E o nervosismo tomou conta de mim, me fazendo rir histericamente.

 - Puxa-saco... – Ela disse enquanto fazia uma cara de desprezo.

   Nesse instante, eu vi o Kuroda voltando até nós. Ele me pareceu Deus, de tão feliz que eu fiquei ao vê-lo. Com a mesma empolgação de antes, eles continuaram a conversa:

 - Tá aqui Hilda-chan, a chave do cafofão. Coké coisa que a madame precisar, tamo aê.

 - Muito obrigada, Kuroda-chan! Huhuhuhuhu...

   Nunca tinha visto alguém falando tão errado na minha vida inteirinha. E olhe que eu ainda morei num galpão no porto da cidade praticamente minha vida toda. A Hidelgarde deveria detestá-lo! Não que eu quisesse isso, mas... ISSO ERA MUITO BIZARRO!!

   Com isso eu quase me esquecia o motivo de eu estar ali. A Hidelgarde entrou no seu “cafofão” (Que parecia ser 10 vezes maior que o meu!) e eu finalmente fiquei a sós com o Kuroda.

 - Errr... Kuroda... san? Eu queria saber se o senhor (que ironia minha...) esteve no meu aposento nesses últimos dias e esqueceu um papel por lá...

 - Sei disso não truta. Eu não quero treta com ninguém não sabe? Só guardo as chave mesmo, não fico entrando e fuçando no bagulho lá, morô?

 - Err... Não “morei” não, sabe... Resumindo, você quis dizer que não entrou lá... Não é??

 - Eu já falei cumpadi! Num sô de fuçar nos bagulho dos outros não, tá ligado? Cuido do meu que tu cuida do teu, sacou?

 - Hm... Então eu vou indo, sabe... (Falar com alguém que eu entenda o dialeto). Obrigado pela ajuda.

 - É nois que voa bruxão! Falou aê!

   Voltei para meu quarto depois desse “diálogo” nada entendível. Fora isso, o Kuroda parecia ser uma boa pessoa (Inintendível, mas ainda assim, uma boa pessoa). Dediquei o resto da noite ao treino de compactação das cartas.

   Passei a semana alternando entre o treino e visitas a Pan e ao shishou. Ele estava bem melhor, mas ela ainda não havia acordado. Os médicos diziam que era uma situação delicada e que poderia demorar até meses para que ela acordasse. Se acordasse...

   Durante o domingo de manhã, fui a uma missão com Yan e na volta treinei a tarde toda com ele. Dei uma ajuda pra testar a máquina do Jin e só fiquei realmente livre perto da meia-noite. Decidi dar uma volta pela ordem, depois de um bom banho e isso acabou me lembrando algo.

   Eu teria que ir até a Praça 7 por volta das cinco da manhã. Mais uma noite sem dormir para o pobre Shion aqui. Já não recebi mais nenhum bilhete anônimo desde aquele dia e eu não sabia quem estava por trás disso. Só havia o Kuroda como suspeito porque ele tinha as chaves dos alojamentos, mas tudo ainda estava vago. O jeito era ir ao tal local do encontro.

   A área 5 estava interditada por riscos na estrutura e porque era o antigo local de trabalho o shishou e, como ele num fazia nada, deu nisso. Era a área mais deserta de toda a organização. Nem a cafeteria funcionava. Foi exatamente nesta área que eu encontrei o dragão da Hidelgarde no amigo secreto durante o natal.

   De certa forma, eu estava com medo do que eu pudesse ver lá, então acabei chamando o Yan para me acompanhar. Ele não era um suspeito e talvez pudesse me ajudar. Fui ao quarto dele e para minha surpresa, ele ainda estava acordado (jogando vídeo game).

 - Yoooo Shion! Veio jogar com o Yan? Yan ta numa parte difícil e não consegue passar. – Ele falou na alegria de sempre.

 - Não vim por isso. Estou aqui porque preciso da sua ajuda. O shishou ta no hospital e a Pan... Bem, não importa. Só preciso que me acompanhe até um lugar.

 - Uhhhh, o Shion ta com medinho.

 - Não é nada disso! É que... Acho que não devo te contar. Não quero envolver ninguém nisso.

 - O Yan ta ficando curioso! Conta logo! Yan promete não contar pra ninguém.

   A inocência dele fez eu me sentir um monstro por não contá-lo. Acabei não resistindo e revelando tudo. Sou muito besta com crianças. Nem me imagino com filhos...

   Estávamos indo para a praça central, lá havia um elevador que nos levaria para a área 5. Aquela organização poderia ser subterrânea, mas era imensa! Principalmente na questão de andares. Contando com a superfície, haviam onze andares, fora o andar do senhor Manson que eu não sabia quantos andares ele tinha. Temos um pequeno laboratório na superfície e mais 10 andares subterrâneos, cada um correspondente a um esquadrão.

   O nosso esquadrão é o 3º, logo é o terceiro andar subterrâneo. O quinto andar era do esquadrão do shishou, mas está interditado por causa da imensa falta de cuidados dele. Com isso, ele se mudou para o terceiro andar e acabaram virando um esquadrão só. Ou seja, na escala dos esquadrões, o 3º e o 5º são como um só, fazendo com que na contagem, pulemos do 4º para o 6º.

   Cada um desses esquadrões tem um General que lidera os seus integrantes. Por causa dessa junção da Hidelgarde com o shishou, temos dois generais em um só esquadrão e devido a isso, temos o maior esquadrão da Ordem Zero.

   Enquanto estávamos no elevador, comecei a enxergar coisas que eu não havia percebido antes. Foi uma ótima idéia terem escolhido a área 5 como ponto de encontro. Principalmente por volta das 5 da manhã. Alem de ser uma área inabitada, a pessoa ainda havia escolhido uma horário em que a ordem estivesse com pouco movimento. Ela era realmente cautelosa.

   Depois de chegarmos à área 5, fomos a procura de um mapa daquele lugar. Geralmente eles ficavam na parede do lado de fora do elevador, mas o local estava tão destruído que mal se viam as paredes. Nem sei como a estrutura do prédio agüentava! Acabei pedido ao Yan para que ele usasse sua velocidade para vasculhar o local, a procura da tal praça.

   Depois de uns 10 minutos, ele voltou trazendo as informações da analise daquele lugar.

 - Nossa! O Yan ficou realmente cansado com esse corre-corre. O chão é muito ruim de andar. Tem muita pedra e água suja em por todo o lugar.

 - E a praça Yan? Você a achou?

 - Num dos lugares que Yan foi, tinha uma placa quebrada com um “7” no chão. Yan acha que deve ser lá.

 - Você viu alguém no caminho?

 - Hm... Não. Mas Yan teve a impressão que estava sendo observado. Yan tentou procurar por rastros de poder, mas Yan não encontrou nadinha.

 - Tudo bem Yan. Agora, me mostre o caminho.

   Seguimos em frente e alguns corredores depois, viramos á esquerda e depois continuamos em frente. O caminho era realmente difícil de andar e causava a impressão de que o percurso era bem maior.

   Logo depois de chegarmos à suposta Praça 7, uma voz falou conosco. Não vinha de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo. Era uma voz que não se sabia se era feminina ou masculina. Ela falou suave e pausadamente:

 - Ola, Shion e Yan. Vocês podem me chamar de Go (Cinco em japonês).

   Estávamos prestes a conhecer algo obscuro do passado de Pandora.


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