Despedaçada escrita por CrazyShadows


Capítulo 1
Despedaçada


Notas iniciais do capítulo

Olá! Está uma homenagem minha ao Rev, não é necessário esclarecer o porque da homenagem, a data marcada no calendário basta.
Não farei notas grandes, pois há um pequeno texto que seguirá esse texto.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/184754/chapter/1

Despedaçada

- Brenda? – perguntou Matt do outro lado da linha com a voz um tanto embargada.

- O que foi ogro? Vai me falar que vocês vão desistir da viagem! – exclamei já deduzindo sua ligação.

- Bre, preciso te dar uma notícia, mas é melhor que venha até aqui em casa. – pediu fungando.

- Fala logo o que é Sanders! – já estava exaltada com todo aquele mistério.

- Venha logo estou te esperando. – dito isso desligou o telefone.

  Troquei meu pijama leve por calça jeans e um agasalho qualquer, fui até o banheiro lavar o rosto tentando espantar a ressaca da noite passada, eu e Jimmy havíamos bebido mais que dois cachorros velhos, acordei sem saber como o mesmo havia  voltado para casa naquele estado.

  Dirigi calma pelas ruas vazias e estacionei em frente ao sobrado de Matt. Com minha chave abri o portão branco e segui para a porta já destrancada, encontrei o brutamonte jogado no sofá da sala vazia.

- Ei Matt o que houve? Foi a Val de novo? – perguntei observando seu rosto  e imaginando o que a loira tinha aprontado dessa vez.

- Bre, eu preciso que você me prometa que vai se controlar ok? – pediu puxando minha mão para sentar ao seu lado.

- Han? Não estou entendo! Abre o bico logo Sanders! – minha voz começava a se alterar, ouvi um longo suspiro dissipar de seus lábios.

- Brenda, o James... Ele... Ele foi encontrado morto em casa.

  Seria exagero demais dizer que por um minuto eu me senti morta? Seria exagero demais dizer que por breves minutos eu senti meu coração falhar? Nesses mesmos minutos permaneci calada tentando digerir as informações que me eram dadas.

- Não Matt, não pode ser... Vocês estão brincando e aliás isso é uma brincadeira de muito mau gosto! – comentei me levantando mantendo a carranca e seguindo para as escadas da casa.

“Jimmy”  Chamei abrindo a porta do primeiro quarto.

“Jimmy, já pode sair!” Abri a segunda porta tendo os sentidos já falhando.

“JIMMY” Gritei já me escorando na parede seguindo para a próxima porta.

“JIMMY” “JIMMY” Corri um pequeno seguimento antes de cair de joelhos no chão já me debulhando em lágrimas. Fui levantada por mãos macias que sustentaram meu corpo.

- Ele se foi pequena... Mas calma, tudo vai ficar bem... – sussurrou Zacky em meu ouvido me apertando contra seu corpo.

  O empurrei para trás transtornada e bati as costas contra um corpo atrás de mim, era Johnny que tentou me segurar em seus braços, mas não obteve sucesso.

- Cadê o Brian? – perguntei quase que automaticamente e os dois se entreolharam.

- Não sabemos, ele saiu quando ficou sabendo da notícia e... – não terminei de ouvir o menor saindo em direção às escadas e praticamente pulando os degraus a fim de chegar ao chão.

  Já nem me dava conta da quantidade de água que saia de meus olhos, passei quase que voando pela sala e ouvi passos apressados atrás de mim, deveria ser Matt. Enfiei-me dentro do carro numa agilidade descomunal e dei partida mais rápido do que a corrida que os meninos faziam para me alcançar.

  Então era eu e as ruas asfaltadas, meu carro na velocidade máxima e meus olhos encharcados e doídos de tanto transbordar lágrimas. Não sabia para que caminho a direção do volante me levava, apenas dei conta do lugar quando meu pé parou em cima do freio.

  Era O Lugar, Nosso Lugar. Onde ajudei Jimmy a compor algumas de suas canções, onde ouvi alguns solos inéditos de Brian e onde compartilhei alegrias e tristezas com meu fiel companheiro.

