Código Zero escrita por Rhyca Corporation


Capítulo 18
Capítulo 17 - Uma Hora




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Gracócia era muito grande e isso ficou bem claro quando tivemos a necessidade de comprar mantimentos. Nem a Passos de Anjo do Yan serviu para encontrarmos um lugar que vendesse comida, pois o pequeno corredor havia se perdido durante a busca.

Aquela era uma situação vergonhosa. Estávamos no meio de uma grande cidade e sem dinheiro algum. Tudo culpa do shishou esqueceu providenciar os mantimentos do nosso esquadrão.

Por outro lado, Lewinsk estava na maior fartura e sequer quis dividir aquilo conosco. Pensando bem, ela lembrava a Hidelgarde-sama no quesito mão-de-vaca. Até que Yan teve uma idéia:

– Yan e vocês poderiam fazer algo para entreter as pessoas e ganhar dinheiro.

– Não temos tempo para isso. – Respondi. – Amanhã o selo vai estar quebrado e não podemos fazer algo que nos desgaste.

– Então porque não entramos nesse cassino e apostamos algo? – Sugeriu Shishou, apontando para uma pequena casa a nossa frente.

– Não temos nada para apostar e, pelo que eu saiba ninguém é bom com jogos de azar. – Falei nossa triste realidade.

– Mas você usa baralho, não é Shion? – Disse Yan inocentemente.

– É verdade, mas eu nem me lembro dos jogos existentes, embora eu costumasse jogar com o Fred e a Misha...

– Quem são eles? – Perguntou Yan.

– Esquece isso, vamos nos concentrar em achar comida. – Falei olhando para os lados.

Depois de algum tempo andando sem sucesso, Yan quebrou o silêncio com algo que eu não havia percebido.

– Tio Alexis, Yan quer saber o quê os outros três generais fizeram quando a ordem lutava contra os príncipes.

– Que “outros três generais?” – Shishou perguntou depois de se recuperar do choque de alguém telo chamado de “Tio”.

Para ele, ser chamado dessa forma era sinal de velhice e ainda por cima ser chamado disso por alguém do sexo masculino era fatal para ele. Alexis mal me suportava, pois ainda estava inconformado por eu não seu “uma garotinha adorável.”

Depois de shishou se recuperar do “golpe” recebido ele respondeu:

– Eles ficaram na organização para proteger todos que estavam lá, com exceção do Darkreid que ainda não era general. Foram dias muito difíceis.

– Quem foram os generais que ficaram na Ordem? – Perguntei enquanto analisava a resposta dada por shishou.

– Tina Witchwood da área quatro, Blackgate da área oito e Lewinsk da área nove. Por quê?

– Espera um momento... – Falei enquanto percebia algo inimaginável. – Então... Quer dizer que o senhor participou da luta contra os príncipes?! O SENHOR?! Que levou uma surra da Hidelgarde-sama? Que sequer venceu a general Lewinsk nos treinos diários? Você que só pensa em mulher e gasta o que tem em bebidas, mesmo tendo uma dívida imensa com a Hidelgarde? VOCÊ?!

Quando terminei de falar, shishou me pareceu um pouco cabisbaixo. Não faço idéia do que o deixou assim...

Ainda tentando ficar por cima, shishou retrucou:

– Mas a Hilda é um monstro. Ninguém a vence sem morrer ou perder a sanidade. Ser encarado por ela é o suficiente para você se matar... Antes que ela te dê uma sutil ajuda.

– Mas enfim, com qual príncipe o senhor lutou? – Perguntei quase que instintivamente.

– Lutei contra Belzebu, o príncipe da gula. E o selei. – Shishou se encheu de orgulho ao responder aquilo.

Parecia que uma luz brilhava atrás dele enquanto uma leve brisa correu por seus vermelhos e longos cabelos. Fiquei de queixo caído ao ouvir que ele também o havia selado. Até que Yan, gentil como sempre, quebrou o restinho do orgulho que shishou tinha com uma afirmação fatal:

– Então ele não era forte o suficiente, não é Shion? Para o Tio Alexis ter ganhado, Yan imagina que ele seja realmente muito fraco.

– Yan... Não seja tão malvado... – Alexis falou quase chorando enquanto tentava inutilmente se recuperar do golpe sofrido. – Vocês só me pegaram em momentos ruins e por isso vocês têm uma imagem ruim de mim. MAS NÃO É A VERDADEIRA CARAMBA!!

– Sh-Shishou... A-acho melhor o senhor parar de tentar concertar a imagem que temos do senhor. É essa mesmo e não vai mudar até que você prove o contrário. – Falei ainda incrédulo com a recente notícia.

