Código Zero escrita por Rhyca Corporation


Capítulo 15
Capítulo 14 – Contagem para o Inferno




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   A volta para a organização foi terrível. Havia um clima pesado no ar, algo sufocante, que nos manteve em silêncio durante toda a viagem. Assim que chegamos, fomos logo recebidos pelo shishou. Ele ficou feliz (e aliviado) ao perceber que havíamos conseguido pegar a Rosa da Eternidade, e ficou ainda mais alegre em ver que havíamos capturado Kazumi:

 - Nakashima Kazumi!!! Quer dizer que você estava se escondendo com o BARON de gelo hein... Onde está o seu irmão?

 - Shishou, não precisa perguntar isso à ele... Eu posso te passar tudo por relatório.

 - Parece que alguma coisa aconteceu não é? Muito bem. Senhorita Anelise, poderia levar o senhor Nakashima até a prisão? Conheço alguém que vai adorar conversar com ele mais tarde...

   Anelise não respondeu, apenas pegou Kazumi pelo braço e saiu, quase que arrastando ele. Eu sabia que ela estava se sentindo um fracasso depois do que havia acontecido.

 - Vamos ate minha sala, quero saber como foi a missão. Em detalhes. - Disse o shishou.

 - Shishou, e o Kazumi? O que irá acontecer com ele?

 - Ele será interrogado. É possível que tenha preciosas informações sobre Gehenna.

 - O senhor que vai fazer isso shishou?

 - Não - Pan respondeu por ele - Quem vai interrogar o senhor Nakashima é Hidelgarde-sama.

   Senti muita pena de Kazumi. Tinha certeza de que a Rainha Serpente não iria poupar veneno nesse interrogatório. Aliás, eu achava que ia muito pior...

 - Shishou, por um acaso é permitido... Hmmm... Torturar nos interrogatórios?

 - Por Deus Shion, é claro que não! O que você acha que nós somos? Monstros?

   Bem, estávamos falando de Hidelgarde-sama não é mesmo? Ela era um conceito totalmente novo de monstruosidade. Acabei deixando para lá. Se não era permitido, não iria acontecer e pronto. Agora era hora de me preocupar com o relatório que iria fazer para o shishou.

 - Com licença senhor Schiffer. - Começou Pandora. - Não é melhor deixar o relatório para amanhã? Embora eu tenha curado Swan e Shion, eles ainda precisam descansar.

 - Sim, sim, sem problemas. Não tenho pressa, vamos deixar isso para amanhã. Até lá, Hilda já vai ter arrancado alguma coisa do Nakashima, e então, teremos mais coisas para discutir.

   Mentalmente, eu agradeci a Pandora. Estava realmente cansado. Me perguntava se Kazumi realmente saberia de alguma coisa... Só esperava que a Rainha arrancasse apenas informações...

   O lugar para onde Kazumi havia sido levado era horrível. Escuro e estranhamente úmido, o calabouço se encontrava nas dependências do general Hammer. Normalmente os presos eram interrogados por ele, mas dada a importância de Kazumi, uma exceção foi aberta. Haviam boatos de que Hilda tinha um modo mais eficaz de conseguir informações...

   Quando Hidelgarde-sama chegou, a primeira coisa que ela "pediu" foi privacidade. Kazumi estava sentado em frente a uma mesa, ainda atordoado pela perda do irmão. Mas eu tinha certeza que a serpente não teria um pingo de piedade:

 - Nakashima Kazumi... Espero que facilite as coisas. Vai ser melhor para mim, e garanto que para você também. Podemos começar?

 - Não tenho nada a dizer. Acha mesmo que eu sei alguma coisa sobre Gehenna? Eu não era mais que um peão.

 - É mesmo? Você não está colaborando sabe... E eu que achava que o inútil era o seu irmão...

   Isso foi como um tapa em Kazumi. Na hora ele se levantou, o rosto muito vermelho e os punhos cerrados:

 - Quem você pensa que é para falar assim do meu irmão? Você não sabe nada sobre ele!

 - Sei que seu irmão era uma bola de carne inútil, que contava apenas com uma enorme força bruta.

 - Ele era muito mais do que isso! Kurikura era uma pessoa incrível e...

 - E acabou morto não foi? Você devia agradecer Zardmaru, pois ele foi piedoso, matando seu irmão rapidamente. Se eu estivesse no lugar dele... Faria seu irmão sofrer tanto que ele iria me implorar pela morte...