  Segui pelo caminho da mata fechada, chegando à pequena casa da árvore. Escalei os degraus desgastados e abri o tampão que chamávamos de porta, uma massa de poeira encontrou meu rosto e a ignorando embrenhei-me para as sombras de um canto mal iluminado pondo-me  a chorar mais ainda.

  “Eu devia ter ficado com ele aquela noite, eu deveria ter ido embora com ele, eu não deveria ter bebido... Eu...” Ralhava comigo mesma numa batalha interna destruidora, onde cada pensamento só piorava... Como me sentia culpada.

  As chamadas no celular eram ignoradas e o choro contínuo. Acabei entrando num momento de nostalgia, relembrando cada momento ao lado do Jimmy, do meu Jimmy.

  Meu pai abandonou a mim e a minha mãe quando eu ainda era um bebê... E a mulher não aguentando a pressão de criar uma filha, entregou-me a minha avó que sempre soube me criar perfeitamente bem.  Mas como tudo um dia se vai, minha avó acabou falecendo. Eu tinha apenas meu 14 anos completos e apenas um amigo na escola... James.

  Sem muitas opções minha mãe foi localizada e passamos a viver juntas na casa de vovó, na verdade eu nem passava muito tempo ao seu lado, já que a casa era repleta de garrafas de bebida e droga barata. E era nesses momentos de mais angústia que Jimmy me amparava.

  Quando completei 16 anos, eu e Jimmy fomos morar juntos, eu o tirei da lavanderia que ele ocupava há uns meses e com pouco dinheiro de meu trabalho e do dele construímos a casa na árvore, onde passávamos a noite.  Era uma loucura, mas uma loucura maravilhosa ao seu lado.

- Vocês estão morando numa casa da árvore? – perguntou Zacky indignado e eu balancei a cabeça positivamente com um sorriso brilhando nos lábios. – Brenda você tem que parar de andar com o James, ele não está te fazendo bem. – ri de seu comentário enquanto assistia meu melhor amigo se aproximar.

- Do que vocês estão conversando?  -perguntou passando o braço por meus ombros e sentando ao meu lado no muro da casa de Matt.

- Sobre a nossa casa na árvore! Fala ai pra ele Jim, é mó legal né?  - indaguei sorrindo e ele assentiu animado com  a cabeça logo engatando um assunto qualquer com o garoto a minha frente.

  Passamos o resto da tarde ali, conversando, rindo, bebendo... Tudo junto aos meninos, e quando a noite caiu eu e Jimmy voltamos para nossa humilde casa.

- Gostou do colchão que eu consegui pra ti? – perguntou o grandão enquanto eu deitava no colchão de solteiro que ele tinha conseguindo com “um cara por ai”.

- É ótimo! Mas ainda não acho justo você continuar dormindo no chão. – briguei recebendo um sorriso em resposta.

- Bre quando você vai aprender que se precisar eu durmo até de pé? – ri.

- Mas é sério, cabe mais um aqui, eu não sou tão gorda. – ergui o edredom convidando-o para ocupar o colchão comigo e ele aceitou o convite um tanto relutante.

- E não é que coube mesmo! – rimos juntos e eu fiz de seu peito meu travesseiro.

- Boa noite vara-pau.

- Boa noite chicletinho. – zombou de mim como sempre e em reprovação lhe mordi a barriga ele gritou, rimos e assim dormimos.

  Era possível sentir mais dor do que eu sentia? Era possível que a cada minuto a mais no relógio eu me apertava mais no canto escuro tentando excluir a dor que me afligia...

  Jimmy tinha sido meu melhor amigo, meu irmão mais velho e às vezes até meu pai coruja que nunca tive. Ele que cuidava de mim na ressaca, e sempre arrumava um jeito de me dar presentes em meu aniversário, mesmo que não tivesse dinheiro...

- Esse ano o presente veio meio pobre... – murmurou me estendendo uma caixinha preta.

  Ao abrir a caixa retirei dali um anzol de pesca que estava amarrado num fino cordão preto, como se fosse para  usar como um colar.

- Uau um anzol! – exclamei fingindo empolgação.

- É você pode usar pra pescar, pra usar como colar e pra se defender de algum tarado na rua quando eu não estiver por perto! – comecei a rir descontroladamente pondo as mãos sobre a barriga que doía por tanta risada.