Voltamos para o acampamento com uma aura negra que nos circundava. Yan continuava feliz, saltitante e inocente como sempre enquanto shishou estava sendo arrastado por mim como uma criança arrasta um brinquedo pelo chão.

Quando chegamos, encontramos Lewinsk, que parecia extremamente aborrecida:

– Onde vocês estavam até agora? O selo quebra amanhã! É nosso dever ficar de vigília durante essas vinte e quatro horas! Como vocês podem ser tão irresponsáveis?

– Desculpe Lewinsk-sama - Eu falei. - Fomos tentar arrumar comida. Esquecemos de providenciar isso na ordem.

– Fiquem com fome então! Ninguém sai desse acampamento até tudo estar resolvido, fui clara? De jeito nenhum que eu vou deixar a cópia da Rhyca escapar de mim!

Concordamos com ela, e já estávamos entrando quando Yan fez mais uma pergunta infeliz:

– Tia Lewinsk, é verdade que o tio Alexis selou um príncipe? Eles são tão fracos assim?

Vi uma veia saltar na testa da general ao ser chamada de tia, enquanto a aura negra do shishou aumentou ainda mais ao ser chamado novamente de fraco:

– De fato, o senhor Schiffer selou o sétimo príncipe, mas vocês estão muito enganados se pensam que ele é fraco. Belzebu teve força suficiente pra dizimar toda uma cidade. É um monstro, assim como todos os outros.

O ego do shishou pareceu inflar depois de ouvir aquilo, mas foi pisado novamente quando Lewinsk concluiu a frase:

– Mas, entre todos os príncipes, ele é de fato o mais fraco.

Tive que segurar o riso, mas era uma missão quase impossível. Pobre shishou!

– Eu não sou fraco, não importa o que vocês pensem. Acham que sou general à toa? - Ele falou, todo revoltado.

– Fique calmo Alexis. - Lewinsk interviu. - Conheço a sua força e sei que não é pouca. Afinal de contas, lembro que eu tentei selar Belzebu e não consegui.

Aquilo sim era novidade pra mim. Shishou era mais forte que Lewinsk? Mesmo perdendo sempre pra ela nos treinos? Acho que ele estava falando sério quando disse que mulheres bonitas era seu ponto fraco...

Depois daquela discussão nós voltamos para perto de Mammon. Ela vinha se mexendo com bem mais frequência, e havia até mesmo aberto os olhos (tão escuros quanto seu cabelo), mas os fechou logo em seguida. Uma coisa que eu havia notado era que, quanto mais fraco o selo ficava, mais maligna era a aura que nos envolvia, tornando o ambiente quase insuportável. Era fácil perceber o quão poderosa era aquela criatura.

Fizemos novamente turnos de vigilância, sentindo a tensão maior a cada hora que passava. Quando amanheceu, nos reunimos em torno do selo e esperamos. De acordo com as previsões de Hidelgarde-sama, faltava menos de uma hora para que o mais alto escalão de Gehenna ficasse livre.

Hilda e Pan estavam sozinhas naquele castelo. Isso porque as ordens da rainha foram que, com exceção de Pandora, nenhum subordinado deveria entrar naquele recinto. Não importa o que acontecesse. Me pareceu que ela estava querendo protegê-los, mas isso soou estranho então achei melhor encarar como “algo que fosse atrapalhá-la” ou “algo que ficaria em seu caminho”.

Hidelgarde voltou a encarar o príncipe com um olhar superior, como se o estivesse provocando. Estava claro o quanto ela queria que aquele selo fosse desfeito para novamente despedaçar o orgulho de Belial como na primeira vez. Ela estava tão obcecada com aquilo que nem ouvir quando Pan falou.

Belial já havia recuperado a consciência e podia falar. Sempre com o nariz em pé ele começou falando com Hilda enquanto seus orgulhos se confrontavam intensamente:

– Há quanto tempo estou aqui? Me sinto um lixo, embora você esteja parecendo bem pior. – Ele falou provocando.

A rainha simplesmente ignorou fazendo com que ele perdesse a paciência e tentasse avançar em direção a ela, mas o príncipe mal podia se mexer e isso o frustrou muito. Ao perceber que Pandora também estava naquele local, Belial se voltou para ela, refazendo a pergunta:

– Você, mulher. Quanto tempo faz que estou aqui?

Hilda não se conteve e lançou uma resposta venenosa como sempre:

– Sete anos, quando eu te dei uma surra e esmaguei você e seu pequeno poder.

– Ao que me lembro, você estava sangrando muito depois que recebeu meu golpe mais fraco. – Ele rebateu.

