Senti meu coração acelerar, bater sem compasso em meu peito. Aquela voz era fascinante para mim. Ele sorria maliciosamente, enquanto encarava Fabinho, com os olhos em fúria. O garoto dos cabelos cor de ouro acabou ficando, praticamente, sem reação nenhuma e se despediu de mim monotonamente, sem graça.

- Qual é a dele em? – Dizia num tom curioso, sentando-se ao meu lado.

Ri sem vontade. Ele me olhou com uma cara de desprezo, esperando alguma resposta. Dei de ombros. Ele, cuidadosamente, ajeitou meu cabelo que estava fora do lugar. Arrepiei, encabulada, quando sua mão macia encostou-se em minha orelha.

- Você está bem?

Afirmei com a cabeça. Os olhos dele eram vagos, procuravam pelos meus que estavam fitando o carpete cor de marfim, acomodado sobre o chão. Suspirei cansada. Queria olhar para seu rosto perfeito, mas meus olhos castanhos não me obedeciam, me deixando com uma leve dor no peito. Eu estava realmente gostando dele.

- Ontem não consegui te entender. Você estava confusa, sei lá...

- Já passou. – Lhe respondi com uma desculpa esfarrapada.

Voltei a fitar o chão. Senti que sua voz queria sair, se libertar, mas continuava presa na garganta. Descansei as pálpebras, vagarosamente e mordi meus lábios inferiores. Ele, numa tentativa de falar novamente comigo, tocou meu braço machucado. Gemi de dor.

- A-ai!

- D-desculpe.

Voltamos ao silêncio mortal. Não sabíamos exatamente como quebrá-lo; se iria ser com uma fala, um toque, um abraço... Um beijo. Joguei-me na cama, olhando para o teto do meu quarto. Ele também se deitou, ficando de lado para mim, com a cabeça apoiada sobre o braço.

- Hmmmmm. – Pareceu pensar.

- Que foi? – Eu disse, ficando na mesma posição que ele.

Seus olhos penetraram nos meus. Senti um arrepio passar entre minhas costas. Sustentei seu olhar encabulado. Ele sorriu feito uma criança que acabara de ganhar seu primeiro brinquedo. Pegou uma de minhas mãos e entrelaçou nossos dedos. Fitei-as, com o corpo paralisado.

- Fiquei sabendo que construíram uma pista de patinação lá no shopping, ta a fim de ir comigo? – Ele me perguntou, com um sorriso envergonhado.

There's nothing I could say to you
Nothing I could ever do to make you see
What you mean to me
All the pain, the tears I cried
Still you never said goodbye and now I know
How far you'd go
Não há nada que eu poderia dizer para você
Nada que eu poderia fazer para te fazer enxergar
O que você significa para mim
Toda a dor, as lágrimas que eu chorei
Ainda assim que você nunca disse adeus e agora eu sei
Até onde você deseja ir

Hesitei por um momento. Eu não sabia, ao menos patinar com um par de patins normal, quanto mais em cima de um monte de água congelada e ao redor de muitas pessoas, que ali estariam.

- C-claro. – Concordei, gaguejando.

Notei que os olhos dele brilharam por um instante, me fazendo desenhar um breve sorriso no rosto. Ele percebeu minha felicidade e sorriu também. Pegou minha mão e me puxou quarto a fora, nos conduzindo ao nosso destino.

***

O ambiente era claro e alegre. No centro se encontrava a pista de patinação e nas laterais havia bancos, onde pessoas conversavam animadas e outras calçavam os patins. Eu e Cebolinha fizemos o mesmo, ao pagar o preço cobrado. Logo podíamos ouvir a música que tocava ao fundo, enquanto a intensidade das luzes diminuía e dava ao lugar um clima meio que... Romântico.

I know I let you down
But it's not like that now
This time I'll never let you go
Eu sei que eu te decepcionei
Mas não é mais assim agora
Desta vez eu nunca vou deixar você ir

Mordi meus lábios vermelhos tentando esconder um sorriso que queria se expor na frente do meu amigo, mas segurei-o. Cebola me ajudou a subir no gelo e conseguir me equilibrar, mas fracassei e cai, agarrando o braço dele, que me segurou com força.

Ele me fitou com os olhos e eu escondi o rosto com as palmas das mãos, enquanto ouvia ele rir baixinho, me deixando totalmente sem graça e sem reação. Com as mãos quentes, ele puxou meu rosto, para poder encontrar seus olhos de um castanho profundo.

 I will be, all that you want
And get myself together
'Cause you keep me from falling apart
All my life, I'll be with you forever
To get you through the day
And make everything O.K.
Eu vou ser
Tudo o que você quiser
E me recompor
Pois você faz com que eu não caia aos pedaços
Toda a minha vida, eu vou estar com você eternamente
Para fazer com que você siga com o dia
E fazer tudo estar bem

- Você vive caindo Mô? – Caçoou, imitando as palavras do meu pai.

- Só quando tem alguém pra me segurar. – Afirmei, arranjando uma desculpa rápida.

Ele me deu um sorriso torto. Esqueci como se respirava. Estava confusa, estava feliz, estava... Apaixonada. Senti-me desprotegida quando ele se desencostou sua mão delicada de meu corpo e começou a deslizar os pés pelo gelo.

I thought that I had everything
I didn't know what life could bring
But now I see, honestly
You're the one thing I got right
The only one I let inside
Now I can breathe, 'cause you're here with me
Pensei que eu tinha tudo
Eu não sabia o que a vida poderia trazer
Mas agora eu vejo, sinceramente
Você é a única coisa que eu acertei
O único que eu guardo dentro de mim
Agora posso respirar, porque você está aqui comigo

Já estava meio longe quando acenava para mim, pedindo minha companhia. Hesitei. Patinar parecia tão difícil para mim quanto deixar de revidar em algum menino quando ele me provoca. Com muito esforço, arrastei minhas sensíveis pernas ao encontro dele, mas perdi o controle e percebi que patinava rápido demais. Notei que, só fui parar quando estava, praticamente, em cima do Cebolinha, que havia me segurado para não cair novamente; e fomos juntos para o chão.

Fim do 5º Capítulo.

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Obrigada à todos os leitores que acompanham minha fic e me ajudam a levá-la cada vez mais longe ;)
Beijos mil ;*