   Kazumi tentou avançar em Hidelgarde, mas seus braços estavam presos por correntes ao chão.

 - Você é um demônio! Não tenho informação alguma para você! Então me mate logo e acabe com isso!

 - Matar? Ohh não... Tenho muitas coisas divertidas para fazer com você... Você vai sofrer terrivelmente, sem que te eu encoste um dedo... E quando eu acabar com você, garanto que você vai ter me dito tudo... O que sabe, e até o que não sabe...

   Sete andares acima, eu estava descansando em minha cama. Era maravilhoso finalmente estar em um lugar seguro, onde eu não corria risco de morte. Eu acabei pegando no sono, e não sei por quantas horas eu dormi, mas acordei com Pan batendo na porta do meu quarto:

 - Shion, desculpe incomodar, Mas Hilda-sama me pediu para falar com você.

 - Sem problemas Pan, eu já estava acordado. - Era mentira, mas ela não precisava saber. - O que houve?

 - Hilda-sama quer que você leve o senhor Nakashima até o laboratório dela.

 - Até o laboratório? Mas eu achei que ele havia sido preso...

 - E ele foi, mas por algum motivo foi transferido para uma pequena área de contenção que existe no laboratório de Hilda-sama.

   Se aquela era uma ordem de Hidelgarde-sama, recusar não era uma opção. Então eu lavei o rosto e me vesti rapidamente, indo depois até os andares inferiores. Quando encontrei Kazumi, levei um susto: ele estava com uma expressão chocada, o rosto lavado de lágrimas.

 - Kazumi! O que houve com você?

 - Daqui... Tire-me daqui... Me leve para bem longe daquela mulher, por favor... Quem quer que você seja... Só me deixe longe dela...

   Pelo visto ele não havia me reconhecido... Não tinha um único machucado, mas estava claro que ele estava em péssimo estado psicológico... O que a Rainha serpente havia feito com ele?

   A situação em que Kazumi se encontrava era realmente assustadora. Ele continuou insistindo para que eu fizesse algo para manter ele distante da Hidelgarde-sama, então achei melhor não contar nada sobre para onde eu o estava levando.

   Ao chegarmos á área 3, fomos diretamente para o local que Pan havia indicado. Kazumi berrava para que eu o salvasse daquela mulher, mas isso só me deixou mais preocupado com ele, então o deixei dentro da sala de contenção e saí sem falar nada.

   Depois disso, fui ao treino diário da Lewinsk e fiquei realmente livre durante o final da tarde e com isso aproveitei para fazer o relatório da missão, ocupando-me pelo resto da noite. Corri o mais rápido que puder para encontrar shishou acordado, mas minhas tentativas foram em vão.

   Chegando á sala dele, encontrei um papel rosado sobre a mesa do Alexis e isso me lembrou dos bilhetes que recebi cerca de dois meses atrás. E se tratava exatamente sobre o mesmo assunto abordado anteriormente: Quem seria Pandora Heins?

   “Caro manipulador de cartas, acredito que você não tenha se esquecido sobre nossa ultima conversa e que também não tenha perdido o interesse por aquele nosso assunto. Precisamos nos “ver” novamente o quanto antes. As coisas estão ficando cada vez piores e não posso mais esperar. Encontre-me no lugar de sempre, ainda hoje. Caso esse bilhete seja desconsiderado, você será o responsável pela morte de Pandora Heins.”

   Não havia nenhuma assinatura ou algo que apontasse quem teria sido o autor daquele recado. E desde quando Pan estava correndo risco de vida? Ela ficou gravemente ferida na luta contra a Hidelgarde-sama, mas agora ela já está fora de perigo. Eu precisava mostrar aquilo para o Yan e pedir a ajuda dele novamente. Da ultima vez que tentei mostrar os bilhetes, todos eles haviam sumido antes mesmo que eu pudesse notar. Ainda nem sei como o Yan acreditou em mim... Espera um pouco! Ele é do tipo que não acreditaria em algo que fosse um absurdo tão facilmente. Talvez ele esteja ajudando a pessoa que me manda bilhetes. Com a Passos de Anjo, ele poderia colocar os papéis em qualquer lugar que eu fosse entrar e eu nunca perceberia.

