O carro da mãe da Julie chegou bem rápido, o que foi ótimo pra mim, assim pude sair de lá correndo direto para o carro.

Quando já estávamos no Shopping, saindo do cinema sem a mãe da Julie (claro, ela iria nos buscar mais tarde), encontrei a Evellyn, ela agora deve ter 16 anos e está mais magra, alta, de cabelos castanhos, cacheados e olhos cor de mel. Na verdade, estava mais bonita do que nunca. Antes, ela era mais gordinha, super inteligente, tirava as melhores notas, não sei como, porque ela odiava estudar... Também não sei se é a mesma, já que mudou de casa, e nunca mais tive contato. Parecia tudo ótimo, mas havia algo atrapalhando: Julie e Thaly não se davam bem com a Evellyn.

Sempre me dei bem com as três, mas nunca soube o motivo de tanta indiferença entre elas. Esse é um mistério que preciso desvendar o mais rápido possível.

– O que você está fazendo por aqui? – Perguntei com um tom alegre – Pelo o que eu me lembre, você se mudou porque seu pai foi trabalhar em outro estado ou algo assim.

– Mas ele foi mesmo... Só que foi despedido, então voltei a morar aqui – disse, como quem estivesse escondendo algo. – Mas enfim, como você tá?

Fiquei distraída por um tempo pensando: “Por que ela voltaria? Os pais dela não disseram que não gostavam daqui? Qual o segredo que ela esconde? Thaly e Julie têm algo a ver com todo esse mistério? Será que elas estão escondendo um mistério muito sério? Quando elas devem me contar esse segredo? Elas um dia vão me contar esse segredo? Será que a culpa delas brigarem foi minha? Esse segredo deve existir desde quando? Eu devo descobrir esse mistério agora, mandando elas me dizerem tudo, ou eu vou colhendo pistas e depois descubro? Será verdade que a...”

– Tiffany! – Alguém gritou meu nome, me fazendo sair daquelas perguntas que atordoavam a minha cabeça.

– Hã?! Desculpa, me distraí por uns segundos... Ou minutos... Qual foi a pergunta mesmo?

– Nada demais... Só perguntei se você estava bem – Evellyn disse, estranhando minha atitude.

– Ah, sim estou bem! – Disse, já ciente de tudo ao meu redor – Vamos dar uma volta pelo shopping juntas, mas tem de ser rápido, porque daqui a pouco tenho que ir embora.

– Me desculpa, mas nem rápido, nem devagar, nada pessoal. Com licença, tenho que ir.

Super estranho, era pra ela ter me abraçado, dizendo que eu sou a melhor amiga dela e todas aquelas bobeiras de amigas. Estranhei também a atitude da Thaly e da Julie, mas nem tanto, sei que odeiam a Evellyn. E o que ela quis dizer com “nada pessoal”?

Mas enfim, deixando de lado a misteriosa Evellyn, fui pra casa com as meninas num silêncio extremo. Parece até que a Evellyn roubou nossas falas! “Boa noite”, “Obrigada” e” Não foi nada” foram as únicas palavras pronunciadas por nossas bocas.

No amanhecer do dia, fui pra escola e a Ju e a Thaly já estavam mais soltas, conversando melhor. Resolvemos depois da escola, ir comer em outra lanchonete, uma mais longe de casa. Mas só havia um problema não muito grande: Não tinha quem nos levar, o jeito foi ir de ônibus. Acostumadas a ir de carro a todo lugar e a ir ao mesmo lugar sempre, estranhamos um pouco a vista do percurso. Quando saltamos, tinham dois policiais armados revistando dois adolescentes com mais ou menos 18 anos. Thaly, desde pequena, tinha pavor de armas, então aconteceu simplesmente isso: Eu desci, Julie desceu e Thaly ficou parada na escada do ônibus.

– Desce logo, Nathalie! O ônibus vai andar e você vai ficar presa aí dentro! – Eu berrei, tentando convencê-la a descer.

– É mesmo Thaly, quer ir parar em outro bairro?! Então vem logo! – Julie fez o apelo final.

Thaly se convenceu pelos nossos berros e desceu, mesmo assim, ficou morrendo de medo das armas dispararem ou algo assim.

– Finja que nada está acontecendo.

Palavras frustradas. Nathalie continuou nervosa, mas chegamos ao Mac Pizzas bem. Quando cheguei lá, avisei pra minha mãe que tudo ocorreu bem comigo. Queríamos uma pizza e refrigerante de laranja, e quem nos atende é um garoto da nossa escola, Felipe.

– Oi meninas, tudo bem?

– Sim, tudo ótimo!

– Não é o que a cara dela demonstra – Felipe disse, olhando para o desespero da Thaly.

– Ah, a Thaly... Não liga pra ela não, foi só um sustinho de nada. – Julie falou.