– Parece que essas correntes não estão quentes o suficiente para fritar sua língua imunda. Mas vou tratar de corrigir isso em alguns instantes. – Hidelgarde-sama falava mantendo a expressão fria.

– Parece que essa anãzinha está tentando dizer algo, mas ela é tão pequena que mal consigo ouvi-la.

– Então porque olha para cima para falar com essa “anãzinha”? Vejo que um ratinho está tentando ficar a altura do seu orgulho medíocre. Como está o clima ai EMBAIXO?

Depois de algum tempo, aquilo parecia uma briga de crianças com seis anos de idade e estava quase cômico.

– Rhyca, pode ter certeza que dessa vez eu vou acabar com você.

– Do mesmo jeito que fez a sete anos atrás? - Ela rebateu, provocando mais e mais.

Belial se calou, mas continuou encarando Hilda-sama com uma expressão quase insana. A rainha não deixou barato, e o humilhou mais um pouco:

– Isso mesmo, cale a boca, quem sabe assim você preserva o pouco orgulho que ainda te resta...

– Eu estou muito acima de você maldita! Naquele dia, você me selou por uma fatalidade!

– Diga o que quiser. Provei que sou superior à você quando te selei, e posso muito bem fazer isso de novo.

– Veremos...

Perto de Liester, Bruce e Darkreid espiavam desconfiados o príncipe selado. Tinham sido informados que os príncipes deveriam começar a se mexer quando faltasse pouco tempo para o selo se desfazer, no entanto Belphegor ainda estava imóvel.

– Ei mano, será que alguma coisa está errada? - Bruce perguntou, parecendo preocupado.

– Acho que não. O selo está se desfazendo claramente, afinal o cabelo dele agora se mexe.

– Verdade, antes o vento batia e o cabelo continuava no lugar. Mas se o selo está fraco, então por que ele não...

Antes que Bruce pudesse acabar de falar, Belphegor se mexeu, assustando os dois. Ele parecia estar se ajeitando na cadeira, mas depois de um momento, seus olhos se abriram. O príncipe tinha olhos estreitos e de um cinza tão claro que parecia quase branco. Ele olhou para Darkreid e Bruce por alguns segundos e então falou, sua voz sonolenta e arrastada:

– Hmmm, bom-dia... Vocês seriam...?

– Hm..., então a hora está chegando. Finalmente, eu já estava morrendo de tédio! - Darkreid falou, parecendo empolgado.

– Que coincidência, eu também. - O príncipe falou, soltando um longo bocejo. - Mas não vejo nada tão interessante assim para fazer você se agitar...

– Agora é só o esperar o selo quebrar completamente. - O general disse, enquanto acendia satisfeito um charuto.

– Selo? - Belphegor pareceu confuso por alguns instantes. - Aaaahh sim, o selo... Faz quanto tempo que eu estou aqui? Vocês saberiam dizer?

– Sete anos. - Bruce respondeu.

– Só isso? - O príncipe parecia realmente decepcionado. - Por isso que eu me sinto tão cansado, dormi muito pouco. Bem, me parece que ainda falta um tempinho até eu ficar totalmente livre, então eu vou tirar uma sonequinha... Me chamem quando o selo se desfizer, okay?

Dito isto ele caiu no sono. Assim mesmo, automaticamente, deixando o general e seu assistente bastante espantados.

– Ei mano... Quem foi mesmo que selou esse príncipe?

– Foi o Gregorius... Por que a pergunta?

– Por nada... Mas agora eu entendo porque Gregorius se aborrece tanto com o general da oito... Que príncipe mais folgado!

Darkreid começou a rir, mas acabou falando:

– Realmente ele é muito descansado, mas não podemos esquecer que ele também é bastante poderoso. Mas finalmente vou poder me desenferrujar contra um inimigo de valor. E Bruce... – O general fez uma pausa, deu uma tragada no charuto e falou depois de expirar toda fumaça. – Não quero que participe dessa luta. Vai acabar me atrapalhando. – E ele fez uma expressão de quem não se importava com o assistente.

Mas a verdade é que ele não queria que o amigo se ferisse. Bruce apenas deu um sorriso com o canto da boca e os dois prosseguiram com os últimos preparativos.

Enquanto isso, em Heaveniss, as coisas pareciam esquentar com Asmodeus a beira da liberdade. A parte da máscara que cobria a boca dela estava quebrada devido ao enfraquecimento do selo. Grandes e vermelhos, os lábios da luxúria pareciam atrair qualquer um que olhasse, não importava o quão rápido fosse essa espiada.

– Fallman tinha razão em ter coberto o rosto dela. – Hammer falou evitando contato visual com a prisioneira. – Acho até que ele deveria ter coberto todo o corpo. Está ficando muito difícil de resistir.