   Não! Isso não pode ser possível. Devo estar pensando besteiras devido ao sono. Mas por um lado, algumas coisas pareciam ter lógica. Pensando bem, era melhor não falar nada para o Yan e agir sozinho mesmo. Decidi que dormir seria o melhor a fazer e quando eu acordasse, colocaria minhas ideias no lugar. Ir até a área 5 para ouvir uma voz falar coisas sem sentido era algo idiota a se fazer.

   No dia seguinte, logo quando me acordei, pude ver uma folha rosada rolando por baixo da porta e com isso acabei me levantando para ver do que se tratava, embora eu já tivesse uma suposição.

   Era outra daquelas cartas que me chamavam para a área 5 para ter um “encontro” com a voz. Mas ao ler, o que me chamou a atenção foi a existência de uma única frase no meio da folha.

   “Está decidido: Pandora Heins morrerá em breve... E não foi por falta de avisos...”

   Fiquei sem reação enquanto aquela frase rodava pela minha cabeça. Shishou me chamou pela caixinha de som que havia em meu quarto e isso me despertou do “choque” daquela mensagem. Sem sombra de dúvida, aquele papel não era o melhor jeito de se dar uma notícia. Guardei o bilhete numa das gavetas e me ajeitei para ir ao escritório do shishou.

   Quando cheguei tive uma surpresa. Lewinsk e Swan também estavam lá, o que significava que a discussão seria séria.

 - Muito bem. Agora que o Shion chegou, nós já podemos iniciar. - Falou o shishou.

 - Finalmente. Já é hora de conversarmos sobre o que será feito. - Lewinsk completou, sempre com aquela peculiar expressão de tédio.

 - Err, shishou? O senhor me chamou aqui para...?

 - Sente-se. Eu e Lewinsk vamos discutir como agir em relação à Mammon. Você e Swan devem prestar bastante atenção, não só porque estarão lá, mas também para aprender qual a linha de pensamento deve-se adotar ao se enfrentar um príncipe. Qualquer um deles.

   Então eu me sentei e comecei a prestar bastante atenção. Tinha certeza que as coisas que fossem ditas ali poderiam salvar a minha vida.

 - Mammon hein? - Lewinsk falou. - De todos os príncipes, tínhamos que ficar justo com ela? Pra mim sempre foi a pior de todas.

 - Bem, não é tão poderosa quanto Belial. Devíamos ficar agradecidos por isso.

 - Não fui eu que selei Mammon, mas já ouvi boatos sobre ela que dizem que ela é muito escorregadia, usa truques sujos e golpes baixos. Pelo menos Belial, até onde eu sei, luta com dignidade.

 - Quem foi mesmo que selou Mammon? Eu nunca me lembro. - Shishou perguntou

 - Hammer. Ele me contou que foi muito complicado. Quando ele pensava que tinha conseguido, ela escapava.

   De repente eu me lembrei de uma coisa: Hidelgarde-sama tinha sido bem clara sobre não querer lutar contra Mammon. Eu sabia que não tinha nada a ver com o que estava sendo discutido ali, mas a curiosidade foi maior, e eu tive que perguntar:

 - Hmmm... Por que Hidelgarde-sama não quis lutar contra Mammon?

 - Vou lhe dizer por quê. - Começou Lewinsk, parecendo repentinamente raivosa. - É porque Hidelgarde é ruim como os príncipes. Alias, aquela mulher é o próprio diabo!

 - Não diga algo assim minha deusa do sol. Shion, Hilda não luta contra Mammon porque ela considera um erro. Só por isso. – Explicou Alexis.

 - Erro? Como poderia ser um erro shishou?

 - Ela admira a forma de Mammon de pensar, admira a ganância desmedida dela. As duas pensam de forma muito igual. O terceiro príncipe também não luta contra Hilda. Na época, tinha um monte de boatos esquisitos fervilhando pela organização sobre as duas...

 - Príncipe? - Eu perguntei - Não seria princesa? Mammon é uma mulher não é?

 - O título existe apenas no masculino. Existem outros príncipes mulheres, Mammon não é a única. - Shishou explicou.

 - Não importa o que você diga Schiffer, eu não consigo confiar em Hidelgarde. Ela ainda vai nos mostrar a verdadeira face dela, e eu quero ver a cara de todos vocês depois que ela nos trair!