- Obrigada Jimmy! Você é demais! – exclamei o abraçando pela cintura e ele depositou um beijo no topo de minha cabeça retribuindo o abraço.

  Peguei o anzol pendurado em meu pescoço entre os dedos, vendo a ferrugem consumi-lo e pequenas gotas lacrimosas pousarem sobre o metal velho.

  Eu já sentia falta de Jimmy. Era como se a partir do momento em que ele deixou sua vida, uma parte da minha se fosse também... E eu nunca a teria de volta, pois metade de minha vida sempre fora James, sempre fora suas risadas, seus trejeitos, suas loucuras e seu carinho exagerado... Eu era metade James e ele era metade Brenda, completávamos um ao outro e agora que ele tinha ido, parte de mim acabou indo com ele também.

  Adormeci recostada na madeira velha da casa, caí num sono profundo e desprovido de sonhos que eu tanto almejava... Desprovido de encontrar Jimmy ao menos mais uma vez.

  Acordei com olhos atentos me observando, se eles fossem azuis feito os de Jimmy poderia tê-lo confundido, mas eram castanhos e estavam pulsando num vermelho latejante com olheiras arroxeadas embaixo.

  Pulei nos braços do moreno que me atendeu sem mais palavras e antes que pudesse me precaver já estava a chorar novamente agarrando-me ao tecido de sua camiseta e soluçando em seu ombro.

  Brian me apertava como se eu fosse sua única esperança na Terra, como se nada mais significasse para o mesmo e eu fosse a única fonte de sobrevivência que lhe restava. Cravei as unhas em sua nuca com certa força a fim de libertar a dor que se aprofundava em meu peito, mas ele não reclamou, apenas deslizou a mão em minhas costas deixando-se emocionar também.

- Eu devia ter cuidado dele Bri... Eu devia! – reclamei ainda abraçada ao mesmo.

- Não é sua culpa  Bre... Nada é sua culpa...

- É sim... Eu sou uma idiota... – ele me afastou gentilmente para trás e pegou meu rosto entre as mãos.

- Você não tem nada a ver com isso querida... – ao ver as lágrimas em seu rosto passei a chorar mais ainda.

- Ele não podia ter nos deixado Brian... Não podia! – exclamei brava e o abracei novamente.

- Eu sei...

  Continuamos abraçados até meu choro cessar. O rosto molhado que me perturbava fora seco pelas mãos de Brian.

- Nós precisamos ir, o pessoal está preocupado...

- Eu não... Não consigo vê-los hoje... – murmurei cabisbaixa.

- Tudo bem, eles vão entender. Venha para minha casa pelo menos? – assenti emudecida enquanto ele me guiava para fora da minha casa de memórias.

  - Eu não tenho nada lá Syn e... – comentei já dentro do carro.

- Desde quando isso é um problema? Quero você do meu lado por enquanto... – dei de ombros voltando a olhar pela janela e imaginar como o mesmo havia chega até lá sem seu carro. – E pra falar a verdade, acho que ainda tem algumas coisas lá da última vez que nos vimos...

  Eu sabia muito bem do que se tratava essa “última vez” foi o dia do nosso término de namoro que haviam durado longos anos... Devia admitir que eu ainda gostava de Brian e quem tinha me amparado com nosso término era Jimmy, e quem relaxava o clima tenso que se instalava quando nos encontrávamos era ele... Certamente Jimmy era a chave de tudo em minha vida, sem ele eu era nada.

  O tempo passa voando, mesmo na tortura da tristeza e no relento da monotonia, as horas passam voando e não demorou muito para que o dia do funeral chegasse. Eu parecia um zumbi torto, minhas olheiras caíam no chão e minha aparência só não estava pior, pois eu cobria meus cabelos desgrenhados com o capuz do moletom.

  Depois de todo o tempo trancada na casa de Brian, não vivendo, mas sim sobrevivendo, encontrei meus amigos. Matt assim como todos os meninos usava óculos escuro escondendo os olhos inchados...

  Em volta do caixão havia cadeiras, os pais de Jimmy fizeram questão que eu sentasse na primeira fileira junto deles, coloquei Brian ao meu lado e fixei o olhar no caixão lacrado desligando os ouvidos para o que o padre tagarelava e apenas voltando à atenção quando ouvi a pergunta.