– O senhor olhou para ela?! – Ace perguntou assustado.

– Claro que não. Mas a curiosidade ta me incomodando há algum tempo. Ace, aconteça o que for não olhe para o rosto dela. Com o rosto coberto o príncipe já é atraente por si só, imagina quando essa mascara sair. Acho até melhor que você espere lá fora enquanto eu resolvo as coisas por aqui.

– Não posso general. Sei que ainda sou inexperiente, mas peço para que retire esse pedido. Não vim aqui para ser estorvo de ninguém e prometo me esforçar.

Sem dúvida, Ace era uma pessoa esforçada, embora realmente fosse inexperiente. Hammer ficou um pouco surpreso com aquela resposta e acabou consentindo a presença dele durante a luta.

Já em FrozenShot, o maior problema era o medo de que Leviathan abrisse os olhos. Ele vinha se mexendo constantemente ao longo de várias horas, mas seus braços ainda estavam presos, de forma que, pelo menos por enquanto, eles estavam seguros.

Mas Gilliard sabia que a segurança era temporária, fato comprovado quando, faltando apenas uma hora para o rompimento do selo, o príncipe ficou com quase todo o lado direito do corpo livre. A general se postou perto dele, pronta para mantê-lo de olhos fechados, quando Leviathan se pronunciou:

– Não se preocupe, não pretendo abrir os meus olhos. Seria um gasto desnecessário de energia, e eu sinto que vou precisar de muita em breve.

– Leviathan, seu maldito! Tanto esforço para prender você aí, e agora você se liberta? - Gilliard falou, extremamente raivosa.

– Você está surpresa senhorita general? Mas eu já sabia que isso ia acontecer. Aliás, eu já sabia que seria selado por você antes mesmo do seu nascimento.

– Tch. Isso é patético. Todo mundo sabe que você é cego, embora seu melhor golpe venha dos olhos.

– Estes meus olhos podem ser cegos, mas eu sou capaz de enxergar coisas que ninguém mais vê. O passado e o futuro, e todas as coisas do mundo. - Leviathan falou, enquanto abria um imenso sorriso.

– Então você já sabe o que vai acontecer quando o selo quebrar não é? Você irá morrer... Pelas minhas mãos!

– Shishishishishishi... – Leviathan falou como se fosse para ela fazer silêncio. - Sim, eu sei o que vai acontecer. Mas não é nada do que você imagina. Espero que não se decepcione muito, Gilliard.

Um silêncio enorme dominou aquela câmara subterrânea.

Os outros dois príncipes estavam tão inquietos quanto os demais e vez ou outra proferiam alguma ameaça ou promessa de morte. Mammon continuava com uma expressão tão tediosa quanto Lewinsk. As duas se encaravam, mas nenhuma palavra foi dita durante mais ou menos meia hora até que a loura não aguentou e aproveitou para despejar todo o ódio que tinha por Hidelgarde-sama naquele príncipe:

– Sua imitação daquela serpente nojenta, vou perfurar sua cabeça assim que esse selo for desfeito.

– Vão te pagar por isso? Você vai ser recompensada financeiramente? Se não for, não vale à pena. É só isso o que tenho a dizer. – Falou aquela criatura marcada com o numero três na mão.

Depois disso, o príncipe permaneceu calado até que o selo fosse completamente rompido e enquanto isso, Lewinsk ficava a ponto de ter um ataque cardíaco de tanta ansiedade. Shishou achou melhor não nos metermos no assunto até que a general se resolvesse com Mammon, pois aquilo poderia sobrar para nós que, de certa forma, não tínhamos nada a ver com a inimizade de Lewinsk com Hilda-sama.

Em Vulcalpus, o príncipe da gula não falava de outra coisa a não ser comida. Inclusive suas ameaças eram adequadas a ele. Fallman estava a sós com Belzebu naquele mausoléu e o clima ali não era muito amistoso. O general poderia ser tão assustador quanto a Rainha Serpente.

– Que saco! Se você continuar insistindo em não me trazer nada para comer, VOCÊ será o primeiro a ser devorado. – Belzebu esbravejou.

– Cale-se! Nunca lhe ensinaram modos a você? Se não, ficarei satisfeito em fazer isso. – O general falou abrindo um imenso sorriso com um ar de psicopata.

Nessa hora, uma forte luz começou a brilhar sinalizando a quebra dos selos. Os generais tomaram a posição de combate preparando-se para um golpe surpresa ou algo do tipo. Darkreid falou com um sorriso no rosto enquanto se alongava:

– Finalmente é hora da diversão!


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