– É, daqui a pouco passa... – Falei, pensando que aquela viagem toda valeu a pena, pelo menos nós encontramos alguém conhecido naquele lugar.

– Mas enfim, o que querem? – Felipe falou, já com o caderno em mãos.

– Pizza e refrigerante de Laranja, por favor.

– Num instante, senhoritas. – disse ele, educadamente.

Depois de um tempo, o pedido chegou e foi mais delicioso do que pensávamos. Fomos para casa só depois de termos certeza de que Thaly estava bem. Minha mãe vasculhou minha bolsa, para ter certeza de que tudo tinha ocorrido como eu a tinha comunicado pelo telefone.

– Filha, prometi ao sei pai que você iria chegar bem em casa, portanto, vou conferir se não colocaram nada de roubado na sua bolsa.

– Mãe! Dei minha palavra pelo telefone, não acredita em mim? Fora o fato de eu já ter 15 anos!

– Claro que acredito, mas alguém pode ter posto ou tirado algo sem você perceber...

– Tá, então pode olhar...

Depois fui pro meu quarto e estava muito cansada, acabei dormindo direto e só acordei no dia seguinte.

No colégio, eu percebi a Nathalie olhando para o Felipe de uma forma diferente e resolvi perguntar o que estava acontecendo, mas Julie acabou fazendo isso antes de mim:

– Qual foi a dos olhares pro Felipe, Thaly?

– Nada não... É que ele foi tão legal com a gente ontem e se preocupou comigo e ...

– Ah não... Tem alguém aqui apaixonada, né...

– Não ! Nada a ver... - Nathalie fugiu do assunto.

Mais tarde quando cheguei em casa, me assustei quando vi meu irmão, Kadu, Lucas e Patrick na sala, mesmo sem ser fim de semana. Eles estavam fazendo cartazes da banda deles, Destroy Hope, que estavam a procura de Backing Vocal e Guitarrista de base. Na zoação, eu disse:

– Posso ser a Backing Vocal? – E comecei a cantar o “La La Lalalalalalala La...” no ritmo de “What the hell” da Avril Lavigne

– NÃO! – Meu irmão disse, cortando minha linda cantoria.

– Ah, deixa ela tentar fazer o teste direito, aposto que a voz dela é linda! – disse Kadu, puxa saco.

– Aaah... – fez Patrick e Lucas não tom de “amor no ar”.

– Pelo menos alguém concorda comigo, né – Eu disse, jogando meu cabelo na direção de Kadu, mostrando que eu estava do lado dele, o que provavelmente fez ele ficar emocionado, a ponto de que ele virou o copo de suco em cima dos cartazes. Diante dessa atitude, pensei: Kadu estaria apaixonado por mim? Ah, não... Nada a ver.

Agora já é sexta-feira e estamos morrendo de vontade de ir ao Mac Pizzas de novo... Não somos ricas pra ficar indo lá todo dia ou semana, mas nossa anjinha Thaly está fazendo aniversário e a escolha dela para comemorar seus 16 foi lá! Mas, Felipe não estava trabalhando nesse dia. Um funcionário de lá nos disse que o Felipe só trabalha lá aos sábados e segundas. Nathalie broxou, mas logo surgiu um sorriso quando viu aquela deliciosa pizza. Tudo parecia bem e tranquilo até que de repente Evellyn Martelli entrou pela porta da pizzaria; no mesmo instante Julie e Nathalie fizeram cara de ódio, mas não resisti a convidá-la para se sentar conosco.

– O que vocês estão comemorando? – perguntou Evellyn.

– Meu aniversário. – disse Nathalie, seca e arrogante.

– Ah, é mesmo! Me lembrei agora, parabéns! – Evellyn parabenizou, num tom inofensivo.

– Então Ev, como era lá no outro Estado? Lembro que você foi embora tão misteriosamente que nem pude me despedir...

– Não quero falar sobre isso... Não agora... – Falou indiretamente para Julie com cara de culpa.

– Pois é... Fez besteira no passado e não quer falar sobre isso, né Ervilha?! – disse Thaly, tentando fazer com que Evellyn confesse algo.

– Que besteira? – Me intrometi.

– Agora não é hora de falar sobre isso, não acham melhor nós começarmos do zero, como se nada tivesse acontecido? Eu mudei, juro!

– Vou fingir que acredito... – disse Julie que até agora estava calada.

– É sério, eu voltei pra recomeçar e primeiramente quero pedir perdão a vocês duas...

– Pelo o quê? - Perguntei já nervosa.

– Chega, vamos sair daqui, Julie. – Thaly disse, muito irritada. Ela e Julie saíram de lá, batendo a porta fortemente.

– Perdão pelo o quê, Evellyn?

– Ah, esquece... – disse indo embora.

Fiquei ali: Sozinha e Curiosa.