- Alguém presente gostaria de homenagear James? – tomei um impulso e levantei, despertando a atenção dos garotos que estavam surpresos com minha reação.

  Retirei o papel amassado do bolso da calça e o padre de cabelos grisalhos deu espaço para que eu tomasse sua posição...

  “No dia 28 de dezembro de 2009 o mundo perdeu uma estrela. Uma estrela que irradiou por onde passou, que brilhou nos palcos, nas ruas e nos corações de cada fã, de cada amigo, de cada um que o conheceu.

   O mundo da música perdeu uma dádiva... Os amigos perderam um irmão, a família perdeu um membro que fará tanta falta e os fãs perderam um exemplo, uma inspiração...

  James Owen Sullivan deixa este mundo para uma vida melhor num pequeno pedaço do paraíso, na esperança de que encontremos nosso próprio caminho  mal sabendo que teríamos tanto a dizer com ele tão longe... Você poderia ficar Reverend? Poderia? Poderia nos dar a graça de tê-lo perto por mais um tempo... mesmo que curto?

Seria egoísmo demais desejá-lo aqui?

Seria egoísmo demais introduzi-lo novamente na selva em que vivemos?

Seria... Seria muito egoísmo...

  E seria mais egoísmo ainda lhe fazer mais um último pedido querendo mais um dia contigo nesse lugar que apelidamos de Terra, tendo meus braços em volta da tua cintura e te abraçando forte demais para que não pudesse sair de meus braços... Sei que não atenderia esse meu pedido mesmo se pudesse, pois sabe que eu não te deixaria ir embora de novo, eu iria te cuidar e te mimar como deveria ter feito da primeira vez.

  Hoje meu melhor amigo, irmão, pai... Deixa este mundo para vigiar-me de lá de cima, pois eu sei que mesmo sobre as nuvens ele não tirará os olhos de minha mente insana... Não deixará de me proteger assim como fazia em vida... Não deixará de olhar por nós. Pois esse é The Rev, esse é o garoto... homem... que eu conheci.

  Descanse em paz querido Jimmy, já sinto saudades e pelo visto ela só aumentará com o passar do tempo. Obrigada por cada momento ao seu lado, foi uma honra ouvir tua risada e ter seu colo para chorar... Desculpe pelos meus desastres e por esse texto mixuruca que deveria ser épico. Você merece mais, muito mais, e eu sei que receberá o que lhe é devido aí em cima! Amo você... Todos amamos.

  Com amor, Brenda.”

  Todas as lágrimas que havia contido durante todo o texto, despencaram de meus olhos e minhas pernas fraquejaram fazendo-me cair no chão... Nos meus olhos passaram apenas borrões e senti braços fortes me envolverem e me levarem para fora do lugar.

  Jimmy seria cremado e eu podia sentir metade de minha alma viva ser queimada junto dele, podia até sentir a pele formigar com o contato do fogo... Abracei-me ao corpo que me segurava e prendi o ar com toda força contendo um grito de dor que queria escapar, afundei o rosto no peito da pessoa e deixei que a inconsciência tomasse conta de meu ser perturbado.

  Abri os olhos encontrando um teto branco memorável em meu campo de visão... Era o quarto de Brian. Com dificuldade apoiei-me nos cotovelos e o encontrei nos pés da cama observando a cena aflito, o mesmo se aproximou e me sustentou com o braço.

- O que aconteceu? – perguntei tendo flashes do desmaio em minha mente.

- Você desmaiou... Te trouxe pra cá.

  Meus olhos se prenderam aos deles, num ato impulsivo tirei a mecha de cabelo que lhe caia sobre a testa e deixei minha mão escorregar por seu rosto, ele fechou os olhos apreciando meu toque e quando os abriu eles possuíam um brilho que antes havia perdido.

- Eu sinto muito Brian... – sussurrei aproximando nossos rostos e seguindo seu maxilar com o indicador.

- Eu vou cuidar de você agora... – sussurrou de volta e depositou um beijo terno em minha testa, abraçando-me pela cintura e colocando-me em seu colo.

