Dama de Sangue escrita por samgray


Capítulo 19
Passagem


Notas iniciais do capítulo

O título deste capítulo está sem noção. Mas eu simplesmente não consegui pensar em um melhor.



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Longe de onde os presentes podiam ver, uma mão saia das profundezas da terra. Tentava, então, apoiar-se na superfície para ser pegar algum impulso e, por fim, sair completamente dali. Conseguira tirar primeiro a outra mão, depois os braços, depois a cabelo, o tronco, as pernas e, por fim, os pés. Saíra da terra uma moça bonita coberta pelo tom marrom da terra. Batia contra o próprio corpo para livrar-se do peso extra que toda aquela sujeira lhe tinha feito. Enfim, espreguiçava-se; observando o local.

Assustava à Livia descobrir que estava em cemitério e que, pelo que podia ver, fora enterrada. Mas a sensação de alívio era incomparavelmente maior do que qualquer susto que poderia tomar. Terminava de tirar a terra dos olhos quando repentinamente uma mão em seu pescoço fizera com que ela novamente adormecesse, deixando nada mais que um grito assustado no ar. O dono da mão colocava o corpo desacordado sobre os ombros para que fosse mais fácil carrega-la.

Caminhava, então, tranquilamente em direção a porta da frente do cemitério, já que Ruan não era do tipo que quer sair pela porta de trás. O grito de Livia, porém, atrapalhou mais seus planos do que era esperado. Os dois humanos desatentos que conversavam pouco longe dali correram ao mesmo instante em direção ao som, assim que o ouviram.

Heitor reconheceu Livia cheia de terra, sendo levada por um homem sujo de meia-idade e, sem grandes problemas, chegou a conclussão tão óbvia quanto errada de que ele era um louco desvairado com desejos por necrofilia. Todo o sentimento de compaixão e de saudade que lhe vinham da amada se transformaram em um ódio súbito que fez o garoto tomar uma decisão precipitada.

Sem muito pensar, Heitor correu até Ruan e lhe chutou as costas. Do mesmo modo, sem muito pensar, Ruan deixou que Livia caísse no chão e, tão rápido quanto era possível, tomou posse de uma das mãos de Heitor... Depois da outra, prendendo-as entre os seus braços. Com as mãos livres, repetiu o gesto que havia feito em Livia e levou Heitor ao desmaio. Encostou os dentes onde as veias eram mais visíveis no braço do rapaz e aponderou-se de seu sangue, até que não restasse uma única gota para o coração do rapaz poder bombear.

Terminados os empedimentos, Ruan olhou para a pequena loira que observera toda aquela cena com os olhos arregalados. O vento arrancava-lhe o capuz da cabeça e deixava bem visível o rosto angelical que ali se escondia. Era linda. O homem aproximou-se lentamente e fez com que a menina recuasse em um ou dois passos. Ele sorriu. Ela tentou sorrir, mas fez nada mais do que uma careta assustada.

- Vo-você o ma-matou? - gaguejou a menina.

Ruan balançou a cabeça apenas, concordando. Tentava não fazer movimentos bruscos para não assustar a criança. Via em sua frente quase um animal selvagem, sedento por uma domesticação; mas propenso à fuga.

- E vo-você vai vai me ma-ma-matar?

- Não, moças bonitas não devem morrer assim... - abriu um pequeno sorriso gentil na face - A menos que queiram...

- Não quero. - Evangeline olhou para o corpo de Livia e de Heitor, jogados no chão, provavelmente sem vida - Tem outros como você por aí?

- Tem sim, muitos... 

- Eles matam as pessoas assim? Até crianças?

- É claro - Ruan sorriu, falando calmamente ainda com medo de assustar a menina - A maioria, na verdade, não segue os mesmos princípios que eu.

- Quero que você me proteja. - a pequena inflou o peito, com tom mandão.

- Adoraria. Venha, dê a mão para o tio. - disse estendendo a mão.

A pequena sorriu, agarrando-se ao braço do homem e encostando a cabeça nele. Ela não sabia ao certo o que estava fazendo, mas de alguma forma, agora, sentia-se segura, mais segura do que jamais se sentira. Afinal, tinha ao seu lado o homem mais poderoso que ela já vira e, para completar, esse homem concordara em protege-la. 

Ataram as mãos. Ruan usou a mão livre para ajeitar novamente Livia em suas costas. A loirinha suspirou e sorriu novamente.

O homem de meia-idade com um corpo morto repleto de terra nas costas e uma pequena menina sorridente segurando com firmeza uma de suas mãos continuaram seu caminhar em direção à saída escura do cemitério vazio naquela fria madrugada.


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