 - Não vamos falar sobre isso Lewinsk! Hilda pode ser acusada de qualquer coisa, menos de traição! Tem sido leal a nós desde os dezoito anos. Eu confio nela.

   Shishou era realmente amigo da Rainha. Eu sempre me perguntava se isso era recíproco. Quero dizer, ela era tão ruim com ele...

   O resto da reunião foi uma série de discussões sobre táticas. Confesso que não entendi muita coisa, mas pelo menos shishou e Lewinsk pareciam preparados para tudo. O dia estava cada vez mais perto, faltando apenas pouco mais que quatro meses.

   A ansiedade e o nervosismo me consumia a medida que o tempo passava. Eram dias torturantes. Estávamos prestes a lutar contra algo que a Hidelgarde-sama teve dificuldades para vencer e que todos descreviam como uma das criaturas mais fortes já encontradas. Um general também morreu durante esse confronto e tudo me fazia querer fugir.

   Ainda havia o ultimo bilhete que recebi dizendo que Pandora morreria em breve. O que aquilo queria realmente dizer? Talvez ela não devesse participar do confronto com os príncipes...

   E tem mais: quem estava me mandando àquelas mensagens sobre Pan? Não havia ninguém em mente que eu pudesse apontar como culpado. Eu sentia que estava entrando num buraco cada vez mais fundo... E sem volta.

   Durante os últimos dias, quase não saí pra alguma missão, e com isso pude me dedicar melhor ao meu treino de compactação de cartas. Também não deixei de comparecer nos treinos diários da General Lewinsk.

   Faltando poucas semanas para o confronto direto contra Gehenna, fui convocado para uma missão de resgate junto com o Yan e o Alexis, numa cidade portuária chamada San Verugo. Teríamos que nos encontrar e proteger a volta de um integrante da Ordem.

   Segundo shishou, ele era assistente de Gilliard, que estava trabalhando como espião em Gehenna e estava voltando cheio de informações do inimigo. Não poderíamos perder uma fonte importante no trajeto de volta a organização.

   Alexis também disse que a própria Gilliard queria ir buscá-lo, mas o senhor Manson a proibiu. No lugar dela, o lider escolheu o shishou. Como se tratava de um espião coberto de informações, um general seria bom para evitar imprevistos.

   Passamos mais de cinco horas esperando pelo espião e, entre uma hora e outra shishou cantava uma mulher ou contava uma de suas piadas sem graça. Nem o Yan ria de tão sem graça que eram. Alexis era tão bom com piadas como ele é com mulheres...

   Quando já estava escurecendo, escutei alguns passos e ao tentar informar ao shishou, uma lamina surgiu bem próxima ao meu pescoço. Rapidamente Yan desapareceu do meu lado e quando pisquei meus olhos, eu estava longe daquela lamina e de frente para seu portador.

   Alexis continuou parado onde estava e começou falando:

 - Continuo me afogando nos grandes e redondos olhos azuis da Gilliard, que por um acaso não são as únicas coisas grandes e redondas que ela tem, não é, Hoshitake? – Shishou falou enquanto olhava por cima do ombro o homem que carregava uma foice enorme.

   O cara da foice pareceu não gostar da frase dita pelo shishou e isso ficou muito claro porque o rosto dele mudou completamente para uma expressão raivosa, embora tivesse a boca coberta. O clima ficou realmente pesado enquanto o tal de Hoshitake encarava Alexis.

 - Já falei que quero seu olhar libidinoso longe de Gilliard-sama. Se eu pegar você se engraçando para ela, eu juro que acabo com a sua vida.

   Shishou começou a gargalhar, claramente ignorando o aviso, algo que eu considerava um erro. Hoshitake tinha uma aura terrivelmente ameaçadora. Cabelos negros e curtos, olhos também escuros e sem vida, com o rosto coberto por bandagens do nariz para baixo. Além do que, ele carregava aquela foice enorme. Eu não achava muito inteligente levar aquele homem na brincadeira, mas estávamos falando do shishou, não é...

 - Bem Hoshitake, todos nós esperamos que o seu tempo em Gehenna tenha sido produtivo... - O shishou falou.

 - Foi muito difícil descobrir qualquer coisa, todos em Gehenna são muito desconfiados. Mas tenho duas informações extremamente interessantes...

 - Então vamos voltar logo. Precisamos convocar uma reunião emergencial.


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