  Reacendia então o sentimento que pensávamos ter morrido... Mas é como dizem, amor nunca morre e eu amava Brian... Com todas as minhas forças. Mais tarde a festa seria feita no céu, pois não havia nada mais no mundo que Jimmy quisesse tanto: eu e seu melhor amigo juntos... Sempre fora assim.

- Eu ainda acho que você devia ficar com o Haner... – disse Jimmy ao pé de meu ouvido assustando-me com sua presença repentina enquanto eu fuzilava a garota que Brian tinha nos braços.

- Porque você não desiste dessa idéia Jim? Eu e o Brian não temos nada a ver... Ele é um galinha, insuportável, metido, bobão, criança, com voz de pato e cabelo estranho... – sua risada sonora invadiu a boate.

- Exatamente pelo o que você acabou de dizer, você e ele ainda vão se casar... Até porque esse seu namoradinho “Tommy” é um retardado que fica batendo...

- Cala a boca porra! – o repreendi vendo o loiro que me acompanhava se aproximar.

- Que foi? Só to falando a verdade! – reclamou fazendo sinal com as mãos. Revirei os olhos e voltei para Tom.

  Realmente, Jimmy só dizia a verdade... Até porque Tom era um idiota mesmo. Num dia qualquer o peguei experimentando minhas lingeries foi então que desisti de vez de transformar a bicha enrustida num macho e Rev me zoava sempre por causa do loiro gay.

  Agora teríamos que viver sem o piadista da banda, sem as baquetas voando em minha cabeça propositalmente, sem o sorriso animador e o humor contagiante... A vida seria um tédio. A vida não tinha mais sentido.

2 semanas depois...

- O que são esses papéis? – perguntei a Brian enlaçando o seu pescoço com os braços e debruçando-me para ver o que ele tinha na mão.

- Éér nada demais... São só uns papéis. – respondeu impedindo-me de tocar  as folhas caderno rasgadas.

- Deixa eu ver isso Brian! – pedi firmemente me debruçando um pouco mais e aproveitando-me de sua distração na tatuagem de meu braço esquerdo para arrancar as folhas dele.

- Porra não lê essa merda! – pediu enquanto eu me esquivava lendo as primeiras linhas e tendo os olhos já cheios de lágrimas.

- É pro Rev? – perguntei soluçando e caindo sentada no sofá atrás de mim.

- Na verdade, eu a comecei pro meu avô e terminei esses dias pro Jimmy. – ele continuava de pé com as mãos enfiadas no bolso.

- Meu Deus Syn vocês têm que gravar essa música pro álbum Nightmare! – ele pareceu incomodado com o assunto.

- Não vai mais ter álbum Bre. – contou-me diretamente a notícia.

- Como assim não vai ter mais álbum você enlouqueceu? – indaguei levantando e pondo meu rosto lacrimoso perto do dele.

- Não existe Avenged Sevenfold sem ele! Simples assim! – seus olhos se comprimiram como se aguentassem a dor que lhe atingia e a voz começava a alterar para o tom um pouco mais grave.

- Vocês realmente acham que o Jimmy iria querer isso? Depois de todo o esforço que vocês tiveram para ser o que o Avenged Sevenfold é hoje vocês vão simplesmente esquecer tudo e dar a notícia aos fãs que a banda deixará de existir? É isso mesmo ou eu entendi errado? Pense, pense no que Jimmy diria se ele estivesse nessa sala e depois venha me dizer o que vai ser do Avenged. – joguei os papéis da letra da música em cima dele e sai da sala batendo o pé.

  Corri para o quarto em que eu ocupava em sua casa, ao lado do seu e envolvida na melancolia sem fim deixei meu corpo escorregar até o chão pondo a cabeça entre os joelhos chorando copiosamente.

  Avenged Sevenfold não podia acabar, não podia...

“Está vendo o que esses putos fazem na sua ausência? Porque você tinha que nos deixar? Porque?”

  Mil “porque’s” pairavam em minha mente enquanto as lágrimas desciam frias por minha face quente, era de se esperar que eu estivesse doente, tomando pelo fato de que não me alimentava direito, mesmo com Brian vigiando-me 24h por dia eu andava fraca e com baixa imunidade. Talvez por isso eu estivesse ardendo em febre.

  Senti uma pequena pontada de dor na garganta e concluí que uma gripe forte me atacava... Ouvi batidas insistentes na porta e meu nome ser dito por trás dela.

- Que foi Brian? – perguntei fungando e me levantando com custo.

- Abre a porta, por favor, Brenda. – pediu calmo e eu girei a maçaneta deixando-o entrar. – Porra você ta mais vermelha do que um tomate. – comentou tocando minha face fervente.

- É... Acho que não to bem. – andei até a cama e deitei debaixo dos cobertores.

- Febre não se cura se esquentando mais, direto pro banho gelado dona Brenda. – agarrei mais o edredom perto de mim.

- Nem vem senhor Haner. – caçoei dele revirando os olhos e ele sentou ao meu lado na cama, contornando com as mãos meu corpo coberto.

- Você tem razão... – admitiu trazendo-me confusão sobre o que ele falava.

- Tenho razão sobre não tomar banho gelado? – perguntei manhosa.

- Não... Tem razão sobre continuarmos a banda, porque Jimmy não ia querer que tudo acabasse. – um sorriso fez-se em meus lábios e despertou sua curiosidade, afinal não sorria desse jeito há exatas duas semanas. – O que eu tenho que fazer para ver esse sorriso mais vezes? – perguntou tocando minhas covinhas e enrolando uma mecha de meu cabelo entre os dedos.

- Traga ele de volta... – pedi quase que automaticamente fazendo seus olhos arregalarem.

- Se eu pudesse eu traria, você sabe que eu traria. – balancei a cabeça positivamente e sequei com o dedo a lágrima que teimava em cair. – Mas agora você vai para o banho enquanto eu marco médico para você.

- Eu não preciso de nada disso Syn... – falei manhosa enquanto ele me pegava no colo.

- Precisa sim... Eu disse que ia cuidar de você e eu vou.  – permiti que ele me levasse até o banheiro e lá quando já estava sozinha me despi e entrei debaixo da água fria.

  Não aguentei ficar muito tempo ali, assim fechei o registro e peguei um roupão no gabinete do banheiro, era azul... A cor preferida de Jimmy, depois do preto, e o tecido macio da peça me fazia pensar o quanto ele gostaria desse roupão na época em que só usava isso... E mais uma vez eu me desfazia em lágrimas.

“Caramba Jimmy até na morte você me atormenta com essas malditas lágrimas...” Briguei com ele mentalmente sorrindo boba e ainda derramando lágrimas.

  Vesti o roupão, penteei os cabelos para trás e só então dei conta da minha aparência deplorável diante ao espelho. Nem as tatuagens davam vida ao meu corpo moribundo, muito menos o cabelo loiro diferenciado pelas pontas azuladas... Parei os olhos sobre minha tatuagem de algemas no pescoço, iguais as de Rev...

- Hora de fazermos uma nova tatuagem chicletinho! – disse animado passando a mão por meus ombros nos guiando ao camarim após mais um show.

- O que vara-pau? – perguntei segurando-o pela cintura.

- Algemas. – respondeu de pronto.

- Algemas? – perguntei confusa.

- Lembra-se daquela vez na loja de eletrônicos? Assalto à mão armada? – logo lembrei o ocorrido e comecei a rir.

- Ok, onde vão ser as tatuagens? – perguntei já adepta à idéia.

- Pescoço! – respondeu animado e eu concordei o abraçando e mordendo sua barriga.

- Cachorra! – exclamou fazendo uma “garra” com a mão.

- Jimmy essa garra não seria de tigresa? – entrávamos no camarim e eu despencava no sofá de couro preto.

- Tanto faz. – respondeu dando de ombros e eu joguei a cabeça para trás rindo.

  Meus dedos desenhavam a tatuagem estampada em meu pescoço que quase dava a volta, e pisquei os olhos repetidas vezes livrando-me do excesso de lágrimas neles. Quando dei por mim Brian estava atrás de mim e logo me rendi aos seus braços que me prenderam protetoramente.

- Eu queria tirar tanto essa dor de você minha menina... Eu sei o quanto dói, eu queria poder sofrer por nós dois só pra não te ver assim. – solucei alto fazendo a garganta doer e o apertei mais contra mim.

  Doía, e pra sempre doeria... Jimmy era como a peça do quebra-cabeça perdida, tornando a todos incompletos... Pois sem a peça principal não havia mais harmonia no desenho tão contemplado.

2 anos depois...

  Parei sobre o túmulo de Rev, a pequena placa representava muito para mim e para os fãs. Depositei o  punhado de flores diversificadas sobre ela e sentei no gramado a fim de conversar um pouco com meu querido amigo.

 “Oi Jimmy, hoje faz dois anos que você nos deixou seu puto! Todos sentimos sua falta, você já deve saber disso... Aconteceu bastante coisa desde que você se foi... Então vamos lá vou contá-las para você:

  Os garotos continuaram com a banda e estou muito feliz por isso, gravaram uma canção em sua homenagem... So Far Away! Johnny continua a enrolar a coitada da Lacey, Zacky e Gena continuam no mesmo casamento monótono... Val está tentando engravidar, mas as tentativas têm sido frustradas. E bom até que eu estou começando a me dar melhor com ela agora, já que ela não espezinha mais o Sanders.

  Seus pais adotaram-me como filha e de tempos em tempos vêm me visitar na casa de Brian, você sabe que eu sempre os tive como meus pais, e sempre será assim... Pois uma família não se separa em tempos difíceis como esses.

  Agora chegando ao que talvez você sempre esperou, eu e Brian nos acertamos... Na verdade, se você classifica a palavra “noivos” uma forma de se acertar... Não tenho noção do que seria de mim sem ele ao meu lado Jimmy. Eu e Syn sempre compartilhamos da mesma dor, provavelmente até na mesma intensidade e por isso nos entendíamos tanto, por isso o suporte que dávamos um ao outro foi tão importante para seguir em frente.

  Como eu sempre previ, todos esses anos e a dor continua presente e sem mudanças... Como sinto sua falta meu pequeno, ou melhor, gigante Rev... Sei que você está presente entre nós, eu posso te sentir nos acalentando de carinhos do outro lado da vida.

  Não importa quantos anos se prolonguem você continuará em nossos corações e memórias, afinal o que seria das nossas tardes de domingo sem suas histórias para relembrar? O que seria de mim sem nossas memórias secretas para revelar? E todas as besteiras que fizemos que ainda virei a contar aos meus filhos?... Meu mundo não seria o mesmo sem ter te conhecido James.

  De qualquer lugar que esteja espero que escute todas essas besteiras que venho lhe infernizar sobre seu túmulo... Espero que receba o abraço que gostaria de te dar e o beijo estalado na bochecha que eu tanto odiava dar e receber... Você faz falta Rev, sempre fará e nós te amamos, amamos para sempre.”

   Levantei secando as lágrimas e bati a mão na calça suja de grama meu coração parecia mais leve, e todos os sentimentos haviam desentalado de minha garganta... Era impossível conter lágrimas na fatídica data, mas após meu desabafo sobre a placa de metal tudo se tornou mais fácil.

  Segui para o carro que me aguardava intocável em frente ao cemitério e ao entrar descansei a cabeça no encosto, fechando os olhos e imaginado os belos olhos de Jimmy em minha cabeça... Ele nunca sairia de meu pensamento.

  Voltei atenção ao volante e dei partida no carro, o caminho para casa não era longe, mas eu faria questão de transformá-lo maior reduzindo a velocidade. Queria aproveitar a sensação de preenchimento que se instalava em meu peito, pela primeira vez era como se Jimmy estivesse vivo.

  A cada metro a sensação ia se distanciando até tornar-se inexistente... Logo eu soube que ele havia partido novamente. Sorri, sorri alegre desejando-lhe sucesso na pós-vida e declarando mais uma vez meu amor por ele.

  James nunca nos deixaria totalmente... Nunca.

  A partir daquele dia eu seguiria minha vida com a segurança de Sullivan aguardava-nos feliz num lugar livre das maldades do mundo, ou como o mesmo gostaria de chamar: seu pequeno pedaço do paraíso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixem suas opiniões!
Beeijos, e sigam ao próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Despedaçada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.